Luciana estava próxima ao balcão na cozinha, falando com alguém
pelo telefone. Sentiu um peso atrás de si. Victor estava lhe abraçando por
trás.
_Meu amor... Eu estou sem palavras.
_Espera Vih... – Voltou a falar com a pessoa que estava do
outro lado da linha – Vou ter que desligar... Vem mesmo? Ok te espero.
Beijos.
Desligou o telefone, Victor virou-a rapidamente, abraçando-a
forte se entregando ao momento enquanto as lagrimas caíam.
_Que surpresa mais que perfeita. Bem que desconfiei você toda
esquisita esses dias.
_Do que está falando, Victor?
_Disso.
Ergueu o papel, estava emocionado. O sorriso de Luciana se
desfez.
_Não Vih...
_Eu sei! Era uma surpresa, você queria o momento especial, mas
nessas situações, não existe momento especial, amor – Segurou o rosto dela,
depositando um selinho – Vou amá-lo assim como amei desde o principio quando
soube que a Gabi e a Mari iriam vir ao mundo.
_Victor, espera – Foi interrompida por mais um beijo.
_Estou nervoso, mas com uma esperança enorme. Será que vem um
menino? – Acariciou a barriga dela.
_Já chega Victor! – Alterou a voz, tirando a mão dele do ventre.
_Eu sei... Já está nervosa por causa dos sintomas...
_Esse exame não é meu! – Esbravejou.
O silêncio permaneceu ali por longo segundos. Victor engoliu
seco, as lagrimas cessaram.
_Poxa Morena, eu pensei que...
_Pensou errado! Não, não estou grávida. Esse exame é de uma
paciente minha. – Colocou a mão na cabeça, estava nervosa por causa daquela
confusão toda. – E quem mandou mexer na minha bolsa?
_Desculpa, mas ela caiu e estava aberta. – Ficaram se olhando em
silêncio por alguns segundos. – Eu... Vou resolver umas coisas.
_Vem cá – O puxou para abraçá-lo – Eu sei que é isso o
que quer, mas tenta entender meu lado. Por favor.
_Tá. – Se desvencilhou dos braços dela, se afastando.
_Agora vai tomar um banho que hoje a Tati vem jantar aqui.
Victor subiu calado, triste. Dentro do banheiro deixou aquela
água correr pelo seu corpo enquanto apoiava as mãos na parede. Entre ele e
Luciana existia compatibilidade em quase tudo, mas desde alguns meses atrás que
quando o assunto era gravidez surgiam os atritos, o choque opinião, as
desavenças. Após a cena na cozinha, não tinha coragem de encará-la, não naquela
noite. Estava arrasado, triste. Talvez a companhia da cunhada fosse alegrar
aquela noite, assim ele pensou.
Desceu para o studio, ficou revendo algumas composições,
decidindo o que iria para o repertório e o que iria para o novo CD. Alguém
bateu na porta, autorizou. Leo entrou:
_Estava pensando em você.
_Para?
_Precisamos rever algumas musicas, levar para a gravadora e ver
quais entrarão no novo CD... – Parou de falar para olhar o irmão – A Tati vem jantar
aqui hoje.
_Eu sei. Ela me chamou para vir aqui, as duas estão lá na
cozinha preparando o jantar. Coisas de mulheres.
Com o irmão, Victor esquecia dos problemas e focavam no
trabalho. Em alguns minutos parou, suspirando ao lembrar de tudo.
_Que foi, nego véio?
_Nada. Esquece.
_Se precisar desabafar estou aqui.
_Obrigado. Vamos continuar.
O tempo passou rápido, Tatianna os chamou para jantar. Chegaram
na sala e Victor percebeu que Luciana também não o olhava, agora estava arrumada,
um pouco mais elegante. Sentou-se do seu lado, mas puxava papo com Tatianna.
Durante o jantar o clima estava mais calmo, Luciana olhava para
Victor, estava tudo bem. Em um momento, após os assuntos pautados na mesa não
servirem mais, Tatianna segurou uma das mãos de Leo.
_Eu tenho algo para te contar.
_Pode ser em público? – Olhou para Luciana e Victor.
_Sim.
_Tati, se você quiser pode usar meu escritório.
_Obrigada, Lucy, mas logo todos irão saber.
Victor alternava o olhar para cada um na mesa. Sua esposa e a
cunhada sorriam com um brilho nos olhos.
_Bom, eu... Lembra que te disse que tentaríamos?
_Caramba Tati, falamos isso sobre tantas coisas.
_Mas tem algo em especial que você sabe...
Tatianna colocou o papel nas mãos de Leo. Um choque percorreu em
Victor ao lembrar-se vagamente daquele papel. Aos poucos foi se familiarizando
e apenas observou a cena. Leo analisou, já estava com um brilho nos olhos
quando voltou o olhar a esposa.
_É sério?
_Uhum. – Encostou o rosto no ombro dele.
_Amor eu... Você...
_Sim, Leo. Acho que dessa vez nossa menininha vem.
Leo levantou-se puxando Tatianna e abraçando. As lágrimas caíam
livremente, ela também estava chorando, não muito, pois já havia se emocionado
bastante quando Luciana havia lhe entregado o exame. Victor não conseguiu
sequer se mover, estava olhando para a mesa, sentindo uma angustia grande. Não
queria ser egoísta, mas era para ele estar no lugar do irmão, era para ser a
felicidade dele horas atrás quando abordou a esposa na cozinha. Luciana
levantou-se e abraçou os dois.
_Felicidades. Eu fiquei tão emocionada quando soube.
_Eu sei cunhadinha. A Tati já tinha me dito que você estava
ajudando-a nisso. – Limpou o canto do olho – Agora me digam como fizeram sem eu
perceber.
As duas sorriram.
Luciana: _A Tati me falou quando voltei de Veneza. Coletei o
sangue dela e fui lá ao laboratório do hospital já que ela não quer que ninguém
saiba por enquanto.
Leo: _Caramba! Vou ser pai mais uma vez! – Falou alto enquanto
abraçava Luciana e a erguia do chão.
Tatianna: _Assim você vai matar a Luciana.
Ouviram Victor se levantar bruscamente da mesa. Aproximou-se de
Tatianna, abraçando-a e em seguida fazendo o mesmo com o irmão.
_Parabéns, que ele ou ela venha cheio de saúde. Com licença.
Subiu para o quarto. Leo olhou para a escada, estranhando.
_Me desculpem vocês dois, nós tivemos um desentendimento antes
de chegarem.
_Relaxa Lucy. – Olhou para Tatianna – Acho que isso
merece uma comemoração quando chegarmos em casa.
_Nem pensem nisso. – Luciana o interrompeu. – Marquei com ela
amanhã na minha clinica. Pelo o que ela me disse já podemos fazer uma ultrassom
para saber se está tudo bem com o pequeno ou a pequena.
Leo e Tatianna ainda ficaram mais um pouco, tiraram algumas
duvidas com Luciana. Estavam empolgados, felizes. Após saírem, Luciana subiu
para o quarto, achou Victor lendo um livro.
_Precisava dar aquele show, Victor?
_Eu não fiz nada.
_Claro que fez. Tive que inventar que tínhamos brigado para o
Leo não se magoar com a cena ridícula que você fez!
_Não seria uma cena ridícula se tivesse me contado que aquela
droga de exame era da Tatianna! – Alterou a voz.
_Seria injusto você saber primeiro que o Leo.
_Acha injusto isso, mas não o que estou passando. – Colocou o livro de
lado – Você finge não ver, põe uma venda invisível nos olhos, mas eu
sei Luciana, sei que está evitando de todas as maneiras para não engravidar!
_Não – Colocou as mãos no cabelo, impaciente. – Não vamos tocar
nesse assunto de novo, Victor!
_Agora eu vou falar – Levantou-se – Estou cansado de
ver você ditar as regras, Luciana! Chega, o que aconteceu hoje foi a cena mais
ridícula que presenciei e o pior é saber que você não quer, mas eu ainda
acredito no pouco de esperança que me resta.
_Isso não vai levar em nada. – Foi até o closet – Desisto de te
entender.
Trocou de roupa e foi para cama. Estava com muita raiva de
Victor, não por ele falar quase todos os dias sobre ter mais filhos, mas sim
por ter feito aquilo durante o jantar. Virou-se para lhe encarar:
_Espero que reflita sobre o que fez com seu irmão. Ele e a Tati
não merece isso.
_Com eles eu ainda consigo me redimir do erro. Estou feliz, mas
com você... Acho que vai ser difícil, Luciana. – Levantou-se da cama.
Estava próximo a porta quando Luciana sentou na cama:
_Só por causa de um capricho, Victor?
_Se é assim que você chama, pense como quiser.
Saiu do quarto com a mente viajando. Naquele momento, prometeu a
si mesmo que não iria tocar mais no assunto com Luciana. Pegou o celular e
ligou para o irmão.
_Oi.
_Te acordei?
_Não. Estava vendo algumas coisas aqui. Fala aí nego véio.
_Me desculpa pelo o que fiz. Vocês não mereciam isso, estavam
tão felizes e acabei estragando essa felicidade.
_Esquece. Está tudo bem?
_Posso dizer que agora sim. – Respirou fundo – A Luciana às vezes
me tira do sério.
_Te entendo. – Sorriu – Tati também, mas quem disse que
casamento é fácil? Falamos isso, mas não conseguimos viver sem elas.
_Pois é – Acomodou-se mais na cadeira. – Enfim, era sobre
isso que eu te liguei. Marca aí um jantar na sua casa, precisamos ter uma
comemoração digna porque essa de hoje foi um lixo. – Os dois riram
_Ok. Vou desligar, Tati está me chamando.
_Dá um abraço nela por mim.
Victor desligou o celular pensativo, de cabeça baixa não
percebeu Luciana se aproximando.
_Estou feliz por isso. – Apontou para o celular – Sinto que agora o
Leo deve estar feliz, ele é muito apegado a você.
_Eu sei. – Respondeu sério.
Luciana se aproximou, ficando entre as pernas dele, passou a mão
no cabelo, o acariciando. Suspirou.
_Queria tanto que você entendesse Vih.
Victor estava relutando para não se entregar e perdoar Luciana,
mas era algo muito forte. Segurou a cintura dela, fazendo-a sentar no seu colo.
_Porque não quer?
_Não é isso Vih, – Respirou profundamente – claro que quero.
Não posso ver uma gestante na minha sala que fico sonhando. Eu quero que dessa
vez seja combinado, nada de surpresas, nada de sustos, mas não quero pensar
demais no assunto ou vou acabar pirando. Você sabe que é difícil, não sou mais
aquela jovem que só de ver uma cueca já engravida. – Sorriram com a piada
–
Tenho medo de te proporcionar esse mundo e descobrir que não vou conseguir.
Poxa, já temos duas vidinhas, deveríamos estar satisfeitos porque tem gente que
está há tanto tempo querendo ter apenas um e não consegue.
Encostou o rosto no peito dele, fechando os olhos quando sentiu
as mãos de Victor em suas costas.
_Eu sei meu anjo, te entendo. – Beijou o topo da
cabeça dela – Se não tentarmos, como vamos saber?
_Vamos fazer o seguinte: Que tal esperar essa gestação da Tati passar?
_Não, vai demorar muito.
_Mas pensa comigo, duas grávidas na família. Sua mãe vai ficar
louca.
_Não vai, aquela ali adora.
_Mesmo assim, vamos deixar eles com esse momento feliz, depois
pensamos no assunto.
_Como quiser.
_Ótimo, agora vem dormir.
Levantou-se o levando consigo. De mãos dadas subiram para o
quarto. Enquanto Luciana dormia em seus baços Victor estava pensativo. Agira de
maneira errada, pensou mais em si do que no próximo e esse próximo era seu
irmão e sua cunhada. Não iria deixar isso acontecer novamente, prometeu para si
esquecer aquele assunto e entregar nas mãos de Luciana, quando ela quisesse,
iria acontecer. Entre tantos pensamentos, adormeceu.
Acordou com a claridade, as cortinas ainda tentavam esconder
aquele sol maravilhoso, mas vez outra uma frestinha aparecia. Virou-se de lado,
admirando e zelando o sono de Luciana. Ela dormia tranquilamente, não cansava
de admirá-la. Sentindo que alguém estava observando-a, Luciana abriu os olhos,
deixando-os semicerrado, sorrindo levemente.
_Bom dia. – Tocou-lhe o rosto.
_Oi meu anjo. Dormiu bem?
_Acho que sim. – Ficou encarando o teto, pensativa – Está tudo bem?
_Agora posso dizer que sim.
Victor levantou-se, indo fazer sua higiene. Luciana ainda ficou
um pouco na cama, de olhos fechados, aproveitando ao máximo aquele dia de
folga.
_Acorda dorminhoca.
_Só mais cinco minutos, amor.
_Nem pensar. Está um dia lindo lá fora, vamos para a piscina,
depois iremos à fazenda.
Após muito custo, Luciana levantou-se, tomou um banho para
despertar, logo colocando o biquíni. Aquela manhã passou rápido, Gabriela não
desgrudava de Victor, que a ensinava a mergulhar. Luciana ficou com Mariana na
borda da piscina. Percebeu que sua filha mais nova era mais calma, tranquila,
enquanto a mais velha não parava um minuto sequer.
Após o almoço todos foram para a fazenda, ele amava esse clima:
As crianças correndo livremente, Luciana sentada na varanda, sorridente ao lado
de Lourdes. Aproximou-se estendo a mão para ela.
_Vamos dar uma volta.
_Mas e as meninas?
_Eu cuido delas, Luciana. Pode ir – Garantiu Lourdes.
Passearam de mãos dadas como faziam antigamente, um silêncio
prazeroso, pois cada um estava imaginando como seria o futuro, se ainda ficariam
juntos, se permaneceriam naquela cidade. Pararam no lago, Victor a puxou para
um abraço forte e demorado. Amava sentir o cheiro dela, aquele perfume, o
cheiro cítrico no cabelo por conta do shampoo que ela usava.
_Estive pensando. – Afastou-se um pouco para olhar para ela,
passou os braços pela cintura, puxando-a mais para si – Melhor deixar como
está.
_Do que está falando?
_Ah – Olhou para o horizonte – Estamos tão bem com
a Gabi e a Mari. Não quero forçar a barra com você, quero viver mais momentos
como esse, como hoje, quero ser feliz, somente isso.
_Que tal deixarmos na mão do destino? O que vier será lucro.
_Agora quem quer ter um filho é você? – Olhou assustado.
_Sei lá. Ajudando a Tati esses meses me deu uma vontade, não vou
mentir. Vou deixar esse plano de lado, o que tiver de ser, será.
Beijou-a intensamente, segurando forte sua nuca.
_Já te falei hoje que te amo?
_Que eu saiba não Victor.
Aproximou os lábios no ouvido dela, sussurrando:
_Eu te amo, minha vida. Amo tudo em você, agradeço sempre a Deus por ter te
colocado no meu caminho.
Luciana apertou a cintura dele com as mãos.
_Melhor parar com isso, ou teremos que fazer sexo aqui mesmo.
_O quarto nos espera, Senhora Chaves.
_À noite eu prometo que te retribuo todo esse carinho. Agora
vamos ver o que nossas vidinhas andam aprontando. – Deram as mãos, dando alguns passos – Ah e sim, eu também
te amo.
Não podiam negar que estavam em uma ótima fase, mesmo com
algumas desavenças, Victor e Luciana se entendiam bem. O amor entre eles sempre
falava mais alto.
Continua...