quinta-feira, 31 de julho de 2014

Cap. 27




_O que eu acabei de fazer com a minha vida?

   Andando de um lado para outro do quarto, Victor passava as mãos ligeiramente no cabelo, um gesto nervoso. Depois do prazer, vem a dor... A dor do medo, do coração batendo rapidamente, de ser pego no flagra. Luciana, será que isso chegaria aos ouvidos dela?

   Aquela fora uma as piores noites da sua vida, definitivamente não tinha forças para encarar Katherine, sua curva perigosa em uma estrada. Sua vontade naquele momento, era de pegar sua bolsa e fugir daquele lugar, sentia-se sujo, usado... Mas satisfeito, era isso o que ele procurava ao “mexer com fogo”. Katherine não teria nada a perder caso fossem descobertos, ele quem levaria a culpa de tudo, ele quem fora até a casa dela, mentindo para todos ao seu redor.

_Puta que pariu! Traí a Luciana.
– Sentou-se na beira da cama.

   Colocou a mão no rosto sem acreditar no que acontecera, fechava os olhos e jurava para si que tudo não passou de um sonho, mas logo ao abri-los novamente lá estava ele, sentindo o suor ainda de pós-transa com a sua amiga. Viu o dia clarear e com medo, sequer ligou o celular, não iria conseguir encarar Luciana, não queria nem imaginar de que ela desconfiasse de algo.

_Meu Deus, como deixei isso acontecer?

   Ouviu barulhos vindos da cozinha, respirou fundo, teria que encarar a sua amiga mesmo não sentindo coragem. Girou a maçaneta da porta e foi, achou-a concentrada no fogão, já estava vestida comportadamente, sem suas vestes da madrugada anterior. Katherine, aparentava estar bem, como se nada tivesse acontecido, o que deixou-o um pouco confuso. Em passos lentos, aproximou-se dela, que virou e fez um sorriso mais tranqüilo da face da terra:

_Bom dia, sente-se, acabei de fazer o café.
– Ambos sentaram-se a mesa.

   O silencio invadiu o ambiente, Victor procurava forças dentro de si para encará-la sem lembrar de suas mãos no quadril dela, dos gemidos altos. Pigarreou para iniciar uma conversa que deveria ter acontecido há muito tempo:

_Kate, sobre ontem...
_Ontem nós apenas fizemos sexo, Victor. Não vou te cobrar nada, pode ficar tranqüilo.
_Desculpe-me, agi como um idiota e não sou assim. Você foi a primeira pessoa que me deu a mão quando eu estava no problema com a Lu, e ontem foi a primeira com quem eu traí a minha esposa.
_Não aceite isso como traição
– Mordeu a torrada. – Foi uma troca, nós precisávamos, enfim.

   Após seu desjejum, Victor levantou-se, sentiu Katherine o abraçando por trás:

_Vamos esquecer o que aconteceu ontem, ok? Não irei contar a ninguém.
_É só isso o que te peço.

   Tomou o banho mais rápido da sua vida, trocou-se e logo chamou um táxi. Antes de partir, sorriu para Katherine, que lhe retribuiu o gesto:

_Não irei contar a ninguém, Victor. Pode ficar tranqüilo.

   Abraçou-o e assim ele se foi. O coração ainda doía, mas sua mente não estava tão preocupada, Katherine era o tipo de mulher que era de palavra.



***

Havana – Cuba...






     
Aquela manhã estava ensolarada, Luciana acordou bastante disposta a sair, caminhar, aproveitar seu dia de folga. Andando em passos lentos, refletia sobre sua vida, no quanto Victor representava nela. O amava, a vida estava dando esse tempo para ambos pensarem. Para ela, a saudade batia, mas ficar um pouco ausente de tudo lhe fazia bem.

   Tirou a sandália que usava e decidiu caminhar na praia, o vento bagunçando seu cabelo, deixando-o emaranhado e ainda assim ela deixou, fechou os olhos e lembrou-se daquelas tardes na fazenda Hortense, quando caminhavam em direção ao lago. Ainda nesses pensamentos, lembrou-se da amizade pura que tinha ao lado de Victor, foi uma época maravilhosa da sua vida; ao lado dele, conseguiu segurar todas as pontas e lembrou-se também dos momentos em que ele lhe dera carinho e amor sem pedir nada em troca.

    Parou em um determinado ponto, as ondas vinham violentamente, mas ao quebrar-se entre si, tocavam os pés dela calmamente. Tocou a barriga e ficou acariciando a região.

_O dia de voltarmos está chegando, logo veremos o seu pai e sua irmã.

  Como resposta, sentiu uma chutada e sorriu. Voltou para casa, durante o caminho mandou uma mensagem para Victor:

“Estou com saudades. Te ligo daqui a pouco.”

   Nos últimos dias, Victor andava estranho, sempre inventando uma desculpa para não atender as chamadas dela, também não fizera vídeo chamada. Entrou em seu quarto e logo discou o numero, aguardou alguns instantes, ele atendeu como nos últimos dias... Estranho:

_Oi.
_E aí.
– Deitou-se na cama – Estou com saudades, precisava ouvir sua voz.
_Como está tudo por aí?
_Bem. Fui caminhar na praia hoje, só faltou você no meu passeio.
_Eu bem queria poder te ver, mas as coisas estão meio complicadas. Trabalho e quando volto tem a Gabi.
_Agora está sentindo na pele por tudo o que eu passo na sua ausência, meu Senhor?
– Sorriu.
_Acho que sim e devo dizer... Não sei como você consegue.

   Riram e logo um silencio embaraçoso invadiu. Apenas se ouvia as respirações, sentiam a ansiedade um do outro.

_Estou contando os dias para te ver.
_Eu também Lu. Volta quando puder.
_Sim. Então é isso, volte a fazer o que eu te interrompi.
_Vou ter que desligar mesmo meu amor, estou entrando no jatinho.
_Faça uma boa viagem e... Beijos infinito na sua boca.
_Hey, essa fala é minha.
– Riram gostosamente.
_Boa viagem. Beijos.

    Desligou e sentiu seu peito oprimido. Victor realmente estava mudado, antes estaria perguntando dia e noite quando seria a data da sua volta, agora nem estava preocupado. Sentou-se na cama e ficou pensando se ele teria coragem de lhe deixar, de não amá-la mais. Definitivamente sua vida longe dele não se imaginava, Victor a deixara dependente desse amor, amando-o mais do que a si. Algo estava errado e aquela parede invisível, estava sim entre eles, afastando-os, dividindo.

***



Brasil...

   Aquela noite, em cima do palco, Victor esqueceu de todos os problemas que lhe rondava. A energia era tão perfeita que por ele, gostaria de ficar a eternidade ali.

   Assim que desligou o celular, sentiu-se um fraco, em alguns momentos naquela manhã, queria falar para ela: “Lu, eu te traí.” Talvez ela não suportasse tamanha dor, seu estado era delicado, estava grávida, longe de tudo e de todos. Decidiu segurar as pontas, iria contar a ela na sua volta, quem sabe ela lhe perdoasse e juntos começassem do zero a relação. Já não dormia mais pensando nisso, queria mais que ela voltasse e ele conversasse abertamente.

   Ao terminar o show e atender algumas fãs, ficou triste, calado. Leo notara essa indiferença:

_O que você tem, nego véio?
_Sei lá. Acho que saudades da Luciana.
_Falta pouco rapaz.
– Olhou para os lados, estava desconfiado. – Vou na frente para o hotel.

   Em alguns segundos, ele viu o irmão se retirar e entrar no carro. Soubera que ele não havia parado na saída para falar com as fãs, até estranhou isso. Victor precisava de alegria, de algo que o tirasse do seu mundo de pensamentos e arrependimentos. Naquela madrugada, ficou conversando com algumas fãs ali presentes, todas animadas, o fazendo rir e após sentirem o cansaço nos olhos dele, uma falou:

_Vai pro hotel, Vih. Já ficou muito tempo aqui conosco.
_Vou mesmo, terei que deixá-las aqui.
– Sorriu.
_Isso, descansa.

    Estava entrando no carro quando uma das garotas falou um pouco alto para ele ouvir:

_Hei Victor, se você falar com a Lucy, diz a ela que estamos com saudades.
_Pode deixar. Abraços.

    Entrou no veículo e só ali pode se sentir o pior dos piores, sentiu-se um canalha, todos gostavam de Luciana e ele iria perdê-la por um momento tão rápido que teve ao lado de Katherine. Encostou a cabeça no assento e sentiu uma lagrima fujona em seu rosto, limpou-a pensando: “Perdoa-me, Lu.”

   Entrou no hotel e antes de passar no seu quarto, foi ao do irmão. Precisava desabafar com alguém ou enlouqueceria. Bateu algumas vezes e quem abriu foi uma moça, por um momento ele achou que errara de quarto, mas seus olhos verdes destacados na sua pele ruborizada o fez lembrar que se tratava da garota em que ele pegou Leo aos papos. Seus olhos foram descendo e viu que a mesma usava um roupão de banho, logo passou na mente de Victor que seu irmão estava no mesmo barco que ele, estavam em um caminho sem volta.

_Vou chamar o Leo.
– A garota tomou atitude e afastou-se da porta para ir em direção ao quarto.

   Pelo barulho, Victor deduziu que o irmão estivesse no banho, a água do chuveiro entregava. Interrompeu a ida da garota até onde Leo estava:

_Esquece, eu... Vou pro meu quarto. Não fala pra ele que eu te vi aqui, por via das duvidas, eu não estive aqui. Entendeu?

    A garota fez um gesto positivo com a cabeça, estava assustada. Em passos largos, Victor voltou para o seu quarto, esfregou as mãos no rosto, não acreditando na cena que acabara de imaginar: Aquela garota, com aquele roupão de banho, seu cabelo molhado... Ali fora a prova concreta de que Leo estava tendo um caso extraconjugal com a moça.

   Sua cabeça estava fervendo, já não era só o seu problema, agora ele pensava em tudo e assim ficou, jogado na cama, vendo a aurora que se formava no céu, aos poucos o sol timidamente surgir. Ouviu uma conversa, algo como uma discussão no corredor, o quarto no qual Leo se hospedara, era ao lado do seu, a voz era dele. Levantou-se e antes de girar a maçaneta as vozes se calaram, ao abrir a porta, Victor presenciou a certeza dos seus pensamentos daquela madrugada: Leo beijando a moça, ela estava encostada na parede e olhando bem, eles juntos, pareciam ser um só corpo, as mãos percorriam pelos corpos sem cerimônia alguma, com bastante intimidade. Engolindo seco, Victor voltou para seu quarto e esperou a hora de irem embora daquela cidade. Assim que juntos entraram no jatinho, ele mal conseguia encarar o irmão, criou forças, cortando o papo de Leo sobre alguma coisa banal:

_Hoje pela manhã eu vi você aos beijos com uma moça, quem era?

   O rosto do irmão ganhara uma certa palidez, logo suas bochechas ficaram vermelhas, baixou a cabeça, mas logo ergueu-a com um olhar intimador:

_É a Clarisse. Eu e ela...
– Coçou a nuca – É complicado. Não sei definir o que temos.
_Só espero que isso não afete seu casamento. Você tem esposa e filhos.

   Calou-se, olhou para a janela, não queria encarar o irmão, não depois do que vira naquela manhã. Bastante seguro de si, Leo criou coragem e falou:

_Você pensa que eu não sei do seu contato com a tal da Katherine? Uma mulher que vive no nosso camarim, fingindo ser sua amiga. Não falo nada, apenas observo tudo calado. Por isso acho que você não tem moral alguma para falar de mim. Sua situação não é diferente da minha.

   Bastou aquelas palavras para Victor se calar durante toda a viagem. Leo estava certo, isso ele tinha que admitir.          

Continua...

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