sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Cap. 68






    Ao voltar para o quarto, Luciana sentiu raiva. Victor estava perto da cama, analisando minuciosamente Gabriela que dormia tranquila. Queria o expulsar do quarto, jogar toda a sua raiva para ele, mas a chegada de Leo a tirou do mundo de pensamentos e fúrias.

   Sem pensar em mais nada, Leo se aproximou da cama, olhando cada detalhe da sobrinha e por fim, suspirando aliviado.

_Leo, como está a Paula e o Fernando?
_Estão bem, Vitor. Foram só lesões leves.
– Olhou para o leito – Ela está bem? Fizeram os exames?
_Ela fez exames, mas só quem sabe do resultado é a Luciana
– Olhou timidamente para e esposa.

    Aquele acidente da filha abalara as estruturas de Victor. Estava se culpando desde que soubera, agora se sentia arrependido por ter esnobado tanto de Luciana naqueles dias. Se estivessem vivendo bem, iriam conseguir passar por aquela barreira, mas agora ele sentia a raiva que ela lhe passava em apenas um olhar. Não queria sair de perto da cama, queria ficar ali esperando sua princesa acordar e saber que o pai sempre esteve do seu lado.

   Leo se aproximou de Luciana:

_E aí Lucy, já saiu o resultado dos exames?
_Ainda não Leo, só amanhã. Mas a pediatra disse que olhando assim para ela, sabe que está tudo bem, só precisa de algo que confirme.
_Graças a Deus.
– Olhou para Tatianna. – Amor, vamos pra casa? As crianças devem estar acordadas.

    Tatianna despediu-se de Luciana prometendo que no dia seguinte estaria por lá. Eles foram embora, restou apenas para os dois se olharem. Victor ainda lhe suplicava com esse gesto, queria o perdão dela. Ignorando-o, Luciana sentou no sofá e ficou com os olhos fechados, o cansaço estava chegando, porém, queria ficar acordada para ver o momento exato que Gabriela acordasse.

_Descansa um pouco Lu. Qualquer coisa eu te chamo.
_Não quero.

    Ainda doía em Luciana, queria ser forte, esquecer, não ser mesquinha, mas o que Victor fizera naquela noite só demonstrou que a amizade que tinham, se dissipara com as crises do casamento. Victor soltou o ar pesadamente, estava fazendo de tudo para ganhar o perdão de Luciana, mas ela não dava brecha para ele se aproximar.

    Aquela foi a madrugada mais tensa que eles tiveram, Victor não suportava mais olhar para Luciana e ser tão desprezado. Respirou fundo e saiu do quarto, preferiu andar pelos corredores, ficar ali estava o sufocando. Luciana entregou-se as lagrimas assim que viu o esposo sair do quarto, relutava contra esse sentimento ruim, mas ele estava ali, firme no seu coração.

    Gabriela acordou pela manhã um pouco chorosa, recebendo atenção e carinho dos pais que mesmo sem trocar uma palavra, não deixavam transparecer. O dia foi de muitas visitas, Carol apareceu assim que soube e encheu a criança de mimos, olhou para Luciana, viu quando Victor saiu do quarto suspirando.

_Ainda estão em um clima pesado?
_Ele é o culpado da minha filha estar nessa situação.
– Apontou para a cama
_Não faz isso, Lucy. O Victor não teve culpa alguma, nós sabemos disso. A Tatianna me ligou hoje pela manhã me dizendo o que aconteceu. Desse jeito o casamento de vocês irá pro ralo.

    Luciana calou-se, sabia que Carol estava certa, precisava reverter aquele problema ou então teria que assinar o divórcio. Victor entrou no quarto com um copo nas mãos, entregando-lhe, um gesto de carinho e perdão com ações:

_Fui à cantina do hospital e aí trouxe pra você. Não tem se alimentado desde ontem.
_Não estou com vontade alguma.
– Rebateu ríspida.

   Carol olhou para os dois.

_Luciana.
– Repreendeu-a

    Com a cabeça baixa, Luciana pegou o copo das mãos de Victor, não agradeceu, seria demais fazer isso. Aquele suco até que a revigorou mais, agora estava com a filha, sorrindo e brincando, estavam esperando o resultado dos exames. Carol foi até Victor:

_Tenha paciência, Victor.
_Estou tentando fazer isso, Carol.
_Ela só está nervosa pelo o que aconteceu com a Gabi.

    Olhando para Luciana, Victor suspirou.

_Será?
_Tenho certeza.

    Carol se despediu de todos ali e foi para a clinica. No começo da tarde, a pediatra fez mais alguns exames em Gabriela, dando alta em seguida. Enquanto Victor ficava com a filha, Luciana foi até a sala dos funcionários, pegando sua bolsa e voltando rapidamente até o quarto onde a filha estava. Gabriela estava muito apegada a ela, assim que a viu, parou de chorar.

_Vamos meu amor, agora você vai voltar para casa.

    Victor todo momento estava calado, sem dirigir uma palavra sequer a Luciana. Assim que chegaram no estacionamento, foi preciso se falarem:

_Luciana, você me dá carona? Ontem eu vim de carro, mas aí eu acabei emprestando a Tatianna.

    Estava se sentindo humilhado por pedir isso a esposa, sabia que ela não estava nem o olhando diretamente de tamanha raiva. Ela o olhou dos pés a cabeça:

_Tudo bem.

    Colocou Gabriela na cadeirinha, estava com medo de sua filha se assustar, chorar. Entrou no veículo e o silencio acometeu-os, não conseguia olhar para Victor e nem ele iria conseguir fazer o mesmo. Uma voz fininha e encantadora surgiu nos assentos traseiros:

_Mãããe, quero sorvete.

    Não conseguiram segurar o riso fraco, juntos se olharam e viraram o rosto, Gabriela estava sorrindo, nada preocupada com os arranhões nos braços ou lembrança de ter presenciado um acidente.

    Assim que chegaram em casa, foram recepcionados por Lourdes e Lise, estavam preocupadas e só tinham noticias pelo telefone:

_Louvado seja Deus!
– Lourdes abraçou Gabriela.

    Lise olhou para Luciana com medo, estava aguardando um momento bom para falar com a patroa. Todos subiram até o quarto de Gabriela, Mariana corria em seus passos pequeninos, com um olhar curioso ao ver a irmã mais velha com alguns curativos. Victor estava quieto, pensativo, preocupado com tudo. Sua vida estava de cabeça para baixo, como se não bastasse o problema conjugal, agora vinha a culpa lhe apertando. Calado, foi até o quarto, pegando a mala, ainda teriam uma viagem naquele fim de tarde. Passou rapidamente no quarto, brincando com a filha, olhou para Luciana e sussurrou:

_Tenho que viajar. Qualquer coisa me liga.
_Tudo bem.

    Foi até a filha, depositando um beijo e por pensamento falou: “me desculpa Gabi.” Se retirou do quarto e sozinho desceu, lhe doía ver como Luciana estava lhe tratando, se permanecesse assim, agora ele tinha certeza que o casamento iria acabar.

   Lise aproveitou o momento em que Luciana estava no quarto de Gabriela:

_Dona Luciana, me desculpa, não foi minha intenção deixar que o Victor levasse a Gabi.
_Você não teve culpa, Lise. O Victor é o pai da Gabi, tem todo direito de levá-la para onde quiser.
_Fiquei com tanto medo de acontecer o pior com essa menina – Passou as mãos no cabelo da criança.
_Imagina eu que fiquei maluca quando me disseram. A sorte é que levaram ela para o hospital onde trabalho. Vamos esquecer isso, bola pra frente. Nossa Gabi está conosco, seremos todos felizes.


    Pediu licença a babá e foi até o quarto, suspirou quando olhou em volta. Não dera atenção a Victor, será que isso iria fazer parte da sua rotina? Iriam viver como dois estranhos dentro de uma casa? A amizade se foi, mas o amor estaria indo no mesmo caminho? Suspirou impaciente enquanto arrumava o closet e sentia as lágrimas caírem em seu rosto, deixou-as correr livremente. Não queria perder Victor, mas naquele momento ela sentia um ódio pela simples presença dele ao seu lado.


***

    Os dias estavam se passando rápidos, Luciana agradeceu internamente por aqueles dias de folga, com Victor viajando sabia que suas filhas mereciam total atenção dela. Ele não ligava mais, sabia de algumas noticias por Tatianna que estava sempre indo por lá e visitar Gabriela. Em algumas vezes, sabia que ele tinha folga, mas não ia para a cidade, doía e já imaginava que aquilo seria uma prévia do que seria quando chegassem ao extremo de pedir a separação. Não iria conseguir viver sem Victor, já estava sem força alguma de viver, apenas o queria por perto cada vez que as filhas clamavam por ele.

    Victor sentia-se culpado a cada dia que se passava, não tinha coragem de olhar para Gabriela. Sentia saudades da casa, do movimento, das filhas e até mesmo de Luciana. A amava e muito, mas respeitava o momento que ela estava passando. Não iria forçar a barra, iria esperar o momento ideal para conversarem, mas será que esse iria chegar? E se antes se separassem? Não enxergava outra mulher em sua vida, não queria, porque apenas ela era a especial, era sua de corpo e alma.

   Luciana recebeu uma ligação do pai e logo suspirou. Lourdes se aproximou:

_Está com a cara tão triste.
_O meu pai. Essa semana é o casamento dele com a Joy. Estou feliz por eles, mas ele me chamou para ser testemunha, como se não bastasse, ele chamou o Victor também.
_Quem sabe essa não é a oportunidade de se reconciliarem?
_Não Lourdes. Ele quase não liga pra mim, ou melhor, nunca mais ligou.
_Não deixe o orgulho dominar, Luciana.
– Lourdes tocou-lhe o ombro – Se já não sente mais raiva, aproveite o momento para tê-lo de volta.

   Ela sabia bem do que a empregada estava falando. Nos últimos dias já acordava olhando para o quarto, perguntando quando Victor iria voltar, as lágrimas entregando a saudade que estava sentindo. Antes de dormir, olhava fotos em sites, aquele olhar dele que ela sabia que era de tristeza, de suplico. Ela também suplicava todas as noites antes de dormir. Decidiu seguir os conselhos de Lourdes e mandar uma mensagem.

   Victor estava deitado em um quarto de hotel. Mais uma vez preferiu ficar na capital paulista e não ir pra casa. A saudade estava enorme, ele queria poder matá-la, mas lhe doía saber que sua própria esposa o evitaria. Recebeu uma mensagem: 



Lu_Amor: "Victor, amanhã é o casamento do meu pai. Não estarei aqui, vou levar as meninas comigo.



   Aquela mensagem foi tão seca, triste, direta, mas ele sabia que naquelas palavras tinham saudades, suplico, desejo. Conhecia Luciana a tal ponto de saber que ela jamais lhe mandaria uma mensagem quando não estava com saudades. Lembrou-se que havia prometido ser uma das testemunhas no casamento de Lucas, não queria ter contato direto com ela e sendo assim, ligou para o sogro, marcou a hora certa que teria que estar por lá.



    Luciana não estava prestando muita atenção naquela cerimônia. Era algo importante para seu pai, mas seus problemas falavam mais alto. Victor não respondera a mensagem, logo ela descartou a possibilidade de vê-lo ali, naquela manhã, no cartório. Alguns amigos de Lucas perguntavam por ele, ela disfarçava dizendo que ele estava trabalhando. Alguém entrou na sala e se aproximou dela, aquele perfume que ela sabia quem usava, um sorriso involuntário surgiu em seus lábios, inspirou forte e logo ouviu a voz de Victor sussurrar:

_Perdi algo?
_Não. Está no começo.

   Após a cerimônia, foram assinar o livro, ainda era estranho ela usar seu sobrenome de casada. Veio nas lembranças o seu casamento, era uma época tão boa e de plenitude, que agora só havia se transformado em tristeza, lágrimas, sonhos perdidos. Todos abraçaram Lucas e Joyce, Luciana estava feliz pelo pai, mesmo sentindo vontade de chorar ao lembrar de Geovana. Após todos assinarem, foram para casa. Lise estava com Gabriela e Mariana, que ao verem o pai, correram e entre risos e gritos o abraçaram. Victor sentiu seus olhos umedecerem, logo algumas lágrimas fujonas tomarem conta do rosto, abraçou-as com tanta força, entregando todo o sentimento.

Lucas: _Vamos todos almoçar.

    O clima estava agradável, todos sorridentes. Joyce pediu a palavra:

_Hoje está sendo um dia muito especial. Mas acho que tudo se tornou mágico desde que eu e o Lucas nos conhecemos melhor.
– Olhou para o marido – E hoje antes de começar a cerimônia, me perguntaram o que eu queria para o meu futuro. Respondi que quero levar uma vida ao lado do Lucas, uma vida de amor e me espelhar em um casal que está aqui na mesa – Olhou para Luciana e Victor – Quero ser como vocês, um casal comum, mas que se amam, que tem suas crises e brigas, mas que jamais deixam isso se abalar. O pouco tempo que convivi com vocês, descobri a tradução para o amor.

    Luciana sentiu os olhos marejarem, olhou de esguelha para Victor, que estava calado, pensativo, com o olhar perdido. Baixou a cabeça e se sentiu culpada. Então era assim que as pessoas achavam sobre seu casamento? Sua união com Victor estava longe de ser feliz, não nas ultimas semanas. Agradeceu a Joyce pelo carinho e por fim todos brindaram e almoçaram. Já era fim de tarde quando foi até o quarto do casal.

_E aí Joy, vão terem alguma lua de mel?
_Não Lucy. Mas hoje ele vai me levar para um hotel aqui perto.
_Uau! Aproveita.
_Se importa se sairmos assim e vocês ficarem sozinhos?
_Não. Podem ir.

    Assim que Lucas e Joyce saíram, Luciana subiu para o quarto, Victor estava pegando sua mala. Teria que deixar o orgulho de lado se quisesse seu casamento de volta. Timidamente, sentou na cama, encostada na cabeceira, vendo Victor fechar a bolsa.

_Tem show hoje?

    Ele ergueu o rosto, não entendendo muito onde ela queria chegar:

_Não.
_Então porque não fica aqui? As crianças estavam sentindo sua falta.

   Victor sorriu levemente, olhando para ela:

_Só as crianças?
_Victor...
– Repreendeu-o
_Tudo bem, não era minha intenção.

    Já estava perto da porta quando a ouviu sussurrar:

_Fica, por favor.
_Tá.
– Virou-se para encará-la – Acho que aqui deve ter algum quarto disponível...
_Não, eu quero você fique aqui, dividindo esse quarto que é nosso.
– Entregou-se as lagrimas – Vem cá, vamos conversar.

    Victor estava indeciso, ali poderia não ser o momento certo de se aproximar de Luciana, mas o amor que sentia por ela estava invadindo-o por completo.
 


Continua...

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