domingo, 30 de novembro de 2014

Cap. 70





  Atenção: Este capítulo contém cenas de sexo! Caso não se sinta confortável, não leia.
 

   Luciana terminou de limpar sua sala, fechando-a e indo até a de Carol. A amiga também já estava saída.

_Lucy!
– Abraçou-a – Está tensa.
_Sim. Eu preciso da sua ajuda.

   Juntas foram ao shopping, passeavam pelas lojas enquanto Luciana contava-lhe tudo.

_Até que enfim criaram coragem. Vocês parecem dois adolescentes virgens.
_Ká
– Repreendeu a amiga – Acho que foi preciso esse tempo sabe. Estávamos muito mal acostumados, achávamos que tudo se resolvia em cima de uma cama, não é bem assim.

   Carol parou de andar, olhando para a amiga:

_Nossa! Estou impressionada com você, Lucy. Antes era tão certinha e nem conversava comigo sobre esses assuntos, agora está mais solta...
_Ah
– Baixou a cabeça – Nem eu estou me conhecendo.

    Entraram em algumas lojas, escolhendo algumas peças. Luciana estava sentindo falta de ter um momento assim, em que pudesse relaxar e cuidar mais de si. No dia-a-dia dedicava seu tempo entre trabalhar na clinica, hospital e cuidar da casa, das filhas e do marido.
Escolheu algumas peças, saiu e no estacionamento mesmo se despediu da amiga:

_Muito obrigada, Ká. Estava na dúvida e sua opinião me ajudou muito.
_Não esquece de usar aquela lingerie que comprou, ele vai adorar.
_Tá
– Sorriu timidamente – Tenho que ir.
_Tem certeza que não quer deixar as meninas comigo?
_Não, obrigada. A Lise vai ficar essa noite.

   Entrou no carro e foi direto pra casa. Estava ansiosa, suspirando como uma menina boba, ingênua. Chegou em casa e Victor ainda não havia chego, agachou-se para abraçar as filhas e brincar por alguns minutos.

_Lourdes, viu o Victor?
_Não. Ele me disse que ia lá na clinica.
_É, acho que ele ainda está no escritório.

   Subiu para o quarto e guardou tudo o que comprou. Aproveitou o momento para relaxar no banho, caprichando em tudo. Já estava no closet quando ele chegou:

_Oi.
– Olhou pelo espelho enquanto se maquiava.
_Está empolgada mesmo.
– Encostou-se na parede.
_Sim.
– Ficou séria – Você não está querendo desistir, né?

   Victor sorriu enquanto desabotoava a camisa.

_Não. Vou tomar um banho e nós vamos, tá?

   Luciana estava tensa ao ver Victor tirando a roupa, era algo estranho.

_Vou ver como estão às crianças antes de irmos.
_Não vai se trocar?
– Apontou para o roupão de banho que ela estava usando.
_Depois.

   Victor sorriu assim que viu a esposa saindo, adorava deixá-la assim, totalmente sem jeito. Entrou no banheiro e tomou um banho demorado, trocando de roupa, foi ao studio enquanto Luciana se trocava. Estava empolgado em algumas folhas com suas composições quando ouviu o barulho dos saltos dela, ergueu o rosto e ficou encantado.

_Você é linda, mas hoje... Caprichou.
_Vih
– Baixou a cabeça.
_Vamos logo.

   Despediram-se de Lourdes e Lise, entraram no veículo e Victor sorriu.

_Qual foi a graça?
_Nada.
– Ligou o motor do carro – Também estou nervoso se é isso o que quer saber.

   O caminho até o restaurante foi tranquilo, o papo foi fluindo aos poucos, em pouco tempo ali estavam Luciana e Victor antes de tudo, antes de casarem, antes de terem as duas pequenas... Estavam como dois amigos entre assuntos paralelos e altas gargalhadas. Desceram do carro, entregando a chave ao manobrista, foram até a entrada. Timidamente, Victor entrelaçou a mão na mais próxima de Luciana, um choque percorreu pelo corpo deles, era algo surreal. Olharam-se sem nada dizer, aquele gesto dizia por si só. Foram recepcionados pelo
*Maitre, que os levou a mesa livre, assim que sentaram sentiram aquele silencio invadir e se tornar incômodo, Victor pigarreou puxando a cartela de vinhos.

_Qual tipo de vinho você quer?
_Escolhe Vih, o que você quiser está bom para mim.

   Enquanto o pedido não chegava, conversavam enquanto tomavam vinho. Victor estava vendo em Luciana uma confiança, agora não só debatiam sobre assunto de “casa e filhos”, conversavam sobre seus trabalhos, projetos enquanto degustavam a comida.

_Outro dia ouvi você tocando uma musica diferente. Achei linda.
_Estava pensando em você quando a escrevi.
– Parou de comer – Na verdade, só agora descobri que boa parte das minhas composições tem você como inspiração.

   Luciana parou de fazer “voltas” no macarrão com o garfo, o olhando, sentiu algo tão leve e prazeroso como nunca sentira.

_Obrigada.

   Terminaram o jantar, ainda ficaram conversando enquanto saboreavam a sobremesa. Saíram do restaurante e Luciana sentiu frio, o vento estava forte.

_Nossa, o agora o tempo esfriou.

   Sentiu Victor abraçá-la.

_Eu te esquento.

   O olhar dos dois caiu para a boca, Luciana respirou fundo aproximando os lábios aos dele:

_Eu te amo, Victor.

   Beijaram-se com amor, o barulho de tudo ao seu redor não foi empecilho, entregaram-se aquele momento como dois amantes, apaixonados. O carro chegou e entraram no veículo com a respiração ofegante.

_Vai me levar para onde?
_Advinha...
_Vih...
– Esticou o lábio inferior.
_Surpresa.

   Sorriu enquanto ligava o carro e saíam da frente do restaurante. A cidade a cada momento ficava distante, Luciana olhava para ele que sorria e colocava a mão mais próxima na coxa dela. O veículo foi perdendo velocidade, deixando-a um pouco tensa.

_Lembra que me pediu para te trazer aqui?
_Ah, pensei que seria em outro local.
_E qual seria?
_A fazenda né, Victor.

   Victor gargalhou enquanto segurava suas mãos.

_Um motel de vez em quando é bom.
_Ainda fico desconfortável.
_Larga de ser mentirosa, Lu. Fala isso, mas quando entramos lá fica...
– Encostou os lábios no ouvido dela, sussurrando com a voz fina – “Isso Vih... Não para...”
_Quer parar?
– Bateu na coxa dele – Nunca que faço isso.
_Ok minha Senhora. Vamos entrar.

   Escolheu o quarto e logo entraram. As mãos de Luciana estavam geladas, não sabia para onde olhar. Victor abriu a porta e juntos olharam cada detalhe.

_Nossa, aqui é tão aconchegante.
_Para quem estava dando “chilique” dentro do carro, falar isso pra mim já se torna um elogio.

   Entreolharam-se entre risos tímidos. Em passos lentos, Victor aproximou-se de Luciana. Já sentia a respiração dela ofegante, um pouco nervosa.


_Sabe que eu gosto quando fica assim, totalmente sem jeito?
_Não sabia disso.

   Beijou-a rapidamente.

_Amo esse seu jeito, Lu. Amo como você é.
 
   Abraçou-a, sentindo todo o desespero dela, sorriu voltando a olhá-la.

_É engraçado, você fica tão nervosa quando estamos em um momento assim.

_Não importa quantas vezes você me ame, Victor, sempre terei a mesma sensação da nossa primeira vez.

  Próximos, os corpos já estavam conversando, os olhares demonstravam toda a ternura. Victor segurou uma mecha do cabelo dela, colocando-a por trás da orelha, dando espaço para ele observar minuciosamente o rosto dela. Aproximou-se mais, roçando os lábios aos dela, sentindo as mãos de Luciana tocando-lhe os braços, subindo para sua nuca. Entregaram-se a um beijo profundo, que liberava o portal para o calor da paixão, era intenso, sagaz. Victor segurou firme a cintura dela, colando de vez os corpos, descendo uma das mãos para a coxa, apertando-a e arrancando gemidos de Luciana, que finalizou o beijo com a respiração entrecortada.


_Victor... 
– sussurrou descendo as mãos para o peitoral dele
_Adoro ouvir meu nome saindo da sua boca.

   Mais uma vez se beijaram. As mãos de Victor eram ágeis, passando pelo vestido, entrando por baixo dele, subindo-o e revelando o corpo dela. Sorriu e mordeu os próprios lábios enquanto seu olhar vagava por Luciana. Suas mãos subiram mais, mostrando a pele delicada de sua amada, ajudou-a tirando o vestido, apalpando cada parte onde a lingerie não cobria, empurrando-a bruscamente contra a parede, ouvindo-a gruir de desejo aos risos. Luciana sentiu todo o corpo de Victor sobre o seu, apertando-a, mesmo sabendo que no dia seguinte as marcas ficariam obvias.
Victor desceu os beijos pelo pescoço, deixando um rastro por onde passava, ela estava imóvel, amando os carinhos intensos, puxando o ar que lhe faltava, buscando um abrigo nos cabelos dele, desceu as mãos para desabotoar a camisa. Mais uma vez foi pressionada contra a parede, Victor afastou um pouco, com uma calma invejável desabotoou a camisa, erguendo o rosto com as sobrancelhas arqueadas, um sorriso malicioso nos lábios. Luciana estava ficando louca com toda essa tortura, não esperou ele finalizar, arrancou a camisa, puxando-o mais para si, as mãos correram livremente pelas costas, queria sentir a pele dele, apertar e passar as unhas de leve. Como resposta, Victor pressionou-a mais uma vez na parede, mordendo a região do pescoço, sussurrando com o contato da boca sobre a pele:

_Você me enlouquece, Luciana.
– Subiu os beijos para perto do ouvido. – Me deixa te amar?
_Me ama hoje e todos os dias da minha vida, Vih.


  As mãos dele foram para frente, apertando os seios de Luciana por cima do sutiã. Ela puxava o ar, impulsionando o corpo para frente, queria colar ao de Victor, queria senti-lo, estava dependente. Sem paciência alguma, tirou a peça íntima que lhe cobria os seios, jogando-a para bem longe. Victor parou por alguns segundos, analisando cada detalhe, seu olhar estava vivo, mais ousado. Ergueu-a do chão, levando para a cama, caindo sobre ela, logo se ajoelhou, imobilizando-a com uma perna de cada lado. Desabotoou a calça vagarosamente, olhando sempre para Luciana, deixando-a boquiaberta.

_Está com pressa, Senhora Chaves?
– Não obteve respostas, Luciana estava estática – Porque hoje minha missão é te amar até o amanhecer.

   Luciana sentiu um receio, sorriu debilmente. Viu Victor sair da cama e se livrar das suas ultimas peças de roupa. Não sabia como agir, a cada dia Victor caprichava e inovava mais na arte de amar, deixando-a em desvantagem quanto a isso. Queria agradá-lo.


_Quer ajuda com isso?
– Apontou para a calcinha enquanto deitava sobre ela.
_Você me ajudaria? – Sua voz saiu trêmula.
_Com todo prazer.

    Sentiu os lábios dele em contato com a sua pele no pescoço, fechou os olhos imaginando o que estaria por vir. Victor deixava um rastro por onde sua boca passava, amava esse cheiro que Luciana emanava. Enquanto se dedicava com leves sugadas em um dos seios, uma das mãos apertava o outro, sentindo ela arquear as costas, as mãos na nuca o puxando para si. Desceu os beijos, parando na barriga, erguendo o rosto para analisar as expressões no rosto dela. Luciana estava com a boca entreaberta, com olhos fechados, sentiu quando ele encostou os lábios aos seus, a beijando intensamente enquanto uma das mãos descia por entre sua lingerie, fazendo um carinho especial. Isso a deixou entorpecida, Luciana não correspondia ao beijo porque da sua boca saía o nome dele várias vezes. Antes mesmo de atingir o prazer ele parou com os movimentos, tirando rapidamente a calcinha dela, ficando entre suas pernas.


_Amo tanto você, minha Morena.


   Encaixou seu corpo ao dela, a amando devagar com leves investidas. Luciana não conseguia mais pensar em nada, amava aquele momento de transe onde juntos buscavam pelo prazer. Momento certo para Victor puxá-la pela cintura, ajoelhando-se e levando-a junto para ficar por cima, com uma perna de cada lado. Agarrou a nuca dela para o olhar, alguns segundos de tortura.


_Porque parou?
_Porque quero aproveitar cada momento com você.

   Segurou a cintura de Luciana, olhando para baixo, guiou os movimentos enquanto sentia encaixar mais uma vez. Amava dominar, mas com ela era algo bem diferente, gostava de vê-la comandar a relação, ditar como seria. Luciana subia e descia em cima de si, movimentos lentos, com uma pitada de romance e ousadia. Os gemidos ficaram altos, ela estava sentindo as ondas de prazer, cada vez mais intenso, mais forte. Relutando contra, chegou ao ápice, aconchegando o rosto no ombro dele, o ajudando. Victor não aguentava mais, jogou-a na cama mais uma vez, deitando sobre ela, movimentos rápidos, recebendo como resposta de agrado, os sussurros dela chamando seu nome. Atingiu o prazer e agora estavam buscando o ar, se olhando com ternura e agradecimento. Deitou por completo em cima dela.

_Gostou?
– beijou-lhe os lábios.
_Amei. Cada dia você me deixa mais louca e com mais vontade de te amar.
_Mentirosa
– Saiu de cima, deitando do lado dela. – Se gostasse tanto não teria feito greve de sexo.
_Eu tenho culpa se você viajou depois da nossa conversa?
_Sabia muito bem onde me encontrar.
_Claro, sua agenda eu sei, mas não sou mais aquela Luciana que só se dedicava ao trabalho. Tenho duas vidinhas pra tomar conta.
_Eu sei disso meu amor.
– Fez carinho no ventre dela – Estava só brincando.
_Eu sei que estava brincando.
– Fez uma pausa para encarar o teto, sorrindo. – Lembra quando eu tinha uma folga e ia correndo te ver? Será que já te amava?
_Acho que sim, só não queria contar.
– Sentou-se na cama. – Vem, ainda não acabou nossa maratona.
_Vih.
– Choramingou – Estou tão cansada. Podemos deixar pra amanhã.
_Fraca.
– Segurou-a nos braços.

    Levou-a para o banheiro, indo direto para a banheira, sentando e colocando-a sentada na sua frente. Momento bom para Luciana encostar sua cabeça no peitoral dele, sentindo as mãos em seu ventre. Acariciavam-se em silencio, cada um com seu pensamento. Victor encostou os lábios próximos ao ouvido dela:

_Eu acho que está na hora de tentarmos mais um.
_Mais um o que, Vih?
_Mais um filho.
– Seu olhar fixou em algum ponto, sorrindo – Quem sabe dessa vez não vem um menino?
_Melhor não, Vih. Sofremos tanto nas duas gestações. Já temos duas estrelinhas, não precisamos de mais nada.
_E se eu quiser? Sinto necessidade disso, sabia?

   Luciana remexeu-se inquieta, aquele assunto estava deixando-a sem jeito.

_Mas eu não quero Victor. Vamos encerrar esse assunto para não discutirmos.

   Victor calou-se, há muito tempo estava querendo fazer essa proposta a Luciana, o seu receio maior era isso o que acabara de acontecer. Não queria, mas a resposta ríspida dela o abalou. Terminaram o banho em silêncio, logo saindo do motel. Voltaram para casa calados, cada um com seu pensamento, chegaram e enquanto ela foi ver as duas filhas, ele trocou de roupa, deitando pensativo, triste. Não percebeu o momento que ela voltou ao quarto, já se trocando no closet e deitando do seu lado.


_Está tudo bem?
_Sim.
– Virou-se apagando o abajur – Boa noite.

   Luciana respeitou o momento do marido, mas confiante que no dia seguinte, ele esqueceria daquele assunto e voltassem a viver em paz.

Continua...
__________

*Maitre:
Maitre d' (abreviação para maître d'hôtel, literalmente 'o mestre do hotel'), ou simplesmente maitre, é a pessoa encarregada de destinar clientes às mesas, no estabelecimento, seja restaurante, hotel ou navio e dividir a área de jantar em áreas da responsabilidade dos servidores a serviço, as denominadas "praças".

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Cap. 69






   Victor deixou a mala no chão e timidamente se aproximou de Luciana. Ainda encarou-a por alguns segundos em pé. Ela, por sua vez, baixou a cabeça timidamente, sentiu quando ele se afastou e foi até o outro lado da cama, encostando-se à cabeceira, sentado.

   Um silêncio invadiu o ambiente, Luciana procurava as palavras a serem ditas, mordia o lábio inferior como uma criança quando apronta algo. Sentiu-se vazia, com uma vontade imensa de chorar, eram tantas coisas que queria dizer e que ele compreendesse. Limpou a garganta para sua voz sair clara:

_Depois do que o Michael fez comigo eu... Tentei ignorar, tentei esquecer. Eu tinha medo Victor, medo de te contar e você ir lá no hospital ou em qualquer lugar que o Michael estivesse.

   Sentiu as lágrimas caírem, mas não impediu-as, continuou a falar, agora com a cabeça erguida o encarando:

_Eu não gosto de lembrar do que ele fez em mim, mas só de imaginar o pior que seria se eu te contasse na época...

   Victor respirou fundo, não queria tocar naquele assunto, mas ela insistia:

_Isso tudo por causa do seu emprego? Nosso casamento não vale nada?
– Olhou-a
_Jamais foi por causa disso! Victor, depois do que ele fez comigo tive a prova concreta de que não iria valer você tocar um dedo nele. Aquele homem é um safado, que só iria fazer sujar suas mãos e quem sabe sua carreira que levou anos para ser reconhecida. Eu fiz isso por você! Imagina você fazendo alguma besteira e indo parar em todos os sites? Não valeria a pena Victor. Eu sei que isso mexeu com sua virilidade, afinal, você é homem e o que as pessoas devem estar pensando?
_Ele mexeu com você, Luciana. Você é a minha esposa e EU teria que te tirar dessa e te defender!
– Alterou a voz
_Mas eu quem teria que me defender Victor!
– Limpou as lágrimas – Inúmeras vezes você me pediu para afastar do Michael, mas eu achava que era ciúme bobo. Eu fui uma idiota, você não merecia passar por isso!

    Luciana entregou-se ao choro, relembrando tudo e algumas vezes fincando os dedos no lençol para expulsar toda a dor mental que Michael lhe causara.

_E porque ainda está no emprego que o próprio te ofereceu? Se você o repudia tanto porque faz isso?

    Ela baixou a cabeça, procurando as palavras certas. Victor estava alterado e logo ela sabia que iriam acabar discutindo se estivessem nesse mesmo tom de voz.

_No outro dia, após o Michael fazer tudo na frente dos funcionários, eu pedi demissão ao Jonas, mas ele recusou Victor.

    Ele ainda estava incrédulo, queria que Luciana se afastasse de tudo que lembrasse Michael.

_Eu juro Victor, não fui à despedida do Michael por que quis. O Jonas me levou até a sala de reuniões. Fiquei por pouco tempo, foi quando ele fez aquilo tudo. Agora entende porque eu não queria te dizer?

    Victor digeriu todas as palavras, estava olhando para um ponto no quarto. Não podia culpar Luciana em lhe esconder nada, também já fez isso. Lembrou-se do acidente de Gabriela, se sentiu culpado. Baixou a cabeça sentindo as lágrimas querer cair, inspirou profundamente e voltou a olhá-la:

_Já que estamos aqui conversando, queria te pedir desculpas pelo o que aconteceu com a Gabi. Não foi minha intenção te esconder nada, Luciana.
– Respirou fundo – Eu fui o culpado de tudo.

    Sentiu as mãos de Luciana deslizar pelo forro da cama, achando a sua mais próxima e entrelaçando, apertando-a forte:

_Não. Você não tem culpa de nada, Vih. Eu estava muito mal e só estava procurando alguém para jogar a culpa. Vamos esquecer isso, nossa pequena está bem, com saúde.
_Não consigo. Evito olhar diretamente para ela, porque me sinto culpado.
_Ninguém teve culpa, Vih, isso é normal. Se não fosse a Paula poderia ser eu ou você, não importa. Por favor, não fica mal por isso. Acabou, vamos esquecer.

    Com ternura, Victor olhou para Luciana, primeiro contato direto com os olhos após tudo o que houve. Contato esse que sem mesmo falarem uma palavra, entendiam a mensagem que outro passava. Um meio riso dela foi o passaporte para se aproximarem mais, as lágrimas ainda caíam pelo rosto e em um gesto de afeto, Victor passou a mão pelo rosto da esposa:

_Não chora, já passou.
_Não dá
– Sussurrou – Está difícil esquecer tudo o que se passou.

    Victor também não conseguia conter as próprias lágrimas que caíam timidamente, não na mesma frequência que as de Luciana. Aquele choro era um misto de saudade, de dor, amor, mágoa. Fechou os olhos para não demonstrar fraqueza diante dela, mas Luciana passou uma das mãos no rosto dele, com um sorriso fraco:

_Só quero que tudo fique bem entre nós dois. Eu não vou suportar ver você se afastar de mim e das crianças novamente.

    Ele sorriu enquanto abria os olhos, segurando a mão dela que antes estava em seu rosto, levando-a até os lábios e beijando.

_Não vou fazer mais isso, eu prometo.

   Calaram-se, ainda era muito cedo para tentarem algo mesmo querendo. Um desejo acumulado tomava conta de Victor, estava em abstinência, queria provar os lábios dela outra vez, sentir o gosto que ela tinha. Levou as mãos dela até suas coxas, entrelaçando-as, brincando de fazer carinho, um momento de paz que estavam precisando.

_Poderíamos conversar mais para saber onde estamos errando.
_Isso não é erro, Luciana. São fatos que infelizmente acontecem na vida de qualquer casal. O que temos que fazer é respeitar o momento do próximo,
– Olhou para ela – mas, antes de tudo, não deixar que o companheirismo e a amizade acabem. – Apertou as mãos dela – Eu confio muito em você, Luciana. Construímos uma amizade antes de tudo, não quero vê-la indo embora de nossas vidas porque foi através dela que estamos até hoje juntos.
_Não me culpa por eu ter evitado problemas para você, Victor. Eu só achei melhor...
_Mas e se isso acontecesse comigo? Iria entender se eu te escondesse algo?
_Acho que esqueceu que me escondeu algo, não é?

   Como esquecer da traição? Victor achou que tudo estava acabado, que não haveria cobranças quanto a isso. Mais uma vez respirou fundo, baixando a cabeça.

_Acho que se te pedir desculpa todo dia você não vai entender, não é Luciana?
– O tom da sua voz agora estava sério.
_Não era minha intenção. Desculpa Vih. Vamos esquecer, não quero brigar.
_Nem eu.

    Continuaram calados, apenas acariciando as mãos, olhando para elas. Ele não aguentava mais, estava sendo doloroso ficar perto de Luciana e ao mesmo tempo longe. Retirou uma das mãos das dela, acariciando o rosto delicado, observando cada traço em Luciana. Encostou o rosto ao dela, inalando o perfume suave que ela usava, fechando os olhos para gravar cada segundo daquele momento. Beijou-lhe o rosto, sentindo-a corar de timidez, conseguindo arrancar um sorriso dele. Beijou-a mais uma vez próximo aos lábios, sentindo a respiração de Luciana entrecortada, ela queria tanto quanto ele. Seus lábios roçaram nos dela.

_Tens meu suspiro, tens tudo em que me inspiro...
– Sussurrou

   Luciana já estava entregue ao momento, apenas fechou os olhos, entreabrindo a boca para dar-lhe passagem ao beijo. Os movimentos calmos, sentindo a respiração ofegante dele, nada no mundo era tão mágico quanto isso. Criou forças e as mãos foram direto a nuca de Victor, arranhando-a de leve e como resposta, ouviu um gemido tímido entre o beijo. Sentiu quando as mãos dele foram a sua cintura, apertando-a, descendo uma delas para a coxa, pressionando-a com desejo, subindo por baixo de vestido. Finalizou o beijo um pouco ofegante:

_Vamos com calma Vih.
_Estamos com saudades, Luciana. Isso é normal.
_Mas para começarmos do zero, não vai ser assim que vai se resolver.
_Lu...
– Repreendeu-a com um meio riso – Não somos mais adolescentes, somos casados. Isso é normal.
_E você acha que todo e qualquer problema irá se resolver em cima de uma cama? Não podemos deixar que isso aconteça, podemos até esquecer depois de transar, mas será que isso não irá se repetir só porque deixamos o desejo falar mais alto?
– Sentiu que Victor estava um pouco assustado – Amor, só quero as coisas encaixadas na nossa vida. Prometo te ressarcir depois, ok? – Acariciou o rosto dele.

   Victor sorriu e afastou-se um pouco mais dela.

_Vou cobrar hein?
_Tudo bem. Agora vamos lá para baixo? A Gabi e a Mari sentiram sua falta.

   Desceram e ficaram assim durante a noite, como uma família feliz, deitados no tapete da sala, entre gargalhadas e brincadeiras. Victor subiu para o quarto, agora estava mais tranquilo e a conversa com Luciana fora muito proveitosa, entendeu alguns pontos e iria respeitar esse momento dela. Queria a confiança e a amizade de volta, iria ter, estava ciente disso.

   Luciana ajudou Lise a colocar as crianças para dormir, antes de ir para o quarto, a babá a chamou:

_Fico feliz por saber que se acertaram.
_Obrigada Lise.
_Estava um clima estranho entre vocês. Desculpa eu estar me metendo na sua vida, Dona Luciana.
_Esquece, você tem razão.
– Respirou fundo – Agora é esquecer tudo isso e focar na felicidade. Boa noite.

    Entrou no quarto e pode ver Victor deitado, assistindo TV. Foi até a mala, pegando sua roupa para dormir e em seguida entrando no banheiro. Estava estranho, mas ao mesmo tempo bom. Evitara ter um contato mais íntimo para o bem de ambos, queria fazer algo diferente, algo que nunca fizera em toda sua vida. Aproximou-se da cama, não conseguindo olhar diretamente para Victor, deitou em seguida, olhando para ele que estava apreensivo sem saber muito que fazer nos momentos seguintes.

_Amanhã tem show?
– Passou a mão timidamente nos cabelos dele.
_Não, mas tenho gravação de programa.
_Tá. Boa noite.

   Depositou um selinho nos lábios de Victor, sabia que ele estava tenso, sem jeito. Sorriu internamente por saber que o deixava tão louco quando estava com desejo contido. Estava cansada, aquela viagem a deixou assim. Virou-se e logo adormeceu sentindo as mãos dele em sua cintura.

 
***

   Voltar para casa começou a rotina, Luciana se entregando ao trabalho, sua clinica estava bem, deixando-a super contente. Após aquele dia, a ida de Victor para casa foi apenas uma vez e bem rápida. Agora se falavam no telefone antes de dormir, como nos velhos tempos, falavam bobagens, dando espaço para risos e saudades. Estava gostando da idéia da esposa ao se segurar ao máximo, isso lhe dava várias imaginações do que poderia acontecer quando se encontrassem e foi após alguns dias que isso aconteceu.

    Checou várias vezes aquela agenda, certificando de que o show fora realmente cancelado. Victor e Leo pegaram o jatinho de volta para Uberlândia, ansiosos, com saudades de tudo. Assim que chegou em casa, jogou as malas no closet, brincando um pouco com as filhas.

_Lourdes, a Luciana hoje está no hospital?
_Não, está no consultório.

    Despediu-se das filhas e foi até o local de trabalho da esposa. Parando de frente para o prédio, sorriu ao saber que a clinica estava dando certo e lembrando das ultimas vezes que fora ali. Ainda passava por sua cabeça o desejo de transar na sala médica de Luciana, procurou esquecer e seguiu adiante. Falou bem rápido com Raquel, a porta da sala estava aberta, encostou-se nela e ficou admirando Luciana que estava de costas, limpando a estante.

   Luciana estava tão empolgada que não notou a presença de Victor ali, virou-se e levou um susto.

_Ai Victor!
_Desculpa meu amor.
– Em passos largos foi até ela, abraçando-a – Como é bom te abraçar assim.
_Eu também estava com saudades desse abraço.
– Soltou-se dele – O que veio fazer aqui? Ainda estou no meu horário de trabalho.

   Victor olhou ao redor com um sorriso ousado. Aproximou o rosto ao dela, sussurrando no ouvido:

_Vim fazer amor aqui, na sua sala médica.
_Para com isso Vih.
– Bateu de leve no ombro dele – A Raquel está por aí. Se contenha.

   Abraçou-a de novo enquanto sorria:

_E você boba ainda acreditou?
– Afastou-se dela entrelaçando as mãos – Estou te convidando para sair hoje à noite. Pode ser um jantar naquele restaurante que sempre vamos. O que acha?
_Não sei se devo aceitar. Você pode querer me usar.
_Para com charminho vai. Só um jantar com a minha esposa.
_Está bem. Vou aceitar.
_Então vou passar lá no escritório e a noite nós vamos.
– Beijou-a na testa – Te amo.

    Assim que Victor saiu Luciana respirou fundo. Também estava querendo ter um momento ao lado dele, um momento mais íntimo para libertar desse desejo que estava sentindo. Depois de tanto tempo, teria Victor de volta de corpo, alma e coração, iria ser perfeito, teria que ser perfeito.    

Continua...

_______

PS: Capítulo dedicado a leitora Giselle Maciel. #HappyBDayGii (Atrasado, mas o que vale é a intenção KKKKK) \õ/                      
                

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Cap. 68






    Ao voltar para o quarto, Luciana sentiu raiva. Victor estava perto da cama, analisando minuciosamente Gabriela que dormia tranquila. Queria o expulsar do quarto, jogar toda a sua raiva para ele, mas a chegada de Leo a tirou do mundo de pensamentos e fúrias.

   Sem pensar em mais nada, Leo se aproximou da cama, olhando cada detalhe da sobrinha e por fim, suspirando aliviado.

_Leo, como está a Paula e o Fernando?
_Estão bem, Vitor. Foram só lesões leves.
– Olhou para o leito – Ela está bem? Fizeram os exames?
_Ela fez exames, mas só quem sabe do resultado é a Luciana
– Olhou timidamente para e esposa.

    Aquele acidente da filha abalara as estruturas de Victor. Estava se culpando desde que soubera, agora se sentia arrependido por ter esnobado tanto de Luciana naqueles dias. Se estivessem vivendo bem, iriam conseguir passar por aquela barreira, mas agora ele sentia a raiva que ela lhe passava em apenas um olhar. Não queria sair de perto da cama, queria ficar ali esperando sua princesa acordar e saber que o pai sempre esteve do seu lado.

   Leo se aproximou de Luciana:

_E aí Lucy, já saiu o resultado dos exames?
_Ainda não Leo, só amanhã. Mas a pediatra disse que olhando assim para ela, sabe que está tudo bem, só precisa de algo que confirme.
_Graças a Deus.
– Olhou para Tatianna. – Amor, vamos pra casa? As crianças devem estar acordadas.

    Tatianna despediu-se de Luciana prometendo que no dia seguinte estaria por lá. Eles foram embora, restou apenas para os dois se olharem. Victor ainda lhe suplicava com esse gesto, queria o perdão dela. Ignorando-o, Luciana sentou no sofá e ficou com os olhos fechados, o cansaço estava chegando, porém, queria ficar acordada para ver o momento exato que Gabriela acordasse.

_Descansa um pouco Lu. Qualquer coisa eu te chamo.
_Não quero.

    Ainda doía em Luciana, queria ser forte, esquecer, não ser mesquinha, mas o que Victor fizera naquela noite só demonstrou que a amizade que tinham, se dissipara com as crises do casamento. Victor soltou o ar pesadamente, estava fazendo de tudo para ganhar o perdão de Luciana, mas ela não dava brecha para ele se aproximar.

    Aquela foi a madrugada mais tensa que eles tiveram, Victor não suportava mais olhar para Luciana e ser tão desprezado. Respirou fundo e saiu do quarto, preferiu andar pelos corredores, ficar ali estava o sufocando. Luciana entregou-se as lagrimas assim que viu o esposo sair do quarto, relutava contra esse sentimento ruim, mas ele estava ali, firme no seu coração.

    Gabriela acordou pela manhã um pouco chorosa, recebendo atenção e carinho dos pais que mesmo sem trocar uma palavra, não deixavam transparecer. O dia foi de muitas visitas, Carol apareceu assim que soube e encheu a criança de mimos, olhou para Luciana, viu quando Victor saiu do quarto suspirando.

_Ainda estão em um clima pesado?
_Ele é o culpado da minha filha estar nessa situação.
– Apontou para a cama
_Não faz isso, Lucy. O Victor não teve culpa alguma, nós sabemos disso. A Tatianna me ligou hoje pela manhã me dizendo o que aconteceu. Desse jeito o casamento de vocês irá pro ralo.

    Luciana calou-se, sabia que Carol estava certa, precisava reverter aquele problema ou então teria que assinar o divórcio. Victor entrou no quarto com um copo nas mãos, entregando-lhe, um gesto de carinho e perdão com ações:

_Fui à cantina do hospital e aí trouxe pra você. Não tem se alimentado desde ontem.
_Não estou com vontade alguma.
– Rebateu ríspida.

   Carol olhou para os dois.

_Luciana.
– Repreendeu-a

    Com a cabeça baixa, Luciana pegou o copo das mãos de Victor, não agradeceu, seria demais fazer isso. Aquele suco até que a revigorou mais, agora estava com a filha, sorrindo e brincando, estavam esperando o resultado dos exames. Carol foi até Victor:

_Tenha paciência, Victor.
_Estou tentando fazer isso, Carol.
_Ela só está nervosa pelo o que aconteceu com a Gabi.

    Olhando para Luciana, Victor suspirou.

_Será?
_Tenho certeza.

    Carol se despediu de todos ali e foi para a clinica. No começo da tarde, a pediatra fez mais alguns exames em Gabriela, dando alta em seguida. Enquanto Victor ficava com a filha, Luciana foi até a sala dos funcionários, pegando sua bolsa e voltando rapidamente até o quarto onde a filha estava. Gabriela estava muito apegada a ela, assim que a viu, parou de chorar.

_Vamos meu amor, agora você vai voltar para casa.

    Victor todo momento estava calado, sem dirigir uma palavra sequer a Luciana. Assim que chegaram no estacionamento, foi preciso se falarem:

_Luciana, você me dá carona? Ontem eu vim de carro, mas aí eu acabei emprestando a Tatianna.

    Estava se sentindo humilhado por pedir isso a esposa, sabia que ela não estava nem o olhando diretamente de tamanha raiva. Ela o olhou dos pés a cabeça:

_Tudo bem.

    Colocou Gabriela na cadeirinha, estava com medo de sua filha se assustar, chorar. Entrou no veículo e o silencio acometeu-os, não conseguia olhar para Victor e nem ele iria conseguir fazer o mesmo. Uma voz fininha e encantadora surgiu nos assentos traseiros:

_Mãããe, quero sorvete.

    Não conseguiram segurar o riso fraco, juntos se olharam e viraram o rosto, Gabriela estava sorrindo, nada preocupada com os arranhões nos braços ou lembrança de ter presenciado um acidente.

    Assim que chegaram em casa, foram recepcionados por Lourdes e Lise, estavam preocupadas e só tinham noticias pelo telefone:

_Louvado seja Deus!
– Lourdes abraçou Gabriela.

    Lise olhou para Luciana com medo, estava aguardando um momento bom para falar com a patroa. Todos subiram até o quarto de Gabriela, Mariana corria em seus passos pequeninos, com um olhar curioso ao ver a irmã mais velha com alguns curativos. Victor estava quieto, pensativo, preocupado com tudo. Sua vida estava de cabeça para baixo, como se não bastasse o problema conjugal, agora vinha a culpa lhe apertando. Calado, foi até o quarto, pegando a mala, ainda teriam uma viagem naquele fim de tarde. Passou rapidamente no quarto, brincando com a filha, olhou para Luciana e sussurrou:

_Tenho que viajar. Qualquer coisa me liga.
_Tudo bem.

    Foi até a filha, depositando um beijo e por pensamento falou: “me desculpa Gabi.” Se retirou do quarto e sozinho desceu, lhe doía ver como Luciana estava lhe tratando, se permanecesse assim, agora ele tinha certeza que o casamento iria acabar.

   Lise aproveitou o momento em que Luciana estava no quarto de Gabriela:

_Dona Luciana, me desculpa, não foi minha intenção deixar que o Victor levasse a Gabi.
_Você não teve culpa, Lise. O Victor é o pai da Gabi, tem todo direito de levá-la para onde quiser.
_Fiquei com tanto medo de acontecer o pior com essa menina – Passou as mãos no cabelo da criança.
_Imagina eu que fiquei maluca quando me disseram. A sorte é que levaram ela para o hospital onde trabalho. Vamos esquecer isso, bola pra frente. Nossa Gabi está conosco, seremos todos felizes.


    Pediu licença a babá e foi até o quarto, suspirou quando olhou em volta. Não dera atenção a Victor, será que isso iria fazer parte da sua rotina? Iriam viver como dois estranhos dentro de uma casa? A amizade se foi, mas o amor estaria indo no mesmo caminho? Suspirou impaciente enquanto arrumava o closet e sentia as lágrimas caírem em seu rosto, deixou-as correr livremente. Não queria perder Victor, mas naquele momento ela sentia um ódio pela simples presença dele ao seu lado.


***

    Os dias estavam se passando rápidos, Luciana agradeceu internamente por aqueles dias de folga, com Victor viajando sabia que suas filhas mereciam total atenção dela. Ele não ligava mais, sabia de algumas noticias por Tatianna que estava sempre indo por lá e visitar Gabriela. Em algumas vezes, sabia que ele tinha folga, mas não ia para a cidade, doía e já imaginava que aquilo seria uma prévia do que seria quando chegassem ao extremo de pedir a separação. Não iria conseguir viver sem Victor, já estava sem força alguma de viver, apenas o queria por perto cada vez que as filhas clamavam por ele.

    Victor sentia-se culpado a cada dia que se passava, não tinha coragem de olhar para Gabriela. Sentia saudades da casa, do movimento, das filhas e até mesmo de Luciana. A amava e muito, mas respeitava o momento que ela estava passando. Não iria forçar a barra, iria esperar o momento ideal para conversarem, mas será que esse iria chegar? E se antes se separassem? Não enxergava outra mulher em sua vida, não queria, porque apenas ela era a especial, era sua de corpo e alma.

   Luciana recebeu uma ligação do pai e logo suspirou. Lourdes se aproximou:

_Está com a cara tão triste.
_O meu pai. Essa semana é o casamento dele com a Joy. Estou feliz por eles, mas ele me chamou para ser testemunha, como se não bastasse, ele chamou o Victor também.
_Quem sabe essa não é a oportunidade de se reconciliarem?
_Não Lourdes. Ele quase não liga pra mim, ou melhor, nunca mais ligou.
_Não deixe o orgulho dominar, Luciana.
– Lourdes tocou-lhe o ombro – Se já não sente mais raiva, aproveite o momento para tê-lo de volta.

   Ela sabia bem do que a empregada estava falando. Nos últimos dias já acordava olhando para o quarto, perguntando quando Victor iria voltar, as lágrimas entregando a saudade que estava sentindo. Antes de dormir, olhava fotos em sites, aquele olhar dele que ela sabia que era de tristeza, de suplico. Ela também suplicava todas as noites antes de dormir. Decidiu seguir os conselhos de Lourdes e mandar uma mensagem.

   Victor estava deitado em um quarto de hotel. Mais uma vez preferiu ficar na capital paulista e não ir pra casa. A saudade estava enorme, ele queria poder matá-la, mas lhe doía saber que sua própria esposa o evitaria. Recebeu uma mensagem: 



Lu_Amor: "Victor, amanhã é o casamento do meu pai. Não estarei aqui, vou levar as meninas comigo.



   Aquela mensagem foi tão seca, triste, direta, mas ele sabia que naquelas palavras tinham saudades, suplico, desejo. Conhecia Luciana a tal ponto de saber que ela jamais lhe mandaria uma mensagem quando não estava com saudades. Lembrou-se que havia prometido ser uma das testemunhas no casamento de Lucas, não queria ter contato direto com ela e sendo assim, ligou para o sogro, marcou a hora certa que teria que estar por lá.



    Luciana não estava prestando muita atenção naquela cerimônia. Era algo importante para seu pai, mas seus problemas falavam mais alto. Victor não respondera a mensagem, logo ela descartou a possibilidade de vê-lo ali, naquela manhã, no cartório. Alguns amigos de Lucas perguntavam por ele, ela disfarçava dizendo que ele estava trabalhando. Alguém entrou na sala e se aproximou dela, aquele perfume que ela sabia quem usava, um sorriso involuntário surgiu em seus lábios, inspirou forte e logo ouviu a voz de Victor sussurrar:

_Perdi algo?
_Não. Está no começo.

   Após a cerimônia, foram assinar o livro, ainda era estranho ela usar seu sobrenome de casada. Veio nas lembranças o seu casamento, era uma época tão boa e de plenitude, que agora só havia se transformado em tristeza, lágrimas, sonhos perdidos. Todos abraçaram Lucas e Joyce, Luciana estava feliz pelo pai, mesmo sentindo vontade de chorar ao lembrar de Geovana. Após todos assinarem, foram para casa. Lise estava com Gabriela e Mariana, que ao verem o pai, correram e entre risos e gritos o abraçaram. Victor sentiu seus olhos umedecerem, logo algumas lágrimas fujonas tomarem conta do rosto, abraçou-as com tanta força, entregando todo o sentimento.

Lucas: _Vamos todos almoçar.

    O clima estava agradável, todos sorridentes. Joyce pediu a palavra:

_Hoje está sendo um dia muito especial. Mas acho que tudo se tornou mágico desde que eu e o Lucas nos conhecemos melhor.
– Olhou para o marido – E hoje antes de começar a cerimônia, me perguntaram o que eu queria para o meu futuro. Respondi que quero levar uma vida ao lado do Lucas, uma vida de amor e me espelhar em um casal que está aqui na mesa – Olhou para Luciana e Victor – Quero ser como vocês, um casal comum, mas que se amam, que tem suas crises e brigas, mas que jamais deixam isso se abalar. O pouco tempo que convivi com vocês, descobri a tradução para o amor.

    Luciana sentiu os olhos marejarem, olhou de esguelha para Victor, que estava calado, pensativo, com o olhar perdido. Baixou a cabeça e se sentiu culpada. Então era assim que as pessoas achavam sobre seu casamento? Sua união com Victor estava longe de ser feliz, não nas ultimas semanas. Agradeceu a Joyce pelo carinho e por fim todos brindaram e almoçaram. Já era fim de tarde quando foi até o quarto do casal.

_E aí Joy, vão terem alguma lua de mel?
_Não Lucy. Mas hoje ele vai me levar para um hotel aqui perto.
_Uau! Aproveita.
_Se importa se sairmos assim e vocês ficarem sozinhos?
_Não. Podem ir.

    Assim que Lucas e Joyce saíram, Luciana subiu para o quarto, Victor estava pegando sua mala. Teria que deixar o orgulho de lado se quisesse seu casamento de volta. Timidamente, sentou na cama, encostada na cabeceira, vendo Victor fechar a bolsa.

_Tem show hoje?

    Ele ergueu o rosto, não entendendo muito onde ela queria chegar:

_Não.
_Então porque não fica aqui? As crianças estavam sentindo sua falta.

   Victor sorriu levemente, olhando para ela:

_Só as crianças?
_Victor...
– Repreendeu-o
_Tudo bem, não era minha intenção.

    Já estava perto da porta quando a ouviu sussurrar:

_Fica, por favor.
_Tá.
– Virou-se para encará-la – Acho que aqui deve ter algum quarto disponível...
_Não, eu quero você fique aqui, dividindo esse quarto que é nosso.
– Entregou-se as lagrimas – Vem cá, vamos conversar.

    Victor estava indeciso, ali poderia não ser o momento certo de se aproximar de Luciana, mas o amor que sentia por ela estava invadindo-o por completo.
 


Continua...

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Cap. 67






_Do que está falando? Ela... – Estava perdendo os sentidos – Ela... Saiu com a Paula não foi?

   Buscava resposta em cada rosto ali, todos continuavam estáticos. De um segundo para o outro tudo perdeu a cor, suas pernas fraquejaram, seu coração bombeou mais rápido, sua boca ficou seca. Sentiu alguém o levar para o sofá, só conseguia ouvir o choro de Marisa, sua vista estava turva, tudo parecia um sonho.

_Onde está minha filha?
_Ela está no hospital
– Tatianna entregava-lhe um copo de água – Vai te fazer bem isso.
_Não quero
– Empurrou o copo, sentia sua voz ficar embargada, ao mesmo tempo desesperada – Eu quero minha filha. E não mintam pra mim, eu só quero a verdade.
_Calma aí. Ela está no hospital.
_E o que estamos fazendo aqui?
_O Leo ligar para nos avisar em qual hospital eles estão.
_Eles?!

_Vitor... A sua irmã também.
– Marisa conseguiu falar entre o choro.

   Naquele momento não estava entendo nada, estava recuperado e em um movimento só levantou-se, pegando a chave do carro, sendo impedido por Tatianna.

_Você não pode dirigir assim, Vitor!
_Me deixa Tatianna, é minha filha!
– Alterou a voz
_Então vou junto com você e levamos a Dona Marisa também.

   Sem pensarem em mais nada saíram dali. A todo instante Victor pensava em Luciana, ela deveria saber de tudo. Não tinha coragem de fazer isso, estava sentindo que algo de ruim acontecera com Gabriela.

***

   Após a cirurgia, Luciana ainda ficou na emergência ajudando. Um dos enfermeiros a chamou:

_Doutora, o Jonas que você na sala dele urgente.

   Já imaginava o que iria ouvir. Por ser um hospital particular não poderia maltratar os pacientes e nem devia mesmo que estivesse em um ambiente público. Bateu na porta e recebeu autorização, dentro da sala estava Jonas acompanhado de Micheline, a psiquiatra do hospital.

_Jonas, me chamou?
_Sim. Sente-se

   Fez o que ele pediu, estava assustada.

_Eu já imagino o porquê estou aqui. Gostaria de pedir desculpas, não foi minha intenção falar daquele jeito com a paciente...
_Não é sobre isso.

   Assustou-se, olhou mais uma vez para Micheline.

_O que está acontecendo?
_Luciana, preciso que você seja forte...
_O que houve?
_Antes de falarmos precisamos saber se ficará bem.
_Mas é claro Jonas, porque me pede isso?

   Os olhares de Jonas e Micheline estavam estranhos, Luciana não era boba, sabia que algo de ruim iria acontecer. Pensou em demissão, já estava esperando por isso há dias:

_Estou bem e vou ficar bem. Agora me falem.

   Micheline se aproximou dela:

_Houve um acidente, mas calma...

   Não ouviu mais nada, pensou em Victor e sentiu um arrepio estranho. Levantou-se desesperada.

_O que aconteceu com o Victor? Ele saiu de casa e... O que houve?

   As lagrimas já tinham vida própria em seu rosto, caíam livremente.

_Não foi o Victor, Luciana. Sabe, acidentes acontecem e estamos preparados para tudo, prova disso é o que vemos por aqui e...
_Fala logo!
– Sussurrou entre os dentes. – Foi o meu pai?

Micheline respirou fundo.

_Eu sou mãe e sei bem o que vai passar nesse momento de dor...

    Bastou isso para Luciana se desesperar, chorar incontrolavelmente. Uma das suas vidinhas, Gabriela ou Mariana?

_Qual das?
_A Gabi.
– Jonas sussurrou triste.
_Não...
– Olhou fazendo gesto negativo com cabeça – Ela estava em casa, está dormindo. Eu vou, vou ligar pra lá e confirmar... – Sacou o celular de um dos bolsos do jaleco, estava com as mãos trêmulas. Micheline tomou-o de sua mão com os olhos marejados.
_Eu sei que dói Lucy, mas precisa ser forte agora...
_Eu quero minha filha!
– Sua voz saiu embargada em meio ao choro.
_Calma Luciana!
– Micheline tentava de todas as maneiras acalmá-la – Ela está aqui no hospital. Foi um acidente automobilístico.

   As lagrimas de Luciana cessaram, um susto, um baque no peito acometeu-a.

   Não deixou falarem mais nada. Correu para a emergência, quanto mais se desesperava, mais sentia tudo se distanciar. Sua pequena Gabriela estava precisando dela naquele momento. Parou de correr quando estava perto, alguém apontou para a sala de espera, achando Victor, Tatianna e Leo, estavam sentados tristes. Ergueram o rosto e logo foram abraçá-la, porém, ela esquivou-se dos dois e foi em direção a Victor, que estava sentado sem forças para se levantar. Colocou as mãos na gola da camisa que ele usava, fazendo-o se levantar assustado, batia insistentemente no seu peito enquanto esbravejava:

_O QUE VOCÊ FEZ COM A MINHA FILHAAAA! VOCÊ A MATOU.

   Até então, Victor não tinha noticias de Gabriela, o desespero da esposa o deixou aflito, achando que ela soubesse de algo certo. Segurou as mãos dela, tentando impedi-la, queria puxá-la mais para perto, queria que Luciana encostasse a cabeça em seu peito e chorasse de dor. Suas lágrimas desciam e não teve mais forças, sentiu-se tonto e presenciando tudo em câmera lenta, viu Leo e Tatianna soltando as mãos dela, impedindo-a de fazer algo a mais. Victor sentou-se no sofá olhando para qualquer lugar, um olhar perdido, uma culpa o atormentando, sentindo a presenças de mais pessoas, ouvindo tudo distante.

Leo: _Calma Luciana!
Luciana: _ME LARGA! FOI ELE QUE DEIXOU ISSO ACONTECER COM A MINHA GABI. – Estava fraca, cansada.

   Aproveitando que Leo lhe segurava, Luciana fechou os olhos e foi perdendo os sentidos. Jonas e Micheline se aproximavam e colocaram-na sentada no sofá.

_Micheline, chama os enfermeiros.
– Olhou para Tatianna – Pega um copo com água para ela.

   Olhou ao redor e viu Victor do mesmo jeito que Luciana estava. Foi até ele, analisando-o.

_Victor, está tudo bem? Fale comigo.

   O choro junto com a fala de Victor não saía, parecia uma estátua, imóvel, olhando para o nada. Após alguns minutos, ambos foram se recompondo, caindo à ficha, mas ainda estavam em choque. Luciana chorava desesperadamente, Victor apenas observava tudo ao seu redor.

_Está mais calma? –
Micheline aproximou-se dela. – A Gabi está fazendo uns exames, mas logo deve ir pra enfermaria.

    Victor olhou rapidamente na direção das duas, algo bom fluiu em seu peito, queria sorrir mesmo em um momento tão tenso.

_Micheline, me deixa ver ela.
– Deixou as lagrimas correrem livremente.
_Eu até poderia, mas sabemos que isso é errado Luciana. Seu estado está crítico, você está mal.
_Não estou mais
– Limpou as lágrimas – Por favor, eu posso ajudar em algo, mas me deixa ver a Gabriela.
_Vamos ver o que posso fazer por você. Também sou mãe e entendo sua aflição.

    Sem pensar em mais nada, Luciana levantou-se e foi seguindo Micheline, antes de sair da sala, sentiu a mão de Victor tocando-lhe, pela primeira vez naquela noite, olhou bem nos seus olhos:

_Por favor, me dá noticias da Gabi quando puder.

   Virou o rosto enquanto bruscamente retirava sua mão da dele. Naquele momento tudo o que Luciana não queria sentir por Victor, infelizmente veio muito forte. Estava odiando-o por tudo, culpando ele mentalmente.

   Victor colocou as duas mãos no rosto quando sentiu que ela saiu daquela sala de espera. Entregou-se ao choro, ao desespero, não tinha noticias de Gabriela e sabia que sua esposa não faria nada para lhe deixar por dentro de tudo. Leo sentou do seu lado, tirando as mãos dele, apertando-a e com a voz embargada, sussurrar:

_Vai dar tudo certo nego véio. A Gabi é forte, esperta, foi só um susto.
_Eu sou o culpado de tudo isso, Leo. A Luciana vai me odiar pelo resto da vida.
_Não pensa em nada assim, vamos fazer uma oração forte para nossa pequena voltar bem.

   Tatianna olhou para eles, sentando do lado de Victor também para segurar uma de suas mãos:

_Estamos aqui firme e forte, Vih. A Gabi é esperta e tenho certeza que deve tá lá na sala de exames fazendo todos darem altas risadas.

   Os três sorriram ao lembrar da pequena Gabriela, tão esperta e cheia de vida, que fazia amizade rápido e era sempre bem quista por onde quer que passasse.

_Acho que alguém tem que avisar a Dona Marisa que está tudo bem com a Gabi.
_Também acho Tati.
– Leo levantou-se – Eu vou até ela, também quero saber noticias da Paula. Você fica com o Vitor, amor?
_Vai, eu fico aqui com ele.

   Mais uma vez Leo se aproximou de Victor, beijando-lhe o topo da cabeça e sorrindo:

_Vai dar tudo certo, Vitor.
_Eu sei.
– Resfolegou procurando conter o choro – Me mantenha informado sobre a Paula.
_Pode deixar.

   Victor olhou para Tatianna, respirou profundamente:

_Se quiser ir com o Leo, eu fico só.
_Não Vitor, vamos ficar aqui.


   Luciana sentia seu coração bater descompassado a cada passo que dava em direção a ala pediátrica, sempre presenciava cenas tristes de crianças machucadas, por conta de algum deslize de pais ou responsáveis por elas. Se lhe dessem naquele momento um papel de pedido de separação, ela assinaria sem dó nem piedade, uma fúria tomava conta do seu corpo, não sabia se isso iria passar, mas naquele momento sua vontade era de estapear Victor até cansar. Não estava entendendo nada do que se passava ali, se Gabriela fora acidentada porque Victor estava bem?

   Foi informada que Gabriela estava na sala de sutura, um medo percorreu dentro de si, queria e ao mesmo não queria ver como Gabriela estava. Qual grau era o estado da sua própria filha? Em passos lentos foi se aproximando da maca, sua filha estava gritando de dor e parecia que uma faca estava atravessando o coração de Luciana, ela já chorava antes mesmo de ver como a filha estava. Parou para se recompor, não poderia deixar transparecer nervosismo, a sua pequena não iria entender e se desesperar.

   Gabriela estava rodeada de enfermeiros que tentavam lhe acalmar enquanto um deles tentava limpar sua testa para poder iniciar a sutura. Deram espaço para Luciana se aproximar e ver a filha que estava com alguns ferimentos nos braços, arranhões por toda parte, assustou-se de imediato, mas por Gabriela conseguiu controlar o medo, segurando as mãos da pequena, que estavam geladas:

_Hey meu anjo. A mamãe chegou. Calma.

   Parecia que Gabriela estava vendo a solução da suas dores, chorou mais ainda ao ver a mãe:

_Mamãããee, tá doendo.

   Luciana colocou a mão na boca para segurar um suspiro de susto e choro, as lágrimas voltaram a cair com força em seu rosto.

_Eu sei meu amor, mas... Mas logo você fica boa e pra ficar tem que os deixar terminarem.

   Após intermináveis minutos, conseguiram finalizar os pontos na testa de Gabriela, que agora estava nos braços da mãe apenas soluçando enquanto se acalmava. Luciana olhou para a pediatra que estava no plantão:

_Por favor, me deixa ficar assim com ela.
_Eu sei Lucy, mas só faltam mais algumas coisas e logo ela vai para o quarto.

   Ficou ali observando tudo, às vezes olhava para a filha e não acreditava que Deus lhe dera mais uma chance. Lembrou-se da mãe e sentiu as lágrimas caírem forte em seu rosto. Sentiu Gabriela ficar mais calma e decidiu ir dar noticias a Victor, mesmo sabendo que ele não merecia tal ação vinda dela, mas Leo e Tatiana precisavam saber de algo. Foi até a sala de espera, Tatianna e Victor estavam calados, ao vê-la levantaram-se desesperados, olharam para o jaleco que Luciana usava, ele estava sujo de sangue.

Tatianna:
_E aí amiga?
Luciana: _Ela está bem. Só com alguns arranhões nos braços, creio eu que foram os estilhaços do vidro. – Sentou-se – Mas já já vai pra um dos quartos.

   Sentiu quando Victor suspirou, não queria e nem sentia vontade de olhar para ele, mas precisava saber ao certo o que acontecera. Olhou-o com uma expressão séria, Tatianna percebendo o clima, levantou-se com a desculpa que iria dar a noticia a Leo por telefone.

_O que aconteceu?
_Luciana, eu...
– Respirou fundo mais uma vez – Eu não sei.
_Claro que sabe, então pare de drama e me conte logo.
_Eu a levei para o jantar, antes de ir embora a Paula pediu para levá-la ao seu apartamento e eu deixei.
– Baixou a cabeça.
_E sequer ligou pra mim?
_Eu sei Luciana, deveria ter ligado, mas o clima entre nós estava estranho.
_Isso pra mim não é desculpa. Você errou Victor, já pensou se acontecesse algo pior com nossa filha? Seu orgulho vai ser o motivo da nossa separação, escreva o que estou te dizendo.

   Saiu sem olhar para trás, ainda estava lhe doendo os dias em que ele lhe tratara tão friamente, com desprezo. Aguardou a chegada de Gabriela em um dos quartos, agora sua pequena dormia calma, mas aqueles arranhões entregavam tudo o que ela passou. Victor estava próximo da cama, fitando cada traço do rosto da filha, não acreditando que tudo não passara de um susto. Aproveitando que ele estava ali, Luciana chamou Tatianna a parte.

_Como está a Paula?
_Está bem. Na hora da colisão ela só pensou na Gabriela, até fazendo os exames estava perguntando por ela. Leo me disse bem rápido pelo telefone que eles estavam certos quando o sinal abriu, mas veio um carro e bem no cruzamento bateu no carro deles.

   Luciana imaginou a cena.

_Acho que o carro bateu do lado da Gabriela, por isso o braço dela ficou marcado pelos estilhaços.
– Sentiu o choro tomar conta de si – Eu só queria estar no lugar dela pra não vê-la sofrer tanto. Partiu meu coração vendo-a chorar enquanto davam os pontos no rosto dela.
_Eu sei como é, Lucy. Tenho dois em casa e por eles também faria tudo isso. Não quero nem pensar se isso acontecesse com o Matheus ou o Antonio.
_Obrigada por estar sempre do nosso lado em momentos como esse, Tati.
_Imagina Lucy. Faço por vocês o que sei que fariam por mim.
_E o Fernando?
_Está bem, nada grave.
_Ainda bem.

   Jonas se aproximou, pedindo para falar a sós com Luciana:

_Luciana, vamos te dar alguns dias de folga.
_Não precisa, Jonas. Eu só quero essa madrugada ficar com ela, amanhã se tiver alta a Lourdes fica com ela.
_Imagina Lucy, tenho filhos e sei como é. Tire esses dias para descansar e cuidar da sua pequena. Aproveite e resolva seus problemas pessoais. Boa noite.

   Jonas se afastou deixando Luciana pensativa. Sua vida estava tão embaralhada que nem aqueles dias de folgas iriam ajudar. Estava farta e cansada de tudo o que lhe deixava triste. Victor ficaria no final da sua lista, o deixaria mais de lado, não estava suportando olhar para ele, queria distancia e a todo momento mesmo não querendo, seu coração o culpava por isso estar acontecendo na vida dos dois.

Continua...