segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Cap. 66






   Luciana acordou e percebeu que ainda era noite, estava com o vestido. Seus olhos pesavam e demorou a abri-los por completo, a ardência por conta das lagrimas a deixaram assim. Ouviu alguém entrar no quarto, levantou a cabeça, Victor foi direto para o closet logo pegando o pijama, em passos largos foi até a cama. Ela sentia o clima pesado que estava entre eles, ajeitou-se indo para seu lado da cama, esperando ele se deitar, porém, Victor pegou o travesseiro.

_Victor, vai onde?
_Não te interessa.
– Rebateu ríspido.

   Acompanhou os passos dele até a porta:

_Volta, precisamos conversar.

   Victor sorriu sarcástico enquanto se virava para encará-la:

_Já conversamos.
_Eu não tive culpa...
_Não me interessa se você teve culpa ou não. Luciana acho que nosso relacionamento precisa de um tempo.
_COMO ASSIM?!
_Não grita!
– Colocou a mão na cabeça.
_Por causa de uma bobagem?
_Não estou culpando sua infidelidade, você faz da sua vida o que quiser, afinal, a sua consciência quem vai doer, não a minha.
_Victor eu não fui infiel quantas vezes tenho que te explicar?!
– Sua voz estava embargada.
_Pode não ter sido, mas sua lealdade se foi pro ralo. Quando perdemos a confiança, perdemos também a esperança e é apenas isso o que tenho pra te dizer.
_Não...
– Olhou incrédula para ele, segurando a boca para conter os soluços do choro.

    Sem pensar em nada Victor lhe deu as costas e saiu do quarto. Ainda estava doendo dentro de si tudo o que Luciana fizera, sentia que ela não o traiu, mas o fato de não ter tido a confiança em lhe dizer foi o fim. Foi para o quarto de hóspedes e deitou-se, entregando-se a dor em cada lágrima, pior foi saber que suas próprias previsões estavam certas quando ele falava que não gostava de Michael. Cerrou os punhos só de imaginar aquele cara forçando a barra para com sua esposa, doeu ver as lágrimas dela ao narrar todo o acontecimento, o repudio dela ao lembrar as mãos dele sobre seu corpo. De tanto pensar, acabou vencendo o cansaço e embalando em um sono profundo.

    Luciana jogou-se mais uma vez na cama, já estava cansada de chorar, as lagrimas pareciam querer fazer moradia em seus olhos. Viu o dia amanhecer e foi tomar um banho, iria esperar Victor entrar naquele quarto e juntos conversarem. Estava sentada quando ele entrou indo direto ao banheiro, tomando um banho e indo até o closet, seguiu-o:

_Vih.
– Sua voz estava rouca e melosa.
_Fala Luciana
– Sequer olhou para ela enquanto colocava sua calça jeans.
_Nós temos que conversar.

    Victor parou o que estava fazendo, respirou fundo buscando a paciência dentro de si.

_Estou cansado disso. Parece um ciclo vicioso: Brigamos, passamos horas sem termos contado direto em palavras, depois, conversamos, prometemos um ao outro não errar mais e... Erramos. Eu não quero brigar tampouco conversar, ainda estou magoado e espero que entenda meu momento.
_Será que você pode me dizer quanto esse tempo vai durar?
_Não importa nem te interessa! Viveremos nessa mesma casa, mas em camas separadas e apenas trocando palavras necessárias, fui claro?
– Não obteve respostas dela. – Ótimo.

   Pegou uma camisa e saiu vestindo-a no caminho. Olhar para Luciana estava sendo torturante.
   Luciana ficou boquiaberta e em choque por longos segundos, Victor quem ditou as regras, regras essas que ela não queria seguir. Desceu para tomar o café, achando as filhas sendo alimentadas por Lise e Lourdes. A empregada observou com atenção cada passo dos dois, se evitavam ao máximo. Olhou para Lise que estava com Gabriela:

_Lise, leva a Gabi para brincar lá fora.

    A babá entendeu o que ela estava querendo dizer, ouvira boa parte da discussão naquela madrugada, antes ouviu os passos de Luciana no corredor, dos soluços da mesma e em seguida ouviu as vozes da patroa e Victor falarem ao mesmo tempo. Não iria se meter, sabia que ali era apenas uma funcionaria e respeitava o lado da família.
Lourdes aproximou-se de Luciana que estava com Mariana nos braços.

_Eu tentei te avisar para falar com Vitor, mas você foi teimosa e não falou né?
_Está tão estampado assim na minha cara?
_Na sua cara não, mas na sua alma sim.

   Luciana deu passo para trás.

_Ah Luciana, porque você não entende os conselhos que te dou?
_Me deixa em paz Lourdes, tenho meus motivos por não ter falado nada para ele.

   Saiu da cozinha com as lagrimas caindo.

***

    Aquela semana passou rápido, Luciana e Victor apenas trocavam palavras necessárias. Nas noites ele ia para o studio, quando estava cansado, sua opção era o quarto de hospedes. Ainda estava muito chateado com Luciana, se antes existia amizade agora estava estranho, parecia ter uma parede entre eles. Ela focava no trabalho, só assim para esquecer de Victor. Sempre chorava cada vez que sentia a presença dele no quarto, para depois sair dali, o queria de volta, o amava, só não sabia como fazê-lo entender isso.

    Estava no seu consultório, Carol foi a sua sala para fazer uma visita. Há dias observava Luciana triste, cabisbaixa, com olheiras. Sabia que uma hora ou outra ela iria desabafar e foi naquela tarde que aconteceu, após relatar sobre tudo, já estava em lágrimas:

_Caramba Lucy. Mas tentou explicar ao Victor porque não disse a ele?
_Não,
– Limpou o canto do olho – ele nem me deixou terminar de falar. Victor ultimamente está assim, bastante ríspido comigo, quem sabe esse tempo nos faça bem.
_Não estou vendo proveito algum nesse tempo que estão dando. Só te vejo pelos cantos, triste, trabalhando mais do que deve. Sabe que vai ficar mal de saúde né?
_Claro que sei, mas enquanto Victor estiver em casa, prefiro me ausentar.

   O telefone tocou, Luciana foi atender. Raquel passou a ligação de Paula:

_Lu?
_Oi Paula.
_E aí, você vem hoje?

    Havia esquecido do jantar que a cunhada iria dar para celebrar o noivado. Colocou a mão na cabeça ao lembrar-se que iria cobrir o plantão no hospital.

_Acho que não vai dar Paula. Infelizmente me escalaram para trabalhar hoje.
_Não, tudo bem, eu entendo. Acho que o Victor vem, será?
_Não sei te dizer.
– Sorriu fraca – Mas acho que sim.
_Vou ligar pra ele. Beijos.
_Outro

   Desligou o telefone pensativa.

_Quem era no telefone?
_A Paula. O jantar do noivado dela é hoje e eu não vou poder ir.
_Não pode ou não quer?
_Não posso mesmo.
_Tá, só acho que seria uma boa para quem sabe vocês reconciliarem.
_Acho difícil.

    Despediu-se de Carol e foi para casa, poderia estar em crise no casamento, mas ainda se considerava sendo esposa de Victor e como tal, iria escolher a roupa dele para aquela noite. Achou Lise com Gabriela e Mariana na varanda.

_Lise, queria te pedir um favor.
_Pode falar Dona Luciana.
_Queria que ficasse aqui essa noite tomando conta da Gabi e da Mari. Tenho plantão e o Victor acho que vai para um jantar que terá na casa da mãe dele.
_Pode deixar.
_Obrigada desde já.

   Subiu rapidamente, entrando no chuveiro e tomando um banho rápido. Parou no closet e escolheu a roupa de Victor, trocou em seguida e estava saindo do quarto quando o encontrou no corredor. Ele mal a olhava:

_Victor, é... A Paula ligou.
_Ela falou comigo.
_Tudo bem.
– Uma pausa breve por estar com medo – Eu... Separei sua roupa para usar essa noite e pedi para a Lise tomar conta das crianças.

    Sem responder, Victor entrou no quarto, fechando a porta quase na cara de Luciana. Ela respirou fundo, desceu e foi direto para o trabalho. Justamente naquele dia não estava empolgada para trabalhar, estava cansada, esgotada fisicamente e mentalmente. Victor agora jogava toda a culpa para o lado dela, evitando-a, cortando os assuntos, respondendo o necessário e pior, dormindo em camas separadas. Respirou fundo mais uma vez enquanto estava sentada em uma cadeira na sala dos armários, uma voz soou pelo hospital...

Doutora Luciana Alves, favor comparecer a emergência. Doutora Luciana Alves, compareça a emergência...

    Não estava ligando para o que estava fazendo, permaneceu sentada, cabisbaixa pensando na sua vida. Chamaram outras vezes, porém, ela não tinha forças para segurar seus problemas, que dirá o das pacientes. Ouviu passos apressados, uma das enfermeiras antigas do hospital olhou assustada:

_Doutora! Estamos todos desesperados, precisando da sua ajuda e você aí? Venha, temos uma emergência.

   Respirou fundo e foi até o local. Uma jovem bastante parecida com Gabriela, sua ex-paciente, estava ali, chorando muito.

_O que aconteceu?
_Eu não sei doutora. Estou grávida, agora sinto dores muito fortes e o sangramento não quer parar.

    Luciana fitou a menina, sabia que ela era mais uma das que faziam besteira na vida e depois procurava algum tipo de “solução” para o problema.

_De repente você sente dores e sangra? Não me engana garota, me fala logo o que fez para estar assim.

   A menina olhou para Luciana, estava com medo dela.

_Eu juro, não fiz nad...
_Nem vem jurar perto de mim. Se não quisesse que tomasse pílula ou usasse camisinha. O que vocês jovens tem na cabeça? Devia ter vergonha de ter feito isso.
– Analisou a paciente minuciosamente, olhou para o enfermeiro – Leva ela para a sala de ultrassom, vamos ver o que podemos fazer, mas já sei no que vai dar.

   Deu as costas para todos e foi lavar as mãos, a enfermeira aproximou-se:

_Se tem problemas em casa, deixe-os lá, Doutora. Ninguém merece essas suas arrogâncias aqui.

    Percebeu que fora um pouco rude, até se arrependeu de ter falado tamanhas palavras exageradas. Não tinha nada a ver com os problemas pessoais das suas pacientes.

***

   Victor trocou-se e olhou no espelho, Luciana sempre acertava nas roupas. Sorriu ao lembrar dela, agora estava arrependido de tudo o que fizera, mas não preparado para perdoá-la por completo. Desceu as escadas e viu Gabriela sorridente, ao ver que ele estava de saída, pediu que o levasse:

_O Papai já volta Princesa.
_Papai... Eu quero ir.

   Começou a chorar e não teve outro jeito, Victor olhou para Lise:

_Arruma a Gabi, eu vou levá-la.

...

   O jantar estava agradável, Gabriela estava sorridente e não saía do colo da avó. Victor juntou-se aos homens e conversou até ver a hora, já passava das dez, teria que ir para casa. Paula se aproximou:

_Vih, me deixa levar a Gabi?

   Algo lhe pedia para não deixar.

_Melhor não Paula.
_Mas por quê?
_Porque não avisei a Luciana.
_Ué, liga pra ela.
_Então liga você.
_Quem é casado com ela? Pois é, liga e avisa.
_Eu não vou ligar, Paula. Larga de ser irritante.

   Tatianna se aproximou notando o clima.

_Eu ligo pra ela, vai Paula.
_Obrigada cunhadinha.

    Só deu tempo de Victor beijar o rosto de Gabriela, que estava sorridente no braço da tia. Respirou fundo, Tatianna o olhou estranha:

_Está um clima estranho entre você e a Luciana ou é impressão?
_Deve tá escrito na minha testa, né?
_Victor, se quiser desabafar, não contarei a Luciana. Ela também anda um tanto estranha, mas não quer me falar nada ou não tem tempo.

    Sentou-se com Tatianna e contou a história, sabia que podia confiar na cunhada, ela não agiria de má fé.

_Ahh a Vih, acho que Luciana não te contou nada por medo de você tomar satisfação com o Michael. Imagina, ela poderia perder o emprego por causa disso.
_O emprego é mais importante que o nosso casamento?
_Você tem que entendê-la. Pior seria se ela nunca lhe dissesse. Pense nisso.
– Olhou o relógio em seu pulso – Vou chamar o Leo, já está ficando tarde.
_Obrigado pelos conselhos. Acho que estava precisando dessas palavras.
_Precisando é só me ligar ou me chamar. Boa noite.

    Abraçou a cunhada e voltou a sentar. Sua vida estava estranha, amava Luciana, mas não se sentia preparado para tê-la. Antes teria que conquistar a amizade, para depois entregar-se por completo. Foi até a sala, Tatianna ainda estava ali, Marisa sentada em um dos sofás, com a mão no peito, estava pálida, todos ao seu redor. Estranhou e foi correndo até ela, que ao vê-lo ficou mais nervosa:

_Mãe, está tudo bem?
_Vitor, peço que tenha calma...
_Porque está me pedindo isso?
_Vitor...
– Tatianna tocou seu ombro – Fica calmo.

   Olhou para todos, estavam estranhos, lhe olhando com tristeza. Sentiu um baque no peito, sua respiração ficou ofegante.

_O que está acontecendo aqui? Porque estão todos me olhando...
– Olhou para Marisa – Mãe, o que houve? Fala agora.
_Meu filho...
– Não conseguiu falar mais nada.
_O que aconteceu?!
– Alterou a voz, logo se lembrando de Luciana, estava no hospital. – A... A Luciana, ela está bem? ME RESPONDAM!
_Não foi a Luciana
– Tatianna sentiu as lágrimas descerem – Foi a Gabriela...

Continua... 

2 comentários:

  1. oiiii tamy to lendo sua fic do klb por favor preciso falar com vc se tiver whats me chama 04792546494

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  2. Já mandei a mensagem lá meu amor. :*

    Bjs

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