Cap. 49 - Parte 1

“O que mais deseja viver
 O que sentir antes do fim
 Pra que seus olhos possam ver
 Seu amor em mim"

              (Depois – Paula Fernandes e Victor &Leo)

    Luciana sentiu suas mãos suarem enquanto olhava para Victor. Aguardava algo dele, uma maneira de agradecer. Umedeceu seus próprios lábios para que ele entendesse bem o que ela pensava. Victor aproximou-se dela que logo sentiu o coração bombear rapidamente, deixando-a nervosa, esperando.

_Obrigado por ser essa pessoa do bem.

   Fechou os olhos esperando-o encostar os lábios nos seus, mas o beijo fora depositado no topo da sua cabeça. Ao abrir os olhos ele não estava mais por lá. Seria pedir muito? Apenas queria um beijo para saber se realmente ainda sentia tesão por ele, porque amor, isso ela tinha certeza.

***

   Cada dia Luciana sentia seu peito oprimir, agora já sentia certo desprezo que Victor tinha para com ela. Tentava de todas as maneiras uma reaproximação, mas logo desistia. Não era culpa de Victor, ele sentia Luciana tão preocupada com Mariana que nem chegava a passar certas coisas em sua cabeça, estava focado nas suas sessões com Beatriz, mas algo o incomodava. Não gostava de ver a noite iniciar, sempre ia para seu quarto antes disso.

   Passado algumas semanas, Luciana decidiu tentar investir no relacionamento deles, estava sempre disposta e ficar perto, até cogitou ir com ele para o consultório de Beatriz, mas Victor não gostava, sabia que não iria se sentir bem. Pela noite, ela colocava a melhor camisola, quem sabe assim o desejo entre ambos reativasse, mas ao sair do closet lá estava ele, apagado após ter se dopado de comprimidos.  

   Em uma manhã ensolarada, ela acordou e lá estava ele, do seu lado, pensativo. Virou-se para olhar para ele, que também a olhou.

_Bom dia. – Sorriu.

_Bom dia Lu.

   Victor estava animado, antes sentia medo para sair, mas as suas idas ao consultório de Beatriz estavam deixando-o mais a vontade. Levantou-se e foi ao banheiro decidido a fazer algo: Sua barba já estava enorme. Iria começar por ali, iria mudar.

   Preparou tudo, colocando a espuma de barbear em toda a parte onde aqueles pêlos incomodavam-o. Olhando para o espelho achou Luciana encostada na porta, com os braços cruzados. Ainda usava a camisola de seda e só naquele momento ele pode perceber que era uma das suas preferidas. Luciana foi até ele, chegando perto da pia, não quebrou a troca de olhares pelo espelho.

_Confia em mim?

_Porque Lu?

_Deixa eu te ajudar? – Mordeu o próprio lábio inferior.

   Victor pegou a gilete que iria usar e entregou-lhe, estava nervoso sem sequer saber o porque. Curvou um pouco o corpo para que ela iniciasse, mas Luciana esquivou-se dele e em alguns segundos sentou no mármore da pia, com as pernas abertas, revelando um caminho para o paraíso de Victor. Parecia que tudo estava perfeito e a excitação tomou conta dele, que ficou sem jeito e mesmo não querendo, seu olhar estava vidrado nas coxas dela.

_Vem.

   Victor sentiu uma secura súbita invadir sua boca, ela estava provocando-o, e ele... Estava como um menino bobo. Saindo do transe se aproximou dela, ficando entre as pernas de Luciana. Agora conseguia ver cada traço no rosto dela, seus olhos concentrado no que fazia, às vezes semicerrado, olhando para o local onde a gilete passava.

   Não muito diferente de Victor, Luciana estava nervosa, seu corpo tremia por dentro e agradecia a si mesma por ter tomado aquela atitude de segui-lo quando ele entrou no banheiro. Estava dividida entre prestar atenção no que fazia para não cortá-lo ou retribuir o olhar que Victor lhe dava. As respirações se encontravam, mas no fundo ela queria os seus lábios indo de encontro aos do seu marido. Victor entrecortava a respiração, demonstrando estar nervoso, porém, para Luciana ele estava assim porque tomava medicamento, mexendo com todo o seu sistema.

_Como está indo as sessões com Beatriz? – Puxou assunto quando já estava terminando.

_Estão bem. Estou melhorando, sinto isso.

_Que bom. E quanto aos shows, decide voltar a fazer?

_Não agora. Estou com medo de não dar conta do recado.

_Se eu pudesse iria com você. – Olhou para ele – Mas se com a Gabi era difícil, imagina agora que temos a Mariana.

_Te entendo, Lu.

   Após passar mais um tempo concentrada no que estava fazendo, finalizou sorrindo.

_Pronto.

   Victor olhou no espelho, estava se sentindo outro, mais jovem, com sua pele lisinha. Passou a mão por toda a região do maxilar, sorrindo. Molhou o rosto e pegou a toalha para enxugar-se. Luciana ainda estava sentada na pia, um convite para alguns minutos de prazer, mas o medo fora maior de tomar iniciativa e ela lhe repudiar.

_Agora sim, está um gato!

_Obrigado. – Baixou a cabeça, ergueu apenas o olhar – É... Eu vou tomar banho.

   Não precisou mais nenhuma palavra para Luciana entender que fora rejeitada. Timidamente desceu da pia e foi para o quarto, fechando a porta para que ele ficasse em paz.

   Afinal, o que estava acontecendo entre eles? Nem ela mesma sabia. Sentiu algumas lagrimas caindo e deixou-as correr livres. Seu celular apitou, havia programado-o para a data que iria levar Mariana para a consulta. Aproveitou o momento para se encher de tarefas na casa para fazer, não queria pensar em mais nada. Pela tarde levou sua filha para a sala de carol, a amiga ainda dividia o prédio com Daniel. Ergueu a cabeça para ver o nome LUCADAN, “E em pensar que eu já fiz parte dessa sociedade.” Suspirou enquanto retirava a filha do banco de trás e entrava na clinica.

   Não negava que sentia saudades de sua sala ali, até a mágoa que tinha com Daniel e Karen passara em seu coração. Após ser recepcionada por Carol que encheu Mariana de mimos, sentaram no sofá para conversar.

_Acho a Mari tão pequenina, Carol.

_É normal. Você teve-a antes da hora, sorte sua que ela não precisou ir pra incubadora.

_Amém. – Fez o sinal da cruz em si mesma – Não iria suportar tamanha dor.

_Ok, vamos fugir desse assunto e iniciar outro... Agora que já está livre para “brincar” você e o Victor...

_Ká! – Repreendeu-a aos risos

_Já sei você não se sente bem falando sobre isso.

   Ficaram caladas por alguns segundos, Luciana iniciou a conversa:

_Sinto que ele não me ama mais.

_Por quê?

_Ah – Baixou a cabeça – Eu tento de todas as maneiras, mas Victor foge.

_Deve ser impressão sua, Lucy.

_Não Carol. Sempre estou me aproximando dele, usando as melhores camisolas. Deus! Só falta eu andar nua pelo quarto pra ver se ele me nota.

_Olha Lucy, isso aconteceu comigo quando eu tive o Junior. É normal, lembro de ter tanto instinto materno que esqueci do meu esposo. Foi uma fase muito dolorida e foi preciso ele me alertar disso. No seu caso, o Victor pode estar com medo de avançar e você negar. É normal. Mas tentem conversar, sair para jantar é uma boa.

_Não dá, antes das nove da noite ele já está dopado com seus comprimidos. – Soltou o ar – Não tenho coragem de conversar sobre isso. Estou me estranhando, queria ter a audácia de antes.

_E você tem, é só resgatá-la dentro de si. Sei que filhos é nossa vida, mas uma vida a dois completa o que nos falta para viver em paz.

   Saiu do consultório da amiga bastante pensativa. Carol estava certa, Luciana agora passava boa parte do tempo com Gabriela ou com Mariana, mal chegava perto dele. Marisa estava sempre dando um jeito de deixá-los a sós, mas logo Victor ia para o studio e passava horas tocando violão. Não iria deixar seu relacionamento cair na rotina. Então, decidida, foi ao shopping, se não tinha tempo para passar horas no salão de beleza, teria que ao menos renovar seu guarda roupa. Andou pelos corredores, não achou nada que lhe interessasse só algumas peças intimas e assim voltou para casa. A tarde já estava indo embora quando colocou Mariana deitada no berço, saiu procurando Victor pelos cômodos da casa, não o achando. Marisa estava lendo livro na varanda.

_Dona Marisa, onde está o Victor?

_Ele saiu.

_Sozinho? – Sentiu que alterou um pouco a voz. Estava incrédula.

_Sim. Ele tem que começar a quebrar esse medo, Lucy.

_Tem razão. – Sentou-se na cadeira.

_Mas ele disse que deixou algo no seu quarto.

   Bastante ansiosa Luciana foi para o quarto. Na cama nada achou, no closet, um vestido vermelho sendo segurado por um cabide. Dentro dele, havia um bilhete:

Podemos nos encontrar hoje? Anote o endereço do local. Te amo. VC.

    Logo abaixo estava o endereço, era o apartamento de Leo. Tudo estava deixando Luciana nervosa: Victor não era de sair assim, no fim da noite. Marisa estava muito tranqüila quanto a isso.
Querendo ou não, iria. Estava ansiosa para ver o que ele aprontara para aquela noite. Correu para seus objetos, achando alguns óleos para o corpo, loção pós-banho. Ficou alguns minutos na banheira, queria estar relaxada. Caprichou no visual, antes de sair olhou para o lado dele no closet, algo pedia que pegasse o item necessário para aquela noite... Já sabia onde ele guardava, foi logo abrindo a gaveta, achando ali e logo jogando dentro de sua bolsa porque Marisa entrou no quarto chamando-a.

_Estou aqui.

_Oh! Como você está linda.

    Luciana olhou-se no espelho enorme que tinha ali, realmente Victor acertara em cheio. Seu corpo estava voltando ao normal, mas naquele vestido... Parecia ser a Luciana da adolescência. De repente, sentiu-se egoísta por estar saindo e deixando suas duas filhas em casa.

_Eu não posso.

_Não pode o que?

_A Mariana é muito pequena e estou amamentando-a...

_Desculpe Luciana, mas isso não é motivo para você desistir. Eu fico com as pequenas, coloque o leite na mamadeira, quando Mariana acordar eu dou a ela. Aproveite Luciana. Você e o Victor tiveram uma segunda chance...

   Marisa retirou-se do quarto. Estava certa, Luciana e Victor conseguiram uma chance a mais para buscar a felicidade. Fez o que a sogra pediu e pouco tempo depois, seguiu para o seu encontro.

***

    Após a cena que presenciara – Luciana sentada no balcão da pia, com olhar suplicante e devorador. – Victor sentiu toda a paixão, o amor que sentia por ela voltar. Agora a desejava mais que tudo, mas sempre que se aproximava lá estava ela ocupada entre repreender Gabriela, que agora estava cheia de querer, e dar atenção a Mariana que continuava com as cólicas e chorava desesperadamente. Ali dentro daquela casa ele sabia que não teriam momento a sós. Precisava desabafar com alguém, jamais contaria coisas assim a Beatriz, mesmo sabendo que ela era profissional e iria orientá-lo de uma maneira correta. Durante o trajeto de volta para casa, naquela manhã, ele olhou para Marisa. Sua mãe poderia ajudá-lo e parece que agora ela lia seus pensamentos, porque suspirou e iniciou a conversa:

_Sabe, não vejo mais você e a Luciana trocando carinhos em público. Está tudo bem?

   Respirou fundo antes de responder:

_É estranho. Eu e Luciana nos distanciamos, estava vendo-a como uma mãe protetora. Mas hoje aconteceu algo que acho que estou querendo salvar nosso casamento.

_Isso é normal, Vitor. Mas não deixe esse relacionamento cair na rotina. Troquem mais carinhos, fiquem juntos, tenham mais momentos a sós. Porque não conversa com ela hoje?

_Está impossível. Luciana agora parece só ter olhos para nossas filhas, esquecendo de mim.

_Já parou para pensar que ela deve estar com medo de se aproximar de você? Percebi que esses dias ela sempre chegava junto de você, eu os deixava a sós e você ia direto pro studio.

_Acho que terei que quebrar esse meu medo, para só depois pensar na minha vida conjugal.

_Jamais faça isso! Deveriam sair mais.

   De repente, ele teve uma idéia.

_Se eu te pedir, você me ajudaria?

_Mas é claro.

_Pode ir comigo comprar um vestido para ela?

_Sim.

   Entraram no shopping, Victor estava a todo momento de cabeça baixa. Local com muitas pessoas o deixava nervoso, trêmulo. Escolheram o vestido e Victor decidiu que não iria deixar um medo tomar conta de si. Telefonou para o irmão, combinou tudo. Respirou fundo e colocou o plano em prática.            

Continua...