Aquelas semanas passaram voando. Entre elas,
Victor havia voltado a ensaiar, convocaram todos os músicos da banda, ele
estava empolgado, sabia que teria que criar forças dentro de si e seguir
adiante, a vida continua. Negou qualquer
entrevista, sabia que certos repórteres iriam entrar no seu assunto pessoal,
não estava preparado. Estava freqüentando o consultório de Beatriz, mas já
sentia que em breve iria pausar suas idas ali. Nos tempos livres dedicava a
Luciana e suas filhas, queria aproveitar ao máximo já que em menos de um mês
iria voltar a sua rotina.
Luciana suspirava acordada, não estava
acreditando que tudo estava voltando ao normal, Victor sempre dedicado e
empolgado com o show que iria fazer. Iria ajudá-lo no que fosse preciso, mesmo
sabendo que iria sofrer com a sua ausência. Sempre que podia entrava em contato
com Joyce, com sua vida organizada agora queria focar em Lucas, jamais esquecia
dele, entre uma ligação e outra, prometeu que iria fazer uma visita ao pai.
Os primeiros ensaios foram na casa de
Victor, ainda não estava preparado para sair. Agora faltava menos de uma semana
e ele já não conseguia dormir de tão ansioso, Luciana estava ali, do seu lado,
lhe passando energia positiva. Os últimos ensaios decidiram fazer fora de casa,
isso seria a prova de que estava preparado para encarar os desafios da vida.
Luciana sempre ia levá-lo, buscar também e lá estava ela, Victor ao vê-la abriu
o sorriso mais perfeito e foi ao seu encontro, abraçou-a e jamais esquecendo do
beijo profundo. Entrelaçaram as mãos e juntos se aproximaram da turma.
Luciana: _Cada dia fico mais
encantada. Hoje vocês superaram, peguei o final, mas o ensaio ficou lindo.
Leo: _Que bom que gostou cunhadinha.
Victor abraçou-a por trás, estava radiante,
feliz, todos podiam perceber isso. Despediram-se de todos e seguiram para o
carro, durante o caminho pareciam dois adolescentes, roubando beijos e abraços.
Chegaram no carro e Luciana hesitou entrar nele.
_O que houve Lu?
_Quero que você dirija.
Em questão de segundos, Victor mudou a
expressão. Depois do que acontecera, ele não tinha pego no volante, estava com
medo.
_Lucy... Não.
_Por favor, Vih. – Aproximou-se dele,
beijando-o rapidamente – Temos que quebrar esse medo. Hum?
_Não estou preparado. Não vou saber como
agir caso algum carro se aproxime de nós.
_Eu confio em você. Isso basta! – Entrou no carro pelo
lado do passageiro. – Fica no comando.
Ele já não sabia mais como se usava aqueles
pedais, o volante era algo temeroso para ele, suas mãos suavam. Sentiu Luciana
tocar em sua coxa mais próxima, olhando-o com ternura.
_Estou aqui. Confio em você.
Aquele fim de tarde estava maravilhoso,
seria fácil para Victor. Ligou o carro, lembrando aos poucos de como usar cada
objeto ali naquele veículo. Luciana ligou o som, o que o relaxou mais. O carro
foi perdendo velocidade, parando em frente a mansão. Esticou suas próprias mãos
e observou o quão trêmulas estavam, ouviu Luciana bater palmas e beijar seu
rosto.
_Você conseguiu meu amor.
Sorriu consigo mesmo, aquilo levantou o seu
ego. Desceu do veículo e Marisa estava o esperando, com os olhos radiantes;
abraçou-o forte e juntos todos entraram em casa.
A casa estava silenciosa, Victor andava pelo
corredor até o quarto de Mariana. Luciana estava colocando a filha para dormir,
balançando-a e cantarolando algo inaudível. Ficou observando tudo calado, com
os olhos rasos até ela perceber sua presença:
_O que está fazendo aí? Vem cá.
Victor chegou perto dela, segurou um pouco
sua filha e colocou-a no berço. Foram para o quarto deles abraçados.
_Obrigado Lu.
_Por?...
_Tudo. Você me completa e me faz ficar mais
vivo a cada dia que passamos juntos.
Envolveu os braços no ombro dele.
_Eu que agradeço por me dar uma família tão
linda.
Selaram os lábios, roçando-os.
_Obrigado por hoje.
_Quando eu te mandar fazer algo, apenas
confie em mim e faça. Sei o que estou fazendo.
_Tudo bem minha Senhora Chaves.
Sorriram, Luciana afastou-se dele.
_Vou descansar um pouco, dorme hoje comigo?
_Acho que não Lu. Vou passar algumas coisas
pro violão. Falta menos de uma semana para o show.
_Ok – Deitou-se – Dispensado.
Ele sorriu e saiu do quarto. Estava muito
preocupado, com medo de errar. Assim foram suas madrugadas até o dia do show.
O
grande dia...
Naquela manhã, respirou fundo sentindo tudo
de bom o que a vida lhe oferecia. Luciana não estava mais na cama, mas não
demorou muito para aparecer no quarto, com um sorriso perfeito. Deitou-se em
cima dele:
_Bom dia amor.
_Oi meu anjo – Passou as mãos no cabelo
dela.
_Hoje é o grande dia. Está preparado?
_Com você sempre estou preparado para
enfrentar tudo.
Levantou-se feliz, o sol estava lindo lá
fora. Após o café da manhã, foi até o closet junto com Luciana. Olharam-se lembrando mais uma vez:
_Foi antes do show que te ajudei a escolher
a roupa que iria usar. Lembra?
_Claro. Eu precisava te ver e inventei uma
desculpa qualquer. – Riram por alguns segundos.
_Quase nos beijamos.
_Não nos beijamos porque você não quis e
saiu correndo – Chegou próximo a ela – Sua medrosa.
Quanto mais aproximava de Luciana, mais ela
dava um passo atrás, tendo que encostar-se à parede, foi cercada por ele que já
estava com as mãos apoiadas próximo a sua cabeça, impedindo-a de fugir. O olhar
caiu para a boca.
_Hoje você não me escapa.
Encostou-se por completo no corpo dela,
Victor tomou-lhe os lábios em um beijo apressado, as mãos de Luciana passeavam
por aquela pele macia, acomodando-se na nuca, puxando os cabelos próximos,
sentindo um arrepio cada vez que o sentia jogar o corpo contra o seu. O beijo
foi finalizado e ambos sorriram.
_Vamos ver o que temos aqui.
Luciana o ajudou a escolher a roupa. Decidiu
o deixar ir sozinho para o ensaio naquele dia, queria deixá-lo andar por si, em
menos de vinte e quatro horas ele estaria longe de tudo e de todos, teria que
cainhar pelos seus próprios pés. Já era noite quando ele chegou apressado,
achando Luciana sentada de frente ao espelho, se maquiando. Minutos depois, ele
estava ali, terminando de fechar a camisa social que ela escolhera para aquela
noite.
_Nossa, desse jeito vou ter ciúmes.
_Lu! – Repreendeu-a sorrindo.
Na porta, Marisa o esperava. Seus olhos
estavam rasos, eram lagrimas de felicidade por saber que tudo estava voltando
ao normal.
_Estou tão feliz por você, Vitor.
_Eu sei disso mãe. – Abraçou-a – Só não entendo
porque não quer ir.
_Fica pra uma próxima. – Limpou o canto do
olho – Quero hoje me dedicar as minhas netas. Em dezembro estarei lá
na primeira fila.
Sorriram, mais uma vez se abraçaram e logo
eles se foram.
Durante o caminho, Victor olhava para
Luciana. Ela dirigia pensativa, mesmo assim continuava linda. Não cansava de
admirar a sua beleza, não só a exterior. Percebendo o olhar dele, retribuiu
rapidamente:
_O que foi?
_Nada. Só estou encantado com sua beleza.
_Melhor assim, desse jeito não vai olhar
para nenhuma outra.
Nesse clima de descontração chegaram à casa
de show, alguns repórteres os esperavam em uma sala. Victor e Leo participariam
de uma coletiva após muitos pedirem. As perguntas estavam claras e objetivas,
algumas vezes algum repórter tentava entrar em assuntos pessoais, mas Victor
fazia questão de cortar. Justamente naquela noite não queria lembrar do que
houve consigo porque seria reviver tudo.
Estava tão bem que nos últimos dias não
estava pensando e nem lembrando de nada do seqüestro. Uma noite qualquer sonhou
com Lana, ela estava em uma floresta, sorridente, lhe abraçando. Se estivesse
em algum lugar onde os vivos não têm acesso, que estivesse como naquele sonho,
linda e feliz.
A coletiva terminara com direito a fotos.
Anunciaram que tudo estava pronto, era a grande hora. Victor sentiu seu peito
oprimir, sua voz falhar, as mãos suarem, antes mesmo de subir ao palco. Luciana
segurou-lhe a mão, com um brilho nos olhos que logo se desfez ao sentir que o
marido estava parado, olhando para algum ponto. Seu corpo tremia só de ouvir
aquela gritaria da platéia.
_Victor...
_Lu, eu...
_Olha pra mim.
Assim ele fez, olhando profundamente. Sentia
dizer isso, mas não iria seguir adiante. Preparara-se tanto para esse dia e naquele
momento não respondia por si, simplesmente não queria subir ali, enfrentar
todos. Não iria cantar, tocar ou qualquer outra coisa. Leo se aproximou, todos
ao seu redor estavam assustados. Se Victor não seguisse adiante naquela noite,
provavelmente não iria conseguir nos próximos shows que por sinal a agenda
estava lotada até o fim daquele ano.
_Me desculpa, mas eu não posso, não vou
conseguir...
Leo colocou a mão na cabeça, passando-a pelo
cabelo. Luciana ficou nervosa também, não iria deixar isso acontecer.
_Amor, olha pra mim. Você vai conseguir, tem
que enfrentar esse medo. Se for preciso eu fico com você lá no palco, mas pelo
amor de Deus, sobe lá e faça acontecer.
_Pensa que é fácil Luciana?! Não vou subir e
não fazer nada! – Esbravejou.
Luciana deixou-o descontar a raiva, agora
ele sentia uma vontade enorme de chorar. Minutos depois, sentiu a mão dela
tocar a sua:
_Pensa nas suas fãs. Muitas vieram de tão
longe, de estados vizinhos, só pra ver essa sua volta triunfante.
Aquilo fora como injeção de ânimo para Victor, ele
sorriu como resposta, apertou a mão dela e seguiu até o palco. Luciana sorria
internamente, jamais pensou que iria conseguir convencê-lo. Respirou aliviada
quando ele pegou o violão, segurou o rosto entre as mãos e depositou-lhe um
beijo:
Continua...