quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Cap. 47




   Luciana sentiu seu rosto ruborizar e logo as lagrimas caírem. Não mentira por mal, apenas queria que Victor ficasse bem.

_Calma Lucy.
_Mas eu... Porque isso, Leo?
_Me desculpa, na verdade não era pra eu ter falado nada.
_Quem começou o assunto não foi você. – Limpou as lagrimas com as mãos.
_Vou atrás dele.

   Assim que Leo saíra, Luciana voltou a chorar. Quando as coisas estavam indo bem, acontecia algo.

_Fica calma, Luciana.
_Estou com medo, Tati. E se o Victor resolve me tratar friamente por causa dessa droga de mentira?
_Ele não vai fazer isso. Na verdade, nem concordei muito do Leo ir atrás dele.

   Continuaram conversando na esperança de que Leo achasse o irmão e tentasse lhe explicar a situação.


***


   
    Na mente de Victor várias perguntas formulavam em sua cabeça. Luciana fora presa e ele sequer sabia o motivo, teria algo a ver com o seu seqüestro?

   Não sabia por que levara Gabriela, talvez porque sua filha era o sentimento mais puro, porque ela lhe transmitia tanta paz que para ele era bom navegar naqueles olhinhos inocentes e dentro de si, pensar. Sentou-se em uma sala de espera, uma TV estava ligada, o sofá macio e sua filha agora estava entretida em algo que passava naquela tela. Não demorou muito para ele sentir a presença do irmão.

_Se veio defender as mentiras de Luciana, melhor nem começar.
_Ela não teve culpa de nada. Vitor, você está em tratamento, passou por tanta pressão. Analise o lado de Luciana, ela apenas queria ocultar algo para não te ver caindo e ter que começar do zero as sessões com a sua psicóloga.

   Victor baixou a cabeça, Luciana estava certa, mas ele não queria admitir nem para si.

_Nosso relacionamento sempre houve sinceridade e lealdade. A cada dia que se passa estou vendo a Luciana distante, não me dizendo nada. Eu sei que falhei em muitas coisas com ela, mas só quero vê-la confidenciar o lado mais intimo e me ver como o amigo que era antes.
_Tudo tem um motivo Vitor. Se ela não te contou nada, nem nós, foi para não te ver sofrer. Veja agora, tudo acabou, ela está livre. Se tivesse lhe contado, você estaria mal, mais uma vez caído e aumentando suas dosagens de remédios para dormir.

   Baixou a cabeça e sentiu-se um vitorioso, como um drogado, limpo e feliz que não sentia mais falta de nenhum entorpecente. Depois que Mariana nascera não precisou tomar seus antidepressivos. Levantou-se e em silencio, voltaram ao quarto, Luciana já amamentava Mariana e Tatianna com certeza estava esperando ele aparecer com Gabriela para levá-la para casa. Leo pigarreou e sem jeito, tímido, olhou para a ex:

_Estou indo embora, quer carona?
_Não Leo, estou de carro. Vou levar a Gabi para ir dormir lá em casa mesmo. Obrigada mesmo assim. – Olhou para Luciana – Posso ir, Lucy?

   Luciana fez um gesto positivo. Lentamente, Tatiana foi em direção a Victor, segurando Gabriela em seus braços. Tanto ela como Leo despediram-se e juntos saíram do quarto.

   Um silêncio perturbador resolveu fazer moradia ali, Luciana estava com os olhos vermelhos entregando a crise de choro que tivera, Victor estava calado, sentado no sofá assistindo algo que passava na TV. Não queria que aquele clima ficasse durante aquela madrugada toda, um dos dois teria que ceder e esquecer o ego que os acompanhava. Luciana limpou a garganta ao pigarrear para que chamasse a atenção dele:

_Me desculpa Victor, só não queria te dizer sobre a minha prisão para não te ver pior do que estava.

   Ele permaneceu em silencio, como se estivesse degustando cada palavra dela, criou coragem:

_Eu queria muito que você visse em mim, um amigo. Infelizmente agora sei que tivemos que abdicar da amizade para vivermos esse relacionamento.
_Não pense assim jamais, Victor. Não me culpe por ter escondido algo de você, só não queria que seu tratamento piorasse. Será que só o meu perdão não basta? – Sentiu a voz embargar. Deu uma breve pausa. – Prometi a Deus que se ele te trouxesse de volta eu faria diferente e aqui estou eu, deixando meu orgulho de lado para te suplicar perdão.

   Victor ficou calado mais uma vez, não olhava para ela, estava empolgado na TV. De repente, levantou-se e depositou um beijo no rosto dela:

_Eu sei que você omitiu isso para meu bem, mas te peço que não faça mais isso. Sabe Lu, esse tempo em que estive longe de você não minto ao falar que pensei em me separar de você – Luciana o fitou assustada. – Mas nas inúmeras vezes que isso me passou pela cabeça, o amor dentro de mim foi mais forte e me fez refletir que não há vida sem você. Se soubesses o quanto pensei em você quando estava naquele quarto sujo, com medo, aflito, mas ao lembrar dos seus olhos eu sorria e criava forças para viver...

   Juntos sorriram, mas com os olhos confessando que algumas lágrimas estavam prestes a cair. Olharam para Mariana, que estava tão quietinha no colo de Luciana, dormindo, tranqüila.

_Do que te acusaram?
_De estar envolvida no seu seqüestro. – Olhou para o teto, impedindo as lagrimas de caírem. – eu juro Victor, nunca, jamais passou isso pela minha cabeça.
_Não fala mais nada. – Olhou cada detalhe no rosto dela – Sei que você não seria capaz disso. Seja lá quem for que te acusou, está ferrado comigo.
_Vamos esquecer, já consegui meu Hábeas Corpus. – Olhou para a filha – Agora é focar no futuro das minhas princesas.
_Porque não dizer no futuro da nossa família?
_Tem razão.


***


Dias depois...

   Luciana voltou pra casa, seu coração apertou de tristeza ao ver Lucas, que fora visitá-la assim que saiu da maternidade; estava acompanhado de Joyce que aproveitou para matar a saudade com Gabriela. Sentia falta de Geovana ali, mas evitou a todo o momento tocar no nome dela, não sabia como o pai estava. A visita foi de apenas dois dias, logo ela estava se despedindo dele e ali não pode deixar de liberar a dor entre as lagrimas que caíam insistentes, teimosas. Naquele mesmo dia Leo apareceu com Amaral.

Leo: _Acharam o caseiro.
Victor: _E aí?
Amaral: _Eles estavam no interior de São Paulo. A esposa também vai responder. Quando foi interrogado ele afirmou que fizera isso após ver e imaginar o quanto a família tinha de dinheiro.
Victor: _E quanto a Luciana? – Olhou para a esposa que estava apreensiva com Mariana no colo.
Amaral: _O detetive questionou e para vocês terem uma noção ele nem sabia o nome da própria. Afirmou que ela não estava envolvida. – Olhou para ela. – Você está livre, Luciana.

   Luciana sentiu um peso enorme ser tirado de suas costas. Há dias não conseguia dormir, com medo de que eles pudessem reverter o caso e a prender. O detetive aproximou-se dela, olhando-a ternamente:

_Quero aproveitar o momento para te pedir desculpas, Luciana. Te julguei e isso não é da minha índole, não mesmo. Perdoe-me.
_Vamos esquecer isso, Amaral. Você estava apenas fazendo o seu trabalho.

   Para quebrar o clima estranho, Leo se aproximou da cunhada:

_Me dá a minha sobrinha. Ela tem que saber desde já que sou um tio babão.

    Ainda permaneceram conversando sobre o assunto, Luciana não parava de olhar para Victor. Ele estava arrasado, mesmo não demonstrando. Respondia tudo o que lhe perguntavam, tentava interagir, mas no fundo estava querendo que tudo acabasse logo e ele fosse para seu quarto deitar-se, esquecer de aquilo tudo que lhe causava dor.

  Estava ficando difícil para ele. Nas manhãs, ia para o consultório de Beatriz, agora fazia suas sessões por lá, sempre acompanhado de sua mãe. Marisa agora estava morando com eles, sempre estava ajudando enquanto Luciana teria que dar total atenção a Mariana. Victor agora sabia que sua filha viera ao mundo para salvá-lo, agora seus pensamentos não eram voltados ao que acontecera naquela pequena casa, no meio do mato, ao lado de Lana, mas sim para ajudar Luciana nos afazeres, acompanhava cada passo da esposa, exceto a noite. Antes de dormir logo vinha em sua mente a morte de Lana, fazendo-o se refugiar nos comprimidos para dormir, porém, a sensação era pior, acordava pela manhã eufórico, relembrando tudo o que vivera naqueles dias sob os seqüestradores.

   Ouvir Amaral falando sobre o caso seu peito oprimia, sentia vontade de subir, entrar no seu quarto, passar a chave, tomar seus comprimidos e dormir até esquecer isso tudo. Após o detetive sair, Leo ficou mais um tempo com a sobrinha nos braços, Victor pediu licença e subiu, já estava anoitecendo e ele logo sentia as batidas do seu coração. “Vença esse medo.” Falava para si.

   Luciana subiu assim que Leo se fora, encontrou Victor saindo do banheiro, com a toalha envolta na cintura. Não sabia o que estava acontecendo, estava se sentindo tão mãe protetora que estava esquecendo do seu casamento, já não sabia mais o que era os lábios de seu esposo nos seus, evitava o encontrar em situações como essa por não saber como agir ou o que fazer. Aguardou-o sentada na cama, enquanto ele se trocava no closet, Victor voltou e até o choro estridente de Mariana estava deixando-o impaciente.

_Porque ela está chorando?
_Liguei pra Carol, ela disse que é cólica. – Olhou para a filha pra evitar o contato visual com Victor. – Até parece que não passamos por isso quando Gabi nasceu. Tudo está sendo novo para mim.

   Mariana chorava e se encolhia nos braços de Luciana que já estava desesperada, lembrou-se de Geovana, seus olhos marejaram, mas deteve-os antes que pudesse chorar diante de Victor.

_Vou deixar você a vontade

    Levantou-se com a filha nos braços. Não queria o incomodar, Victor já fazia estranhas expressões, assustado e ao mesmo tempo querendo fazer de tudo para que sua filha parasse com aquele “escândalo”.  
      
_Não precisa Luciana, quero ajudar.
_Mas como? – Olhou para Mariana – Ela não para de chorar.
_Me dá ela aqui.

   Com cuidado, segurou Mariana e ficou balançando-a enquanto andava pelo quarto. A pequenina continuava chorando, clamando por ajuda. Sem ter muito que fazer, Victor deitou-se na cama, colocando-a em seu peitoral, deitada de bruços. Alisava os poucos cabelos na filha, olhando para ela, era bem menor que Gabriela quando nascera. Cantarolou até o choro ir baixando o tom, em poucos minutos, ela já estava quieta nos braços do pai.

_Como você conseguiu? – Luciana ficou boquiaberta.
_Sei lá. – Sorriu – Dizem que os pais aprendem com o tempo. Deve ser o instinto.

   Luciana deitou-se, ficando de lado, acariciava a filha que ainda permanecia nos braços de Victor, estava tão quieta, sentindo-se protegida.

_Senti que você estava se sentindo sufocado ali na sala.
_Não vou mentir, Lu. Sei lá, dói saber que você confiou tanto em uma pessoa e ela te apunhalou pelas costas. Doeu saber que o cara que eu confiei e cheguei a entregar a minha fazenda para ele cuidar, armar meu seqüestro.
_Não pensa mais nisso, Vih. A polícia agora ficará a frente de tudo.
_Vou tentar. – Olhou para o teto.

   Naquela noite, pouco conversaram. Mariana havia dormido e Luciana colocou-a de volta no berço, voltou para o quarto e achou Victor deitado, dormindo. Estava sendo difícil para ela, quase não tinha contato com o marido e quando tinha essa oportunidade, lá estava ele se jogando naqueles montes de comprimidos que o iludiam e o deixava inerte, sonolento, esquecendo do mundo ao seu redor. Deitava ao lado dele, mas nas madrugadas frias sentia-se só.


***

   Aquela tarde estava um sol maravilhoso, Luciana andou um pouco com Mariana dentro do carrinho, Lourdes aparecera:

_Luciana, tem uma amiga do Vitor querendo vê-lo. Autorizo a entrada dela?

   Luciana estranhou. Depois do que acontecera somente algumas pessoas vinham visitar Victor, ele recebia várias ligações, mas visita era muito raro. Desceu para ver quem era, seus olhos não acreditaram no que estava vendo, praguejou aquela mulher desde o momento em que a vira ali, naquela tarde. Tinha que admitir que Katherine era muito bonita e uma pontinha de ciúmes acometeu-a. A moça estava esperando a autorização e só Luciana poderia fazer isso, estava em suas mãos: Deixá-la ver Victor ou mandá-la embora?

_Vou entender se você não me deixar ver o Victor.

   De repente, Luciana sentiu-se meio obsessiva, Victor era apenas seu esposo e não propriedade sua. Ele ainda tinha sã consciência e podia sim responder pelos próprios atos.

_Entre Katherine. – Olhou para Lourdes que estava tensa do seu lado – Leve-a para a piscina, vou chamar Victor.


  Demonstrou com aquela expressão que não estava engolindo Katherine. Fora por causa dela que seu casamento quase acabou.      

Continua...

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