quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Cap. 40


“Sempre que a saudade bater irei olhar para essas fotos, e também sempre levarei vocês comigo.  
                            (Lembrançasde Amor, Capítulo 97 – Primeira Temporada)

   Após ser medicada, Luciana voltou para casa. O silêncio voltou a ser seu amigo, não falou nada mas sabia que era preciso quando deitou-se na cama e Leo segurou-lhe a mão:

_O que falaram?

   Respirou fundo lembrando das palavras.

_Eles ligaram dizendo que mais tarde diriam o valor do resgate. Estou com medo, Leo.
– Sentiu as lagrimas invadindo-a.
_Nada vai acontecer, fica calma. Pagaremos o valor que for, já chamamos um detetive amigo nosso. Claro que a policia irá colocar o deles para ficar a frente da investigação, mas iremos ficar de olho. Descansa.
_Como? Não tem como descansar sabendo que Victor está por aí na mão de quem não presta. Só espero que não façam nenhum mal com ele.
– Sentiu os olhos marejarem.

   Leo a deixou no quarto sozinha. Luciana lembrou daqueles dias em que Victor tentava puxar algum assunto sem obter respostas, que ele fazia tudo por ela mas era bloqueado pela mesma. Se ela bem soubesse que aqueles dias foram preciosos, mas agora era tarde demais para reconhecer o erro. Fechou os olhos e mentalizou os momentos bons em que viveu ao lado dele, agora queria voltar no tempo e fazer tudo se tornar diferente, cada briga que tiveram, cada separação, ela tinha certeza que mudaria. Pela tarde recebeu visitas de Tatianna, Marisa e Carol, porém a sua Lei do Silêncio voltara e apenas balançava a cabeça quando lhe faziam alguma pergunta.

   Tudo o que Luciana queria naquele momento era ficar só, sentindo-se culpada por tudo o que estava acontecendo ao seu redor.

***


   As horas demoravam a passar, Victor ainda estava deitado naquele colchão. Agora ele analisava o local: Um quarto pequeno, uma mesinha de madeira bem velha, uma cadeira. As paredes manchadas, acabadas, um telhado simples. Aquilo não o assustava, medo maior era de quem estava ali, fora daquele quarto e o que eles fariam. Passou a mão naquele cordão que carregava no pescoço, parando no pingente e abrindo-o, olhou para as fotos de Luciana e Gabriela, foi nesse momento que se pegou chorando. Perdeu-se no tempo olhando para elas que só percebeu quando a porta estava abrindo, Lana entrava mais uma vez com a bandeja.

_Seu almoço.
– Colocou a bandeja na mesa e mais uma vez foi para o canto do quarto.

   Diferente daquela manhã, Victor não sentia fome alguma, não estava bem psicologicamente para sentir vontade de comer. Para não contrariar a jovem ali, levantou-se e tomou alguns goles do suco, que pra variar estava sem açúcar.

_Quem são elas?
– Apontou para o pingente no pescoço dele que estava aberto.

   Victor olhou mais uma vez para aquelas fotos, suspirou:

_São as mulheres da minha vida. Luciana e Gabriela. Minha esposa e minha filha.
_São bonitas. Eu já vi em fotos... Você tem uma família linda.
_Obrigado.
– Sentou-se na cadeira. – Luciana está em depressão, perdeu a mãe. Estou preocupado com ela.

   Lana olhou para ele sentindo, seus olhos ficaram rasos. Victor apenas queria conversar com alguém para não enlouquecer e aquela jovem aparentava ser gente fina, apenas entrara no mundo do crime para se livrar de sabe-se lá o que.

_Você me disse que tem filho. Deve sentir o que estou falando.

   Sabia que não iria arrancar nada dela, Lana estava calada, querendo falar algo. Saiu do quarto recolhendo a bandeja. Soltando o ar que prendia em seus pulmões, Victor deitou-se naquele colchão, colocou as mãos na nuca e ficou encarando o teto. Seus olhos fixaram em um ponto e lhe veio na mente quando ele dançou com Luciana na festa de casamento, ela sorridente e tímida, balançando o corpo, o acompanhando nos passos, um desejo, uma vontade e a ansiedade de o que seria depois daquela festa os tomavam de excitação. Aquela cena aconteceu meses atrás e parecia que tinha acontecido há anos, décadas.

   Ouviu a porta se abrir novamente e Lana entrou, sentando na cadeira que minutos atrás ele estivera sentado.

_Natanael. Ele tem um ano e nove meses.
– Ela tirou uma foto da blusa e entregou-o

   Victor viu a foto e lembrou-se de várias que ele tirava de Gabriela. Sua voz não saiu de imediato, estava contendo o choro.

_Nome bonito. Igual ao dono.
– Sorriu de leve
_Ele veio e mudou minha vida completamente.
_Você é casada com o pai dele?
_Pobre não casa, divide as poucas coisas que tem em um lugar só.
_O que importa é a felicidade. Se vocês são felizes, esqueçam tudo. Não há dinheiro no mundo que compre a paz do ser humano.
_Até queria esquecer.
– Baixou a cabeça. – Carlos morreu e nem pode ver o nascimento do filho.
_Nossa, eu sinto muito.

   Observou Lana derramar algumas lagrimas, logo ela se recompôs e o olhou:

_Ele só queria me dar uma vida tranqüila, mas foi impossível. Erro maior é o meu de continuar na mesma vida que ele. Já sei o meu fim.

   Victor aproximou-se dela e tocou-a:

_Você é nova, Lana. Ainda dá tempo de sair dessa vida e estudar, ser alguém. Diga, qual o seu sonho?
_Queria ser Professora.
_E porque não tenta? Já terminou os estudos?
_Não, parei na oitava série.
_Você é muito nova e tem um tempo imenso pela frente. Prometa-me que quando sair daqui, quando acabar isso tudo, irá se reerguer na vida.
_Vai ser difícil, Victor.
_Difícil sim, impossível não.

   A porta abriu rapidamente, fazendo os dois sobressaltarem assustados. Dois rapazes mal encarados entraram, puxou a moça pelo braço, levando-a para fora do cômodo, o outro sacou um celular enquanto empurrava Victor para o colchão:

_Vou ligar pra sua família e se tu fizer algum movimento estouro seus miolos.

   Observava cada movimento daquele rapaz, ele discava um numero e a todo instante  Victor suplicava por pensamento que aquela ligação não fosse pra Luciana, sabia que a esposa não iria suportar tamanha dor.

_Ó, é o seguinte, vou passar logo o “radio”: Tamo aqui com o Victor, e vocês tem vinte e quatro horas pra pagar o valor do resgate. E né pouca coisa que queremos não. Queremos cinco milhões...

   Involuntariamente Victor abriu bem os olhos, assustado com o valor. O rapaz soltou uma risada sarcástica:

_Quer provas de que ele está vivo?
– Puxou o cabelo da nuca de Victor, forçando o celular para que ele falasse – Fala com eles.

   Victor ficou mudo, não era audácia, mas algo bloqueou sua voz, ele apenas tremia de medo, não sabia quem estava do outro lado da linha.

_Fala logo ou estouro seus miolos aqui mesmo.

   Sentiu o cano da arma em sua nuca e ficou ofegante, sua voz não saía.

_MANDEI VOCÊ FALAR, FILHO DA PUTA!

   Victor sentiu uma ardência no rosto, o sequestrador havia batido nele com o cano da arma. Grunhiu de dor e ouviu a voz de Leo do outro lado da linha:

_Vitor? Fala comigo!
_Leo
– Sussurrou
_Pelo amor de Deus Vitor, onde você está? Como está? Te feriram?
_Estou bem. Não foi nada. Avisa a todos que eu os am...

   Não deu para terminar a frase porque o seqüestrador finalizou a ligação, agachando-se e ficando cara a cara com ele:

_Fica calado na próxima ligação e eu te mato, entendeu?

   O rapaz saiu, no mesmo instante, Victor passou a mão no rosto, estava sangrando no local onde fora acertado. A dor estava insistindo, mas não exista dor maior do que se ver naquela situação, longe de tudo e de todos. Aquela conversa com Lana acalmou seu coração e agora ele prometia a si mesmo que se saísse dessa vivo iria ajudá-la. Deitou-se no colchão pensando em Luciana, queria poder dizer que a amava.

“Ela sabe que eu a amo, sempre soube. Espero que fique bem.”

***


    Luciana ouviu gritarias no andar inferior e logo deduziu que fosse noticia de Victor, juntou todas as forças existentes dentro de si e desceu. Leo andava de um lado para o outro, Marisa falando com Paula. Parou na escada quando viu que o celular dele tocava, fazendo-o atender na mesma hora:

_Alô?
– Ele ficava calado, tentando entender tudo, mas a mão trêmula já o mostrava quão nervoso estava. – Ok, faremos o que nos pedem. Mas quero uma prova de que ele está com vocês ou vivo...

   Marisa tentava a todo custo tomar o celular da mão de Leo, ele esquivava e lançava-lhe olhares repreendendo a mãe.

_Vitor?
– Alterou a voz – Fala comigo!... Pelo amor de Deus Vitor, onde você está? Como está? Te feriram?... Não... VITOR?

Marisa: _O que aconteceu?
Leo: _Eles desligaram. – Procurou o primeiro sofá na sua frente, sentando em seguida – O Vitor está vivo. Graças a Deus. – De onde estava, Luciana pôs a mão no coração agradecendo com um suspiro
Paula: _Mas me conta, o que mais conversaram?
Leo: _Eles são espertos. Pediram cinco milhões como valor do resgate.

  Marisa e Paula colocaram a mão na boca para conter o suspiro de susto.

Paula: _Como? Isso é loucura!
Marisa: _Seja como for, iremos arranjar esse dinheiro. Pela vida do meu filho faço tudo.

   Em pé ante pé Luciana voltou para o quarto, deitando-se começou a chorar. Tudo parecia ser mais fácil com Victor ali, o queria de todas as maneiras, iria ajudar no que fosse preciso. Pensou no pai, ele poderia lhe ajudar com alguma quantia, se fosse preciso faria tudo.

   Para ajudar teria que dar o primeiro passo e descer, se entrosar com todos ali e foi assim que ela fez. Estranhando a atitude da mesma, Marisa lhe abraçou.

_Como está querida?
_Estou bem
– Sentou-se no sofá – E ouvi toda a conversa. Quero ajudar de alguma forma.
_Ainda não resolvemos nada. Paula e Leo foram à delegacia.
– Suspirou triste – Não consigo te passar conforto Luciana porque estamos falando da vida do meu filho que está em risco.
_Estou bem, Dona Marisa. Acho que nós duas nos ajudando, seguraremos essa barra.

   Em meio a choro, as duas se abraçaram e ficaram assim longos minutos. Agora Luciana não tinha mais sua mãe para lhe confortar com abraços calorosos, Marisa seria sua nova mãe.

Continua... 

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