sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Cap. 38



    Chegar em casa poderia ser uma paz, talvez se Luciana não achasse pontos que fizesse lembrar da mãe. Lourdes dera total apoio desde que ela entrara pela porta, abraçando-a e olhando para Victor, buscando respostas.

_Venha Lucy, você deve estar cansada.

    A viagem foi tensa, o silêncio que ela resolveu usar incomodava o marido, ele não tinha culpa da morte da sua mãe, nem a própria Gabriela que parecia sentir cada vez que olhava para a mãe e com o mesmo olhar buscava respostas.

   Subiram e ainda no corredor Luciana sentiu as lágrimas quererem descer pelo seu rosto, ainda doía dentro do seu coração, não tiveram uma despedida digna. Lourdes tentava puxar assunto, mas nada se ouvia como resposta, preferiram deixá-la deitada para descansar e juntos foram para a cozinha, enquanto Victor tomava um café, Lourdes sentou do seu lado:

_Como ela está?
_Percebeu que ela não quer papo?
– A empregada afirmou com a cabeça – Está assim desde que enterrou a mãe. Estou preocupado, meu medo maior é Luciana querer se fechar para o mundo.
_Mas ela tem que viver, vamos aguardar, ela deve estar em choque ainda.
_Se Luciana continuar assim, terei que levá-la para um psicólogo. Ela está grávida e nossa filha não merece isso.
_Concordo.
– Levantou-se
_Lourdes, agora que só estamos nós cuidando da Luciana e da Gabi, você pode segurar as pontas enquanto eu viajo?
_Mas é claro, Victor. Vá tranqüilo, qualquer coisa eu te ligo.

   Subiu para o quarto e achou Luciana dormindo, seu rosto estava molhado por conta da crise de choro que tivera. Agachou-se e limpou aquelas lágrimas teimosas:

_Espero que você fique bem, Lucy.
– Beijou-lhe a testa.

   Pegou a mala e com o coração partido foi viajar.

***



   Aqueles dias estavam dolorosos para Luciana, recebeu visita de Carol e Tatianna, porém, não se pronunciou nem falou uma palavra. Andava pela casa como uma morta-viva, apenas cumpria seus compromissos, ia para o hospital, mas só falava o necessário com os pacientes, chegava em casa e estava esgotada, cansada e logo ia dormir. Michael e toda a equipe do hospital decidiram afastá-la por questões de saúde e na mente dela tudo parecia um ciclo: Alguém morria, ela sentia, entrava em depressão, se afastava do que mais gostava de fazer na vida, na volta era demitida. Já esperava por isso, mesmo o colega de profissão lhe prometendo que quando ela voltasse da licença maternidade, teria todos os benefícios que sempre tivera e que seu cargo não seria ocupado por mais ninguém.

   Para Victor estava sendo angustiante, chegava em casa, achando somente uma Luciana sem vida, triste, sentada na cama olhando para o nada, saindo do quarto somente nas madrugadas para entrar no quarto do bebê que a mesma esperava. Estava no studio e decidiu subir quando viu que o relógio marcava mais de três da manhã, achou o quarto de Mariana com a porta aberta e uma luz fraca do abajur iluminando o local, entrando aos poucos viu Luciana próxima ao berço, olhando para a decoração com o sapatinho de bebê na mão, o mesmo que Geovana presenteara.

_Amor, vem dormir.
– Abraçou-a por trás e em seguida levou-a para longe dali.

    Entraram no quarto do casal e ela logo foi deitar-se, Victor não sabia se era porque antes de Geovana morrer ele dissera algumas coisas e saiu sem falar com ela, mas Luciana estava estranha, mal o encarando. Puxou-a para deitar-se em seu peito e sentiu as lagrimas dela molharem, estava soluçando e tudo o que ele queria era ajudar.

_Meu amor, fala comigo. Você anda tão triste, sei que sua mãe se foi, mas eu estou aqui e não vou te abandonar.

    Não obteve respostas e acabou dormindo com ela em seus braços. Luciana sentia muito não poder desabafar, mas estava em um momento em que queria ficar só, sem ninguém lhe atormentando, simplesmente não estava com paciência nem com a sua filha Gabriela que agora estava falante e alegre. Acordou com ele observando-a, o sol estava querendo aparecer lá fora e invadir as cortinas daquele quarto.

_Bom dia, trouxe seu café da manhã. Vem.

   Puxou-a de leve e juntos sentaram na varanda, de lá de cima Luciana via sua filha correndo, brincando com Lourdes que agora estava revezando seu tempo entre cuidar de Gabriela e cuidar da casa.

_Você deveria descer, ficar um pouco com Gabi. Isso pode te fazer bem.
– Deu uma pausa para iniciar outro assunto – O Doutor Guilherme me ligou, você faltou à consulta semana passada. Vou remarcar e te levarei nem que seja preciso te colocar em meus braços. Não posso ficar sem saber como anda a saúde da minha filha. 

    Como resposta Luciana virou o rosto e ficou séria, permaneceu assim até anoitecer. Tomou um banho e deitou-se esperando mais uma vez a madrugada surgir para poder caminhar pelo corredor e ir em direção ao quarto da sua filha. Victor, como sempre, tentava de todas as maneiras tirá-la daquela casa, entrou no quarto.   
 


_Luciana, estou indo pra fazenda. Houve um problema com um dos cavalos, o caseiro me ligou... Quer ir junto comigo?
– Repousou a mão em um dos pés dela.

    Ela fez um gesto negativo com a cabeça.
   Saiu de perto dela, andou pelo quarto e suspirou alto, estava impaciente. Tentava de toda maneira tirá-la daquela depressão, mas somente ela quem poderia se auto ajudar.

_Quer saber? Cansei. Isso pra mim já é frescura! Sai dessa cama, Luciana! – Alterou a voz e não conseguiu parar mais. – Sua filha precisa de você, do seu carinho e você nesse egoísmo de ficar aqui trancada! Sua mãe morreu? Eu sinto muito, mas não vai ser você trancada aqui que vai trazê-la de volta!

   Ainda com os olhos perdidos, Luciana chorava e agora resfolegava, apertava o lençol que a envolvia nas mãos.

_Você sabe que está grávida e que essa nossa filha que espera sente. Só te peço que pense nela e na Gabriela. Volte a ser a Luciana cheia de vida que eu conheci um dia. – Nos seus olhos tinha lagrimas prestes a cair.

   Foi até a esposa e beijou a testa dela. Sentia tanto quanto ela, estava arrasado com tudo o que estava acontecendo com sua esposa.

_Vou bem rápido, já volto.

    Foi para a fazenda, mesmo sendo noite ele já conhecia aquela estrada. Ligou o som para tentar distrair-se enquanto não chegava. Ao entrar na Hortense, o caseiro foi logo o recepcionando.

_Seu Vitor. O Veterinário já está lá na Baia dos cavalos.
_Vamos lá.

   Aos olhos atentos de Victor, o Veterinário analisou o animal, ainda o levou para andar.

_Ele não tem nada demais. Já andei com ele, o analisei.
_Deve ser porque o caseiro é novo aqui. – Victor tinha chamado o Veterinário a parte.
_Pode ser, qualquer coisa é só entrar em contato comigo de novo que eu venho rápido.
_Obrigado.

   Levou o médico até o portão, voltou e foi direto para dentro da casa. Estava pensando em ficar ali durante a noite, voltar para casa ultimamente estava sendo uma tortura, ver Luciana ali, deitada ou sentada naquela cama, pensativa, o matava por dentro. Desistiu de ficar, nada o alegrava, talvez se Gabriela estivesse seria mais animado, poderia contar historias para a filha, brincar a noite toda e no dia seguinte levá-la para andar a cavalo.

_Já estou indo, qualquer coisa me ligue.
_Pode deixar Seu Vitor.

   Entrou no carro e ligou o som, saiu da fazenda e pegou a estrada. Até que aquela ida a Hortense o fez esquecer-se um pouco de Luciana, tudo estava em suas costas: Trabalho, Luciana com depressão, Gabriela que agora parecia sentir falta da mãe e sempre estava chorona e febril. Às vezes cansava dessa vida e sentia falta de quando era apenas um, sem pensar em terceiros, só no trabalho e na sua vida tranqüila.

   Ao passar em um ponto da estrada sentiu um barulho estranho, olhou pelo retrovisor e percebeu que o pneu traseiro estourou. Jogou o carro no acostamento, ligou o pisca alerta e foi até o porta mala, pegou todos os pertences que precisaria para trocar o pneu.

_Agora só era essa que me faltava.

   Pensou em deixar o carro ali e ligar para Leo ou até mesmo para Luciana, mas a rede da operadora estava indisponível. Colocou o triangulo no acostamento para alertar outros carros e voltou para pegar os objetos necessários. Ouviu um barulho de um carro parando e ergueu o rosto, dentro do veículo quatro homens estavam ali.

_Precisa de ajuda aí? – O homem que estava no banco do carona perguntou.
_Não, não... Consigo me virar. Obrigado.


  O carro desapareceu. Victor sentiu um arrepio ruim, de medo e foi depois daquele carro ter parado ali, algo estava estranho. Fechou o porta mala, estava decidido a sair dali, corria risco de vida e tinha uma esposa e duas filhas para criar. Assim que ia entrando no carro percebeu que o veículo que minutos atrás tinha lhe oferecido ajuda, parou no acostamento, metros a frente do seu. Engoliu seco ao ver os quatros homens saírem do veículo com armas na mão, pensou em correr para o meio do mato, mas seria algo muito arriscado, na sua mente, os rostos de Luciana e Gabriela, jogou o celular no chão e colocou as mãos na nuca já aceitando o que estaria por vir...

Continua...

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Cap. 37


“Viver tem suas mortes
  Aceito os meios pra alcançar o fim"                
                                (Duras Pedras –Sandy)

  Tudo soava estranho naquela tarde em São Paulo, o céu estava nublado, mas em um tom de cinza diferente, a chuva caindo forte, um frio. Luciana estava acordada, já vestida para ir ao velório, sentada na beira da cama olhando para o céu pela janela; um olhar perdido, buscando respostas de tudo o que estava vivendo.

   Ainda doía muito e tudo em sua mente era voltado à morte de Geovana: Como? Por quê?

 “A morte só quer uma desculpa.”

   Lembrou-se de alguém ter falado isso na sala assim que chegou naquela manhã. Seu Pai parecia tão forte que jamais ela iria descrever ele sendo “o viúvo” da história. Sua pequena Gabriela estava nos braços de estranhos, amigos da família que estavam a todo tempo ali os ajudando.

   Victor saiu do banheiro e a cena que de Luciana sentada com um olhar perdido o deixou receoso. Assim que acordou, sua esposa voltou a não se pronunciar e com gestos afirmava ou negava quando alguém lhe perguntava algo.

_Amor. Está tudo bem?
– Sem encará-lo, ela assentiu com a cabeça. – Vou me trocar e vamos para o velório.

   Jenifer ficou com Gabriela para eles irem até o salão da funerária onde o corpo de Geovana já estava sendo velado. Com um dos carros da família, Victor dirigiu todo tempo olhando para Luciana, que estava com seus pensamentos perdidos olhando para a janela.

   Chegar ali e ver todos os familiares que só se reuniam em dois momentos: Festas e Velórios. Alguns amigos se aproximavam, tentando puxar assunto, mas logo se afastando ao perceber que ela não estava falando. Não ficou próxima do Pai nem ousou em olhar para ele, ali era sua fraqueza.

_Não precisa fazer isso se não quiser.

    Victor sussurrou para ela ao chegarem um pouco próximo do caixão e ver que Luciana evitava se aproximar. E assim seguiu, ela, do lado de fora apenas ouvindo as conversas ao seu redor. Lucas, que não saia de perto do corpo da esposa, oras, alisando a mão gélida dela, oras chorando baixinho.

   Aquele clima estava sendo torturante para Luciana, ela olhava para todos os lados com seus olhos rasos, procurando por Victor que tinha se afastado somente cinco minutos para pegar uma xícara de chá e parou na metade do caminho conversando e conhecendo algumas pessoas da família dela. Quanta ironia, em tantos momentos felizes, ele fora conhecê-los em um momento triste. Quando voltou ela já estava aflita, gritando com seus olhos, buscando por ele.

_Desculpe, fui buscar um pouco de chá para você, mas acabei encontrando alguns de seus primos que puxaram assunto. Está tudo bem?
– Mais uma vez ela assentiu olhando para o chão

   Luciana não iria segurar por muito tempo, alguns amigos de profissão de Lucas falavam isso. Passou o dia inteiro sem se alimentar, apenas tomando chá.

_Leve-a para casa. Amanhã ela volta para dar o ultimo adeus a mãe dela.
– Aconselhou um dos tios dela.

   A tarde já estava no fim, a chuva ainda insistia em cair. Victor levou Luciana para casa, assim que chegaram ela foi logo correndo para abraçar Gabriela.

_Jenifer, temos que forçar Luciana a se alimentar. Você pode me ajudar?
_Claro Victor. Venha, vamos aproveitar que ela está com Gabi nos braços.

   Juntos foram para a cozinha, foi preciso um momento de dor e tristeza exalando pela casa para a empregada não ter seu “ataque de fanatismo” com ele. Às vezes tentava puxar assunto sobre a carreira dele e do irmão, mas logo era cortada, estava muito preocupado com a situação da sua esposa. Preparam um sanduíche e levaram até ela, que mais uma vez naquele dia estava estranha. Luciana estava abraçada com sua filha, apertando-a e se balançando para frente e para trás.

Victor:
_Lu, fiz um sanduíche, você tem que comer.

  Como uma criança, ela negou com a cabeça.

Jenifer: _Lucy, se você não comer não vai ter condições que acompanhar nada do velório da sua mãe. Coma ao menos um pedaço.

   Ainda agarrada a Gabriela, ela apenas baixou a cabeça. Victor tomou a filha dos seus braços e tocou-lhe a mão, conseguindo o olhar dela para ele:

_Pela nossa filha que você carrega aí dentro, tenta comer. Lembre-se que tudo será para ela, se você adoecer, ela quem vai sofrer. Por favor.

   Luciana olhou para a barriga, lembrou-se do quarto decorado que Geovana ajudara. As lagrimas caiam involuntariamente, queria gritar, chorar, mas não tinha forças. Com a cabeça baixa, pegou o prato e arriscou algumas mordidas apenas para eles pararem de insistir tanto. Triste, subiu para o quarto e logo se deitou, agora tinha Victor de volta lhe chamando de “Amor”, mas não tinha sua mãe para celebrar com um “Bem que eu te disse Lucy! Ele voltou para você!”.

_Acabei de falar com Leo, ele mandou os pêsames.
– Victor voltou para o quarto sentou-se próximo a ela. – Agora você terá que ser forte, Lu. Eu vou estar aqui para o que der e vier.

   Ela apenas assentiu e logo se deitou de costas para ele, só dormindo para esquecer que tinha tantos problemas. Acordou no meio da madrugada ouvindo sua própria voz que gritava, sentada na cama, chorando e sentindo Victor acordar em seguida e ligar o abajur para apenas abraçar-lhe forte:

_Estou aqui, Lu. Shhhh
– Alisava suas costas.
_EU QUERO ELA DE VOLTA, VICTOR!

   Chorava alto, urrando de dor e Victor apenas a apertava em seus braços.

   Acordou pela manhã olhando para a janela, a chuva estava forte. Uma ultima lagrima caiu, ela prontamente limpou. Virou-se na cama e não viu Victor, entrou em pânico! Mas logo se acalmou porque ele entrava com uma bandeja repleta.

_Hoje você terá que comer, Lu.

   Ela arriscou comer algumas torradas, bebeu um pouco do café na xícara, tudo aos olhos atentos dele.

_Se você não se sentir a vontade para ir ao enterro, ficamos aqui.

   Sem falar nada, Luciana levantou-se e foi ao banheiro, aquela água saindo do chuveiro a deixou mais relaxada. Voltou um pouco mais confortada e calma. Agora, observava Victor dirigir e sentiu-se egoísta por naquele momento estar feliz por ver ele ali e não estar com os pensamentos na sua mãe:

_Eu disse que a amava.
– Sussurrou.

   Quase que Victor batia no veículo da frente ao ouvir a voz de Luciana, olhou para ela após frear bruscamente e fez um meio sorriso.

_O que importa é que você falou em vida. Sua Mãe está tranqüila aonde quer que esteja, acredite.

    Em seu pensamento estava mais confortável, segura, iria ter forças para encarar tudo aquilo e logo voltar para sua vida e imaginar que sua mãe estava viajando e que logo iria voltar a lhe telefonar. Os carros já estavam indo para o cemitério e ela logo sentiu aquela segurança ir embora. Era duro ter que encarar a realidade de que sua mãe morrera e que agora todos aqueles carros estavam se encaminhando para o local onde seria o ultimo adeus a Geovana.

   Ficou um pouco atrás com Victor que estava com o braço no seu ombro, deixando várias pessoas irem na frente, cantando algumas musicas católicas, com seus terços e lagrimas acompanhando. Todos a sua frente pararam de andar e foi ali que a chuva aumentou o ritmo, alguém puxou sua mão para se aproximar do caixão, fazendo-a olhar rapidamente para Victor, que lhe passou segurança:

_Vá, dê seu ultimo adeus a ela.

    A realidade estava próxima, ela não queria aceitar, não queria ver seu Pai naquele estado, debaixo de chuva, as lagrimas se misturando as gotas de água que caiam em seu rosto. Não estava preparada para aquilo, só pode perceber ali, mas se aproximou de Lucas e obviamente do caixão que fora aberto rapidamente para as despedidas. Aquele choro que estava preso em sua garganta veio forte quando ela tocou naquele corpo frio e pálido entre as flores e a renda do caixão. Agachou-se para beijar a testa de Geovana:

_Alguém tem que te aquecer, você está fria.
– Sussurrou entre o choro. – Você não pode ir, Mãe. Volta pra mim e me ajuda porque está doendo muito. – Voltou a soluçar.
_Minha filha, temos que ser forte nesse momento.
– Lucas abraçou-a de lado. – Ela estará nos vendo onde quer que esteja.
_NÃO!
– Olhou para o Pai – EU NÃO ADMITO ISSO! – voltou o olhar para o caixão – VOLTA MÃE! POR FAVOR.

    Alguém a puxou pela cintura, estavam fechando o caixão. Luciana gritava de dor e de desespero querendo voltar e tirar sua mãe dali. Dor maior foi ver aquele caixão descendo dentro daquele buraco, o grito foi maior. Sentiu Victor abraçar-lhe e esconder o seu rosto no peito para não ver aquilo, essa foi a ultima cena em sua mente porque desmaiou.

   A claridade do quarto incomodou seus olhos quando os abriu, Victor estava segurando-lhe a mão, apertando forte. Achou que tudo o que passara foi um pesadelo, um sonho ruim e logo a faria voltar a sorrir, mas olhou para ele que nem sequer tirou a roupa molhada da chuva que tomou naquele cemitério para socorrer o suplico da esposa.

_Que bom que acordou. Sente-se melhor?

   Xingou o marido mentalmente, como alguém faria uma pergunta daquelas? Tinha acabado de enterrar a mãe. Sentindo-se um pouco tonta desceu as escadas ouvindo Lucas conversar com alguns familiares...

_... Edema pulmonar por causa da Cardiomiopatia Hipertrófica.
– Viu seu pai sentar-se no sofá com o olhar perdido.
_Ainda culpo Geovana por não ter falado para ninguém. – Marta soluçou
_Ela não queria nos preocupar, Marta. Não a culpo, mas só agora pude entender essa mudança repentina dela nesse ultimo ano.

   Desistiu de ficar na sala, voltando para o quarto e encontrando Victor que já estava indo em sua direção. Estava trocado de roupa e abraçou-a de repente. Era disso que ela precisava, do carinho para suprir o que Geovana lhe dera nesses últimos oito meses.

_Terei que ir pra Uberlândia. Você quer ficar aqui com seu Pai?

   Era doloroso para Luciana, mas não queria ficar naquela casa nem naquela cidade onde tudo lembrasse sua mãe. Negou com a cabeça e viu Victor descer. Enquanto fazia sua mala e a da filha, Joyce apareceu, abraçando-a.

_Lucy, eu vou ficar aqui. Seu Pai precisa de mim e das outras empregadas. Lá em Uberlândia você terá o Victor e a Lourdes, por isso estou mais calma.

   Não obtendo respostas de Luciana, ela retirou-se e deixou-a sozinha ali. Desceu a escada e o que mais odiava, ali estava: Todos lhe olhando com pena, como se ela fosse uma coitada. Ignorou os olhares e foi abraçar o Pai. Juntos, choraram a dor da perda, mas ela sentiu nesse abraço, que Lucas estava mais seguro.

_Victor me disse que irá te levar. Pode ir Lu, acho que quando der eu vou te visitar. Se você ficar aqui vai entrar logo em depressão e isso eu não quero. Apenas lembre-se dos momentos bons que passou com sua mãe.
– Sorriu – Ela estava tão radiante em te ver assim, feliz na vida. – Beijou o topo da cabeça dela – Agora vá e quando precisar de mim, ligue.

   Mais uma vez abraçou o Pai e ao lado da sua família – Victor com Gabriela no colo – Voltou para Uberlândia.    

Continua...

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Cap. 36


    

    Luciana custou para abrir os olhos, estava muito bem confortada entre seus lençóis. Ouviu uma musica de fundo, algo que a fazia lembrar-se da infância. Sentiu vertigem assim que abriu os olhos, tudo estava branco, desde a parede com as longas cortinas até os moveis e a cama, o forro, seus lençóis... Sentou-se assustada. Definitivamente aquele era seu quarto, mas tudo estava estranho, olhou para seu próprio corpo e sentiu ser o de quando estava na adolescência, seu longo cabelo destacando em sua veste também branca. Aquela musica a fazia lembrar algo mais, bastava apenas forçar sua mente...

    “Clair de Lune” a musica preferida de Geovana, que ouvia sem parar toda vez que estava em seu consultório nas horas vagas, horas essas que Lucas deixava sua filha lá, com a mãe. Luciana girava na cadeira enquanto ouvia aquela musica, sua mãe, apenas sorria enquanto estava lendo algumas fichas dos pacientes.

_Mãe?!
– Gritou quando viu que voltou para aquele quarto branco e saiu da lembrança da infância.

    A musica parou, o seu quarto voltou a ter cores nos moveis, porém na escuridão nada se via, tinha acordado daquele sonho. Seu celular tocou, imaginou ser Victor já que a ultima vez que o viu foi no dia anterior e ainda assim, ele saiu sem despedir-se direito.

_Oi Victor.
– Sua voz estava sonolenta.
_Luciana?

    Uma voz feminina, estranha. Luciana endireitou-se na cama e encarando o teto voltou a falar:

_Pois não, é ela?
_Lucy. Acho que nem reconhece mais minha voz.

    A mulher do outro lado da linha estava nervosa, com a voz trêmula, fazendo Luciana sentar-se na cama imaginando que fosse uma das suas pacientes.

_Desculpe, não estou reconhecendo mesmo. Com quem eu falo?
_Não lembra de mim? Sou sua Tia Marta.

   Por um milésimo de segundo procurou em sua mente se existia alguém conhecido com esse nome. Lembrou-se que Marta era a irmã de Geovana que morava em Manaus, não se viam há anos. Um choque acometeu-a, sentiu seu peito doer:

_Tia, o que houve?
_Querida... É... Quero que fique calma.
_Fala logo.
_Sua mãe... Ela está na emergência e me ligaram pedindo para avisar para você. Mas tenta manter a calma, por que.... Droga! Nem sei o porquê – Riu fraco – Enfim, eu sei que é estranho eu te ligar às quatro e meia da madrugada, mas você pode ir pra São Paulo?
_Claro
– Sussurrou – Vou agora. Obrigada por me avisar.

    Desligou o celular pensativa. Algo de ruim acontecera com Geovana, ela podia sentir leves arrepios. Sem noção do que estava fazendo, foi até o closet e tirou a mala, colocou pouca roupa e até achou que deveria colocar as de Gabriela juntas. Saiu ligando as luzes e achou Joyce no corredor, a sua empregada estava com o rosto pálido, olhando para Luciana com pena.

_Você também está sabendo não é?
_Lucy, seu pai me ligou.
_Eu vou pra São Paulo.
– Foi até o quarto de Gabriela. Sendo acompanhada por Joyce.
_Vou junto com vocês.

    Enquanto Luciana pegava as roupas da filha, sua mente trabalhava e mil pensamentos surgiam ao mesmo tempo.

_Calma Luciana, a Dona Geovana está internada.
_Não. Eu sei que não está... 
_Tira isso da sua cabeça menina. Vamos, vou te ajudar.

    Em menos de meia hora lá estava ela no aeroporto, aguardando o vôo. Gabriela fora acordada e naquele momento, estava sonolenta nos braços da mãe, que a abraçava fortemente buscando um apoio ou segurança. Joyce não sabia o que fazer ou dizer, apenas andava de um lado para outro. Sentaram em uma das lanchonetes, agora Luciana tomava café para acordar daquele transe, não falara mais nada e ficava encarando a xícara na mesa.

_Lucy, quer conversar?

   Ela fez um gesto negativo com a cabeça, só queria que as horas voassem e já estivesse em São Paulo para saber se realmente o que estava passando pela sua cabeça, era verdade.

   A morte nunca fora bem vinda para ela, nunca mais precisou pensar nisso desde que sua paciente morrera em seus braços. Ora, Médicos já estão acostumados, nem sempre podem fazer milagres de salvar uma vida. Agora ela agia como uma humana e não como uma profissional, agora ela estava pensando nos momentos bons que tivera com a mãe... Agora, ela só queria chegar na casa dos pais e receber o “Abraço caloroso” que Geovana sempre lhe oferecia. Pensou em Victor, nesse momento o queria ali, abraçando-a fortemente, dizendo que estava tudo bem e que iria ficar do seu lado até o fim. Seu casamento estava fracassado, pra piorar sua mãe estava entre a vida e a morte. Sua vida iria ficar pior do que já estava? Ela tinha certeza que sim.

***


    Após se retirar do quarto, Victor pegou seu carro e foi direto ao encontro de Leo. Eles iriam viajar para fazer show, até agradeceu, no momento não estava suportando olhar para a cara de Luciana, sua esposa por quem sentia amor e naquele momento, também o traiu. Se não o queria porque insistia em pedir para voltar? Estava satisfeita, já tinha dado o troco. Assim ele pensou.

    Procurou se distrair durante o dia, em entrevistas de radio fazia todos rirem e acabar com a tal suspeita de que seu casamento estava em crise. Ninguém precisava saber disso, apenas ele e seus familiares. Ficou abalado quando ela aparecera no apartamento naquele dia, o queria de volta e no pensamento dele, queria voltar para casa apenas para acompanhar o fim da gestação, após isso iria pedir um tempo e tentaria viver amigavelmente com sua ex-esposa. A amava muito, mas para não machucar mais o sentimento de ambos, optou por “abdicar” de Luciana para vê-la feliz, não com outro homem, isso seria demais para seu coração, mas sentiu que ambos viviam momentos felizes quando estavam longe.

    Antes de começar o show, várias pessoas o abordavam perguntando se era verdade a noticia da separação. Ele negou até o fim, apenas disse que queria Luciana longe de flashes para poder ter uma gestação tranqüila. Até onde e quando iria permanecer nessa mentira? Nem ele mesmo sabia responder.

   Voltar para casa estava sendo torturante. Teria que conversar com Luciana. Claro que ela iria tentar lhe convencer de que não o traíra e também iria implorar para voltar a dividir a mesma cama, Victor já tinha a resposta formulada em sua cabeça. Estava preparado. Parou o carro e viu que o dela não estava na garagem, subiu rapidamente as escadas e estranhou. O quarto de Gabriela estava aberto, ela não estava no berço e àquela hora sabia que Joyce jamais a levaria para brincar lá fora, o sol ainda nem tinha surgido. Desceu rapidamente e achou Lourdes no começo das escadas com o olhar triste. Pensou de imediato que acontecera algo com sua pequena, sentiu seu coração bater rápido.

_Onde está a Gabi?
_Victor, a Gabi está bem, mas você tem que ajudar a Luciana.

   Lembrou-se do sonho que Luciana morria e todo aquele amor voltou com tudo, como se tivesse acordando repentinamente de um sono profundo.

_O que houve?
_Ela vai precisar de você.

    Mal terminara de ouvir Lourdes e foi logo pegando o carro, acionando o piloto do jatinho. Demorou a acreditar que aquilo estava acontecendo. Queria chegar em São Paulo logo para confortar a família. Luciana, como será que ela estava e onde estava?

    No começo da manhã conseguiu chegar na mansão. Sentiu como se algo dentro de si tivesse sido arrancado, aquela casa aberta, vários carros estacionados, infelizmente não era em um momento bom. Cada passo que dava, sentia no seu pulmão faltar o ar e com os olhos buscava alguém conhecido.

_Victor?

   Olhou para o lado e viu Joyce vir em sua direção.

_Que bom que veio.
_Ainda estou sem acreditar.
_Se você está, imagine eu...
– Segurou o choro.
_Onde ela está?
_Lá em cima, no quarto. Tenta conversar com ela, Luciana está em choque, não fala nada, não quer comer nem beber chá, apenas olha para o nada.

    Lembrou-se da vez em que tivera que socorrê-la do transe em que ficou quando Gabriela, sua paciente, morrera em suas mãos. Ao mesmo tempo não queria subir aquelas escadas, não queria ter que encará-la, não nesse momento de dor. Bateu na porta e não ouviu nada, apenas entrou em silêncio, achando Luciana deitada, de costas para ele. Não iria segurar-se, seria um fraco, mas se tivesse que dividir a dor, que fosse ao lado dela que precisava bem mais que ele. Sentindo a presença dele, olhou por cima do ombro e ao certificar que Victor estava ali se levantou indo em sua direção:

_Eu sinto muito...

   Foi o que conseguiu dizer quando a abraçou. O choro que estava engasgado na garganta dela surgiu, aquele som que estava preso fora jogado alto, Luciana chorava como uma criança, urrava e soluçava, apertando a cintura de Victor de uma maneira de tentar deixar aquela dor ir embora, uma dor inexplicável que ela estava sentindo após confirmarem “Sim, ela morreu.”. Após essa confirmação não falou com mais ninguém, sequer olhou para o próprio Pai, subiu para seu quarto. Tentava chorar, gritar, algo que rebelasse sua dor, mas nada saia.

_Calma Lu, estou aqui.
– Apertou-a em seus braços.
_Victor... Tá doendo muito. – Gritava com a voz embargada. – Ela me deixou Victor, minha vida acabou.

   Nunca pensou que ficaria assim, seu ponto fraco era sua mãe e o ponto forte... Era Victor, foi nos braços dele que ela sabia que tentaria segurar as pontas.

   Victor deitou-a na cama, fazendo o mesmo em seguida, colocando-a aninhada a ele. Luciana não parava de chorar e não conseguia controlar-se, gritava para extravasar a dor, molhava o peito dele com as lagrimas. Victor apertava-a em seus braços para que ela entendesse que não ficaria sozinha, não mais. Após um soluço, calou-se, com os olhos em um ponto qualquer do quarto, agarrada a cintura dele.

_Porque logo agora?

   Voltou a chorar alto, sentindo todo o seu corpo doer, até sua alma. Victor nada conseguia falar e chegou a derramar algumas lagrimas. Geovana ultimamente estava sendo um exemplo de mulher, que infelizmente só conseguiu conhecer um pouco tempo antes de ela vir a falecer.

_Ela descansou, meu amor.
– Segurou um soluço enquanto falava e acarinhava o cabelo dela.
_Isso é injusto, Victor. A minha mãe me deixar agora.
_Todos nós passaremos por isso um dia, meu anjo.
– Tentava explicar como se estivesse diante de uma criança.
_Eu não quero isso.
– Calou-se por uns segundos – Eu quero minha mãe de volta.

   Não cansava de chorar, não conseguia parar. Luciana estava pior que uma criança. Joyce entrou com uma xícara de chá e tanto ela como Victor, forçou-a a tomar, aos poucos ela foi se acalmando.

_Victor. Não me abandona, não me deixa agora. Fica aqui comigo.
– Sua voz estava trêmula, sonolenta.
_Não meu amor, estou aqui com você. Dorme

   Cantarolou algo para Luciana dormir, conseguiu vê-la fechar os olhos e ir relaxando o corpo. Victor desceu, tentaria ajudar em algo já que a esposa não teria cabeça para isso.

_Joyce, o que posso fazer?
_Agora? Nada. Estou impressionada com a força que Seu Lucas está tendo, ele quem está resolvendo os detalhes para o velório. Aparenta estar forte, mas sei que quando a ficha cair, vai chorar igual ou pior que a Luciana. Obrigada por ter vindo, Victor.
_Eu viria de todo jeito. Dona Geovana me ajudou muito nos últimos meses.

   Subiu para o quarto, Luciana ainda dormia e ele deitou-se do lado dela, acariciando as madeixas dela, sentindo seus olhos arderem para as lagrimas se formarem.

_Ahh minha Morena, como queria passar essa sua dor para mim só para não te ver assim. Eu sinto muito.

   Abraçou-a e sentiu seus olhos pesarem, caindo em um sono profundo.      

Continua...

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Cap. 35



    Sem querer saber do que aconteceria dentro daquele outro veículo minutos depois, Victor saiu o mais rápido apenas deixando um vulto enquanto Luciana sentia Michael beijar-lhe o rosto, um beijo casto, sem maldade. Porém, era forte demais para Victor ver essa cena, parou no semáforo mais próximo e esmurrou o volante, ela estava lhe dando o troco do que fizera? E quem era aquele rapaz dentro do veículo, naquela meia luz da rua não conseguiu saber de quem se tratava. Já estando dentro do elevador do edifício cerrou os punhos ao deduzir que fosse Michael. Não cuidara de sua esposa e agora no seu lugar, alguém estava fazendo o serviço muito bem feito.

   Luciana achou no amigo uma maneira de desabafar quase tudo o que lhe afligia, não comentara sobre o fim do seu casamento, agora em sua mente perdoava Victor e estava morrendo de saudade.

_Até entendo que você não queira me dizer o motivo, mas sinto que está com saudades dele. Acertei?
_Sim.
– Baixou a cabeça – Victor é a minha outra metade, esses dias estão sendo torturantes ter que vê-lo apenas pela varanda enquanto ele vem buscar a filha. Até a Gabi está mais chorona que o normal, quando volta dos passeios fica chamando por ele antes de dormir.
_As crianças sentem mesmo.
– Olhou para ela – hey, alegria Doutora. Vamos esquecer esse seu problema com um beijo, que tal?
_Sai pra lá que ainda me considero uma mulher casada.
– Espalmou as mãos entre risos.
_Sem maldades, Doutora. Um beijo de amigos.

   Rapidamente Michael se aproximou do rosto dela e depositou um beijo demorado, estalado que até a fez corar e baixar a cabeça timidamente. Ouviu um barulho de carro e ergueu o rosto, vendo aquele veículo distanciar assustou-se.

_Melhor eu entrar, Michael. Boa noite.
_Dorme bem Doutora.

    Entrou na casa um pouco mais feliz, aquela conversa e as palhaçadas de Michael a fez relaxar os músculos. Foi logo para a cozinha, Lourdes a esperava.

_Victor acabou de sair daqui.

   Assustou-se, Victor nunca demorou mais que um minuto nas vezes que ia devolver a filha.

_Nossa
– Sentou-se – Acho que eu devia ter chego mais cedo.
_Pensei em pedi-lo para te buscar lá no hospital, mas não sabia se você iria querer.
_Ah, sei lá Lourdes
– Baixou a cabeça – Acho que ele não quer ter contato comigo.
_Vocês dois são muito orgulhosos. Não deixem que isso atrapalhe a felicidade futura.
_Vou descansar.

    Cortando o assunto, Luciana subiu para o quarto de Gabriela, ficou com a filha boa parte da noite, até sentir que ela estava sonolenta. Esses dias na ausência de Victor, não sentia fome, sede, nem vontade de fazer nada, só deitar na cama e imaginar todos os momentos bons em que viveram. Aquilo estava sufocando-a. Para não pensar em mais nada desceu até a cozinha, pelo relógio na parede percebeu que já era madrugada, discou o numero e aguardou.

_Alô?
_Oi, tá podendo falar?
_Claro que sim minha filha
– Geovana sentou-se na cama – Está tudo bem?
_Acho que não.
– Sua voz estava embargada – Tô sentindo um vazio tão grande.
_Porque você não vem pra São Paulo, Lucy? Passe uns dias aqui.
_Não quero abandonar meu trabalho. Só estou com saudade e triplamente carente.
_Está com saudades dele?
_Acho que sim.

    Nunca imaginou que acharia em Geovana um porto seguro, conversaram por alguns minutos, não esquecendo de contar dele ter ficado por lá assim que deixou Gabriela.

_Será que ele quer se aproximar de você?
_Penso que sim, mas às vezes penso que não.
_Sente que já o perdoou no coração?
_Acho que sim. Estou mais tranqüila quanto a isso.
_Então volte com ele.
_Mas como se ele não vem aqui?
_Quando estamos em busca da felicidade, atravessamos barreiras e paredes invisíveis, Luciana. Se o ama, corra atrás dele, diga que o perdoou e que quer ele de volta.
_Tá, vou fazer isso.
_Isso, é assim que gosto de ver você. Agora faça o favor de comer, a pequena Mariana não tem culpa dos seus problemas.
_Tudo bem
– Sorriu. – Até senti vontade de comer brigadeiro agora. Obrigada mãe... – Pausou para respirar fundo – Eu te amo.
_Eu também te amo.

   Desligou contente, esperaria o dia amanhecer para procurá-lo e pedir que voltasse, era isso. Não conseguiu dormir naquela noite, assim que ouviu barulho na cozinha, desceu, achando Lourdes e Joyce.

_Eu vou atrás dele. Pedir para voltar.
– Serviu-se com uma xícara de café.
_Essa reconciliação vai ficar para depois. Victor me falou que vai viajar esses três dias.

   Sem motivo algum, Luciana sentiu uma lagrima molhar seu rosto.

_E agora Lourdes?
_Sem dramas, Lucy. O que você tinha para dizer poderá esperar, tenha calma que tudo vem no momento certo, na hora certa.

   Aqueles três dias estavam demorando a passar, algumas vezes pegava o celular de discava o numero, mas não tinha coragem de seguir adiante. Estava tão ansiosa que Carol percebeu assim que entrou em seu consultório naquela tarde.

_Enfim, vou dar essa chance.
– Finalizou a conversa.
_Nossa Lucy, sinto que você amadureceu mesmo. Mas ainda bem que está perdoando ele primeiramente dentro de si, porque da boca pra fora, qualquer um usa uma capa e diz que sim.
_Eu sinto falta dele, Ká. Até a Gabi está sentindo isso. Ele chega amanhã, a ansiedade está me matando por dentro.
_Celulares são muito úteis nessa hora, sabia?
_Não sei se vou conseguir falar tudo por telefone, quero olhar dentro dos seus olhos enquanto estiver falando.
_Faz certo
– Levantou-se – Tenho que ir buscar o Junior na escola.

   E mais uma noite torturante para Luciana, já estava ficando aflita e na ansiedade mandou uma mensagem:

“Victor?”

    Esperou aquela madrugada inteira até sentir que ele não responderia sua mensagem. Antes de o ponteiro do relógio marcar oito horas, tomou um café reforçado e foi até o apartamento de Leo, soubera que ele estava por lá. Parou o carro na frente do edifício sentindo seu coração bater descompassado, suando frio. Contou até três e saiu do veículo achando Leo na portaria com seus trajes de esporte, iria fazer sua caminhada. Ele franziu a testa estranhando sua cunhada ali.

_Lu?
_Oi Leo. Sabe me dizer se Victor está no seu apartamento?
_Sim, teve sorte, ele está acordado, mas... Teve azar porque ele não dormiu.
– Sorriu
_Ok. Posso subir?
_Ainda pergunta? Vai lá cunhadinha e boa sorte.

   Enquanto estava no elevador, Luciana ficou imaginando o que seria aquele “boa sorte”, talvez por Victor não ter dormido ou pela conversa que ele já deduzia que seria. Apertou a campainha sentindo sua pressão cair de tão nervosa que estava naquele momento. Como seria esse reencontro depois de tudo o que acontecera? Depois de todas aquelas palavras ferindo ambos?

   Victor abriu a porta achando que Leo tinha esquecido mais uma vez a chave, assustou-se ao ver sua esposa ali. Ela não parava de olhar para o peitoral dele e já a conhecendo de tantos anos, sabia que seu olhar era de tara. Lembrou-se da cena que viu assim que saiu da casa, Luciana deixando um homem qualquer beijar-lhe o rosto, com certa intimidade.

_O que você veio fazer aqui?

   Deu-lhe as costas e em passos largos foi até a cozinha, estava preparando algo para comer e no momento estava morrendo de sono, não querendo conversar com ninguém. Luciana entrou e foi até ele, ficou calada por alguns segundos e nem conseguia encará-lo, o chão naquele momento era o seu amigo. Bastante irritado, Victor olhou rapidamente para ela, fechou a porta do armário com força.

_Fala logo o que você quer, Luciana.
_Precisava ver você.
– Ainda olhando para o chão continuou – A Gabi sente sua falta.

   Incrédulo e com a raiva contida, Victor se aproximou, colocando as duas mãos no balcão de mármore que separava ambos. Seu olhar foi tão intimador, que Luciana ergueu o rosto para fitá-lo como se fosse uma ordem, mordeu o lábio inferior para segurar o choro.

_Não. A Gabriela não sente minha falta porque sempre estou visitando-a e estou com ela do meu lado nas minhas folgas. Então, vou te perguntar novamente: O que veio fazer aqui?
– Ergueu as sobrancelhas.

   Luciana sentiu que não conseguiria segurar, a primeira lagrima já caia quando sussurrou:

_Ok.
– Baixou a cabeça novamente – Eu sinto sua falta.

   Victor soltou um riso incrédulo, com desdém, mas que dentro de si fez festa, seu estômago fazendo voltas de tanta felicidade. Sem perguntar, Luciana sentou-se no banco ainda cabisbaixa, agora seu olhar voltava para as mãos dele que ainda estavam no mármore. Sentindo os olhares dela, Victor lhe deu as costas e foi terminar de fazer seu lanche, ouviu a voz dela:

_Estive conversando com minha mãe esses dias e descobri que já te perdoei dentro de mim. Eu tive uma parcela de culpa para tudo isso chegar aonde chegou. Pensei tanto em meu profissionalismo que sequer pensei em você.

   Ele voltou a olhá-la, não conseguiu aproximar-se porque em sua mente estava a cena em que a vira em um carro estranho, com um outro alguém.

_Queria que você voltasse para casa.
_Eu não sei Luciana.
– Passou a mão no cabelo, embaraçando-o – Acho que precisamos pensar se realmente queremos isso.
_É o que eu mais quero, Victor.
_Mas e eu? Será que me sinto preparado para voltar e depois de um mês discutirmos?
_Discussão todo casal tem, mas traição, isso não vai acontecer mais.

   Ela afirmou e a todo tempo Victor imaginou que ela estava com o tal rapaz, naquela noite, dando o troco.

_Preciso pensar.
_Quer saber?
– Levantou-se – Já fiz minha parte me rebaixando e vindo aqui. Agora cabe a você tomar alguma atitude, Victor.

   Pegou a bolsa e em passos largos passou pela porta. Victor não fora atrás, estava muito cansado para pensar em conflitos e discussão de relação. Tomou alguns goles do seu café e foi para o quarto dormir.

   Luciana chegou em casa arrasada. Nunca imaginou Victor assim, tão frio e distante. Ele quem errara e ainda assim ela quem foi pedir para voltarem. Passou o dia na clinica, buscando trabalhos e mais trabalhos. Chegou em casa já passava das seis da noite, seu coração bateu descompassado quando viu o carro dele ali, até chorou de emoção. Subiu a escada sorridente, procurando algum vestígio de que fosse verdade aquilo, entrou no closet e não. Não tinha nada do Victor ali, nem uma escova, nada. Desceu e foi direto para a sala dele, aquele violão, os acordes... Era musica para o ouvido dela. Bateu levemente na porta e abriu. Ao vê-la o sorriso se desfez, timidamente ela entrou e se aproximou:

_Pensei que tinha voltado para casa.
_Eu voltei.
– Olhou para o violão, dedilhando-o – Coloquei minhas coisas no quarto de hóspedes.

   Aquilo foi pior do que se Luciana tivesse levado um tapa na cara!

_Victor...
– Sussurrou.
_Antes de qualquer coisa, Luciana, temos que conversar e no momento eu estou ocupado. Vamos dar tempo ao tempo.
_Tá, já entendi que você não me quer como sua esposa.
_Não é isso. Só preciso ter uma conversa branda com você antes de voltarmos por completo.

   Sem responder ou querer ouvir mais nada, Luciana se retirou dali. Entrou em seu quarto e deu vazão a todo o seu sofrimento. Porque ele estava lhe tratando tão mal assim? Caiu em um sono profundo e só acordou quando ouviu barulhos no corredor, o dia já estava amanhecendo e com certeza Victor estaria se preparando para viajar. Foi até a cozinha e ele estava conversando com Lourdes, que com olhar assustado negava com a cabeça qualquer afirmação que ele fizera. Aproximou-se deles que logo cessaram o assunto.

_Bom dia.
_Acordada uma hora dessa? Tem plantão, Lucy?
_Não Lourdes
– Sentou-se a mesa. – Estou sem sono.

   Olhou para Lourdes, que olhava para Victor. Ele pouco falara, apenas para se despedir da empregada e subir para buscar sua mala, Luciana foi atrás.

_Quando vamos poder ter a conversa?
_Hoje não dá, não sei se você percebeu, mas estou de saída.
_Porque está me tratando tão friamente, Victor?
– Cruzou os braços.
_Será que você não sabe? – Arqueou uma das sobrancelhas.  – Acho que as caronas que você pega quando está voltando do trabalho podem te dizer.

   Juntou os fatos, no momento que Michael estava lhe beijando no rosto, sentiu a presença de um carro... O carro era de Victor! Assim que chegou na cozinha Lourdes tinha dito que ele ficou por lá naquela noite.

_Não Victor... Aquilo foi um equivoco.
_Não precisa me dar satisfações, Lu. Depois conversamos porque estou atrasado.

   Victor se retirou do quarto, deixando Luciana sozinha e pensativa. Quando deu por si, ele já tinha ido embora.

Continua...

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Cap. 34



And I will swallow my pride
(E eu vou engolir meu orgulho)
You're the one, that I love
(Você é a única, que eu amo)
And I'm saying goodbye
(E eu estou dizendo adeus)

Say something, I'm giving up on you
(Diga algo, eu estou desistindo de você)
And I'm sorry that I couldn't get to you
(Lamento que eu não tenha conseguido chegar ate você)
And anywhere, I would've followed you
(Em qualquer lugar, eu teria te seguido)

                             (Say Something – A GreatBig World & Christina Aguilera)

_Repete esse nome porque eu ainda não acredito no que estou ouvindo!

   Victor esbravejava toda a sua raiva. Andava de um lado para outro, visivelmente estressado e sem acreditar no que seu irmão falava.

_Tô falando, mano. A Dona Geovana me explicou assim mesmo. Disse que a Sarah foi ao consultório de Luciana, entregou isso e saiu.
_Mas porque essa mulher está de volta na minha vida?! Quem ela pensa que é pra ficar fazendo isso?
– Cerrou os punhos – Ela que não cruze meu caminho.
_Minha opinião sobre isso: Sarah não agiu sozinha. Tem mais gente envolvida.

   Victor inspirou profundamente, procurando toda a calmaria em meio a tantas informações.

_Ah, e a Lu tá arrasada. Dona Geovana falou que ela chorou muito essa manhã. Pior que vocês dois são orgulhosos demais, por Deus! Agora vocês têm uma filha a caminho, ao menos pensa nisso, Vitor.
_Esse problema eu posso deixar pra depois. Não quero ver a Luciana tão cedo. Preciso pensar em tudo o que soube.

   Sozinho, Victor foi andar pela fazenda, ali era um lugar para recompor as energias. A todo instante lhe vinha na mente Luciana chorando, isso era o que lhe machucava. Voltou para onde todos estavam e aproveitou ao máximo com a sua filha. Com tanta inocência, Gabriela se divertia com os primos e o tio, não esquecendo de esboçar o sorriso para o pai que esqueceu de todos os problemas ali, naquele instante.

   Fim de tarde e como agir? O que fazer? Agora teria que levar Gabriela para casa, mas e se esbarrasse com Luciana? Dentro do carro olhava pelo retrovisor sua filha, que estava em um sono profundo. Chegar à sua antiga casa e não ter mais a intimidade de ir entrando no seu quarto, abraçar e beijar sua esposa. Suspirou mais uma vez naquele dia, se culpando. Assim que entrou na casa, Lourdes e Joyce estavam o esperando na porta, enquanto descia, Joyce apenas falou um “Boa noite”, tirando Gabriela da cadeirinha e levando-a para o interior da casa, restando apenas a sua empregada de longa data, que sorriu e o abraçou.

_Como está, Victor?
_É...
– Respirou fundo olhando para o céu – Acho que consigo superar mais uma queda na minha vida.

   Lourdes sorriu e segurou-lhe a mão:

_Logo vocês voltam. Tenho a certeza disso.
_Será?
_Espere que o destino te prove isso.

   Calou-se com receio, mas algo perturbava sua mente cada vez que olhava para aquela varanda que era do seu antigo quarto.

_Dona Geovana está aí?
_Está sim. Vou chamá-la
– Lourdes lhe deu as costas...

_Não precisa, Lourdes.
– Geovana se aproximava deles. – Olá Victor.
_Tudo bem? Poderíamos ter uma conversa?
_Estava lhe esperando para isso.

   Ambos foram para a sala dele. Sentados, Geovana aguardava Victor se pronunciar; ele estava com a cabeça baixa, procurando palavras apropriadas para o momento.

_Acho que Luciana já lhe contou a versão dela.
_Sim. Por isso que eu vim para Minas.
_E tudo o que ela falou foi verdade. Eu sei que lhe machuca, afinal quem está sofrendo é sua filha. Eu não sei o que deu em mim, Dona Geovana, simplesmente foi coisa de momento. Eu juro que depois desse ocorrido, eu nunca mais tive algum contato carnal com a Katherine e nenhuma outra mulher. Em alguns momentos, sentia que tinha que dizer a Luciana sobre essa traição, mas estávamos em um momento tão feliz, que não queria vê-la sofrer.

   Geovana ficou segundos encarando Victor. Calada, apenas observando a tristeza e a verdade nos olhos dele.

_Sabe Victor, não vou te julgar por isso. Todos nós sabemos os nossos limites, não fico do lado da minha filha, nem do seu, mas eu já vivi isso o que Luciana passou e nada nem ninguém conseguiu abalar meu casamento com Lucas. Em seus olhos, vejo verdade e arrependimento, juro que só queria que Luciana estivesse aqui e sinto que vocês merecem outra chance.
– Tocou o joelho dele – Conte comigo para o que der e vier.

    Jamais passou pela cabeça de Victor que Geovana tomasse atitude tão madura, seu peito inflou de emoção e detendo as lagrimas, ele abraçou-a como se estivesse abraçando a própria esposa.

_Me desculpe por tudo.
_Não precisa de nada disso. Apenas peço que se conseguir voltar para Luciana, me prometa que não fará isso de novo.
_Eu prometo sim. Agora tenho que ir porque não quero cruzar com ela pelos corredores da casa. Entendo a dor dela.
_Muito bem. Eu, terei que viajar ainda pela noite.

   Abraçaram-se de novo e Victor sorriu internamente enquanto deixava aquela casa. Naquele momento, estava confiante de que logo Luciana o aceitaria de volta. Chegou no apartamento de Leo e não o achou, discou o numero de Katherine, aguardando ela atender:

_Oi Victor.
_E aí Kate. Como está sua mãe?
_Hum. Na mesma. Estou começando a aceitar os fatos e ir me conformando.
_Hey, pensamento positivo sempre.
_Eu tento, mas hoje estou triste com tudo. E você, conseguiu se acertar com a Luciana?
_Não. Quero dar um tempo para ela pensar.
_Impressão minha ou esse relacionamento de vocês está mais maduro a cada dia que passa?
_Acho que deve ser isso
– Sentou-se no sofá – Kate, hoje eu soube quem estava por trás de tudo.
_E aí, é alguém que eu conheço?
_Advinha?... Sarah Oliver.
_O que?!
– Pôs a mão na boca assustada. – Mas o que ela ganha fazendo isso? Pensei que já tivesse desencanado de você.
_Até eu estranhei. Cheguei a pensar na Helen. Lembra do que te falei quando nos vimos?
_Claro, aquela frase que ela te falou... Ai caramba, Victor!
_Fala logo, Kate.
– Se endireitou no sofá sentindo seu coração bater apressadamente.
_Sabe que eu fui para aquela inauguração do SPA no Rio de janeiro, né? Eu vi a Sarah e a Helen juntas lá, sorrindo como se não houvesse amanhã... Ai caramba, será que ela e a Helen...
_Bem possível. A cara delas fazer isso.
_Ai que vontade de quebrar aquelas duas em quatro! E agora, você vai dizer a Luciana?
_Não. Preciso de um tempo para pensar na minha vida.
_Ok. Tenho que desligar, vou ver minha mãe na UTI.
_Tudo bem. Energia positiva, vai dar tudo certo.
_Obrigada amigo.

   Após desligar o celular Victor sentiu-se só, ficou assim vendo as estrelas pela varanda, o céu cinzento, escuro, assim como sua vida. Recebeu uma mensagem de Leo dizendo que não dormiria naquela noite no apartamento. Como um adolescente, fuçou os armários, achando algumas guloseimas e devorando quase todas, após isso foi para seu quarto provisório, deitando-se na cama e encarando o teto. Seus pensamentos não saiam de Luciana. E se a encontrasse cara a cara, teria coragem de pedir-lhe perdão? Só o tempo poderia dizer.

***


    Acordar com a claridade do dia que mesmo com as cortinas insistia em invadir aquele cômodo, acordar para a vida, enfrentar todos os seus problemas diários: Trabalho, filha, gestação...

   Um dia antes, Carol e Tatianna fizeram-lhe uma visita. Ela passou segurança, tranqüilidade:

Carol: _Sentimos tanto por isso, Lucy. O Victor aparentava ser tão fiel.
Tatianna: _Mas só foi um deslize, apenas isso. Não quero me fazer de coitada, Lu, mas o meu caso foi pior. Eu confiei cegamente no Leo para agora ver ele acompanhado com aquela mulher. Doeu tanto e ainda dói.
Luciana: _Eu sei disso, Tati. Ainda estou de um jeito que não suporto olhar para o Victor, mas meu medo maior é que a separação seja definitiva. – Segurou-se para não chorar.
Tatianna: _Vocês precisam desse tempo para pensar, sei que voltam, acredito no amor verdadeiro de vocês.
Luciana: _Obrigada amiga.

   Estavam caladas, cada uma com seu pensamento quando Carol começou a rir do nada.

Luciana: _Qual a graça?
Carol: _Estou com medo, vou até bater nessa madeira – Bateu no móvel mais próximo que fosse feito de madeira – Primeiro a Tati se separa do Leo, agora você e o Victor. Não quero que essa macumba pegue no meu casamento.

    Mesmo sendo uma ação inconveniente, Tatianna e Luciana também riram alto. Aquela tarde fora de alegria e com as amigas ali lhe passando força, Luciana sabia que sairia dessa.

   No dia seguinte sentou-se na cama, estava estressada e apenas tinha feito três dias que Victor se fora, não tinha visto ele depois, nos dois dias de folga veio buscar Gabriela e em momento que ela não estava ou estava trancada em seu quarto. Pela varanda via seu carro chegar e partir. Estava começando a sentir o peso da realidade, ele fazia muita falta ali.

   Aquele dia fora muito corrido, saiu da clinica e foi correndo para o hospital, um plantão de vinte e quatro horas a esperava. Estava irritada e assim permaneceu até seu plantão terminar. De todos, Michael era o único que lhe procurava e a fazia sorrir com suas palhaçadas que até lembrava as de Victor. Na saída do hospital estava esperando um táxi quando ele surgiu:

_Quer carona, Doutora?
_Valeu Michael, mas estou esperando o táxi.
_Sem mais, Doutora. Venha, entre aqui. Prometo que não vou te raptar.

   Luciana sorriu fraco e entrou no veículo de Michael. Estava tensa, era estranho entrar em um carro de homem que não fosse seu esposo.

_Sabe Lucy, percebi que você está triste. Quer desabafar?
– Olhou rapidamente para ela enquanto dirigia.
_Esquece, Michael. Coisas minhas.

   Permaneceram o trajeto calados, para descontrair, ele colocou um dos seus CDs de Metallica, cantando e batendo no volante, conseguindo arrancar risadas verdadeiras de Luciana. Após isso, ligou o radio e passava uma musica qualquer de uma dupla Sertaneja, sem perder a graça, Michael cantava alto e quando olhava para Luciana, lá estava ela rindo gostosamente.

_Chegamos Doutora.
– Desligou o motor.
_Você é o médico mais louco que eu já vi em toda minha vida.
_Mas fala que gostou do meu gosto eclético. Por favor!
_Tá (Riu mais uma vez naquela noite) Você tenta imitar todos os cantores, mas já chega. Minha barriga está doendo de tanto rir.
_Quando gostamos das pessoas apenas queremos vê-las sorrindo.
– Os olhares se cruzaram. – Não precisa me dizer o porquê da sua tristeza, basta apenas saber que eu vi que não está andando com a aliança.

   Luciana olhou para suas mãos, virou o rosto para a janela, como Michael conseguia ler seus pensamentos ou senti-los? Sentiu os dedos dele tocando-lhe o queixo e puxando-o para que ela pudesse encará-lo.

_Tudo está ficando difícil para mim...
– Sentiu a voz ficar embargada.
_Se está difícil para você, imagine para mim que apenas te amo e não posso fazer nada para te ver feliz. Se quiser ombro amigo, aqui estou. Mas se quiser descontar qualquer raiva que ele te fez, te levo para meu apartamento e posso te fazer esquecê-lo por alguns minutos, mas não será eterno e sua consciência, assim como a minha, vai doer.

   Luciana engoliu seco, até tentou se afastar de Michael. Como um leque de oportunidades, ela tinha que optar pelo seu bem, assim escolheu a primeira opção e achou nele um ombro amigo.

***



   Victor aproveitou o dia de folga com Gabriela, passeou com ela durante o dia, enchendo a filha de mimos e de guloseimas. No fim da tarde, assim que entrou na casa, foi direto para a cozinha, precisava desabafar com alguém ou enlouqueceria. Entregou a filha para Joyce:

_E essa boca toda suja?
– Joyce olhava atentamente para Gabriela.
_Ah, ela queria chocolate.
_Jesus amado que se Dona Luciana ver essa menina assim ela tem um treco. Vou banhá-la agora antes que ela chegue.

   Joyce subiu as escadas, Victor sentou-se em um banco próximo ao balcão onde Lourdes lavava alguns pratos.

_A Luciana está trabalhando?
_Sim. No hospital. Mas ela chega logo.
– Limpou as mãos no pano de prato, sentando-se próxima a ele – E você, como está?
_É estranho sabe, agora minha ficha está caindo. Eu sinto falta de Luciana, do nosso momento de lazer, mas estou aceitando a situação porque quero que ela pense e reflita mais sobre o que me fez.
_Luciana não fez nada que você não merecesse Victor.
_Jogar a aliança em mim e gritar como uma louca é normal, Lourdes? Pra mim não. Detesto barraco e ultimamente era o que estava acontecendo.
_Às vezes ela é meio imatura
– Falou após uma pausa – Mas tudo o que ela quer é você. Vez outra a vejo dentro do quarto chorando, ela foi trabalhar a pulso. Ontem a peguei no quarto da Mariana, olhando cada parte da decoração e com o sapatinho que você comprou em mãos. Luciana se faz de forte na nossa frente, mas está segurando tudo sozinha.

   Victor sentiu as lagrimas tomando-o, nem a gestação da sua filha estava acompanhando. Isso estava muito errado, ele tinha que refazer a besteira que fizera. A amava, disso tinha certeza, próximo passo era ganhar o perdão dela, e daquela noite não passaria. Aceitou um café enquanto aguardava Luciana chegar, já estava impaciente e como já sabia da rotina profissional dela, cansou de esperar.

_Melhor eu vir na próxima folga, Lourdes. Não vai demorar, tenho só três dias da semana viajando, fazendo shows.
_Tem certeza? Ela já está pra chegar.
_Tenho. Quando ela chegar estará tão cansada que nem vai querer me ouvir. Obrigado pelo cafezinho e me promete que vai me ligar se caso ela precisar de algo... Falo financeiramente.
_Luciana está em uma fase profissional tão boa, que vai se sentir ofendida de eu dar esse recado.
_Eu sei...
– Sorriu com a lembrança – Aquela ali é cabeça dura mesmo. Boa noite.

   Foi para seu veículo, ficou com medo de toda aquela coragem que estava naquele dia se dissipar, poderia não ter mais da próxima vez em que fosse ali. Estava saindo da casa quando parou o carro e viu um outro parado na frente do portão, seus olhos poderiam estar tendo uma miragem, mas aquela dentro daquele veículo era Luciana, acompanhada de um rapaz que ele custou para saber quem era. Segurou firme o volante e sentiu seu sangue ferver, o coração aumentar o ritmo e uma raiva incontrolável surgir. Audácia maior foi ver o tal rapaz beijar o rosto de sua esposa.

Continua... 

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Cap. 33


And even know your friends tell me
(E mesmo que os seus amigos me digam)
You're doing fine
(Que você está bem)
Are you somewhere feeling lonely
(Você está em algum lugar se sentindo sozinha
)

                                       (Amnésia – 5 Second Off Summer)

   Luciana acompanhou os passos de Victor até a saída daquele quarto. A porta se fechou e com ela lá se fora tudo de bom o que vivera. Agarrou-se aos lençóis e desabou, entregando toda a sua dor naquele choro, em cada soluço. Pior de tudo era que o amava e já não sabia o porquê fora tão bruta com ele, deveria ter escutado a versão dele, o porquê aquilo tudo acontecera, mas em sua mente como um replay, a voz dele ecoava: “Eu já cometi uma loucura na minha vida ao ficar com Luciana...”

   Precisava desabafar com alguém ou ficaria louca. Enquanto discava o numero e aguardava a chamada ser atendida, olhou para a janela, a aurora se formava, estava amanhecendo e cada vez mais Victor estava longe daquela casa.

_Luciana? Aconteceu algo?
_Mãe...

    Por mais que quisesse, não conseguia cessar o choro. Geovana aguardou pacientemente enquanto ouvia os soluços dela.

_Eu e Victor...

   Do jeito que estava – Sentada na cama – Apenas fechou os olhos já imaginando o que acontecera.

_Lucy, o que aconteceu?
_Ele me traiu mãe.
– Falou de uma vez só enquanto o choro voltava – E isso tá doendo muito.

   Pela voz de Luciana, a mãe sabia bem que ela estava arrasada.

_Querida, tenha calma.
_Não consigo mãe. Está doendo muito
_Lembre-se que está grávida.
_Mãe, acho que vou enlouquecer. Ele não me ama.
_Por causa de uma traição? Por Deus, Lucy! Deve haver alguma explicação.

   Luciana ficou mais alguns segundos chorando, após soltar o ar pesadamente, sussurrou:

_Eu não estou bem. Tenho que desligar.

   Aquele gesto preocupou Geovana, sua filha poderia cair em depressão mais uma vez. Levantou-se rapidamente, pegou a mala, Lucas estava chegando de mais uma madrugada de plantão:

_Vai onde?
_Luciana e o Victor se separaram. Sinto que ela precisa de mim.
_Geovana porque não espera o dia amanhecer para viajar?
_Porque agora ela precisa de mim.
– Colocou algumas roupas na mala. – Faça um favor, ligue para minha recepcionista e desmarque todos os pacientes que tinha para hoje.
_Para ir tão rapidamente para Minas é porque a Luciana está em emergência mesmo.
_Apenas estou fazendo o que eu não fiz no passado.
– Fechou a mala – E você se cuide, qualquer coisa te ligo.

***


   Luciana sentiu-se fraca após desligar o telefone, sentiu que não achou apoio em Geovana. Deitou-se e ficou ali, pensando a todo o momento na discussão que tivera com Victor. Voltou a chorar baixinho, já não sentia fome, nem vontade de fazer nada, apenas ficar ali se sentindo culpada por tudo o que fizera.

***


   Leo mal chegara em casa e sua campainha tocou. Estranhou. Agora estava em um apartamento, algumas vezes Clarisse vinha para Uberlândia e assim ficavam todo o momento ali, matando a saudade. Achou que fosse ela ao abrir a porta todo sorridente, a expressão mudou quando viu que era Victor, ele estava cabisbaixo com a mala de viagem em mãos. Ergueu o olhar para o irmão e sorriu fraco:

_Tem vaga pra mais um aí?
_Vitor? Não faz nem meia hora que nos despedimos. O que aconteceu nego véio?
– Puxou-o para entrar e juntos sentaram no sofá. – Já sei, você e a Lu discutiram.

   Victor baixou a cabeça, fez um gesto negativo com a cabeça:

_Nos separamos. Agora é pra valer.
– Apenas levantou os olhos para segurar as lagrimas que queriam cair.
_Ah (Sorriu irônico) Você e a Lu sempre discutem e depois estão aí se pegando. Mais tarde você volta lá e conversa com ela. – Bateu no ombro do irmão.
_Não. Luciana nunca vai me perdoar... Eu fiz uma besteira.

   Relatou tudo o que aconteceu naquele dia, as fotos e a discussão de quando chegara em casa naquela madrugada. Leo ficou boquiaberto, não acreditando no que estava ouvindo. Victor era um exemplo para ele, principalmente agora que estava casado, vivendo sua vida ao lado da esposa e com a filha.

_Ela me deu esse CD, mas nem ousei em ouvi-lo.
_Precisamos saber o que há nele
– Pegou o CD, colocando no aparelho que estava na sala. – Isso é, se você me autorizar.
_Vai em frente.

   Era a conversa que Victor tivera com Katherine, quando ela se declarou para ele.

_Eu sabia que aquela mulher não era coisa boa, Vitor.
– Levantou-se irritado – Ta na cara que ela fez isso.
_Isso não é a cara da Kate. Ela não iria fazer tamanha baixaria
_As aparências enganam, nego véio. Presta atenção: Ela gravou a conversa de vocês.

   Victor ficou alguns minutos em silencio. Agora seu coração doía por saber que confiou cegamente nas palavras dela. Sem pensar em mais nada, discou o numero, Katherine atendeu com a voz sonolenta:

_Victor?
_Precisamos conversar.
_Calma.
– Sentou-se na cama – Sobre o que? E qual o assunto?
_Como você teve coragem de fazer isso?
_Isso o que?... Victor quer ir direto ao assunto?
_Você contratou alguém para tirar fotos nossas enquanto eu saia da sua casa. Como se não bastasse, gravou nossas conversas... Sinceramente, estou decepcionado com você, Kate.
_Fotos?... Conversa? Do que esta falando?
_Vai se ferrar, Kate! Não paga de boba comigo. Eu confiei cegamente em você... E você não satisfeita mandou tudo para Luciana.

   Katherine ficou muda por segundos, tentando digerir cada palavra.

_Victor... Como pode desconfiar de mim? Eu não sei de nada. Eu juro Victor.
_Não jure em vão.
_Quer saber? Vai se ferrar você! Estou com vários problemas na minha vida pra ter que mendigar desculpas sua. Estou falando que não fui eu e que nesse momento estou preocupada com minha mãe que está em uma cama de um hospital, em coma e cada telefonema me dá medo. (Chorou) Acha que tenho tempo pra me preocupar com coisas pequenas como acabar o seu casamento com a Luciana?

   Enquanto Katherine soluçava, Victor ficou inerte. Quem poderia ter enviado todo aquele arquivo a sua esposa?

_Se não foi você, quem mais poderia ser?
_Eu não sei... E que conversa é essa?
_Nossa conversa na ligação que você fez enquanto estava desesperada me pedindo uma chance.
_Eu te juro pela minha mãe que está naquela droga de hospital que não fui eu.
_Esquece. Procura se acalmar.

   Ficaram em silencio mais uma vez, imaginando como aquela conversa teria vazado.

_Emprestou seu celular a mais alguém?
_Não... Espera, ele foi pra assistência na época. Mas... Foi antes de aquilo acontecer.
_Grampearam seu telefone, Kate.
_Impossível, Victor. Faz um favor, me liga depois porque tenho que me trocar e ir ao hospital, ok?
_Tudo bem, desculpa por tudo.
_Eu que te peço desculpas. Boa sorte com a Luciana, se for preciso eu ligo para ela falando que a culpa foi toda minha e não sua.
_Esquece, vá ver sua mãe. Abraços.

  Desligou olhando para Leo, que esperava pela resposta.

_Não foi ela.
– Sentou-se novamente no sofá.
_Como você sabe? Ela pode está mentindo pra você.
_Estou falando que não foi ela. Eu sinto isso, Leo. Conheço a Kate o suficiente para saber que se fosse ela, mesmo mentindo, eu sentiria.
_Tá, se não foi ela quem mais pode ter feito isso?
_Sei lá. Alguém que quer ver meu casamento acabado.

  Leo sentou ao lado dele, sem encará-lo:

_Eu ainda acho que foi ela.
_Leo, eu tenho certeza absoluta que não foi.
_Ok, fique com sua opinião, melhor encerrarmos esse assunto
– Levantou-se – Vou me deitar. Vai pro quarto de hospedes.
_Valeu.

   Só naquele momento Victor pode sentir que sua cabeça estava prestes a explodir de tamanha dor. Foi tudo tão rápido e em algumas horas lá estava ele... Sem Luciana, em um quarto de hospedes do apartamento do seu irmão.

   Não conseguiu dormir assim que se deitou, ficou encarando o teto, procurando em sua mente alguma pista de alguém que fora capaz de cometer tamanha loucura ao ter enviado esses arquivos. Pensou em Luciana, como ela estaria naquele momento? Arrasada assim como ele ou tranqüila do que fizera? Gabriela não saia dos seus pensamentos, agora sua pequena iria sentir o gosto amargo de conviver nesse conflito de pais separados.

   Mais uma vez pensou em Kate, mas como um flash, lembrou-se da noite em que Helen foi até seu camarim e a amiga estava por lá. As palavras que ela dissera antes dele partir ficaram gravadas em sua memória:

“Apenas observo cada passo seu, Victor. Cuidado para não pisar em falso...”

   Era essa a peça chave!

   Sentou-se rapidamente na cama. Helen estava todo tempo no seu pé. Ouviu barulhos na cozinha e ao ver o relógio, já passava das seis e meia. Em passos largos foi até onde Leo estava:

_Já sei quem foi.
_Bom dia pra você. Dormiu bem?
_Sem ironias, Leo.
_Foi só pra descontrair o ambiente, seu besta. Fala aí, quem você acha que deve ter feito isso?
_Helen
– Sentou-se a mesa.
_Helen? Essa mulher ainda está no seu pé?
– Levantou-se para lavar o copo que sujou.
_Lembra que no dia que Kate foi ao nosso camarim, a Helen abriu nosso show? Então, antes de sair ela disse que eu tinha que me preocupar com cada passo que dou. – Bateu na mesa – Tá na cara que foi ela.
_E agora, vai contar para Luciana?
_Eu? Não. Luciana estava ciente do que estava fazendo ao me despejar da casa em que moramos. Sequer me deu uma chance para esclarecer o ocorrido.
– Baixou a cabeça – Eu preciso de um tempo para pensar.
_Vai ficar bem, nego véio?
– Victor fez um gesto positivo com a cabeça – Ok, tô indo buscar as crianças. Hoje é dia de ficar com eles.

   Ao ver Leo ir embora parou para pensar, a partir daquele dia sua vida também seria assim. Iria buscar Gabriela para passar o dia consigo e no fim da tarde levá-la para casa. Suspirou triste, tudo poderia ser diferente, talvez se ele não tivesse cometido esse deslize, agora estaria ao lado da sua esposa, dividindo o mesmo lençol.

***


   Geovana conseguiu um vôo para Uberlândia ainda pela manhã. Chegou em solos Mineiro e logo tomou um táxi, chegando na casa e sendo recepcionada por Lourdes que com seu olhar terno lhe passou segurança:

_Onde está Lucy?
_Do quarto não saiu. Pode subir.

   Colocou a mala ali na entrada e subiu, bateu na porta de leve e após receber autorização foi entrando em passos lentos. As cortinas estavam fechadas, o cômodo com uma meia luz, Luciana agarrada aos lençóis chorando, resfolegando.

_Lucy.
– Sussurrou.

   Como uma criança, Luciana ergueu o olhar e ao ver Geovana ali não segurou mais, chorou alto e foi correndo abraçar a mãe:

_Acabou mãe... Ele me deixou.
_Shhh.
– Alisava as costas da filha – Está tudo bem meu amor, agora estou aqui.

   Colocou a filha deitada na cama, acariciando o cabelo dela esperou que ela jogasse tudo para fora naquele choro, Luciana chorava como nunca, soluçava e buscava o ar que lhe faltava. Lourdes entrou com uma xícara de chá em mãos, deixando ali, sem falar nada. Aos poucos Luciana foi se conformando, parando com os soluços e aproveitando a dor, contou tudo o que soubera a mãe:

_Enfim... Nesse exato momento quero matar o Victor.
_Sinceramente, eu não sei o que dizer. Ainda estou me perguntando como um homem que ama tanto a esposa foi capaz disso.
_E ele ainda veio me culpar
– Sorriu incrédula
_Victor deve ter algum argumento, minha filha.
_Se tem eu não sei. Só acho que fiz o certo.

   Permaneceram em silêncio enquanto Luciana tomava seu chá e olhava para um ponto do quarto. Estava pensativa, com raiva; de repente, mudou da água pro vinho e sentiu saudades dele, começou a chorar.

_Eu quero aquele idiota de volta mãe.
– Abraçou Geovana como uma criança em meio ao choro
_Porque não o pede para voltar?
_Não
– Limpou uma lagrima do rosto – Ele merece um castigo pelo o que fez.
_Então descansa. Vou ficar aqui por hoje.

   Deitou-se do lado da filha, ficou fazendo carinhos até vê-la fechar os olhos e vencer o cansaço.

***



   Victor e Leo foram para a fazenda naquela manhã, Matheus e Antonio gostavam da companhia do tio, que por diversos motivos nunca tinha tempo para eles antes. Enquanto via Matheus andar a cavalo sob os olhos atentos de Leo, ficou pensativo:

_Desabafa nego véio.
_Ah
– Baixou a cabeça – Tô com saudades da Gabi.
_E porque não vai buscá-la? Aproveite e converse com Luciana.
_Não tenho coragem. Acho que não sei como reagir diante de uma situação assim.

   Após alguns minutos de silêncio, Leo sussurrou:

_Eu faço isso por você. Vou buscar sua pequena, aproveito e pergunto a história para Luciana.
_Pelo amor de Deus, Leo. Não fala nada! Quero esquecer esse assunto.
_Ok. Vou nessa.

   Levou Antonio consigo enquanto Victor ficou observando o sobrinho mais velho empolgado em seu cavalo. Sorriu ao ver a situação atual dos dois, Leo e ele, solteiros. Sentiu uma tristeza invadir seu peito, sussurrou:

_Ai ai Luciana, será que você vai me perdoar um dia?

Continua...