sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Cap. 35



    Sem querer saber do que aconteceria dentro daquele outro veículo minutos depois, Victor saiu o mais rápido apenas deixando um vulto enquanto Luciana sentia Michael beijar-lhe o rosto, um beijo casto, sem maldade. Porém, era forte demais para Victor ver essa cena, parou no semáforo mais próximo e esmurrou o volante, ela estava lhe dando o troco do que fizera? E quem era aquele rapaz dentro do veículo, naquela meia luz da rua não conseguiu saber de quem se tratava. Já estando dentro do elevador do edifício cerrou os punhos ao deduzir que fosse Michael. Não cuidara de sua esposa e agora no seu lugar, alguém estava fazendo o serviço muito bem feito.

   Luciana achou no amigo uma maneira de desabafar quase tudo o que lhe afligia, não comentara sobre o fim do seu casamento, agora em sua mente perdoava Victor e estava morrendo de saudade.

_Até entendo que você não queira me dizer o motivo, mas sinto que está com saudades dele. Acertei?
_Sim.
– Baixou a cabeça – Victor é a minha outra metade, esses dias estão sendo torturantes ter que vê-lo apenas pela varanda enquanto ele vem buscar a filha. Até a Gabi está mais chorona que o normal, quando volta dos passeios fica chamando por ele antes de dormir.
_As crianças sentem mesmo.
– Olhou para ela – hey, alegria Doutora. Vamos esquecer esse seu problema com um beijo, que tal?
_Sai pra lá que ainda me considero uma mulher casada.
– Espalmou as mãos entre risos.
_Sem maldades, Doutora. Um beijo de amigos.

   Rapidamente Michael se aproximou do rosto dela e depositou um beijo demorado, estalado que até a fez corar e baixar a cabeça timidamente. Ouviu um barulho de carro e ergueu o rosto, vendo aquele veículo distanciar assustou-se.

_Melhor eu entrar, Michael. Boa noite.
_Dorme bem Doutora.

    Entrou na casa um pouco mais feliz, aquela conversa e as palhaçadas de Michael a fez relaxar os músculos. Foi logo para a cozinha, Lourdes a esperava.

_Victor acabou de sair daqui.

   Assustou-se, Victor nunca demorou mais que um minuto nas vezes que ia devolver a filha.

_Nossa
– Sentou-se – Acho que eu devia ter chego mais cedo.
_Pensei em pedi-lo para te buscar lá no hospital, mas não sabia se você iria querer.
_Ah, sei lá Lourdes
– Baixou a cabeça – Acho que ele não quer ter contato comigo.
_Vocês dois são muito orgulhosos. Não deixem que isso atrapalhe a felicidade futura.
_Vou descansar.

    Cortando o assunto, Luciana subiu para o quarto de Gabriela, ficou com a filha boa parte da noite, até sentir que ela estava sonolenta. Esses dias na ausência de Victor, não sentia fome, sede, nem vontade de fazer nada, só deitar na cama e imaginar todos os momentos bons em que viveram. Aquilo estava sufocando-a. Para não pensar em mais nada desceu até a cozinha, pelo relógio na parede percebeu que já era madrugada, discou o numero e aguardou.

_Alô?
_Oi, tá podendo falar?
_Claro que sim minha filha
– Geovana sentou-se na cama – Está tudo bem?
_Acho que não.
– Sua voz estava embargada – Tô sentindo um vazio tão grande.
_Porque você não vem pra São Paulo, Lucy? Passe uns dias aqui.
_Não quero abandonar meu trabalho. Só estou com saudade e triplamente carente.
_Está com saudades dele?
_Acho que sim.

    Nunca imaginou que acharia em Geovana um porto seguro, conversaram por alguns minutos, não esquecendo de contar dele ter ficado por lá assim que deixou Gabriela.

_Será que ele quer se aproximar de você?
_Penso que sim, mas às vezes penso que não.
_Sente que já o perdoou no coração?
_Acho que sim. Estou mais tranqüila quanto a isso.
_Então volte com ele.
_Mas como se ele não vem aqui?
_Quando estamos em busca da felicidade, atravessamos barreiras e paredes invisíveis, Luciana. Se o ama, corra atrás dele, diga que o perdoou e que quer ele de volta.
_Tá, vou fazer isso.
_Isso, é assim que gosto de ver você. Agora faça o favor de comer, a pequena Mariana não tem culpa dos seus problemas.
_Tudo bem
– Sorriu. – Até senti vontade de comer brigadeiro agora. Obrigada mãe... – Pausou para respirar fundo – Eu te amo.
_Eu também te amo.

   Desligou contente, esperaria o dia amanhecer para procurá-lo e pedir que voltasse, era isso. Não conseguiu dormir naquela noite, assim que ouviu barulho na cozinha, desceu, achando Lourdes e Joyce.

_Eu vou atrás dele. Pedir para voltar.
– Serviu-se com uma xícara de café.
_Essa reconciliação vai ficar para depois. Victor me falou que vai viajar esses três dias.

   Sem motivo algum, Luciana sentiu uma lagrima molhar seu rosto.

_E agora Lourdes?
_Sem dramas, Lucy. O que você tinha para dizer poderá esperar, tenha calma que tudo vem no momento certo, na hora certa.

   Aqueles três dias estavam demorando a passar, algumas vezes pegava o celular de discava o numero, mas não tinha coragem de seguir adiante. Estava tão ansiosa que Carol percebeu assim que entrou em seu consultório naquela tarde.

_Enfim, vou dar essa chance.
– Finalizou a conversa.
_Nossa Lucy, sinto que você amadureceu mesmo. Mas ainda bem que está perdoando ele primeiramente dentro de si, porque da boca pra fora, qualquer um usa uma capa e diz que sim.
_Eu sinto falta dele, Ká. Até a Gabi está sentindo isso. Ele chega amanhã, a ansiedade está me matando por dentro.
_Celulares são muito úteis nessa hora, sabia?
_Não sei se vou conseguir falar tudo por telefone, quero olhar dentro dos seus olhos enquanto estiver falando.
_Faz certo
– Levantou-se – Tenho que ir buscar o Junior na escola.

   E mais uma noite torturante para Luciana, já estava ficando aflita e na ansiedade mandou uma mensagem:

“Victor?”

    Esperou aquela madrugada inteira até sentir que ele não responderia sua mensagem. Antes de o ponteiro do relógio marcar oito horas, tomou um café reforçado e foi até o apartamento de Leo, soubera que ele estava por lá. Parou o carro na frente do edifício sentindo seu coração bater descompassado, suando frio. Contou até três e saiu do veículo achando Leo na portaria com seus trajes de esporte, iria fazer sua caminhada. Ele franziu a testa estranhando sua cunhada ali.

_Lu?
_Oi Leo. Sabe me dizer se Victor está no seu apartamento?
_Sim, teve sorte, ele está acordado, mas... Teve azar porque ele não dormiu.
– Sorriu
_Ok. Posso subir?
_Ainda pergunta? Vai lá cunhadinha e boa sorte.

   Enquanto estava no elevador, Luciana ficou imaginando o que seria aquele “boa sorte”, talvez por Victor não ter dormido ou pela conversa que ele já deduzia que seria. Apertou a campainha sentindo sua pressão cair de tão nervosa que estava naquele momento. Como seria esse reencontro depois de tudo o que acontecera? Depois de todas aquelas palavras ferindo ambos?

   Victor abriu a porta achando que Leo tinha esquecido mais uma vez a chave, assustou-se ao ver sua esposa ali. Ela não parava de olhar para o peitoral dele e já a conhecendo de tantos anos, sabia que seu olhar era de tara. Lembrou-se da cena que viu assim que saiu da casa, Luciana deixando um homem qualquer beijar-lhe o rosto, com certa intimidade.

_O que você veio fazer aqui?

   Deu-lhe as costas e em passos largos foi até a cozinha, estava preparando algo para comer e no momento estava morrendo de sono, não querendo conversar com ninguém. Luciana entrou e foi até ele, ficou calada por alguns segundos e nem conseguia encará-lo, o chão naquele momento era o seu amigo. Bastante irritado, Victor olhou rapidamente para ela, fechou a porta do armário com força.

_Fala logo o que você quer, Luciana.
_Precisava ver você.
– Ainda olhando para o chão continuou – A Gabi sente sua falta.

   Incrédulo e com a raiva contida, Victor se aproximou, colocando as duas mãos no balcão de mármore que separava ambos. Seu olhar foi tão intimador, que Luciana ergueu o rosto para fitá-lo como se fosse uma ordem, mordeu o lábio inferior para segurar o choro.

_Não. A Gabriela não sente minha falta porque sempre estou visitando-a e estou com ela do meu lado nas minhas folgas. Então, vou te perguntar novamente: O que veio fazer aqui?
– Ergueu as sobrancelhas.

   Luciana sentiu que não conseguiria segurar, a primeira lagrima já caia quando sussurrou:

_Ok.
– Baixou a cabeça novamente – Eu sinto sua falta.

   Victor soltou um riso incrédulo, com desdém, mas que dentro de si fez festa, seu estômago fazendo voltas de tanta felicidade. Sem perguntar, Luciana sentou-se no banco ainda cabisbaixa, agora seu olhar voltava para as mãos dele que ainda estavam no mármore. Sentindo os olhares dela, Victor lhe deu as costas e foi terminar de fazer seu lanche, ouviu a voz dela:

_Estive conversando com minha mãe esses dias e descobri que já te perdoei dentro de mim. Eu tive uma parcela de culpa para tudo isso chegar aonde chegou. Pensei tanto em meu profissionalismo que sequer pensei em você.

   Ele voltou a olhá-la, não conseguiu aproximar-se porque em sua mente estava a cena em que a vira em um carro estranho, com um outro alguém.

_Queria que você voltasse para casa.
_Eu não sei Luciana.
– Passou a mão no cabelo, embaraçando-o – Acho que precisamos pensar se realmente queremos isso.
_É o que eu mais quero, Victor.
_Mas e eu? Será que me sinto preparado para voltar e depois de um mês discutirmos?
_Discussão todo casal tem, mas traição, isso não vai acontecer mais.

   Ela afirmou e a todo tempo Victor imaginou que ela estava com o tal rapaz, naquela noite, dando o troco.

_Preciso pensar.
_Quer saber?
– Levantou-se – Já fiz minha parte me rebaixando e vindo aqui. Agora cabe a você tomar alguma atitude, Victor.

   Pegou a bolsa e em passos largos passou pela porta. Victor não fora atrás, estava muito cansado para pensar em conflitos e discussão de relação. Tomou alguns goles do seu café e foi para o quarto dormir.

   Luciana chegou em casa arrasada. Nunca imaginou Victor assim, tão frio e distante. Ele quem errara e ainda assim ela quem foi pedir para voltarem. Passou o dia na clinica, buscando trabalhos e mais trabalhos. Chegou em casa já passava das seis da noite, seu coração bateu descompassado quando viu o carro dele ali, até chorou de emoção. Subiu a escada sorridente, procurando algum vestígio de que fosse verdade aquilo, entrou no closet e não. Não tinha nada do Victor ali, nem uma escova, nada. Desceu e foi direto para a sala dele, aquele violão, os acordes... Era musica para o ouvido dela. Bateu levemente na porta e abriu. Ao vê-la o sorriso se desfez, timidamente ela entrou e se aproximou:

_Pensei que tinha voltado para casa.
_Eu voltei.
– Olhou para o violão, dedilhando-o – Coloquei minhas coisas no quarto de hóspedes.

   Aquilo foi pior do que se Luciana tivesse levado um tapa na cara!

_Victor...
– Sussurrou.
_Antes de qualquer coisa, Luciana, temos que conversar e no momento eu estou ocupado. Vamos dar tempo ao tempo.
_Tá, já entendi que você não me quer como sua esposa.
_Não é isso. Só preciso ter uma conversa branda com você antes de voltarmos por completo.

   Sem responder ou querer ouvir mais nada, Luciana se retirou dali. Entrou em seu quarto e deu vazão a todo o seu sofrimento. Porque ele estava lhe tratando tão mal assim? Caiu em um sono profundo e só acordou quando ouviu barulhos no corredor, o dia já estava amanhecendo e com certeza Victor estaria se preparando para viajar. Foi até a cozinha e ele estava conversando com Lourdes, que com olhar assustado negava com a cabeça qualquer afirmação que ele fizera. Aproximou-se deles que logo cessaram o assunto.

_Bom dia.
_Acordada uma hora dessa? Tem plantão, Lucy?
_Não Lourdes
– Sentou-se a mesa. – Estou sem sono.

   Olhou para Lourdes, que olhava para Victor. Ele pouco falara, apenas para se despedir da empregada e subir para buscar sua mala, Luciana foi atrás.

_Quando vamos poder ter a conversa?
_Hoje não dá, não sei se você percebeu, mas estou de saída.
_Porque está me tratando tão friamente, Victor?
– Cruzou os braços.
_Será que você não sabe? – Arqueou uma das sobrancelhas.  – Acho que as caronas que você pega quando está voltando do trabalho podem te dizer.

   Juntou os fatos, no momento que Michael estava lhe beijando no rosto, sentiu a presença de um carro... O carro era de Victor! Assim que chegou na cozinha Lourdes tinha dito que ele ficou por lá naquela noite.

_Não Victor... Aquilo foi um equivoco.
_Não precisa me dar satisfações, Lu. Depois conversamos porque estou atrasado.

   Victor se retirou do quarto, deixando Luciana sozinha e pensativa. Quando deu por si, ele já tinha ido embora.

Continua...

Nenhum comentário:

Postar um comentário