quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Cap. 34



And I will swallow my pride
(E eu vou engolir meu orgulho)
You're the one, that I love
(Você é a única, que eu amo)
And I'm saying goodbye
(E eu estou dizendo adeus)

Say something, I'm giving up on you
(Diga algo, eu estou desistindo de você)
And I'm sorry that I couldn't get to you
(Lamento que eu não tenha conseguido chegar ate você)
And anywhere, I would've followed you
(Em qualquer lugar, eu teria te seguido)

                             (Say Something – A GreatBig World & Christina Aguilera)

_Repete esse nome porque eu ainda não acredito no que estou ouvindo!

   Victor esbravejava toda a sua raiva. Andava de um lado para outro, visivelmente estressado e sem acreditar no que seu irmão falava.

_Tô falando, mano. A Dona Geovana me explicou assim mesmo. Disse que a Sarah foi ao consultório de Luciana, entregou isso e saiu.
_Mas porque essa mulher está de volta na minha vida?! Quem ela pensa que é pra ficar fazendo isso?
– Cerrou os punhos – Ela que não cruze meu caminho.
_Minha opinião sobre isso: Sarah não agiu sozinha. Tem mais gente envolvida.

   Victor inspirou profundamente, procurando toda a calmaria em meio a tantas informações.

_Ah, e a Lu tá arrasada. Dona Geovana falou que ela chorou muito essa manhã. Pior que vocês dois são orgulhosos demais, por Deus! Agora vocês têm uma filha a caminho, ao menos pensa nisso, Vitor.
_Esse problema eu posso deixar pra depois. Não quero ver a Luciana tão cedo. Preciso pensar em tudo o que soube.

   Sozinho, Victor foi andar pela fazenda, ali era um lugar para recompor as energias. A todo instante lhe vinha na mente Luciana chorando, isso era o que lhe machucava. Voltou para onde todos estavam e aproveitou ao máximo com a sua filha. Com tanta inocência, Gabriela se divertia com os primos e o tio, não esquecendo de esboçar o sorriso para o pai que esqueceu de todos os problemas ali, naquele instante.

   Fim de tarde e como agir? O que fazer? Agora teria que levar Gabriela para casa, mas e se esbarrasse com Luciana? Dentro do carro olhava pelo retrovisor sua filha, que estava em um sono profundo. Chegar à sua antiga casa e não ter mais a intimidade de ir entrando no seu quarto, abraçar e beijar sua esposa. Suspirou mais uma vez naquele dia, se culpando. Assim que entrou na casa, Lourdes e Joyce estavam o esperando na porta, enquanto descia, Joyce apenas falou um “Boa noite”, tirando Gabriela da cadeirinha e levando-a para o interior da casa, restando apenas a sua empregada de longa data, que sorriu e o abraçou.

_Como está, Victor?
_É...
– Respirou fundo olhando para o céu – Acho que consigo superar mais uma queda na minha vida.

   Lourdes sorriu e segurou-lhe a mão:

_Logo vocês voltam. Tenho a certeza disso.
_Será?
_Espere que o destino te prove isso.

   Calou-se com receio, mas algo perturbava sua mente cada vez que olhava para aquela varanda que era do seu antigo quarto.

_Dona Geovana está aí?
_Está sim. Vou chamá-la
– Lourdes lhe deu as costas...

_Não precisa, Lourdes.
– Geovana se aproximava deles. – Olá Victor.
_Tudo bem? Poderíamos ter uma conversa?
_Estava lhe esperando para isso.

   Ambos foram para a sala dele. Sentados, Geovana aguardava Victor se pronunciar; ele estava com a cabeça baixa, procurando palavras apropriadas para o momento.

_Acho que Luciana já lhe contou a versão dela.
_Sim. Por isso que eu vim para Minas.
_E tudo o que ela falou foi verdade. Eu sei que lhe machuca, afinal quem está sofrendo é sua filha. Eu não sei o que deu em mim, Dona Geovana, simplesmente foi coisa de momento. Eu juro que depois desse ocorrido, eu nunca mais tive algum contato carnal com a Katherine e nenhuma outra mulher. Em alguns momentos, sentia que tinha que dizer a Luciana sobre essa traição, mas estávamos em um momento tão feliz, que não queria vê-la sofrer.

   Geovana ficou segundos encarando Victor. Calada, apenas observando a tristeza e a verdade nos olhos dele.

_Sabe Victor, não vou te julgar por isso. Todos nós sabemos os nossos limites, não fico do lado da minha filha, nem do seu, mas eu já vivi isso o que Luciana passou e nada nem ninguém conseguiu abalar meu casamento com Lucas. Em seus olhos, vejo verdade e arrependimento, juro que só queria que Luciana estivesse aqui e sinto que vocês merecem outra chance.
– Tocou o joelho dele – Conte comigo para o que der e vier.

    Jamais passou pela cabeça de Victor que Geovana tomasse atitude tão madura, seu peito inflou de emoção e detendo as lagrimas, ele abraçou-a como se estivesse abraçando a própria esposa.

_Me desculpe por tudo.
_Não precisa de nada disso. Apenas peço que se conseguir voltar para Luciana, me prometa que não fará isso de novo.
_Eu prometo sim. Agora tenho que ir porque não quero cruzar com ela pelos corredores da casa. Entendo a dor dela.
_Muito bem. Eu, terei que viajar ainda pela noite.

   Abraçaram-se de novo e Victor sorriu internamente enquanto deixava aquela casa. Naquele momento, estava confiante de que logo Luciana o aceitaria de volta. Chegou no apartamento de Leo e não o achou, discou o numero de Katherine, aguardando ela atender:

_Oi Victor.
_E aí Kate. Como está sua mãe?
_Hum. Na mesma. Estou começando a aceitar os fatos e ir me conformando.
_Hey, pensamento positivo sempre.
_Eu tento, mas hoje estou triste com tudo. E você, conseguiu se acertar com a Luciana?
_Não. Quero dar um tempo para ela pensar.
_Impressão minha ou esse relacionamento de vocês está mais maduro a cada dia que passa?
_Acho que deve ser isso
– Sentou-se no sofá – Kate, hoje eu soube quem estava por trás de tudo.
_E aí, é alguém que eu conheço?
_Advinha?... Sarah Oliver.
_O que?!
– Pôs a mão na boca assustada. – Mas o que ela ganha fazendo isso? Pensei que já tivesse desencanado de você.
_Até eu estranhei. Cheguei a pensar na Helen. Lembra do que te falei quando nos vimos?
_Claro, aquela frase que ela te falou... Ai caramba, Victor!
_Fala logo, Kate.
– Se endireitou no sofá sentindo seu coração bater apressadamente.
_Sabe que eu fui para aquela inauguração do SPA no Rio de janeiro, né? Eu vi a Sarah e a Helen juntas lá, sorrindo como se não houvesse amanhã... Ai caramba, será que ela e a Helen...
_Bem possível. A cara delas fazer isso.
_Ai que vontade de quebrar aquelas duas em quatro! E agora, você vai dizer a Luciana?
_Não. Preciso de um tempo para pensar na minha vida.
_Ok. Tenho que desligar, vou ver minha mãe na UTI.
_Tudo bem. Energia positiva, vai dar tudo certo.
_Obrigada amigo.

   Após desligar o celular Victor sentiu-se só, ficou assim vendo as estrelas pela varanda, o céu cinzento, escuro, assim como sua vida. Recebeu uma mensagem de Leo dizendo que não dormiria naquela noite no apartamento. Como um adolescente, fuçou os armários, achando algumas guloseimas e devorando quase todas, após isso foi para seu quarto provisório, deitando-se na cama e encarando o teto. Seus pensamentos não saiam de Luciana. E se a encontrasse cara a cara, teria coragem de pedir-lhe perdão? Só o tempo poderia dizer.

***


    Acordar com a claridade do dia que mesmo com as cortinas insistia em invadir aquele cômodo, acordar para a vida, enfrentar todos os seus problemas diários: Trabalho, filha, gestação...

   Um dia antes, Carol e Tatianna fizeram-lhe uma visita. Ela passou segurança, tranqüilidade:

Carol: _Sentimos tanto por isso, Lucy. O Victor aparentava ser tão fiel.
Tatianna: _Mas só foi um deslize, apenas isso. Não quero me fazer de coitada, Lu, mas o meu caso foi pior. Eu confiei cegamente no Leo para agora ver ele acompanhado com aquela mulher. Doeu tanto e ainda dói.
Luciana: _Eu sei disso, Tati. Ainda estou de um jeito que não suporto olhar para o Victor, mas meu medo maior é que a separação seja definitiva. – Segurou-se para não chorar.
Tatianna: _Vocês precisam desse tempo para pensar, sei que voltam, acredito no amor verdadeiro de vocês.
Luciana: _Obrigada amiga.

   Estavam caladas, cada uma com seu pensamento quando Carol começou a rir do nada.

Luciana: _Qual a graça?
Carol: _Estou com medo, vou até bater nessa madeira – Bateu no móvel mais próximo que fosse feito de madeira – Primeiro a Tati se separa do Leo, agora você e o Victor. Não quero que essa macumba pegue no meu casamento.

    Mesmo sendo uma ação inconveniente, Tatianna e Luciana também riram alto. Aquela tarde fora de alegria e com as amigas ali lhe passando força, Luciana sabia que sairia dessa.

   No dia seguinte sentou-se na cama, estava estressada e apenas tinha feito três dias que Victor se fora, não tinha visto ele depois, nos dois dias de folga veio buscar Gabriela e em momento que ela não estava ou estava trancada em seu quarto. Pela varanda via seu carro chegar e partir. Estava começando a sentir o peso da realidade, ele fazia muita falta ali.

   Aquele dia fora muito corrido, saiu da clinica e foi correndo para o hospital, um plantão de vinte e quatro horas a esperava. Estava irritada e assim permaneceu até seu plantão terminar. De todos, Michael era o único que lhe procurava e a fazia sorrir com suas palhaçadas que até lembrava as de Victor. Na saída do hospital estava esperando um táxi quando ele surgiu:

_Quer carona, Doutora?
_Valeu Michael, mas estou esperando o táxi.
_Sem mais, Doutora. Venha, entre aqui. Prometo que não vou te raptar.

   Luciana sorriu fraco e entrou no veículo de Michael. Estava tensa, era estranho entrar em um carro de homem que não fosse seu esposo.

_Sabe Lucy, percebi que você está triste. Quer desabafar?
– Olhou rapidamente para ela enquanto dirigia.
_Esquece, Michael. Coisas minhas.

   Permaneceram o trajeto calados, para descontrair, ele colocou um dos seus CDs de Metallica, cantando e batendo no volante, conseguindo arrancar risadas verdadeiras de Luciana. Após isso, ligou o radio e passava uma musica qualquer de uma dupla Sertaneja, sem perder a graça, Michael cantava alto e quando olhava para Luciana, lá estava ela rindo gostosamente.

_Chegamos Doutora.
– Desligou o motor.
_Você é o médico mais louco que eu já vi em toda minha vida.
_Mas fala que gostou do meu gosto eclético. Por favor!
_Tá (Riu mais uma vez naquela noite) Você tenta imitar todos os cantores, mas já chega. Minha barriga está doendo de tanto rir.
_Quando gostamos das pessoas apenas queremos vê-las sorrindo.
– Os olhares se cruzaram. – Não precisa me dizer o porquê da sua tristeza, basta apenas saber que eu vi que não está andando com a aliança.

   Luciana olhou para suas mãos, virou o rosto para a janela, como Michael conseguia ler seus pensamentos ou senti-los? Sentiu os dedos dele tocando-lhe o queixo e puxando-o para que ela pudesse encará-lo.

_Tudo está ficando difícil para mim...
– Sentiu a voz ficar embargada.
_Se está difícil para você, imagine para mim que apenas te amo e não posso fazer nada para te ver feliz. Se quiser ombro amigo, aqui estou. Mas se quiser descontar qualquer raiva que ele te fez, te levo para meu apartamento e posso te fazer esquecê-lo por alguns minutos, mas não será eterno e sua consciência, assim como a minha, vai doer.

   Luciana engoliu seco, até tentou se afastar de Michael. Como um leque de oportunidades, ela tinha que optar pelo seu bem, assim escolheu a primeira opção e achou nele um ombro amigo.

***



   Victor aproveitou o dia de folga com Gabriela, passeou com ela durante o dia, enchendo a filha de mimos e de guloseimas. No fim da tarde, assim que entrou na casa, foi direto para a cozinha, precisava desabafar com alguém ou enlouqueceria. Entregou a filha para Joyce:

_E essa boca toda suja?
– Joyce olhava atentamente para Gabriela.
_Ah, ela queria chocolate.
_Jesus amado que se Dona Luciana ver essa menina assim ela tem um treco. Vou banhá-la agora antes que ela chegue.

   Joyce subiu as escadas, Victor sentou-se em um banco próximo ao balcão onde Lourdes lavava alguns pratos.

_A Luciana está trabalhando?
_Sim. No hospital. Mas ela chega logo.
– Limpou as mãos no pano de prato, sentando-se próxima a ele – E você, como está?
_É estranho sabe, agora minha ficha está caindo. Eu sinto falta de Luciana, do nosso momento de lazer, mas estou aceitando a situação porque quero que ela pense e reflita mais sobre o que me fez.
_Luciana não fez nada que você não merecesse Victor.
_Jogar a aliança em mim e gritar como uma louca é normal, Lourdes? Pra mim não. Detesto barraco e ultimamente era o que estava acontecendo.
_Às vezes ela é meio imatura
– Falou após uma pausa – Mas tudo o que ela quer é você. Vez outra a vejo dentro do quarto chorando, ela foi trabalhar a pulso. Ontem a peguei no quarto da Mariana, olhando cada parte da decoração e com o sapatinho que você comprou em mãos. Luciana se faz de forte na nossa frente, mas está segurando tudo sozinha.

   Victor sentiu as lagrimas tomando-o, nem a gestação da sua filha estava acompanhando. Isso estava muito errado, ele tinha que refazer a besteira que fizera. A amava, disso tinha certeza, próximo passo era ganhar o perdão dela, e daquela noite não passaria. Aceitou um café enquanto aguardava Luciana chegar, já estava impaciente e como já sabia da rotina profissional dela, cansou de esperar.

_Melhor eu vir na próxima folga, Lourdes. Não vai demorar, tenho só três dias da semana viajando, fazendo shows.
_Tem certeza? Ela já está pra chegar.
_Tenho. Quando ela chegar estará tão cansada que nem vai querer me ouvir. Obrigado pelo cafezinho e me promete que vai me ligar se caso ela precisar de algo... Falo financeiramente.
_Luciana está em uma fase profissional tão boa, que vai se sentir ofendida de eu dar esse recado.
_Eu sei...
– Sorriu com a lembrança – Aquela ali é cabeça dura mesmo. Boa noite.

   Foi para seu veículo, ficou com medo de toda aquela coragem que estava naquele dia se dissipar, poderia não ter mais da próxima vez em que fosse ali. Estava saindo da casa quando parou o carro e viu um outro parado na frente do portão, seus olhos poderiam estar tendo uma miragem, mas aquela dentro daquele veículo era Luciana, acompanhada de um rapaz que ele custou para saber quem era. Segurou firme o volante e sentiu seu sangue ferver, o coração aumentar o ritmo e uma raiva incontrolável surgir. Audácia maior foi ver o tal rapaz beijar o rosto de sua esposa.

Continua... 

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