sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Cap. 38



    Chegar em casa poderia ser uma paz, talvez se Luciana não achasse pontos que fizesse lembrar da mãe. Lourdes dera total apoio desde que ela entrara pela porta, abraçando-a e olhando para Victor, buscando respostas.

_Venha Lucy, você deve estar cansada.

    A viagem foi tensa, o silêncio que ela resolveu usar incomodava o marido, ele não tinha culpa da morte da sua mãe, nem a própria Gabriela que parecia sentir cada vez que olhava para a mãe e com o mesmo olhar buscava respostas.

   Subiram e ainda no corredor Luciana sentiu as lágrimas quererem descer pelo seu rosto, ainda doía dentro do seu coração, não tiveram uma despedida digna. Lourdes tentava puxar assunto, mas nada se ouvia como resposta, preferiram deixá-la deitada para descansar e juntos foram para a cozinha, enquanto Victor tomava um café, Lourdes sentou do seu lado:

_Como ela está?
_Percebeu que ela não quer papo?
– A empregada afirmou com a cabeça – Está assim desde que enterrou a mãe. Estou preocupado, meu medo maior é Luciana querer se fechar para o mundo.
_Mas ela tem que viver, vamos aguardar, ela deve estar em choque ainda.
_Se Luciana continuar assim, terei que levá-la para um psicólogo. Ela está grávida e nossa filha não merece isso.
_Concordo.
– Levantou-se
_Lourdes, agora que só estamos nós cuidando da Luciana e da Gabi, você pode segurar as pontas enquanto eu viajo?
_Mas é claro, Victor. Vá tranqüilo, qualquer coisa eu te ligo.

   Subiu para o quarto e achou Luciana dormindo, seu rosto estava molhado por conta da crise de choro que tivera. Agachou-se e limpou aquelas lágrimas teimosas:

_Espero que você fique bem, Lucy.
– Beijou-lhe a testa.

   Pegou a mala e com o coração partido foi viajar.

***



   Aqueles dias estavam dolorosos para Luciana, recebeu visita de Carol e Tatianna, porém, não se pronunciou nem falou uma palavra. Andava pela casa como uma morta-viva, apenas cumpria seus compromissos, ia para o hospital, mas só falava o necessário com os pacientes, chegava em casa e estava esgotada, cansada e logo ia dormir. Michael e toda a equipe do hospital decidiram afastá-la por questões de saúde e na mente dela tudo parecia um ciclo: Alguém morria, ela sentia, entrava em depressão, se afastava do que mais gostava de fazer na vida, na volta era demitida. Já esperava por isso, mesmo o colega de profissão lhe prometendo que quando ela voltasse da licença maternidade, teria todos os benefícios que sempre tivera e que seu cargo não seria ocupado por mais ninguém.

   Para Victor estava sendo angustiante, chegava em casa, achando somente uma Luciana sem vida, triste, sentada na cama olhando para o nada, saindo do quarto somente nas madrugadas para entrar no quarto do bebê que a mesma esperava. Estava no studio e decidiu subir quando viu que o relógio marcava mais de três da manhã, achou o quarto de Mariana com a porta aberta e uma luz fraca do abajur iluminando o local, entrando aos poucos viu Luciana próxima ao berço, olhando para a decoração com o sapatinho de bebê na mão, o mesmo que Geovana presenteara.

_Amor, vem dormir.
– Abraçou-a por trás e em seguida levou-a para longe dali.

    Entraram no quarto do casal e ela logo foi deitar-se, Victor não sabia se era porque antes de Geovana morrer ele dissera algumas coisas e saiu sem falar com ela, mas Luciana estava estranha, mal o encarando. Puxou-a para deitar-se em seu peito e sentiu as lagrimas dela molharem, estava soluçando e tudo o que ele queria era ajudar.

_Meu amor, fala comigo. Você anda tão triste, sei que sua mãe se foi, mas eu estou aqui e não vou te abandonar.

    Não obteve respostas e acabou dormindo com ela em seus braços. Luciana sentia muito não poder desabafar, mas estava em um momento em que queria ficar só, sem ninguém lhe atormentando, simplesmente não estava com paciência nem com a sua filha Gabriela que agora estava falante e alegre. Acordou com ele observando-a, o sol estava querendo aparecer lá fora e invadir as cortinas daquele quarto.

_Bom dia, trouxe seu café da manhã. Vem.

   Puxou-a de leve e juntos sentaram na varanda, de lá de cima Luciana via sua filha correndo, brincando com Lourdes que agora estava revezando seu tempo entre cuidar de Gabriela e cuidar da casa.

_Você deveria descer, ficar um pouco com Gabi. Isso pode te fazer bem.
– Deu uma pausa para iniciar outro assunto – O Doutor Guilherme me ligou, você faltou à consulta semana passada. Vou remarcar e te levarei nem que seja preciso te colocar em meus braços. Não posso ficar sem saber como anda a saúde da minha filha. 

    Como resposta Luciana virou o rosto e ficou séria, permaneceu assim até anoitecer. Tomou um banho e deitou-se esperando mais uma vez a madrugada surgir para poder caminhar pelo corredor e ir em direção ao quarto da sua filha. Victor, como sempre, tentava de todas as maneiras tirá-la daquela casa, entrou no quarto.   
 


_Luciana, estou indo pra fazenda. Houve um problema com um dos cavalos, o caseiro me ligou... Quer ir junto comigo?
– Repousou a mão em um dos pés dela.

    Ela fez um gesto negativo com a cabeça.
   Saiu de perto dela, andou pelo quarto e suspirou alto, estava impaciente. Tentava de toda maneira tirá-la daquela depressão, mas somente ela quem poderia se auto ajudar.

_Quer saber? Cansei. Isso pra mim já é frescura! Sai dessa cama, Luciana! – Alterou a voz e não conseguiu parar mais. – Sua filha precisa de você, do seu carinho e você nesse egoísmo de ficar aqui trancada! Sua mãe morreu? Eu sinto muito, mas não vai ser você trancada aqui que vai trazê-la de volta!

   Ainda com os olhos perdidos, Luciana chorava e agora resfolegava, apertava o lençol que a envolvia nas mãos.

_Você sabe que está grávida e que essa nossa filha que espera sente. Só te peço que pense nela e na Gabriela. Volte a ser a Luciana cheia de vida que eu conheci um dia. – Nos seus olhos tinha lagrimas prestes a cair.

   Foi até a esposa e beijou a testa dela. Sentia tanto quanto ela, estava arrasado com tudo o que estava acontecendo com sua esposa.

_Vou bem rápido, já volto.

    Foi para a fazenda, mesmo sendo noite ele já conhecia aquela estrada. Ligou o som para tentar distrair-se enquanto não chegava. Ao entrar na Hortense, o caseiro foi logo o recepcionando.

_Seu Vitor. O Veterinário já está lá na Baia dos cavalos.
_Vamos lá.

   Aos olhos atentos de Victor, o Veterinário analisou o animal, ainda o levou para andar.

_Ele não tem nada demais. Já andei com ele, o analisei.
_Deve ser porque o caseiro é novo aqui. – Victor tinha chamado o Veterinário a parte.
_Pode ser, qualquer coisa é só entrar em contato comigo de novo que eu venho rápido.
_Obrigado.

   Levou o médico até o portão, voltou e foi direto para dentro da casa. Estava pensando em ficar ali durante a noite, voltar para casa ultimamente estava sendo uma tortura, ver Luciana ali, deitada ou sentada naquela cama, pensativa, o matava por dentro. Desistiu de ficar, nada o alegrava, talvez se Gabriela estivesse seria mais animado, poderia contar historias para a filha, brincar a noite toda e no dia seguinte levá-la para andar a cavalo.

_Já estou indo, qualquer coisa me ligue.
_Pode deixar Seu Vitor.

   Entrou no carro e ligou o som, saiu da fazenda e pegou a estrada. Até que aquela ida a Hortense o fez esquecer-se um pouco de Luciana, tudo estava em suas costas: Trabalho, Luciana com depressão, Gabriela que agora parecia sentir falta da mãe e sempre estava chorona e febril. Às vezes cansava dessa vida e sentia falta de quando era apenas um, sem pensar em terceiros, só no trabalho e na sua vida tranqüila.

   Ao passar em um ponto da estrada sentiu um barulho estranho, olhou pelo retrovisor e percebeu que o pneu traseiro estourou. Jogou o carro no acostamento, ligou o pisca alerta e foi até o porta mala, pegou todos os pertences que precisaria para trocar o pneu.

_Agora só era essa que me faltava.

   Pensou em deixar o carro ali e ligar para Leo ou até mesmo para Luciana, mas a rede da operadora estava indisponível. Colocou o triangulo no acostamento para alertar outros carros e voltou para pegar os objetos necessários. Ouviu um barulho de um carro parando e ergueu o rosto, dentro do veículo quatro homens estavam ali.

_Precisa de ajuda aí? – O homem que estava no banco do carona perguntou.
_Não, não... Consigo me virar. Obrigado.


  O carro desapareceu. Victor sentiu um arrepio ruim, de medo e foi depois daquele carro ter parado ali, algo estava estranho. Fechou o porta mala, estava decidido a sair dali, corria risco de vida e tinha uma esposa e duas filhas para criar. Assim que ia entrando no carro percebeu que o veículo que minutos atrás tinha lhe oferecido ajuda, parou no acostamento, metros a frente do seu. Engoliu seco ao ver os quatros homens saírem do veículo com armas na mão, pensou em correr para o meio do mato, mas seria algo muito arriscado, na sua mente, os rostos de Luciana e Gabriela, jogou o celular no chão e colocou as mãos na nuca já aceitando o que estaria por vir...

Continua...

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