segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Cap. 31


"When you're lying here in my arms
(Quando você está aqui deitada em meus braços)
I'm finding it hard to believe
(Eu acho isso difícil de acreditar)
We're in heaven
(Estamos no paraíso)

                               (Bryan Adms – Heaven)

  Em milésimo de segundo, Victor sentiu confiante, sabendo que contando a Luciana toda a verdade, ela iria perdoá-lo, mas toda a sua esperança se dissipou assim que ela ergueu o rosto que ainda repousava em seu peito, seu olhar de ternura o derreteu. Não iria acabar com aquele clima romântico por um deslize. Sua carta na manga seria confiar em Katherine e saber que ela jamais iria contar a alguém sobre o que houve.

_Fala logo que estou com sono. (Bocejou)
_Nada. Esquece meu anjo
– Acarinhou a longa madeixa dela. – Dorme.

   Continuou encarando o teto enquanto sentia sua esposa pegar no sono rapidamente. Deitou-a no travesseiro e sentou-se na beira da cama, passando as mãos rapidamente no cabelo, estava desesperado, com medo. Amava muito Luciana. Vestiu-se e desceu para sua sala, puxou um bloco de papel e tentou escrever algo:

“Perdoa-me por tudo
Perdoe-me pelo o que fiz
Amo-te tanto,  não me deixe-agora...”


   Tentou escrever algo a mais, porém, seus olhos estavam se fechando automaticamente. Voltou para o quarto e deitou-se ao lado de Luciana, que dormia perfeitamente, com a expressão mais tranqüila da face da terra. Virou-se de lado e tocou no rosto dela, seus olhos marejaram.

_Te amo tanto, minha Morena.

  Desligou o abajur e logo dormiu.

O vento soprava, fazendo barulhos assustadores, uma chuva forte caía lá fora, a janela do quarto estava aberta quando Luciana acordou tarde da noite. Levantou-se para fechá-la, olhou para a cama e Victor dormia tranquilamente. Desceu até a cozinha, enquanto tomava água ouviu um barulho, foi seguindo-o chegando de frente para a porta do studio de Victor, estranhou, ele estava dormindo e porque o seu violão estava fazendo barulho? Abriu a porta e viu uma menina, vestida de branco, estava de costas para ela. 

_Oi?

A moça foi virando e só naquele momento percebeu que se tratava de Gabriela,sua ex-paciente que morrera em seus braços. Olhou para o corpo dela, que estava com as mãos na barriga, chorando. 

_Gabi?...
_Doutora. – Sussurrou. 

Gabriela tirou as mãos do ventre, seu vestido branco se destacava com o vermelho no local. 

_Dói muito Doutora. – Começou a chorar. 

Luciana aproximou mais da menina, o sangue não estancava, já estava passando pelas pernas dela. 

_Mas sabe o que dói mais? Isso aqui – Apontou para a cabeça. – Me arrependi. E tudo isso foi culpa sua – Apontou para Luciana – SUA CULPA! VOCÊ ME MATOU SUA ASSASSINA!

Volitando, Gabriela rapidamente estava bastante próxima de Luciana, na íris dos seus olhos a cor era vermelha, como se fossem tochas de fogo. 

_Vou infernizar sua vida
. 
A partir de agora você sentirá o que é sofrer de verdade...


   Acordou assustada, ofegante. Suava friamente, com medo, olhava para todos os lados do quarto. Nada de vento forte, chuva, janela aberta; tudo não passara de um pesadelo. Respirou aliviada, olhando para o teto, Victor dormia, abraçou-o por trás, ficou bem próxima a ele, que remexeu na cama e segurou a mão dela que estava em seu abdômen.

   O calor tomava o corpo de Luciana, após alguns minutos o medo passara, afastou-se de Victor e no escuro, jurou ver algo se movendo em um canto do quarto, apertou o lençol com toda a força que teve no momento.

_Victor.
– Sussurrou com a fala cortada.

   Ele não respondeu, ela sentiu algumas lagrimas se formarem em seus olhos, fechou-os e ao abri-los, viu algo vir rapidamente em sua direção, um vulto aproximando-se do seu rosto. Gritou e rapidamente se jogou da cama, caindo no chão, sentou-se e arrastou seu corpo para encostar-se no criado mudo ao lado da cama. Victor acordou com seus gritos e na mesma hora correu para acender a luz, achando Luciana jogada, com o olhar perdido, abraçada aos próprios joelhos.

_Luciana!
– Agachou-se segurando-lhe o rosto para que ela o encarasse – Olha pra mim!
_Ela está aqui Victor!
– Alterou a voz. – VICTOR ELA ESTÁ AQUI.
_Ela quem?
_GABRIELA. 

   Abraçou-o e afundou o rosto no peito dele para não ter que olhar ao redor. Luciana chorava e deixava Victor sem entender nada. Sentou-a na cama.

_Vou buscar um copo de água para você
– Fez menção de levantar-se.
_NÃO ME DEIXA SOZINHA! – Segurou a mão dele. – POR FAVOR, VICTOR.

    Luciana chorava como uma criança, fechando os olhos forte, tentando esquecer tudo. Victor levou-a para a cozinha, sentando-a no banco enquanto preparava água com açúcar, percebeu que ela tremia muito enquanto levava o copo até a boca, olhava para todos os lados, procurando algo.

_Olha pra mim, Luciana.
– Tocou as mãos dela. – O que aconteceu? Me explica.

   Ela soluçou, baixou a cabeça e mais uma vez chorou.

_Eu tive um pesadelo. A Gabriela me chamando de assassina.

   Não precisou de mais nada para Victor entender o que se passava, abraçou-a e cada vez que ouvia o choro dela, a apertava mais:

_Calma, já passou. Estou aqui.
_Não me deixa, Vih.
_Nunca farei isso.

   Limpou as ultimas lagrimas que caiam no rosto dela, levou-a para o quarto, antes mesmo de entrar ela apertou a mão dele.

_Venha, sem medo, Lu. Agora estou aqui do seu lado.

   Ajeitou alguns travesseiros para que ela ficasse sentada, sentou-se também acariciando a mão dela.

_Esquece Lu, isso foi só um pesadelo.
_Não Victor... Eu sei que tem algum enigma nele. Algo de ruim vai acontecer.
_Olha para mim
– Segurou-lhe o queixo para que o encarasse – Não vai acontecer nada, meu amor. Não enquanto eu estiver com você.

   Abraçou-a de lado e ficou fazendo carinho até sentir que Luciana estava calma. Conseguiu fazê-la dormir e ficou zelando o sono dela, permaneceu assim até o dia amanhecer.

   Tomou um banho e foi fazer a mala, o trabalho lhe chamava, antes de partir achou-a encarando o teto, pensando.

_Lu
– Sentou-se na beira da cama de frente para ela – Tenho que viajar.
_Não Victor...
– Choramingou, logo sentindo os olhos marejarem – Fica, preciso de você.
_Infelizmente não posso. Eu queria poder ficar, mas tenho compromissos. Prometo vir o mais breve o possível. Te amo, tá?
– Beijou-lhe o rosto.

   Assim que Victor partiu, Luciana saiu daquele quarto, não iria ficar sozinha nele. Seria muito difícil para ela, teria que suportar, seria forte.

***

   Aqueles dias passaram, Luciana estava sentindo que algo iria acontecer, estava chorando direto, evitando sair em locais públicos. Nunca mais tinha sonhado, mas como um flash, tudo parecia estar vivo, fresco como se o ocorrido tivesse acontecido naquela hora.

   Enfim pode relaxar mais com a presença de Victor ali. Certa noite, tarde da madrugada, Gabriela chorou e já assustada, colocou sua filha para deitar em sua cama, Victor estava no studio no térreo, como sempre, tocando violão ou conferindo alguns arranjos na guitarra. Desceu para a cozinha e ao voltar, foi para a sala dele, ouviu conversa, ele estava com mais alguém. Parou na porta...

_Eu te falei que ia dar nisso. Como tu é burro, bicho.
_Me deixa Vitor, eu fiz o que achei necessário.
_Necessário?
– Soltou um riso sarcástico – O que você está fazendo é uma burrada! Ela não merece isso.
_Tá, agora você vai aproveitar que é irmão mais velho e puxar minha orelha? Sou bem grandinho para ouvir seus sermões. Vou pra fazenda.
_O que?! Daqui você não sai. Nem pensa em pegar a estrada a essa hora, Leo...

   Luciana afastou-se do studio e subiu para o quarto. O que estava acontecendo com Leo? Porque ele não poderia voltar para sua casa? Ficou remoendo dentro de si com várias perguntas, Victor apareceu no quarto, estava visivelmente sério e ao vê-la acordada assustou-se:

_Pensei que estivesse dormindo.
_Não.
– Olhou para o lado da cama – Gabi acordou e eu trouxe para cá. Mas já pegou no sono de novo.

   Victor sentou-se na beira da cama, dando as costas para ela. Luciana franzia a testa incomodada com algo, queria dizer que ouviu boa parte da conversa, mas como? Ele iria chamá-la de curiosa e pelo visto estava de mau humor.

_Se importa se o Leo dormir aqui essa noite?
– Olhou para o lado.
_Nã-não. O Leo aqui? O que houve?
_Ele e Tatianna discutiram.
_Ah, ok.

   Luciana voltou a assistir, mas algo a perturbava:

_E porque da discussão?
_O Leo anda cheio de mistérios.

   Sem mais nada, Victor foi até o banheiro, após o banho, trocou-se e foi mais uma vez para perto de Luciana:

_Ele está de caso com uma moça.

   Luciana quase se engasgou na própria saliva ao ouvir o que Victor dissera.

_Como? E por quê?
_Vai tentar entender o Leo e depois me dê a receita. Enfim, volte a assistir, vou lá pra baixo.
– Beijou-lhe o rosto e saiu.

   E assim ele saiu deixando apenas meias palavras para que Luciana decifrasse. Tudo estava estranho ali, mas logo ela saberia, teria que deixar tudo fluir aos poucos. Lembrou-se do sonho que tivera com Gabriela, em seu peito ainda doía, algo avisando que o mal estava próximo. Pegou o terço, lembrando das palavras de Geovana após saber daquele pesadelo, e rezou naquela madrugada fria.       


   Pela manhã, ela percebeu que Victor não dormira do seu lado, Gabriela estava ainda em um sono profundo. Levantou-se e desceu. Leo já estava acordado conversando com Lourdes, ao ver Luciana fez um meio riso, abraçando-a.

_E aí, como você está? Desde que chegou nem tive como vir te ver.
_Estou inteira e viva.
– Riram com a piada que ela fez.

Victor: _E cheia de saúde.

   Os dois olharam para a entrada, Victor estava encostado na parede. Em passos rápidos aproximou-se, sentando a mesa.

Luciana: _Onde dormiu?
Victor: _Ainda não dormi. Passei a madrugada no studio.

   Leo ficara calado, tomando seu café. Luciana não iria forçar a barra se ambos não queriam tocar no assunto. Lendo os pensamentos dela, Victor iniciou a conversa:

_Leo, quero que saiba que ninguém está aqui para te julgar. Tenha em mim um apoio sobre qualquer atitude tomada na sua vida.
_Valeu nego veio.
– Levantou-se – Tenho que ir, o dever me chama.

   Tudo estava estranho para Luciana: Victor ali, tomando seu café com uma expressão séria, Leo conversando como se nada o tivesse abalado. Levantou-se sabendo que não arrancaria nada do marido.

_Vai onde?
_Hoje vou voltar a atender na clinica. Esses dias de folga já foram o suficiente.
– Aproximou-se dele, beijando-lhe os lábios rapidamente. – Te amo.

   Vendo sua esposa sair o fez refletir, entendia o lado de Leo, a carne era fraca, mas será que teria coragem de tomar certa atitude que ele tomara naquela noite anterior? Jamais conseguia se ver longe de Luciana por causa de outra mulher, já a amava incondicionalmente.

Continua... 

Nenhum comentário:

Postar um comentário