quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Cap. 29


   
“O que vale nessa vida, vale como um bom presente
  
Cai do céu, um bem que a gente sente
  
Vem como você vem antes de eu me preparar
   
E me diz: Vai ficar aqui, pois aqui é seu lugar
                                                         (O melhor da vida – Marcelo Jeneci)
   
    Victor olhava insistentemente para aquele painel, o aeroporto estava movimentado, vários encontros e partidas, pessoas tristes, alegres e tudo o que ele queria era ver Luciana.

   Aquelas semanas passaram sem muita importância, os dias passaram até rapidamente. Katherine não o procurara mais, um certo alivio o invadiu, mas ainda havia uma preocupação só em pensar que esse silencio todo tinha hora certa de acabar. Sua amiga poderia confessar o caso extraconjugal que ele tivera com ela, Luciana iria acabar com o casamento... Soltou o ar pesadamente só de imaginar essa cena, fora acordado do seu mundo ao ouvir Lucas reclamar mais uma vez naquela manhã:

_Isso está errado. Duas horas de atraso?! Vou saber informações com a companhia aérea.

   Vendo o sogro se afastar, Victor sentiu seu corpo tremer. Não gostava de esperas, pior ainda nessa situação.

_Ele sempre foi assim.
– Geovana surgiu do lado dele com Gabriela em seus braços.

   Olhou para a filha que estava com a cabeça no ombro da avó materna. Sempre tão calma, tranqüila, mas algumas vezes como um furacão, parecia estar ligada em tomadas de tanta energia, e agora, estava tranqüila como se nada estivesse acontecendo.

_O que nos resta é aguardarmos, Dona Geovana.

   Sentaram em uma cadeira de uma lanchonete e assim permaneceram por mais uma hora. Lucas estava inquieto, querendo ver sua filha, abraçá-la, saber se estava tudo bem; Victor também não estava longe desse sentimento.

   Aquele saguão estava pequeno demais para fortes emoções, agora alguns passageiros cruzavam a porta de desembarque. Cada rosto eles buscavam o de Luciana, os corações batiam rapidamente, uma emoção fora do comum. Enfim, ela surgira, em passos lentos por conta da longa viagem e sua barriga que crescera um pouco desde a ultima vez em que estivera em solos Brasileiro. Geovana gritou de felicidade e Victor foi ao seu encontro rapidamente. Ao ver o marido, com sua filha nos braços, não conteve a emoção, já não enxergava nada a sua frente com as lagrimas que a invadiam, abraçou-o forte achando que isso nunca mais iria acontecer.

_Meu amor. Não me solta mais
_Estou aqui, Lu. Não te deixo nunca mais.

   Lucas e Geovana foram ao seu encontro e após muitos abraços, beijos, estavam voltando para casa.

Geovana: _Faço questão que pelo menos hoje, você descanse aqui.
Luciana: _Obrigada mãe, mas eu bem queria já estar na minha casa, em minha cama.
Lucas: _Na nossa casa também tem cama, Lucy.

   Luciana riu observando seu pai, que atentamente dirigia e conversava com Victor sobre assuntos paralelos. Aquele clima gostoso, tudo lembrava a infância que ela tivera na mansão; por mais que dissesse que sofreu, Luciana foi feliz naquela casa mesmo na ausência dos pais. Desceu do carro e ficou alguns minutos na varanda, em pé.

Lucas: _Sente-se minha filha.
Luciana: _Obrigada pai, mas passei horas sentada naquele maldito avião.
Geovana: _Conte-nos tudo, como foi seu curso?

   Enquanto Luciana estava empolgada falando sobre o curso, Victor ficou calado, não acreditando que ela estava ali e que agora seria eternamente, jamais iria abandoná-lo e agora sempre que ele chegasse em casa a teria por ali, com sua filha. Aos poucos tudo iria voltar ao normal. Seu celular apitou uma nova mensagem:

"Kate: É hoje que ela chega? Desculpe por tudo o que lhe causei e agora sei o quanto a ama. Que sejam felizes."

   Seu sangue ferveu, sentiu que no seu rosto estava uma certa vermelhidão. Por sorte Luciana estava empolgada conversando com os pais. Logo veio outra mensagem:

"Kate: Fique tranqüilo meu amigo, não contarei nada a ninguém. Será um segredo nosso que guardarei a sete chaves. Amo VC."

   Respirou fundo ao lembrar mais uma vez que Katherine era mulher de palavra e jamais faria mal a ninguém... Mas algo o incomodava, sentia-se sujo diante de sua esposa. No passado, a julgara de traição ao duvidar da paternidade da filha, no presente, estava em uma situação bem pior.

   Após muitas conversas, Victor afastou-se de Luciana, ele e Lucas decidiram conversar perto da piscina. Momento propício para ela perceber e sentir a frieza toda dele.

_Vem cá.
– Geovana a chamou.

   Juntas subiram para o quarto da mãe e estando nele, Geovana lhe estendeu uma caixa, dentro dela um lindo par de sapatinho rosa para bebê.

_Mãe. Não precisava.
– Segurou aqueles sapatinhos imaginando sua pequena dentro deles.
_Estava passeando pelo shopping quando vi e fiquei boba. Dizem que as avós são mães duas vezes, por isso essa minha emoção toda.
– Limpou o canto do olho.

  Sem falar nada, Luciana abraçou-a e ali respirou fundo:

_Enfim posso dizer que estou em casa.

   Colocou o presente ao lado da cama. Geovana sentou-se puxando-a para deitar a cabeça em seu colo, aqueles carinhos no cabelo dela, fazendo-a quase dormir. Isso nunca acontecera.

_Esses dias que a Gabi ficou comigo eu aproveitei tanto. Você poderia vir mais vezes, Lucy. Passar um fim de semana seria ótimo.
_Vou fazer isso sim.

   Estava com receio, mas em sua mãe achou o porto seguro para desabafar, estava se sentindo sufocada:

_Mãe, alguma vez o Pai te olhou friamente? Sabe quando tem algo a te dizer mas não consegue?
_Porque essa pergunta, Lucy?

   Soltou o ar e com os olhos fechados confessou:

_Victor está fazendo isso comigo há dias. Sempre que conversávamos pela internet ele estava estranho, um pouco rude. Agora sequer ficou perto de mim, está me evitando.
_Deve ser algum problema. Homens são assim. Seu Pai mesmo tem dias em que está frio, mas logo eu entendo que são os problemas. Isso vai passar e a tradução para este fenômeno: Casamento e rotina.

   Ambas riram e Luciana mexeu-se, ficando deitada de frente para encarar a mãe:

_Eu acho que não é só isso. Conheço Victor, ele está me escondendo algo. Só espero que não seja grave.
_E não será. Tenha certeza disso. Sabe, no seu casamento pude perceber os olhares entre você e ele, o sorriso contagiante. Irão se entender porque existe amor e onde há amor, não existe nada que os façam irem a um caminho ruim.

   Seus olhos brilharam ao ouvir Geovana falar aquilo:

_Tomara mãe, amo tanto o Vih.

   Mais uma vez fechou os olhos e sentiu seu corpo mole, embarcando em um sono profundo. Geovana aproveitou para descer e se aproximar de Victor e Lucas que agora estavam aos risos com Gabriela empolgada na grama.


Geovana: _Parece que ela ficou mais feliz depois de ter visto a mãe.
Victor: _Acho que todos nós ficamos né?
Lucas: _Quando o vôo dela atrasou, pensei no pior.
Geovana: _Vira essa boca pra lá, Lucas. O que importa é que ela esta entre nós. – Fizeram uma breve pausa. – Vocês vão embora quando, Victor?
Victor: _Dependendo de mim, amanhã pela tarde. Se não for nenhum incomodo para vocês. Terei que ir para a capital para resolver alguns assuntos.
Lucas: _De maneira alguma, jamais será incomodo.
Geovana: _Sabe, Victor. Estive pensando: Tente trazer a Luciana mais vezes para cá. Vou pedir a ela que reforme aquele apartamento em Uberlândia, quero passar mais tempo com minhas netas.
Victor: _Será muito bem vinda.

   A conversa esticou até anoitecer. Após o jantar, Luciana fitava Victor, ele ainda estava estranho, falando no celular com alguém. Depois de muito mimar a filha, colocou-a para dormir e em seguida foi para seu quarto, Victor saía do banheiro com a toalha envolta da cintura, ela parou no meio do quarto.

_O que foi?
_Estou tentando saber se esta tudo bem mesmo.

   Sentou-se na cama, encostada na cabeceira enquanto Victor trocava de roupa. Não conseguia encarar Luciana, algo o perturbava desde a sua transa com Katherine, mas chega um momento em que temos que encarar os fatos de frente e quebrar todos os medos. Sorriu levemente para ela enquanto sentava do seu lado, acariciando o ventre de Luciana, a cada dia sua barriga estava perfeita e linda.

_Está maior. E eu já estava com saudades de acariciá-la.
_Antes de dormir ela chuta muito, Vih.
_Vamos ver agora que eu estou por perto.

   Aquele silêncio que incomodava ambos estava voltando, deixando-os sem jeito.

_Vih, tem algo que quer me contar?
_Por quê?
_Estou sentindo. Consigo ler sua alma, sei lá.
– Colocou a mão na nuca dele, fazendo um carinho naquela região.

   Olhando para um ponto do quarto, Victor não tinha coragem de dizer nem fazer nada. Oras queria falar tudo, desabafar, mas logo lembrava da situação da esposa que acabara de chegar de viagem.

_Não tenho nada, Lu. Está tudo bem por aqui.
_Então por que não olha nos meus olhos enquanto fala?

   Rapidamente ele ergueu o rosto para encará-la, podia sentir a frieza nos olhos, Victor teria que disfarçar.

_Estou te olhando e te dizendo que não aconteceu nada
. – Beijou-lhe o rosto – Acho que ainda não estou acreditando que você está aqui.

   Puxou-a para deitar e ao apagar a luz do abajur tomou os lábios dela, só agora podia sentir todo o gosto que tanto esperou, as línguas moviam-se apressadamente, podia ouvir os gemidos dela querendo exceder a situação.

_Melhor irmos com calma.
– Afastou-se dela, acariciando o rosto. – Sentiu minha falta?
_Cada dia, cada hora. Eu achava as vezes que ia morrer de tanta saudade. Como te amo.

   Aninhou-se no peito dele, ficaram assim até boa parte da madrugada, apenas namorando. Sentindo o sono invadir, Victor virou-se para o lado oposto a Luciana, podia sentir a barriga dela tocando suas costas e nesse momento, sentiu um chute.

_Vih, tá acordado ainda?
_Sim. Ela chutou, não foi?

   Luciana ligou o abajur e sentou-se na cama. Victor se emocionava a cada movimento, às vezes cantava algo e recebia como resposta tantos outros chutes. Como se fossem marinheiros de primeira viagem, os dois riam sem parar e só conseguiram pegar no sono depois das cinco da manhã.

   Aquele sol de inverno, bom de ser aproveitado, mas debaixo das cobertas estava bem melhor para Luciana. Mexeu-se na cama e não achou Victor, levantou-se e em alguns minutos já estava no térreo, procurando por alguém. Geovana estava com Gabriela na varanda.

_Vejo que com a Gabi aqui a rotina de vocês muda, não é?
_Sim.
– Levantou-se com a neta nos braços – E não faço a mínima questão de ir para o trabalho.
_Onde está o Victor?
_Victor foi na frente para a capital, ira se encontrar com vocês lá.

   Sentaram em silêncio, apenas os gritinhos finos de Gabriela que tentava sibilar algumas palavras.

_Ainda acho que Victor esconde algo de mim.
_Quer um conselho de mulher experiente? Não queira saber o que ele esconde. Às vezes, é melhor nem mexer na ferida.
_Não posso viver em um ambiente onde ele quase não me olha. Está ficando tenso.
_Esqueça isso, Lucy. Aproveita o agora.
_Vou tentar... Vou tentar.
– Falou olhando para um ponto na varanda, estava pensativa.        

Continua...

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