terça-feira, 19 de agosto de 2014

Cap. 33


And even know your friends tell me
(E mesmo que os seus amigos me digam)
You're doing fine
(Que você está bem)
Are you somewhere feeling lonely
(Você está em algum lugar se sentindo sozinha
)

                                       (Amnésia – 5 Second Off Summer)

   Luciana acompanhou os passos de Victor até a saída daquele quarto. A porta se fechou e com ela lá se fora tudo de bom o que vivera. Agarrou-se aos lençóis e desabou, entregando toda a sua dor naquele choro, em cada soluço. Pior de tudo era que o amava e já não sabia o porquê fora tão bruta com ele, deveria ter escutado a versão dele, o porquê aquilo tudo acontecera, mas em sua mente como um replay, a voz dele ecoava: “Eu já cometi uma loucura na minha vida ao ficar com Luciana...”

   Precisava desabafar com alguém ou ficaria louca. Enquanto discava o numero e aguardava a chamada ser atendida, olhou para a janela, a aurora se formava, estava amanhecendo e cada vez mais Victor estava longe daquela casa.

_Luciana? Aconteceu algo?
_Mãe...

    Por mais que quisesse, não conseguia cessar o choro. Geovana aguardou pacientemente enquanto ouvia os soluços dela.

_Eu e Victor...

   Do jeito que estava – Sentada na cama – Apenas fechou os olhos já imaginando o que acontecera.

_Lucy, o que aconteceu?
_Ele me traiu mãe.
– Falou de uma vez só enquanto o choro voltava – E isso tá doendo muito.

   Pela voz de Luciana, a mãe sabia bem que ela estava arrasada.

_Querida, tenha calma.
_Não consigo mãe. Está doendo muito
_Lembre-se que está grávida.
_Mãe, acho que vou enlouquecer. Ele não me ama.
_Por causa de uma traição? Por Deus, Lucy! Deve haver alguma explicação.

   Luciana ficou mais alguns segundos chorando, após soltar o ar pesadamente, sussurrou:

_Eu não estou bem. Tenho que desligar.

   Aquele gesto preocupou Geovana, sua filha poderia cair em depressão mais uma vez. Levantou-se rapidamente, pegou a mala, Lucas estava chegando de mais uma madrugada de plantão:

_Vai onde?
_Luciana e o Victor se separaram. Sinto que ela precisa de mim.
_Geovana porque não espera o dia amanhecer para viajar?
_Porque agora ela precisa de mim.
– Colocou algumas roupas na mala. – Faça um favor, ligue para minha recepcionista e desmarque todos os pacientes que tinha para hoje.
_Para ir tão rapidamente para Minas é porque a Luciana está em emergência mesmo.
_Apenas estou fazendo o que eu não fiz no passado.
– Fechou a mala – E você se cuide, qualquer coisa te ligo.

***


   Luciana sentiu-se fraca após desligar o telefone, sentiu que não achou apoio em Geovana. Deitou-se e ficou ali, pensando a todo o momento na discussão que tivera com Victor. Voltou a chorar baixinho, já não sentia fome, nem vontade de fazer nada, apenas ficar ali se sentindo culpada por tudo o que fizera.

***


   Leo mal chegara em casa e sua campainha tocou. Estranhou. Agora estava em um apartamento, algumas vezes Clarisse vinha para Uberlândia e assim ficavam todo o momento ali, matando a saudade. Achou que fosse ela ao abrir a porta todo sorridente, a expressão mudou quando viu que era Victor, ele estava cabisbaixo com a mala de viagem em mãos. Ergueu o olhar para o irmão e sorriu fraco:

_Tem vaga pra mais um aí?
_Vitor? Não faz nem meia hora que nos despedimos. O que aconteceu nego véio?
– Puxou-o para entrar e juntos sentaram no sofá. – Já sei, você e a Lu discutiram.

   Victor baixou a cabeça, fez um gesto negativo com a cabeça:

_Nos separamos. Agora é pra valer.
– Apenas levantou os olhos para segurar as lagrimas que queriam cair.
_Ah (Sorriu irônico) Você e a Lu sempre discutem e depois estão aí se pegando. Mais tarde você volta lá e conversa com ela. – Bateu no ombro do irmão.
_Não. Luciana nunca vai me perdoar... Eu fiz uma besteira.

   Relatou tudo o que aconteceu naquele dia, as fotos e a discussão de quando chegara em casa naquela madrugada. Leo ficou boquiaberto, não acreditando no que estava ouvindo. Victor era um exemplo para ele, principalmente agora que estava casado, vivendo sua vida ao lado da esposa e com a filha.

_Ela me deu esse CD, mas nem ousei em ouvi-lo.
_Precisamos saber o que há nele
– Pegou o CD, colocando no aparelho que estava na sala. – Isso é, se você me autorizar.
_Vai em frente.

   Era a conversa que Victor tivera com Katherine, quando ela se declarou para ele.

_Eu sabia que aquela mulher não era coisa boa, Vitor.
– Levantou-se irritado – Ta na cara que ela fez isso.
_Isso não é a cara da Kate. Ela não iria fazer tamanha baixaria
_As aparências enganam, nego véio. Presta atenção: Ela gravou a conversa de vocês.

   Victor ficou alguns minutos em silencio. Agora seu coração doía por saber que confiou cegamente nas palavras dela. Sem pensar em mais nada, discou o numero, Katherine atendeu com a voz sonolenta:

_Victor?
_Precisamos conversar.
_Calma.
– Sentou-se na cama – Sobre o que? E qual o assunto?
_Como você teve coragem de fazer isso?
_Isso o que?... Victor quer ir direto ao assunto?
_Você contratou alguém para tirar fotos nossas enquanto eu saia da sua casa. Como se não bastasse, gravou nossas conversas... Sinceramente, estou decepcionado com você, Kate.
_Fotos?... Conversa? Do que esta falando?
_Vai se ferrar, Kate! Não paga de boba comigo. Eu confiei cegamente em você... E você não satisfeita mandou tudo para Luciana.

   Katherine ficou muda por segundos, tentando digerir cada palavra.

_Victor... Como pode desconfiar de mim? Eu não sei de nada. Eu juro Victor.
_Não jure em vão.
_Quer saber? Vai se ferrar você! Estou com vários problemas na minha vida pra ter que mendigar desculpas sua. Estou falando que não fui eu e que nesse momento estou preocupada com minha mãe que está em uma cama de um hospital, em coma e cada telefonema me dá medo. (Chorou) Acha que tenho tempo pra me preocupar com coisas pequenas como acabar o seu casamento com a Luciana?

   Enquanto Katherine soluçava, Victor ficou inerte. Quem poderia ter enviado todo aquele arquivo a sua esposa?

_Se não foi você, quem mais poderia ser?
_Eu não sei... E que conversa é essa?
_Nossa conversa na ligação que você fez enquanto estava desesperada me pedindo uma chance.
_Eu te juro pela minha mãe que está naquela droga de hospital que não fui eu.
_Esquece. Procura se acalmar.

   Ficaram em silencio mais uma vez, imaginando como aquela conversa teria vazado.

_Emprestou seu celular a mais alguém?
_Não... Espera, ele foi pra assistência na época. Mas... Foi antes de aquilo acontecer.
_Grampearam seu telefone, Kate.
_Impossível, Victor. Faz um favor, me liga depois porque tenho que me trocar e ir ao hospital, ok?
_Tudo bem, desculpa por tudo.
_Eu que te peço desculpas. Boa sorte com a Luciana, se for preciso eu ligo para ela falando que a culpa foi toda minha e não sua.
_Esquece, vá ver sua mãe. Abraços.

  Desligou olhando para Leo, que esperava pela resposta.

_Não foi ela.
– Sentou-se novamente no sofá.
_Como você sabe? Ela pode está mentindo pra você.
_Estou falando que não foi ela. Eu sinto isso, Leo. Conheço a Kate o suficiente para saber que se fosse ela, mesmo mentindo, eu sentiria.
_Tá, se não foi ela quem mais pode ter feito isso?
_Sei lá. Alguém que quer ver meu casamento acabado.

  Leo sentou ao lado dele, sem encará-lo:

_Eu ainda acho que foi ela.
_Leo, eu tenho certeza absoluta que não foi.
_Ok, fique com sua opinião, melhor encerrarmos esse assunto
– Levantou-se – Vou me deitar. Vai pro quarto de hospedes.
_Valeu.

   Só naquele momento Victor pode sentir que sua cabeça estava prestes a explodir de tamanha dor. Foi tudo tão rápido e em algumas horas lá estava ele... Sem Luciana, em um quarto de hospedes do apartamento do seu irmão.

   Não conseguiu dormir assim que se deitou, ficou encarando o teto, procurando em sua mente alguma pista de alguém que fora capaz de cometer tamanha loucura ao ter enviado esses arquivos. Pensou em Luciana, como ela estaria naquele momento? Arrasada assim como ele ou tranqüila do que fizera? Gabriela não saia dos seus pensamentos, agora sua pequena iria sentir o gosto amargo de conviver nesse conflito de pais separados.

   Mais uma vez pensou em Kate, mas como um flash, lembrou-se da noite em que Helen foi até seu camarim e a amiga estava por lá. As palavras que ela dissera antes dele partir ficaram gravadas em sua memória:

“Apenas observo cada passo seu, Victor. Cuidado para não pisar em falso...”

   Era essa a peça chave!

   Sentou-se rapidamente na cama. Helen estava todo tempo no seu pé. Ouviu barulhos na cozinha e ao ver o relógio, já passava das seis e meia. Em passos largos foi até onde Leo estava:

_Já sei quem foi.
_Bom dia pra você. Dormiu bem?
_Sem ironias, Leo.
_Foi só pra descontrair o ambiente, seu besta. Fala aí, quem você acha que deve ter feito isso?
_Helen
– Sentou-se a mesa.
_Helen? Essa mulher ainda está no seu pé?
– Levantou-se para lavar o copo que sujou.
_Lembra que no dia que Kate foi ao nosso camarim, a Helen abriu nosso show? Então, antes de sair ela disse que eu tinha que me preocupar com cada passo que dou. – Bateu na mesa – Tá na cara que foi ela.
_E agora, vai contar para Luciana?
_Eu? Não. Luciana estava ciente do que estava fazendo ao me despejar da casa em que moramos. Sequer me deu uma chance para esclarecer o ocorrido.
– Baixou a cabeça – Eu preciso de um tempo para pensar.
_Vai ficar bem, nego véio?
– Victor fez um gesto positivo com a cabeça – Ok, tô indo buscar as crianças. Hoje é dia de ficar com eles.

   Ao ver Leo ir embora parou para pensar, a partir daquele dia sua vida também seria assim. Iria buscar Gabriela para passar o dia consigo e no fim da tarde levá-la para casa. Suspirou triste, tudo poderia ser diferente, talvez se ele não tivesse cometido esse deslize, agora estaria ao lado da sua esposa, dividindo o mesmo lençol.

***


   Geovana conseguiu um vôo para Uberlândia ainda pela manhã. Chegou em solos Mineiro e logo tomou um táxi, chegando na casa e sendo recepcionada por Lourdes que com seu olhar terno lhe passou segurança:

_Onde está Lucy?
_Do quarto não saiu. Pode subir.

   Colocou a mala ali na entrada e subiu, bateu na porta de leve e após receber autorização foi entrando em passos lentos. As cortinas estavam fechadas, o cômodo com uma meia luz, Luciana agarrada aos lençóis chorando, resfolegando.

_Lucy.
– Sussurrou.

   Como uma criança, Luciana ergueu o olhar e ao ver Geovana ali não segurou mais, chorou alto e foi correndo abraçar a mãe:

_Acabou mãe... Ele me deixou.
_Shhh.
– Alisava as costas da filha – Está tudo bem meu amor, agora estou aqui.

   Colocou a filha deitada na cama, acariciando o cabelo dela esperou que ela jogasse tudo para fora naquele choro, Luciana chorava como nunca, soluçava e buscava o ar que lhe faltava. Lourdes entrou com uma xícara de chá em mãos, deixando ali, sem falar nada. Aos poucos Luciana foi se conformando, parando com os soluços e aproveitando a dor, contou tudo o que soubera a mãe:

_Enfim... Nesse exato momento quero matar o Victor.
_Sinceramente, eu não sei o que dizer. Ainda estou me perguntando como um homem que ama tanto a esposa foi capaz disso.
_E ele ainda veio me culpar
– Sorriu incrédula
_Victor deve ter algum argumento, minha filha.
_Se tem eu não sei. Só acho que fiz o certo.

   Permaneceram em silêncio enquanto Luciana tomava seu chá e olhava para um ponto do quarto. Estava pensativa, com raiva; de repente, mudou da água pro vinho e sentiu saudades dele, começou a chorar.

_Eu quero aquele idiota de volta mãe.
– Abraçou Geovana como uma criança em meio ao choro
_Porque não o pede para voltar?
_Não
– Limpou uma lagrima do rosto – Ele merece um castigo pelo o que fez.
_Então descansa. Vou ficar aqui por hoje.

   Deitou-se do lado da filha, ficou fazendo carinhos até vê-la fechar os olhos e vencer o cansaço.

***



   Victor e Leo foram para a fazenda naquela manhã, Matheus e Antonio gostavam da companhia do tio, que por diversos motivos nunca tinha tempo para eles antes. Enquanto via Matheus andar a cavalo sob os olhos atentos de Leo, ficou pensativo:

_Desabafa nego véio.
_Ah
– Baixou a cabeça – Tô com saudades da Gabi.
_E porque não vai buscá-la? Aproveite e converse com Luciana.
_Não tenho coragem. Acho que não sei como reagir diante de uma situação assim.

   Após alguns minutos de silêncio, Leo sussurrou:

_Eu faço isso por você. Vou buscar sua pequena, aproveito e pergunto a história para Luciana.
_Pelo amor de Deus, Leo. Não fala nada! Quero esquecer esse assunto.
_Ok. Vou nessa.

   Levou Antonio consigo enquanto Victor ficou observando o sobrinho mais velho empolgado em seu cavalo. Sorriu ao ver a situação atual dos dois, Leo e ele, solteiros. Sentiu uma tristeza invadir seu peito, sussurrou:

_Ai ai Luciana, será que você vai me perdoar um dia?

Continua...

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