segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Cap. 39



    Luciana acabou dormindo naquela mesma posição desde que Victor saíra. Assim que abriu os olhos, passou eles por todo o cômodo, ele não tinha chego. Levantou-se e em passos lentos andou pela casa, se assustou ao olhar o relógio da cozinha que marcava 4h30. Esperou o dia clarear para ligar para a fazenda, lá informaram que Victor tinha voltado para a cidade naquela noite mesmo.

    Luciana se desesperou e sentou na cadeira, algo tinha acontecido, Victor não chegou em casa. Sem pensar em mais nada, pegou as chaves do seu carro e pegou o caminho da estrada até a fazenda, durante o trajeto, viu o carro dele ali, no acostamento, sentido como de quem ia para a cidade. Fez o retorno e parou um pouco atrás do triangulo onde ele deixara, seu coração batia descompassado e suas pernas fraquejavam, mas nada a impedia de ir até lá. Seu medo maior era achar Victor dentro do veículo, as lagrimas já caiam livremente.

   Vasculhou o carro e não achou Victor por ali, olhou para baixo o celular dele estava próximo a porta do carro, agachou-se e analisou o celular, discou para Leo e mais uma vez a rede da operadora de telefonia estava indisponível. Não era muito longe da fazenda, pegou seu carro e foi para Hortense, entrou e foi correndo para o telefone, ligou para Leo.

_Alô?
_Leo, me ajuda...
– Sua fala já estava cortada pelos soluços.
_Lu? Calma, o que houve? Está bem?
_Seu irmão... O Victor...

    Não teve mais como falar, chorou, a esposa do caseiro estava ali e pegou o telefone, explicou tudo a Leo. Em alguns minutos ele estava lá na fazenda, com o rosto pálido.

_O que aconteceu Luciana?
_Leo!

   O abraçou forte e chorou. Estava se sentindo fraca.

_Fala pra mim Luciana, o que está acontecendo. Prometo que serei forte.
_Eu não sei Leo... Ontem o Victor saiu de lá de casa falando que viria pra cá, ele não voltou pra casa ontem e só percebi agora de manhã... Achei o carro dele no acostamento... Eu to com medo Leo!

O abraçou mais uma vez e juntos choraram por alguns minutos.

_Vamos ao local onde está o carro. Vou ligar para Policia.

   Leo preferiu ir no carro dele, durante o caminho, Luciana explicava varias vezes.

   Desceram do carro, Leo analisou tudo e esperou a policia aparecer. Ao chegar foram logo isolando o local, entraram no veículo, pegaram alguns pertences, não esqueceram de pedir que Luciana contasse tudo, já se sentindo fraca, ela voltou para o carro do cunhado e ficou por lá. Estava se sentindo culpada, se estivesse ao lado do marido talvez nada disso acontecesse, foi arrancada dos pensamentos.

_O policial falou que vão rebocarem o carro e levar pra delegacia. Pediu que voltássemos pra casa.
_O que eles acham?
_Tudo leva a crer que seja seqüestro
– Baixou a cabeça e ouviu o choro de Luciana.
_Eu só quero o Victor, quero ele de novo do meu lado...
_Eu sei, vou te levar pra casa.

   Voltaram para casa , Lourdes já estava aflita. Ao acordar não tinha visto o carro de Luciana e Victor, a tensão aumentou.

_Graças ao senhor bom Deus você apareceu! Onde estava? – Percebeu a presença de Leo. – Bom dia Leo, fiz um café da manhã reforçado, venha, sente-se.
_Valeu Lourdes, mas só vim trazer a Lu, tô sem fome.

   O que a empregada estava prevendo dias antes, estava acontecendo agora, bastou olhar para o rosto dos dois.

_Aconteceu não é?
_O que Lourdes?
_O Vitor... Ele...
– Colocou as mãos na boca. – Santo Deus!

   Abraçou Luciana que já chorava feito uma criança. Leo se segurou ali na frente dela e saiu, até o caminho do carro chorou, não sabia onde seu irmão estava e isso estava acontecendo justamente quando a vida dele estava revirada. Lourdes gritou pelo seu nome, fazendo-o virar e ir em direção a ela.

_Não sei o que faço. A Luciana... Ela precisa de alguém perto dela.
_Vou falar com a Tati, ela vem pra cá.
_Ela precisa ir pra alguma emergência Leo, algo pode acontecer com ela.

   Ficou pensativo pensando na cunhada.

_Segura as pontas aí, vou ao meu apartamento, tomo um banho e volto pra cá.

   O caminho para casa não poderia ter sido pior, como algo martelando em sua mente, Leo imaginava os bons momentos com Victor, desde pequenos, até os dias atuais. Apertou as mãos no volante e segurou, decidindo ir até a casa onde Tatianna e seus filhos moravam. Ao entrar parecia que tinha ido ali há séculos, olhou para a ex-esposa, começou a chorar.

_Leo, o que houve? – Assustou-se  
_O Vitor... Ele sumiu Tatianna.

   Ficaram abraçados no meio da cozinha, Matheus apareceu esfregando o olho ainda com sono.

_Pai.

   Leo segurou as lagrimas e limpou as que estavam correndo em seu rosto.

_E aí garotão.
_Tava chorando?

_Matheus, volta pro teu quarto.
– Tatianna ordenou. Vendo o menino sair voltou a olhar para Leo – senta Leo.

   Mais uma vez ele chorou, após se sentir calmo, falou brevemente com ela sobre o que acontecera.

_Mas não tem nenhuma noticia, ligaram pra ele?
_Não, ele deixou o celular cair perto do carro ou jogou para nos deixar uma pista. Estou com medo, pra piorar a Luciana está mal de saúde. Nas viagens Vitor me falava que eles estavam mal no casamento e que Gabi chorava muito sentindo falta da mãe.

   Seu celular tocou e ele atendeu.

_Leo, vem pra cá rápido porque depois que Luciana atendeu uma ligação não consegue falar, ela precisa ser levada pro hospital!

   Deixou Tatianna e foi rápido para a casa de Luciana. Ao entrar percebeu que ela estava mole.

_Luciana, quem ligou pra você?
_Leo
– O abraçou – Eles... Ligaram avisando que mais tarde iriam dizer o valor do resgate... Eu só quero Victor de volta.

   Chorou alto, soluçando foi se jogando no sofá. De repente, um silencio.

_Luciana... Fala comigo! – Leo tentava reanimá-la.

   Colocou a cunhada nos braços e levou para o carro, não soube como, mas em menos de dez minutos já estava entrando no hospital com ela nos braços. Enquanto levaram-na para a enfermaria, ele preencheu a ficha dela. Seu celular tocou, sua mãe. Respirou fundo antes de atender.

_Oi mãe.
_Meu filho, o que está acontecendo? Todos os sites estão falando do Vitor, a TV não para de aparecer noticias, o que aconteceu com meu filho?! – Ela queria chorar, Leo percebera isso.
_Calma mãe, estou aqui na emergência do hospital porque a Luciana desmaiou. Olha, vem pra cá pra Uberlândia, só isso que te peço.

   Desligou o celular chorando. Marisa havia viajado para São Paulo com a filha e não pensou duas vezes em voltar.

***



   Ao entrar dentro daquele veículo, ordenaram que Victor ficasse de cabeça baixa, assustado ele fazia tudo o que lhe mandavam. Após intermináveis minutos, entraram em uma estrada de barro e logo o veículo foi perdendo velocidade.

_Desce!

   Sendo segurando por dois dos quatros rapazes, Victor entrou em uma casa, no meio do mato, acabada, talvez abandonada. Jogaram-no em um quarto, agora estavam apontando a arma para ele, que olhou assustado:

_Reza pra pagarem teu resgate.

   Saíram deixando-o deitado no colchão. Victor não parava de pensar em Luciana, ela estava em depressão e após isso sabia que só iria piorar a situação em sua casa, Gabriela também estava em um momento em que estava muito apegada ao pai, estava sempre chorando cada vez que o via partir para suas viagens. Lembrou da ultima cena que tivera com ela, estava sentada no tapete com seus brinquedos e Lourdes do seu lado:

_O Papai já volta.
– Agachou-se para beijar o topo da cabeça dela

...

   Fez um meio riso ao choro, poderia ter deixado para ir a fazenda no dia seguinte e agora estaria com sua filha ou com Luciana deitada em seu peito e chorando. Não soube o que deu naquele momento, mas acabou fechando os olhos e só voltou a abri-los quando o dia amanheceu, a porta foi aberta, mas quem estava entrando no quarto foi uma jovem com uma bandeja em suas mãos.

_Seu café...
– Colocou em uma mesinha velha de madeira que estava ali, olhou para Victor. – Não tenha medo, só me preocupei com você. – Afastou-se ficando no cantinho do quarto.

   Victor sentiu seu estômago reclamar de fome, levantou-se e foi até a bandeja, parou para analisar a jovem: Era muito nova, seu rosto já mostrava o sofrimento e a expressão era cansada demais para sua idade.

_Como se chama?
_Não posso dizer.
_Entendo. Desculpe.

  Baixou a cabeça e voltou a comer.

_Lana.
– A Garota sussurrou – Já que sou obrigada a não falar meu nome, pode me chamar de Lana, é bonito esse nome.
_Quantos anos você tem?
_16

   Assustou-se com a idade da garota, pensou em Gabriela, quando sua filha tivesse essa idade não queria vê-la metida nessas coisas.

_É muito nova para já estar nessa vida.
_Vocês ricos tudo é fácil, mas vida de pobre a gente rala desde o inicio. Posso ser nova para você, mas já tenho um filho de dois anos.

   Quase ele engasgou-se no café que estava tomando, não tocara na comida e aquele líquido só o fez desistir de querer comer o resto, o café estava amargo e sem açúcar. Custou para acreditar que aquela garota já era mãe naquela idade, agora em seus olhos imaginava sua Gabriela, definitivamente não queria vê-la sendo mãe quando estivesse com dezesseis anos.

_Seu tempo acabou.

   Rapidamente, a moça tirou a bandeja e saiu do quarto. Victor deitou-se no colchão, mais uma vez pensando em sua família, sua mãe, como ela iria ficar quando soubesse? Todos iriam ajudar Luciana? Gabriela iria sentir falta dele. Só queria que o tempo voasse e agora a sua vida era preciosa. Ele nunca desejou tanto estar vivo e que levassem tudo dele, menos a família e a sua paz.

Continua...

Nenhum comentário:

Postar um comentário