quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Cap. 44




_Isso é um absurdo! – Leo esbravejou.

   Olhava para todos os lados, para cada rosto ali. Marisa e Paula estavam encolhidas, caladas, não querendo opinar muito.

Amaral: _Calma Leo, são apenas alguns fatos.
Leo: _Fatos sem fundamentos! Luciana jamais seria capaz de fazer tamanha barbaridade, conhecemos ela há anos.
Amaral: _Então me explique Leo: Como ela conseguiu falar com Victor naquela tarde? E porque ele não ligou para vocês? Como conseguiu um celular? A garota está morta e não tem como dizer o que houve, Victor prefere a lei do silêncio. Não quero pensar nisso, ela parece ser uma boa pessoa, mas estou apenas passando o que está acontecendo nas investigações.

   Leo calou-se, infelizmente eram perguntas que ele não sabia a resposta, não tinha argumentos convincentes, mas mediante a tudo estava firme e forte acreditando na versão de Luciana.

_Bom, já falei aqui o que está se passando nas investigações da policia, peço que criem forças caso Luciana tenha que ir depor novamente.

   O detetive saiu e Leo procurou o sofá para sentar, estava tremendo da cabeça aos pés. Marisa voltou a sala, fitando-o visivelmente séria:

_Precisava daquilo, Leo?
_Mãe, ele está querendo insinuar que Luciana está por trás disso tudo. É um absurdo!
_Desculpe meu filho, mas não será você gritando que iremos inocentar a Luciana, será com ações e fatos. Ela vai sair dessa, eu sei disso.

   Sem responder a mãe, Leo subiu para o quarto do casal, Luciana estava sentada na beira da cama, mais uma vez fitando Victor, que dormia perfeitamente.

_Parece que os calmantes o deixa mais relaxado. – Falou sentindo a presença dele no quarto.
_Mas chegará uma hora em que teremos que reduzir a dosagem.
_Eu sei disso. – Baixou a cabeça – E estarei firme e forte para ajudá-lo.
_Luciana, tem um minuto?
_Claro.

   Juntos saíram do quarto, não desceram para o andar inferior, ficaram ali no corredor mesmo.

_Como foi seu depoimento?
_Olha Leo. – Respirou fundo. – Foi tranqüilo, mas tem um detetive por lá que senti que não acreditava em nada do que eu falava.

   Leo precisava criar forças para falar sobre um assunto delicado. Iria ser difícil:

_No dia do seqüestro, como Vitor conseguiu ligar para você?
_Nem eu mesmo sei te dizer, Leo. Quando menos esperei, recebi a ligação que graças a ela conseguimos achar o cativeiro. Mas porque essa pergunta?
_Nada. Esquece.
_Está sabendo de algo, Leo?
_Não, imagina. Eu vou indo, ainda tenho que ligar para Clarisse. Tchau.

   Incrédula, Luciana despediu-se do cunhado e voltou para seu quarto. Victor estava acordado, suado, com algumas lagrimas nos olhos.

_Meu amor – Foi até ele, sentando na cama e o abraçando. – Teve mais um de seus pesadelos?

   Mesmo sem obter a resposta, Luciana ficou ali com ele, que a apertava naquele abraço. Queria desabafar, dizer que mais uma vez sonhara com Lana lhe implorando ajuda e como um filme a cena em que lhe seqüestraram passava repetidamente em sua cabeça a cada vez que acordava.

   Luciana deitou, levando-o consigo, fazia carinhos em todo o rosto dele:

_Sei que você não quer falar, até te entendo. – Soltou o ar que prendia nos pulmões e lhe afligia – Já passei por isso. Mas peço que quando quiser falar algo, que seja para mim e juntos vamos te ajudar.

   Victor olhava para Luciana, tão boa, abdicando de viver pra viver para ele. Queria falar algo, mas como sempre, sentia medo das suas palavras, sentia medo de encarar as pessoas, até seus familiares. Com sua esposa era diferente, nesses últimos dias ela estava do seu lado sempre, fazendo seu amor crescer mais e mais para com ela.

   No dia seguinte, Marisa bateu na porta do quarto, abriu e entrou junto com uma mulher, Victor lembrava daquele rosto, era uma das amigas de sua mãe.

_Meu filho, trouxe a Beatriz comigo. Você deve lembrar dela, Bia vai lhe ajudar.

   Rolando os olhos, Victor cumprimentou-a. Estava ficando estressado de ficar naquele quarto, porém não conseguia sair dele. Agora tinha medo até de circular pela casa, agradecia internamente quando Lourdes levava Gabriela para passar as tardes ali. Beatriz era psicóloga e ele já previa que aquela mulher ali era pra começar as sessões com ele. Quem sabe Bia o ajudaria a se soltar mais e logo de cara, quando Marisa os deixou sozinhos, ele sentiu que seria uma boa idéia. Juntos, iniciaram alguns assuntos, primeiro, falando de coisas do seu dia a dia, família, amigos, projetos para o futuro, mas nunca tocando no assunto do que acontecera com ele, estava recente demais.

***

    Os dias estavam se passando rapidamente, Victor já dialogava com Luciana e Marisa, algumas coisas que elas perguntavam. Dormia a base de remédio, acordava pela manhã sonolento, assustado, lembrando de Lana e de todo aquele inferno que vivera.

   Luciana não dormia direito, antes do sol aparecer já estava acordada na cama, encarando o teto, preocupada com Victor que dormia do seu lado. Tudo estava bem, mas era porque o próprio queria, ela sabia também que haveria dias cinzas e negros na vida dele, onde iria precisar do seu apoio. Ouviu ele sussurrar algo, chamar o nome de alguém e logo abrir os olhos; mais uma vez ela estava ali, tocando em seu ombro e oferecendo o sorriso mais perfeito como se nada tivesse acontecido na vida dos dois:

_Calma meu amor. Bom dia.

   Victor demorou alguns minutos para voltar a sua realidade, mas Luciana permanecia com o mesmo sorriso. Sorriu de lado, sem mostrar os dentes e tocou a mão dela:

_Bom dia.

   Olhava cada detalhe no rosto dela, ainda não conseguia tomar certos passos como beijar a boca, estava distante disso, mas em Luciana achava seu porto, sua paz, a calmaria que precisava apenas navegando naqueles olhos. Luciana olhou para o relógio, levantando-se em seguida e voltando com o seu café da manhã. Agora ele já caminhava até a varanda do quarto e por ali, via Gabriela com Marisa, no jardim.

_Hoje você tem mais uma sessão com Bia. Está preparado?
_Sim. Ela está me ajudando muito.
_Fico feliz.

   Não negava a ninguém o quanto aquelas sessões fora a melhor coisa na vida dele. Beatriz parecia entender sua dor, com ela conseguia expressar o que realmente estava passando e um dos medos era o de sair daquela casa, só de pensar seu coração batia descompassado. Após o belo café da manhã, deitou-se e com Luciana ficou assistindo algum filme para distrair. Olhou de esguelha, ela estava deitada do seu lado, a barriga estava linda. Timidamente, passou uma das mãos pelo ventre dela que de imediato assustou, mas um lindo sorriso se formou em seus lábios.

   Aquele carinho estava deixando Luciana calma, mais tranqüila, Victor estava mostrando com ações de que melhorara e muito. O momento família foi quebrado após ela ouvir a voz de Leo se exaltando no andar de baixo. Olhou para o marido, que já tremia e pelas as mãos frias, revelava o medo.  

_Fica aí, já volto.

   Desceu as escadas e achou Leo rodeado de alguns policiais. Estranhou, talvez fosse sobre algo que descobriram, soube que as investigações não pararam.

_Eu não vou deixar nenhum de vocês fazerem isso.
_Somos autoridades, Leonardo.

   Aproximou-se deles, uma mulher muito bem vestida olhou para ela. Sentiu um frio na barriga, até passou a mão por ela de tão nervosa. Leo assim que a viu correu até seu encontro, abraçando Luciana e não soltando-a mais.

_Eu não vou deixar, Lucy.

   Muito sem entender afastou-se dele:

_O que está acontecendo aqui? – Olhou para cada um ali.
_Você é Luciana Alves de Alcântara Chaves?
_Sim – Respondeu com receio.
_Luciana, sou a delegada Rosana e viemos lhe buscar. Você está presa temporariamente e responde a crimes de Formação de quadrilha e Extorsão seguida por Seqüestro do seu Marido, Vitor Chaves Zapalá Pimentel. Poderia nos acompanhar?

   Tantos pensamentos de uma só vez acometeu Luciana naquele milésimo de segundo. A dor fora tão forte em seu peito que já podia senti-lo arder por conta dos batimentos cardíacos, já não ouvia nada ao seu redor. Porque justo agora que Victor estava se recompondo, mostrando melhoria? Ela fazia parte do tratamento da recuperação dele e agora estava sendo julgada injustamente pelo o que levou seu marido aquela depressão. Lentamente olhou para Leo que estava falando algo para a delegada.

_Eu vou. Posso buscar minha bolsa lá em cima? – Sentiu as palavras serem cortadas enquanto saiam da sua boca.
_Pode sim. Só não tente nenhuma gracinha.

   Sem muito saber o que estava fazendo, viu seu corpo lhe guiar para aquelas escadas. Teria que se controlar para não chorar, não quando fosse ver sua filha, nem Victor. Achou-o entretido assistindo TV, seria um ultimo adeus? Ele olhou-a sorrindo, mas seus lábios desfizeram aquele gesto porque sentia preocupação no rosto de Luciana.

_O que houve?
_Nada. – Foi correndo para o closet. Voltando alguns segundos depois – Tenho uma emergência, já volto.

   Em passos lentos ela se aproximou dele, curvou-se para beijar-lhe a testa e encarar aqueles olhos castanhos pela ultima vez.

_Luciana... O que está acontecendo?
_Nada. – Suas lagrimas entregavam – Só estou emotiva hoje. Te amo, tá?

   Não esperou nenhuma resposta, saiu sem olhar para trás. Desceu as escadas rapidamente e mais uma vez olhou para Leo que chorava.

_Cuida deles por mim? Não fale nada para Victor.
_Lucy... Eu vou te tirar dessa.
_Eu sei. Tenho que ir.

   Acompanhada pelos policiais, Luciana se foi daquela casa, entregou-se ao choro quando entrou no veículo. Sua mãe jamais queria ver uma cena dessa, sua filha entrando em uma viatura policial... Mas Geovana agora estava morta, não iria ver mais nada. “Menos mal”, pensou ela.  

***

   Leo se desesperou ao ver Luciana partir, colocou as mãos na cabeça e ligou para Marisa, que havia saído. Talvez o destino estivesse brincando consigo, porque minutos após a partida da cunhada, Tatianna apareceu ali.

_Leo? – O abraçou quando viu que chorava – O que aconteceu?
_Tati... A Luciana. Ela foi presa... Injustamente!
_Calma. Me explica isso!

   Sentaram no sofá, ele explicou com mais calma o que aconteceu.

_Santo Deus. – colocou a mão na boca.
_Eu vou providenciar urgente um advogado.
_Espera... O Igor, marido da Carol. Ele é advogado e pode ajudar. Quando a Luciana teve que responder aquele processo, foi ele que arranjou um ótimo advogado. Eu ligo pra ela.

   Sacou o celular e fez a ligação, finalizou com muitos agradecimentos.

_E aí? – Perguntou ansioso
_O Igor vai ligar para o mesmo advogado que ajudou Luciana. Eles estão indo para a delegacia.
_Então vamos. – Pegou na mão dela, que evitou esse contato.
_Vou ficar Leo. O Vitor vai estranhar a casa em silencio. Depois tem a Gabi, eu fico tomando conta dela, se puder até levo para a minha casa.
_Obrigado Tati.

   Sem muito pensar, Leo seguiu rapidamente para a delegacia, achando Carol acompanhada de um rapaz, ambos estavam sérios e assustados. Cumprimentou os dois.

_Leo, o Igor acabou de me ligar. Advinha quem está a frente da investigação? O detetive Moreira... Moreira é ninguém mais, ninguém menos que sobrinho da Marilda. Esse nome te faz lembrar algo?

   Leo ficou confuso, tentando lembrar onde ouvira esse nome. Após muito pensar, fez um gesto negativo com a cabeça.

_Marilda é a Mãe da Gabriela, a falecida por quem Luciana respondeu por processo de homicídio. Aquela gestante que morreu na sala de cirurgia enquanto dava a luz. – O advogado explicou


   Agora tudo estava se encaixando. O tal detetive que Luciana falara era ele, Moreira queria acabar com a vida de Luciana quem sabe a mando de Marilda.

Continua... 

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