segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Cap. 46




   Não foi preciso ouvir para Victor saber o que Michael tinha sussurrado a Luciana. Sentiu raiva, vontade de socá-lo, até chegou a cerrar os punhos, mas ao ver que sua esposa precisava de si, deixou aquela raiva para lá.


        Victor’s POV On

    
   A todo instante olhava para Michael, que estava ocupado junto com a equipe médica. Às vezes pensava se era merecedor desse amor de Luciana, o seu amigo de profissão que a amava tinha uma vida normal a oferecer para ela, era perfeito, não tinha problemas ou aparentava não ter, não colocaria a sua vida em risco como eu coloquei. Mas eu sabia que ela me amava e que surgissem tantos outros caras ao seu redor, não importava! Era a mim que ela clamava cada vez que nos amávamos. Rapidamente em minha mente veio Kate, quando eu traí minha esposa com ela. Sentia-me o pior dos cafajestes diante da minha esposa que agora estava olhando para mim, chorando, estava nervosa porque nunca passara por isso.

   Segurando sua mão, eu encostei meu rosto ao seu e cantarolei algo para ela relaxar, Luciana estava tensa, qualquer um podia sentir isso. Estávamos muito ansiosos e loucos que aquele parto acabasse logo para ouvirmos o choro da nossa pequena Mariana. Só queria levá-las para minha casa e tentar sermos uma família calma e feliz, longe da maldade do mundo.

_Vai dar tudo certo, Lu. Logo a Mariana nasce e tenho certeza que ela vai estar aqui, quebrando esse silêncio com seu choro.

   Assentindo com a cabeça, Luciana sorriu e voltou a chorar. Ficava encarando o teto, lembrando de algo, sua expressão mudava e por um minuto fiquei com medo de perder aquela mulher ali, na sala de cirurgia. Droga! Era para passar conforto para ela e nem isso eu estava conseguindo fazer. Precisava dos meus comprimidos, estava dependente deles, não viveria sem.

_Lucy, te amo muito. Fica acordada. – Apertei suas mãos.

   Às vezes Luciana fechava os olhos vagarosamente, me deixando em estado de ansiedade, com medo de ali ser o fim. Eu não poderia perder essa mulher, ela era meu tudo, minha vida completa. Ouvimos algumas conversas entre os enfermeiros e em seguida... A sala perdeu todo o silêncio porque um choro foi ouvido seguido de um grito... A minha filha estava nascendo e a emoção, era indescritível! Lembrei das poucas vezes em que acompanhei as idas de Luciana às consultas e ao ouvir o ecoar do coração da nossa filha eu chorava. Acontece que agora e emoção era mil vezes maior, já estava deixando as lagrimas caírem em meu rosto como cachoeira, um choro de alivio. Olhei para Luciana e lá estava ela... Chorando também, mas acho que pelo fato de ser a mãe, o choro era bem maior.

   Aqueles poucos segundos em que esperávamos que trouxessem nossa pequena para vermos eram intermináveis. Olhávamos para todos os lados em busca de algo e em seguida uma mulher aproximou-se com um ser tão pequenino enrolado em um manto verde do hospital, era nossa pequena Mariana!

_Mamãe... Sua filha está aqui.

   Olhava cada detalhe ali e ao ver que Luciana acalentou nossa menina em seus braços mais uma vez as lagrimas invadiram-me, curvei para também ver cada detalhe. Mariana foi cessando o choro aos poucos, sentia o calor que Luciana emanava, dos carinhos que ela fazia em sua cabecinha. Emoção maior foi quando eu coloquei meu dedo indicador em suas mãos pequenas e involuntariamente ela envolveu. Eu e Luciana nos olhamos enquanto chorávamos de emoção.

_Doutora, terei que levá-la para fazer exames.

   Partiu meu coração ver Mariana sendo arrancada dos braços de Luciana e o choro se tornar audível, meu coração ficou oprimido e agora meu choro era de tristeza. Quanto tempo duraria para ver minha menina de novo?

   Ouvi alguém pigarrear perto de mim e lá estava, Michael queria me dizer algo, rapidamente olhei para Luciana.

_O procedimento final, você terá que sair. Logo Luciana vai para o quarto e você poderá ficar com ela.

   Eu não queria sair de perto de Luciana, já tinham arrancado a nossa Mariana de perto, então porque Luciana iria sumir do meu campo de visão?

_Vai Victor. Vou ficar bem.

   Aproximei-me dela e mais uma vez chorando naquele dia, tirei a mascara que protegia boa parte do meu rosto e beijei-lhe os lábios, olhando profundamente para ela:

_Eu te amo, Lucy. Espero-te lá fora.
_Também te amo, Vih. Vai dar tudo certo.

   Ela sorriu para mim, mas sua voz estava cansada. Passei pela sala, em direção a porta, olhei para trás e segui meu caminho. Leo já estava acompanhado de Carol, Paula e minha Mãe. Todos olharam para mim como se pela minha expressão já esperassem pelo pior.

_E aí? – Leo me perguntou

    Diante das pessoas que mais amo na minha vida não consegui me segurar. Abri o sorriso mais largo que pude e entre lagrimas, ainda com a voz embargada, sussurrei:

_Nasceu! Minha filha é a coisa mais linda do universo.

   Senti abraços calorosos, porém, o da minha Mãe foi mais perfeito e especial. Ela sabia bem o que eu estava passando. Sentamos no corredor, falávamos animados:

_Com quantos quilos?
_Não sei Carol, só sei que nunca presenciei cena mais linda na minha vida. Depois dessa, só quando vi Gabi pela primeira vez e o meu casamento. – Olhei ao redor sentindo falta de alguém. – Onde está Gabriela?

_Tatianna está lá na sua casa, mas disse que mais tarde passa por aqui com ela.

   Estava tão feliz, esse nascimento de Mariana definitivamente me tirou daqueles pensamentos obscuro em que me sondavam enquanto eu estava preso no meu quarto. Agora era vida nova, Deus havia me dado uma chance de me reerguer e graças a Luciana, Leo e minha Mãe, eu saí dessa.

         Victor’s POV Off.



   Um medo tomou conta de Luciana quando Victor saiu, sentiu medo de ali ser seus últimos momentos da sua vida. A culpa não fora dela, só queria que todos soubessem. Sentiu seus olhos pesarem, porém, não queria fechá-los. Uma das enfermeiras lhe sorriu:

_Descansa Doutora, já estamos terminando.

   Sem conseguir controlar seus impulsos, fechou-os, voltou a abri-los lentamente, tentando recuperar seu campo de visão. Olhou ao redor, tantos os rostos felizes, algumas conversas baixas, seus ouvidos estavam tentando capturar algo. Alguém tocou sua mão:

_Hey.

   Aquela voz fora musica para seus ouvidos, Victor sorria como nunca, sua barba por fazer dava certo charme. Como um flash, lembrou-se que havia tido uma filha, abriu rapidamente os olhos, correndo-os pelo cômodo, achou um berço pequeno de vidro, lá estava sua Mariana, enrolada em um manto rosa, dormia tranquilamente. As lagrimas tomaram conta de si.

_Fiquei todo o momento olhando para ela. Nossa filha é linda demais.

    Marisa aproximou-se, chamando a atenção do restante da turma ao fazer isso, logo a cama estava rodeada de pessoas que para ela, eram importantes.

_Deveria descansar mais, Luciana. Depois que Mariana acordar, aí sim.
_Já dormir demais, Dona Marisa. Queria pegar minha filha.

   Com a ajuda da sogra e Victor, Luciana envolveu sua pequena. Chorou ao lembrar de tudo o que passou, Victor passou as mãos pelo seu cabelo.

_Vou ficar com você essa noite.
_Pode ir se quiser, Vih.
_Não vou conseguir dormir. – Curvou-se para fazer um carinho na filha – Quero ver cada detalhe da nossa pequena.

   Aos poucos as pessoas iam deixando o quarto de Luciana, Leo prometeu voltar naquela noite, iria descansar um pouco e resolver algumas coisas. A tarde fora tranqüila, a primeira mamada de Mariana foi uma emoção não só para ela, como também para Victor que acompanhava cada detalhe. No fim da tarde, ambos assistindo TV enquanto a pequena dormia tranquilamente, veio na mente de Luciana a sua mãe. Geovana se estivesse viva com certeza já estaria lá, do seu lado, lhe ajudando. Limpou algumas lágrimas teimosas, mas Victor percebeu:

_O que houve?
_Nada. Lembrei da minha mãe.

   Victor aproximou-se dela, abraçando-a de lado:

_Onde quer que ela esteja, está nos olhando e vendo que tudo está calmo agora.

   Naquele momento Victor também lembrara de Lana, da morte dela que presenciou. Teria que se libertar dessa dor, de tudo o que vivera, mas estava sendo impossível.

   Leo apareceu pela noite, acompanhado de Tatianna e Gabriela que curiosamente agarrou-se no pai e não parava de olhar para o berço.

Victor: _Está vendo? – A criança balançou a cabeça fazendo um gesto afirmativo – Ela é sua irmã, tão linda quanto você.

   Aproximou-se do berço e curvou o corpo para mostrar a Gabriela a mais nova integrante da família.

Luciana: _Será que ela vai ser ciumenta?
Tatianna: _Acho que não, Lucy.

Leo: _Aí Vitor, vamos tomar um café na cantina do hospital?

   Victor olhou para Luciana e para Mariana, que dormia tranquilamente. Estava com receio de deixá-las, medo maior de enfrentar as pessoas lá fora.

Tatianna: _Seria ótimo, posso aproveitar e ajudar a Luciana a tomar o banho.

   Ao lado do irmão, saiu. Seu corpo tremia assustado, as pessoas lhe olhavam tão fascinantes, dando os parabéns e ele baixou a cabeça, teria que relutar contra isso, iria conseguir.

   No quarto, Luciana olhou para Tatianna, ela estava um pouco receosa.

_Pegou carona com o Leo? Estão se acertando?
_Não. Nos encontramos aqui no hall do hospital. – Suspirou – Nos acertamos como ex, por causa dos meninos. Mas já dentro do elevador a caminho daqui, ele ligou para a tal da Clarisse. Vamos esquecer isso, venha.

   Ajudou Luciana a levantar-se, pedindo ajuda a enfermeira para fazer alguns procedimentos. Após deitar-se novamente, Luciana suspirou, olhou para Mariana e Gabriela que agora estava assistindo TV.

_Parece que tudo está voltando ao normal.
_Sim Lucy. Graças a Deus.

   Leo e Victor voltaram, ficaram conversando entre si para depois entrarem no papo de Tatianna e Luciana. Algumas vezes, Luciana sentia Leo e a ex-esposa se tratarem como se fossem casados, sorria internamente, sabia que eles iriam voltar. Aproveitou um momento que Victor ensinava Gabriela a mexer algo no celular e sussurrou para Leo:

_Vou continuar presa? Estou com medo.
_Falamos com o delegado. Agora pela tarde fui junto com o advogado e conseguimos o Hábeas Corpus.

   Luciana relaxou na cama e voltou a chorar, agradecendo a todos os Santos em que era devota. Ouviu a voz de Victor, estava alterada, ela pode perceber:

_Como assim você foi presa e ninguém me falou nada?
_Calma aí Nego Véio, foi só um desentendimento. Um detetive lá era sobrinho da Marilda e aí tentaram prender a Luciana.
_Prender pelo o que?
_Victor, esquece isso. – Luciana tentou cortar o assunto.
_E você, porque não me disse nada Luciana? Sabe que eu detesto mentiras.


   Victor deu as costas, colocou Gabriela nos braços e saiu porta a fora.     

Continua...

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