Não foi preciso ouvir para Victor saber o que Michael tinha sussurrado a Luciana. Sentiu raiva, vontade de socá-lo, até chegou a cerrar os punhos, mas ao ver que sua esposa precisava de si, deixou aquela raiva para lá.
Victor’s POV On
A todo instante olhava para Michael, que estava ocupado junto com a equipe médica. Às vezes pensava se era merecedor desse amor de Luciana, o seu amigo de profissão que a amava tinha uma vida normal a oferecer para ela, era perfeito, não tinha problemas ou aparentava não ter, não colocaria a sua vida em risco como eu coloquei. Mas eu sabia que ela me amava e que surgissem tantos outros caras ao seu redor, não importava! Era a mim que ela clamava cada vez que nos amávamos. Rapidamente em minha mente veio Kate, quando eu traí minha esposa com ela. Sentia-me o pior dos cafajestes diante da minha esposa que agora estava olhando para mim, chorando, estava nervosa porque nunca passara por isso.
Segurando sua mão, eu encostei meu rosto ao
seu e cantarolei algo para ela relaxar, Luciana estava tensa, qualquer um podia
sentir isso. Estávamos muito ansiosos e loucos que aquele parto acabasse logo
para ouvirmos o choro da nossa pequena Mariana. Só queria levá-las para minha
casa e tentar sermos uma família calma e feliz, longe da maldade do mundo.
_Vai dar tudo certo, Lu. Logo a Mariana nasce
e tenho certeza que ela vai estar aqui, quebrando esse silêncio com seu choro.
Assentindo com a cabeça, Luciana sorriu e
voltou a chorar. Ficava encarando o teto, lembrando de algo, sua expressão
mudava e por um minuto fiquei com medo de perder aquela mulher ali, na sala de
cirurgia. Droga! Era para passar conforto para ela e nem isso eu estava
conseguindo fazer. Precisava dos meus comprimidos, estava dependente deles, não
viveria sem.
_Lucy, te amo muito. Fica acordada. –
Apertei suas mãos.
Às vezes Luciana fechava os olhos
vagarosamente, me deixando em estado de ansiedade, com medo de ali ser o fim.
Eu não poderia perder essa mulher, ela era meu tudo, minha vida completa.
Ouvimos algumas conversas entre os enfermeiros e em seguida... A sala perdeu
todo o silêncio porque um choro foi ouvido seguido de um grito... A minha filha
estava nascendo e a emoção, era indescritível! Lembrei das poucas vezes em que
acompanhei as idas de Luciana às consultas e ao ouvir o ecoar do coração da
nossa filha eu chorava. Acontece que agora e emoção era mil vezes maior, já
estava deixando as lagrimas caírem em meu rosto como cachoeira, um choro de
alivio. Olhei para Luciana e lá estava ela... Chorando também, mas acho que
pelo fato de ser a mãe, o choro era bem maior.
Aqueles poucos segundos em que esperávamos que
trouxessem nossa pequena para vermos eram intermináveis. Olhávamos para todos
os lados em busca de algo e em seguida uma mulher aproximou-se com um ser tão
pequenino enrolado em um manto verde do hospital, era nossa pequena Mariana!
_Mamãe... Sua filha está aqui.
Olhava cada detalhe ali e ao ver que Luciana
acalentou nossa menina em seus braços mais uma vez as lagrimas invadiram-me,
curvei para também ver cada detalhe. Mariana foi cessando o choro aos poucos,
sentia o calor que Luciana emanava, dos carinhos que ela fazia em sua
cabecinha. Emoção maior foi quando eu coloquei meu dedo indicador em suas mãos
pequenas e involuntariamente ela envolveu. Eu e Luciana nos olhamos enquanto chorávamos
de emoção.
_Doutora, terei que levá-la para fazer
exames.
Partiu meu coração ver Mariana sendo
arrancada dos braços de Luciana e o choro se tornar audível, meu coração ficou
oprimido e agora meu choro era de tristeza. Quanto tempo duraria para ver minha
menina de novo?
Ouvi alguém pigarrear perto de mim e lá
estava, Michael queria me dizer algo, rapidamente olhei para Luciana.
_O procedimento final, você terá que sair.
Logo Luciana vai para o quarto e você poderá ficar com ela.
Eu não queria sair de perto de Luciana, já
tinham arrancado a nossa Mariana de perto, então porque Luciana iria sumir do
meu campo de visão?
_Vai Victor. Vou ficar bem.
Aproximei-me dela e mais uma vez chorando
naquele dia, tirei a mascara que protegia boa parte do meu rosto e beijei-lhe
os lábios, olhando profundamente para ela:
_Eu te amo, Lucy. Espero-te lá fora.
_Também te amo, Vih. Vai dar tudo certo.
Ela sorriu para mim, mas sua voz estava
cansada. Passei pela sala, em direção a porta, olhei para trás e segui meu
caminho. Leo já estava acompanhado de Carol, Paula e minha Mãe. Todos olharam
para mim como se pela minha expressão já esperassem pelo pior.
_E aí? – Leo me perguntou
Diante das pessoas que mais amo na minha
vida não consegui me segurar. Abri o sorriso mais largo que pude e entre
lagrimas, ainda com a voz embargada, sussurrei:
_Nasceu! Minha filha é a coisa mais linda do
universo.
Senti abraços calorosos, porém, o da minha Mãe
foi mais perfeito e especial. Ela sabia bem o que eu estava passando. Sentamos
no corredor, falávamos animados:
_Com quantos quilos?
_Não sei Carol, só sei que nunca presenciei
cena mais linda na minha vida. Depois dessa, só quando vi Gabi pela primeira
vez e o meu casamento. – Olhei ao redor sentindo falta de alguém. – Onde está
Gabriela?
_Tatianna está lá na sua casa, mas disse que
mais tarde passa por aqui com ela.
Estava tão feliz, esse nascimento de Mariana
definitivamente me tirou daqueles pensamentos obscuro em que me sondavam
enquanto eu estava preso no meu quarto. Agora era vida nova, Deus havia me dado
uma chance de me reerguer e graças a Luciana, Leo e minha Mãe, eu saí dessa.
Victor’s POV Off.
Um medo tomou conta de Luciana quando Victor saiu, sentiu medo de ali ser seus últimos momentos da sua vida. A culpa não fora dela, só queria que todos soubessem. Sentiu seus olhos pesarem, porém, não queria fechá-los. Uma das enfermeiras lhe sorriu:
_Descansa Doutora, já estamos terminando.
Sem conseguir controlar seus impulsos,
fechou-os, voltou a abri-los lentamente, tentando recuperar seu campo de visão.
Olhou ao redor, tantos os rostos felizes, algumas conversas baixas, seus
ouvidos estavam tentando capturar algo. Alguém tocou sua mão:
_Hey.
Aquela voz fora musica para seus ouvidos,
Victor sorria como nunca, sua barba por fazer dava certo charme. Como um flash,
lembrou-se que havia tido uma filha, abriu rapidamente os olhos, correndo-os
pelo cômodo, achou um berço pequeno de vidro, lá estava sua Mariana, enrolada
em um manto rosa, dormia tranquilamente. As lagrimas tomaram conta de si.
_Fiquei todo o momento olhando para ela.
Nossa filha é linda demais.
Marisa aproximou-se, chamando a atenção do
restante da turma ao fazer isso, logo a cama estava rodeada de pessoas que para
ela, eram importantes.
_Deveria descansar mais, Luciana. Depois que
Mariana acordar, aí sim.
_Já dormir demais, Dona Marisa. Queria pegar
minha filha.
Com a ajuda da sogra e Victor, Luciana
envolveu sua pequena. Chorou ao lembrar de tudo o que passou, Victor passou as
mãos pelo seu cabelo.
_Vou ficar com você essa noite.
_Pode ir se quiser, Vih.
_Não vou conseguir dormir. – Curvou-se para fazer
um carinho na filha – Quero ver cada detalhe da nossa pequena.
Aos poucos as pessoas iam deixando o quarto
de Luciana, Leo prometeu voltar naquela noite, iria descansar um pouco e
resolver algumas coisas. A tarde fora tranqüila, a primeira mamada de Mariana
foi uma emoção não só para ela, como também para Victor que acompanhava cada
detalhe. No fim da tarde, ambos assistindo TV enquanto a pequena dormia
tranquilamente, veio na mente de Luciana a sua mãe. Geovana se estivesse viva
com certeza já estaria lá, do seu lado, lhe ajudando. Limpou algumas lágrimas
teimosas, mas Victor percebeu:
_O que houve?
_Nada. Lembrei da minha mãe.
Victor aproximou-se dela, abraçando-a de
lado:
_Onde quer que ela esteja, está nos olhando
e vendo que tudo está calmo agora.
Naquele momento Victor também lembrara de
Lana, da morte dela que presenciou. Teria que se libertar dessa dor, de tudo o
que vivera, mas estava sendo impossível.
Leo apareceu pela noite, acompanhado de
Tatianna e Gabriela que curiosamente agarrou-se no pai e não parava de olhar
para o berço.
Victor: _Está vendo? – A criança balançou a
cabeça fazendo um gesto afirmativo – Ela é sua irmã, tão linda quanto você.
Aproximou-se do berço e curvou o corpo para
mostrar a Gabriela a mais nova integrante da família.
Luciana: _Será que ela vai
ser ciumenta?
Tatianna: _Acho que não,
Lucy.
Leo: _Aí Vitor, vamos tomar um café na
cantina do hospital?
Victor olhou para Luciana e para Mariana,
que dormia tranquilamente. Estava com receio de deixá-las, medo maior de
enfrentar as pessoas lá fora.
Tatianna: _Seria ótimo, posso
aproveitar e ajudar a Luciana a tomar o banho.
Ao lado do irmão, saiu. Seu corpo tremia
assustado, as pessoas lhe olhavam tão fascinantes, dando os parabéns e ele
baixou a cabeça, teria que relutar contra isso, iria conseguir.
No quarto, Luciana olhou para Tatianna, ela
estava um pouco receosa.
_Pegou carona com o Leo? Estão se acertando?
_Não. Nos encontramos aqui no hall do
hospital. – Suspirou – Nos acertamos como ex, por causa dos meninos. Mas já
dentro do elevador a caminho daqui, ele ligou para a tal da Clarisse. Vamos
esquecer isso, venha.
Ajudou Luciana a levantar-se, pedindo ajuda
a enfermeira para fazer alguns procedimentos. Após deitar-se novamente, Luciana
suspirou, olhou para Mariana e Gabriela que agora estava assistindo TV.
_Parece que tudo está voltando ao normal.
_Sim Lucy. Graças a Deus.
Leo e Victor voltaram, ficaram conversando
entre si para depois entrarem no papo de Tatianna e Luciana. Algumas vezes,
Luciana sentia Leo e a ex-esposa se tratarem como se fossem casados, sorria
internamente, sabia que eles iriam voltar. Aproveitou um momento que Victor
ensinava Gabriela a mexer algo no celular e sussurrou para Leo:
_Vou continuar presa? Estou com medo.
_Falamos com o delegado. Agora pela tarde
fui junto com o advogado e conseguimos o Hábeas Corpus.
Luciana relaxou na cama e voltou a chorar,
agradecendo a todos os Santos em que era devota. Ouviu a voz de Victor, estava
alterada, ela pode perceber:
_Como assim você foi presa e ninguém me
falou nada?
_Calma aí Nego Véio, foi só um
desentendimento. Um detetive lá era sobrinho da Marilda e aí tentaram prender a
Luciana.
_Prender pelo o que?
_Victor, esquece isso. – Luciana tentou cortar
o assunto.
_E você, porque não me disse nada Luciana?
Sabe que eu detesto mentiras.
Victor deu as costas, colocou Gabriela nos
braços e saiu porta a fora.
Continua...
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