Luciana já estava nervosa dentro daquela
sala, mesmo com o ar condicionado ligado, estava com calor, respirando
milimetricamente. Um dos detetives entrou na sala e pediu que ela respondesse
algumas perguntas, o mesmo que lhe olhara atravessado enquanto ela estava ali
dias atrás. Mais uma vez, ela relatou tudo.
_Então você entrou em depressão após a morte
da sua mãe?
_Sim. – Baixou a cabeça.
Moreira fitava Luciana, ficou alguns
segundos calado, formulando alguma pergunta que a pegasse na mentira.
_Me deixa ver se entendi: Você estava em
depressão, o Vitor foi seqüestrado. Do nada, ele liga pra você e por ironia do
destino, através desse telefonema rastrearam o local. Após a descoberta do
cativeiro você sumiu. Para onde foi?
_Saí sem rumo, mas acabei indo parar na
fazenda. Ali é o nosso canto.
_Que estranho, ir para uma fazenda assim que
sabe que seu marido foi resgatado do cativeiro.
_Eu não sabia que ele tinha sido
resgatado...
_Mas foi mesmo assim pra fazenda. – Espalmou as mãos na
mesa, olhando-a profundamente. – Você pode mentir para todos, mas para mim
não. Luciana, porque não confessa logo que foi para a fazenda para avisar ao
caseiro que por sinal sumiu.
Luciana não estava acreditando no que
acabara de ouvir. A vontade que tinha era de dar várias tapas na cara daquele
homem ali.
_EU NÃO FUI PARA FAZER ISSO! Não fale o que
não sabe – Sentiu as lagrimas molharem seu rosto – Eu e Victor
tínhamos um elo, foi ali que depositamos tudo de bom que vivemos...
_E blá blá blá... – Rolou os olhos com
desdém. – Agora vai agir como a esposa que está sofrendo, mas no fundo
sabemos que foi você que fez isso para se livrar do seu marido. – Abriu uma pasta, com
vários papéis – É... Ser esposa de uma figura publica não ajuda muito nessas
circunstâncias. Sabe o que falam nesses papéis? Sobre a tal crise que tiveram
na época em que você estava prestes a viajar.
_Mentira...
_Verdade! Admita Luciana, você estava
cansada desse casamento e achou um meio de se livrar de vez do Vitor.
_Eu jamais faria mal a ninguém, muito menos
ao Victor. Eu o amo. – Falou com a voz embargada.
_Falar da boca pra fora é fácil. – Deu a volta na mesa,
chegando perto dela e sussurrando no ouvido – Fala agora onde
está o resto da quadrilha e você sai ilesa.
_Eu nem sei de quem você está falando. Vai
se ferrar!
_Desacato a autoridade, Luciana. Acho melhor
parar por aqui. – Voltou a ficar afastado dela – Entrega os nomes.
Quem está por trás disso tudo.
_Mas eu não sei! – Voltou a chorar – Eu juro que não sei.
_Ok. Vou deixar você pensar mais um pouco.
Depois eu volto aqui. Fique sozinha pensando.
Moreira deixou Luciana sozinha, ela chorava
como uma criança, querendo apenas ter sua vida pacata de volta. Quanto mais
limpava as lágrimas mais elas insistiam em cair, terminou deixando-as correr
livremente enquanto se entregava ao cansaço.
***
Leo entrou na delegacia praguejando quem quer que atravessasse seu caminho. Carol em momento algum se afastou dele, estavam com o advogado, esperando um dos delegados que estavam à frente do caso. Ele apareceu e logo os chamou para sua sala.
Leo entrou na delegacia praguejando quem quer que atravessasse seu caminho. Carol em momento algum se afastou dele, estavam com o advogado, esperando um dos delegados que estavam à frente do caso. Ele apareceu e logo os chamou para sua sala.
_Fale Leo.
_Porque vocês prenderam Luciana? Não vê o
estado dela? Está grávida.
_Espera... Que Luciana? A esposa do Vitor?
O advogado interveio e tomou a palavra,
tentando um hábeas corpus. O delegado parecia estar por fora de toda a
situação:
_Deixo essa delegacia por algumas horas e
quando volto está essa zona? Luciana estava sim entre os suspeitos, mas estava
fora de cogitação essa prisão temporária. – Discou um numero no telefone – Diga a Rosana que
apareça em minha sala em cinco minutos.
– Desligou o aparelho, voltando à atenção a eles – Vai demorar um
pouco, tive que deixar de lado o caso, mas achei que a Rosana fosse competente.
Quanto ao Moreira, terei que afastá-lo das investigações, já está se tornando
um assunto totalmente pessoal. Obrigado por me informarem.
_Será que podemos ver Luciana? – Carol falou pela
primeira vez desde que entrara na sala.
_Sim. Mas nesse caso, é melhor ir somente o
Leo e o advogado.
Aguardaram mais alguns minutos, Leo sentia
que Luciana iria precisar dele. Ela entrou na sala de visita e demorou a
acreditar que seu cunhado estava ali, o abraçou forte enquanto as lagrimas
molhavam o peito dele.
_Calma Lucy... Nós já vamos tirar você
daqui.
_Eu não fiz nada Leo, eu juro pelas minhas
duas filhas.
_Nós sabemos disso. Sente
Os três sentaram, ela olhava para os dois
esperando alguma resposta. Olhou para o advogado e lembrou-se dele quando
tivera que responder por aquele maldito processo.
_Luciana, nós já sabemos por que você foi
presa.
_Me explica Leo, porque se foi por causa da
suspeita eu sou inocente.
_Quem está à frente das investigações é o
Moreira...
_É esse safado mesmo – Esbravejou com raiva
enquanto sentia seus olhos mais uma vez molharem. – Ele me trancou
naquela sala e me encheu de acusações. – Baixou a cabeça para chorar,
erguendo-a de novo – Desculpa, mas está muito difícil.
_Nós sabemos Lucy. Ainda bem que está sentada,
porque o que vou lhe dizer você nem vai acreditar: Moreira é sobrinho de
Marilda... – Viu a cunhada franzir o cenho, lhe pedindo explicações mais
claras – Marilda, a mãe da Gabriela... Sua ex-paciente.
Faltou chão para Luciana, sua vida estava em
ciclo e ele sempre caía em Gabriela. Lembrou-se de Marilda quando ela usou as
palavras “Vou fazer de tudo
para te colocar na cadeia”, não esquecendo
do sonho que tivera com Gabriela, lhe culpando, jurando também infernizar sua
vida. Moreira agora estava cumprindo tudo por elas, fazendo por elas.
Levantou-se rapidamente, curvou o corpo para frente, encolhendo-se.
_O que ela tem? – Perguntou o advogado
_Luciana? – Leo perguntou receoso
Além das lagrimas, a pontada no ventre de
Luciana estava forte, era uma cólica, a mesma de quando sentiu que sua filha
estava prestes a nascer. Ergueu o rosto e sem muita força gemeu entre o choro.
Leo levantou e acercou-a
_Fala comigo Luciana, você está pálida!
_Leo... Dói muito. Acho que minha filha vai
nascer.
Mais uma vez grunhiu de dor, Leo gritou
pedindo que chamassem uma ambulância. Em momento algum saiu de perto da
cunhada, acompanhou-a até a entrada dela no veículo.
_Leo, eu vou junto com a Luciana.
_Obrigado Carol, vou direto lá pra casa.
Vitor precisa saber.
_Tente levá-lo pro hospital.
Sem muito que fazer ali, Leo dirigiu
rapidamente até a casa de Victor, achando-o no quarto conversando com Beatriz.
_Leo? Está tudo bem?
_Não. – Colocou as mãos no joelho procurando o
ar que perdera enquanto subia as escadas. – Vitor, preciso de
você.
_O que houve – Levantou-se
assustado. – Luciana... Onde ela está?
_No hospital... Acho que sua filha vai nascer.
O coração de Victor bateu tão rápido que ele
sentiu uma dor forte, estava se preparando psicologicamente em situações como
essa. Sua esposa iria precisar dele, mas definitivamente não estava pronto para
sair de casa.
_Mantenha-me informado. – Sua voz saiu trêmula
–
Eu... Eu não saio daqui.
Leo o olhou incrédulo, não acreditando que
aquele Victor era mesmo seu irmão.
_Luciana passou por emoções fortes hoje, sua
filha não era pra nascer agora... Ela precisa de você, Vitor. Vai permanecer
nesse egoísmo?
Victor deu alguns passos para trás, fazendo
gestos negativos com a cabeça. Quando achava que estava pronto para encarar a
vida, ela lhe vinha com provações. Sentiu seu corpo tremer, Beatriz
aproximou-se dele:
_Vitor, olhe para mim – Conseguiu fazê-lo
olhar para ela – Lembra do que conversamos? A vida está te testando, você está
pronto sim para encarar a vida lá fora.
_Eu não vou conseguir, Bia – Seus olhos
lacrimejavam. Estava se comportando como uma criança.
_Luciana precisa de você agora. Lembra o que
me disse ontem? Que iria retribuir esse gesto dela estar do seu lado sempre?
Agora é sua vez de agir.
Victor começou a chorar, lembrou-se da
ultima vez que saíra daquela casa, foi seqüestrado. Leo aproximou-se deles,
estendo-lhe a mão:
_Vem comigo, Vitor? Eu te levo até a
Luciana.
Ainda ficou alguns minutos relutando em não
ir, estava com medo de encarar a rua, as pessoas, não iria conseguir dialogar.
Lembrou-se das palavras de Luciana naquela manhã, do beijo em sua testa...
_Vamos.
Luciana precisava de Victor, ele sentia
isso. Desde que ela partiu naquela manhã, algo estava estranho, o sufocando.
Parou de assistir TV e ficou esperando por Beatriz. Quem sabe fora por causa
dela com sua palavra o ajudando a seguir em frente e quebrar o seu primeiro
medo, foi ali que ele sentiu que teria que tomar atitude. Rapidamente em sua
mente veio-lhe a imagem de quando Gabriela nasceu, além de não ter acompanhado
todo aquele processo, perdeu a melhor parte que fora o seu nascimento. Não iria
errar dessa vez, tinha a oportunidade e não seria um medo qualquer que o faria
perder esse momento magnífico.
Foi até o closet e calçou os sapatos,
pegando seus pertences. Mais uma vez pensou em não ir, seu corpo tremia só de
imaginar encarando a rua e todos. Balançando a cabeça negativamente, saiu
daquele cômodo, seguindo o irmão que já descia as escadas rapidamente. Parou na
porta, mãos o “empurrou” de leve, Beatriz passava segurança com o olhar.
_Vá Vitor. Faça por Luciana o que ela fez
por você.
Sentou no banco do passageiro, sentiu aflição,
vontade de gritar quando viu seu irmão dirigindo e a sua casa se distanciando
da sua visão pelo retrovisor. Inúmeras vezes durante o trajeto passou as mãos
na testa, limpando o suor de tão nervoso que estava, em alguns momentos, encara
o irmão que estava com uma expressão estranha, de preocupação. Nada conversaram
e ao chegarem ao destino final, alguns enfermeiros já guiavam Victor para uma
sala reservada. Estava tenso e não conseguia trocar palavra com ninguém
enquanto usava as vestes para acompanhar o parto no centro cirúrgico.
_Leo. Onde está Luciana?
_Já está na sala de parto.
_Ela sabia que nossa filha iria nascer. Vi
lagrimas em seus olhos quando se despediu de mim nesta manhã.
_Eu não sei Vitor. Vai logo que só estão
esperando por você. – Aproximou-se do irmão com um brilho nos olhos – Estarei aqui
esperando vocês.
Um dos enfermeiros levou Victor para a sala cirúrgica.
Enquanto caminhava até o local pensou no que tanto as pessoas ao seu redor
escondiam? E porque quando Luciana sentira as dores não o ligou?
Assustou-se ao ver toda a equipe médica, já
não conseguia ver Luciana, que estava rodeada de vários aparelhos. Seu coração
parecia querer pular pela boca, podia achar que ao seu redor todos iriam
ouvi-lo a cada bombeada. Olhou para o lado e viu Michael se aproximando.
_Mas o que esse cara está fazendo aqui?! – Esbravejou.
Sua fúria só aumentou, não sabia se era por
conta dos comprimidos, mas Victor estava alterado, exaltado, se irritando por
coisas pequenas como naquele momento.
_Eu terei que fazer o parto de Luciana.
_Não quero você perto da minha esposa.
Arranjem outro médico.
Os enfermeiros ao redor se entreolharam.
Michael também estava impaciente, não era fácil saber que Luciana chegara em um
estado deplorável e que qualquer deslize vindo da sua parte ou ela morreria ou
o bebê que a mesma esperava.
_ Guilherme está em um congresso em Natal e
a não ser que você queira ver a vida de sua esposa chegar ao fim, eu vou fazer
esse parto. – Aproximou-se mais de Victor para sussurrar – Luciana está em
perigo e eu vou fazer de tudo para que essa mulher que tanto eu, como você,
amamos, sair dessa ilesa. Por isso, peço que ao se aproximar dela se cale e só
fale palavras que a conforte, ela vai precisar disso nesse momento de dor. – Olhou para a equipe. – Vamos começar.
Os olhos de Victor se formaram grandes
bolhas de água, sua respiração estava falha. Luciana estava correndo risco de
vida, seria por sua causa? Seria ele o culpado de mais uma morte em suas costas?
Limpou as lagrimas decidido que não deixaria nada de ruim acontecer com sua
esposa e aproximou-se dela, Luciana estava com um olhar perdido, encarando o
teto, chorava muito. Ao vê-lo sorriu fraco, queria poder abraçá-lo, porém estava
muito nervosa. Um pano dividia seu corpo, diferente do nascimento de Gabriela,
não iria poder ver o momento em que Mariana viesse ao mundo.
_Hey.
_Victor... – Voltou a chorar
enquanto sentia o marido acariciar-lhe o rosto.
_Sempre chorona. (Sorriu) Estou aqui do seu
lado e vamos ver nossa estrelinha nascer, ok?
_Eu não tive culpa, Victor.
_Shhhh – Colocou o dedo indicador nos lábios dela
–
Que tal você ficar me olhando enquanto esperamos tudo isso passar?
_Lucy. Está pronta? Iremos começar e logo
você terá sua filha em seus braços. Seja forte. – Michael curvou o
corpo para sussurrar algo no seu ouvido – Eu te amo.
Luciana fechou os olhos e deixou o momento
levar por si só, em alguns momentos abria-os e navegava naquele par de olhos
castanhos de Victor, que com as mãos trêmulas acariciava seu rosto, lhe
passando confiança. Era só questão de tempo e logo teria sua pequena Mariana em
seus braços.
Continua...
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