sábado, 1 de novembro de 2014

Cap. 63







_O que houve Michael? – Tentou sorrir para esconder que estava nervosa.
_Estava falando para eles sobre como é difícil te amar. Dói não ser correspondido.

   Luciana ficou inerte, sem saber palavras certas a serem usadas.

_Mas você sabe que entre nós só rola amizade Michael.
– Tentou deixar abertamente o que se passava, principalmente depois da conversa que ouviu no banheiro.
_Claro! Mas aquele beijo que te dei você gostou. – Olhou pra todos ali, começou a rir – As minhas mãos percorreram pelo corpo dela, como nos velhos tempos...

   O rosto de Luciana enrubesceu de tamanha vergonha, sentiu seus olhos marejarem, sua voz ficar embargada antes mesmo de se pronunciar.

_Você forçou aquele beijo e isso não é uma atitude de homem, deveria ter vergonha de expor isso.
_Qual é doutora... Quem manda me provocar? E olha, eu bem que gostei daquele vestido preto que estava usando.

   Jonas percebeu o clima tenso e se aproximou do grupo:

_Michael, não acha que está na hora de ir embora? Acho que já excedeu com a bebida.
_Não Jonas, estou leve e de bem com a vida.

   Luciana limpou a lágrima que caiu em seu rosto.

_Tenho que ir, boa noite a todos.

   Deu as costas para seguir seu caminho, mas Michael alterou a voz:

_Sabe por que estou indo embora daqui? Por sua causa! Eu vim pra Uberlândia na esperança que você largasse aquele idiota do seu marido, te dei emprego para ficar perto de mim e achei que te teria, mas me enganei.

   Em passos largos, ela se aproximou dele, pegou um copo com whisky que Jonas estava na mão e jogou o liquido na cara de Michael:

_Antes eu te perdoei por pena de você. Mas agora Michael...
– Tentou controlar-se para não chorar – Agora eu sinto nojo de você. É bom que vá embora e não volte mais e se voltar esquece que eu existo.

    A confusão já estava chamando atenção de todos que estavam naquela sala, Luciana não iria continuar discutindo, apenas queria sair dali. Foi correndo até o carro, estando dentro dele não conseguiu se controlar, chorou por alguns minutos, logo dando a partida e saindo dali. Durante o caminho as palavras de Michael invadiam sua mente, como será que seria trabalhar no dia seguinte com tantas fofocas? Já sabia mais ou menos o que pensavam sobre ela, depois das palavras de Michael, boa parte iria acreditar que ela estivesse em um relacionamento extraconjugal com ele.

   Limpou o rosto antes de entrar em casa, passou rápido pela sala, apenas dando boa noite a Lise e pedindo que ela cuidasse das crianças naquela noite. Sua cabeça doía muito e após o banho ficou deitada, encarando o teto naquela escuridão, Victor entrou ligando a luz, achando-a com os olhos vermelhos e inchados:

_Hey, o que houve?

   Foi até a cama, puxando-a para sentar em seu colo, Luciana afundou o rosto no peito dele, entregando-se a dor da tristeza, Sentia Victor acariciando seu cabelo, esperando ela se acalmar.

_Lucy, me fala o que aconteceu. Foi demitida?

   Ela fez um gesto negativo com a cabeça enquanto se afastava um pouco dele para olhar nos olhos. Ali era o momento, teria que dizer o que aconteceu entre ela e Michael, as pessoas iriam inventar coisas sobre ela e se não tivesse o marido do seu lado, não iria suportar. Porém, quando pensou em dizer, desistiu mais uma vez. Voltou a chorar por alguns minutos, Victor deitou-a na cama, puxando sua cabeça para encostar em seu peito. Após alguns minutos chorando, conseguiu falar:

_O que fazer quando pegamos as pessoas falando de nós?
_Quem falou de você?
_Algumas funcionarias.
_O que elas falaram?

   Luciana ergueu o rosto, mais uma vez pensou e decidiu não contar nada a ele:

_Falaram sobre meu trabalho.
– Respirou fundo.
_Quer um conselho? Não liga, faça o seu trabalho e pronto. Se elas falam, é porque queriam estar no seu lugar. São suas amigas?
_Não. Elas trabalham na ala da pediatria.
_Mas pode ser que estivessem falando de outra pessoa.
_Não, eu ouvi meu nome ser citado. Estava em uma das cabines do banheiro quando elas entraram.
– Voltou a chorar – Dói tanto, mesmo não as conhecendo profundamente.
_Você deve está sensível Lu, todo mundo tem um dia assim.
_Deve ser
. – Virou o corpo, lhe dando as costas. – Vou dormir porque estou com dor de cabeça.
_Quer tomar algum comprimido? Posso buscar pra você.
_Obrigada, mas é só cansaço mesmo. Boa noite.

   Sentiu os lábios dele tocarem sua nuca e sussurrar.

_Dorme bem meu anjo. Te amo.

   Fechou os olhos forte, Porque estava sendo tão leviana com Victor? Porque não conseguia falar abertamente sobre o que acontecera? Tudo estava irritando-a. Acordou pela manhã um pouco indisposta e assim permaneceu durante o dia, pela manhã foi a clinica, atendeu algumas pacientes e depois foi direto ao hospital. Agora se sentia suja, só estava ali empregada por causa de Michael, foi direto para sala de Jonas.

_Desculpe te interromper, mas posso falar com você?
_Claro Luciana, sente-se.

   Sentou na cadeira de frente para ele:

_Sobre ontem, o Michael...
_Primeiramente eu peço desculpas, Luciana. Michael estava fora de si e eu não sei porque ele fez aquilo. Mas fique calma, ninguém vai contar nada, somos todos profissionais.
_Estou me sentindo suja, imunda.
– Olhou para as próprias mãos em cima da perna, as lagrimas queriam cair – Só estou aqui porque o Michael quem me colocou.
_Ele pode até ter te indicado, pedido ajuda, mas ele não foi o responsável pela sua permanência aqui. Foi a sua competência como boa profissional
– Apoiou os cotovelos na mesa para se aproximar mais dela – Luciana, foi você quem fez sua própria historia aqui, não se escondeu na sombra de ninguém. Se veio aqui para pedir demissão eu não vou aceitar, não quero perder uma boa obstetra.

   Em meio as lágrimas, ela sorriu.

_Obrigada Jonas.
_Imagina Luciana, nós quem temos que te agradecer. Você tem duas filhas, elas estão em uma fase que precisam da mãe por perto, mas você abdicou desse momento para se dedicar ao nosso hospital.
_Eu tenho que ir
– Levantou-se – Mais uma vez muito obrigada.

   Saiu mais aliviada daquela sala, não imaginou que era tão bem quista ali. Mandou uma mensagem para Victor:

 
“Obrigada por tudo. Te amo.”



***


   O salão estava decorado, crianças corriam para todos os lados, musicas infantil e Victor com Mariana nos braços. Luciana achou errado fazer a festa da filha de um ano, sabia que a mesma não ia entender muito, mas há muito tempo que ele estava querendo dar uma festa de aniversario das filhas.

   Os meses estavam se passando rápido, as coisas estavam se encaixando. Michael nunca mais a procurou, ela agradecia internamente. Lucas e Joyce estavam ali, sentiu uma dor no coração ao imaginar que poderia ser sua mãe no lugar da sua madrasta.

_A festa está linda.
– Carol arrancou-a dos pensamentos.
_O que o Victor não me pede chorando que eu faço sorrindo?

   Olhou para a amiga e as duas não conseguiram segurar o riso.

_Agora por causa dessa festa enorme, a Gabriela já está me enchendo dizendo que quer ter uma igual.
_Janeiro não está muito longe.
_Eu sei, a vantagem é que será nas minhas férias.

   Olhou novamente para Carol, ela estava tensa.

_Quer falar algo?
_Sim, mas não aqui.
_Vem

   Puxou-a pela mão e ficaram em um local mais reservado.

_Pode falar Ká.

    A amiga respirou fundo, olhou para o céu.

_Eu desfiz minha sociedade com o Daniel.
_Mas por quê?
_Ele e a Karen estão insuportáveis. Começaram com algumas indiretas, diziam que queriam comprar a minha parte.
_É...
– Soltou o ar pesadamente – E lá se vai nosso sonho de ver a Lucadan entre as melhores clinicas da cidade.

   Ficaram em silencio, Carol olhou novamente para ela:

_Agora vou te fazer uma pergunta: Aceita realizar aquele nosso sonhos de abrirmos uma clínica juntas?

   Carol pegou Luciana de surpresa, não sabia o que responder. Estava bem com a sua sala, as pacientes estavam gostando. E se tomasse um passo errado ao aceitar a proposta da amiga?

Continua... 

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