Os
primeiros shows para Victor foram agonizantes, fora da rotina e fora de forma,
ele se sentia isolado mesmo em locais públicos, Luciana o ajudava segurando sua
barra em cada ligação. Algumas vezes havia acabado de colocar Mariana para
dormir e quando estava quase dormindo, seu celular tocava e lá estava ela de
madrugada conversando com ele, lhe passando energia positiva.
Cada chegada era uma felicidade, saber que
teria sua esposa e suas filhas por perto o deixava mais tranqüilo e feliz,
porém, era na partida que seu coração doía, chorava por dentro.
Dezembro...
Victor aguardava ansiosamente por Luciana e
Marisa. Estava no aeroporto, elas prometeram ir até São Paulo, iriam prestigiar
naquela noite o show. Quinze dias sem vê-las e parecia ser uma eternidade. Nas
ultimas noites, havia sonhado com Lana lhe suplicando pedindo ajuda. Acordava
suado e logo recorria aos comprimidos para esquecer.
Marisa vinha com Gabriela segurando sua mão
e Luciana com Mariana em seus braços, a cena mais perfeita que ele já vira em
toda sua vida, os olhos entregaram uma lagrima teimosa assim que se aproximou
delas.
Luciana: _Meu amor – O beijou.
Victor: _Achei que não viriam mais.
Fez um carinho nas filhas e logo foram para
o carro, algumas pessoas já desconfiavam de que eram eles. Não que fosse privar
de todos verem suas filhas e esposa, mas Victor evitava ao máximo aparecer em
publico em um momento família. Ali não era o Victor cantor, compositor; era o
Vitor pai, esposo.
Enfrentaram um trânsito caótico até o
apartamento, chegando no edifício as pequenas estavam embaladas em um sono
profundo.
_Deixa que eu levo a Gabi.
Colocou Gabriela nos braços e subiram
conversando sobre algo banal que viram na TV. Luciana acomodou as filhas no
quarto, chegou ao do casal e Victor já estava borrifando perfume em si:
_Vai pra onde todo cheiroso desse jeito?
_Calma marrenta, é só um ensaio. – Aproximou-se mais – Não me espera pra fazer
nada. Hoje o dia vai ser corrido, primeira noite de show e com isso teremos
entrevistas a rádios, TVs.
_Tudo bem. Vou separar sua roupa e ver o que
posso fazer aqui. – Lembrou-se de algo – Ah! A Joyce vem hoje por aqui, disse que
fica com as crianças.
_Mas e o seu pai?
_Ele vem também. – Mudou a expressão do
rosto, ficando triste – E quando eu pensei que era para me ver... Ele disse que
só vem na capital pra uma reunião hoje à noite. – Respirou
profundamente – Depois do que aconteceu com a mãe parece que ele mudou sabe,
está mais sério, não me telefona como antes.
_Deve ser só uma fase, Lu. – Beijou-a rapidamente
–
Tenho que ir.
Vendo o marido passar pela porta Luciana
sentou-se na beira da cama. Muita coisa mudara desde que sua mãe partiu, mas
Lucas era a mudança total. Estava mais sério, não lhe telefonava mais. Ficou
ali no cantinho da cama, segurando as lágrimas até Joyce aparecer naquela tarde,
Lucas foi junto, abraçou a filha, fazendo-a chorar. Fez um carinho especial em
Gabriela que quando viu os dois jogou-se nos braços deles. Lucas não gostava de
despedidas, estava um homem frio e calculista, deixando Luciana assustada com o
que estava vendo. Despediu-se da filha e logo saiu.
_Joy, como está meu Pai?
_Ah Lucy... Seu Lucas está do mesmo jeito,
só está um pouco mais sério, não conversa com quase ninguém. Eu e as outras
empregadas até tentamos mudar a casa para que ele não lembrasse de Dona Geovana
sempre, mas não conseguimos. Seu Lucas é muito arredio e disse que tudo tinha
que ficar do jeito que sua mãe deixou.
_Pensei que ele iria superar isso.
_Ele vai Lucy, é só darmos tempo ao tempo.
Continuaram conversando até a noite se
iniciar. Victor chegou já quando Luciana estava pronta o esperando. Tomou uma
ducha e se trocou. Ela percebeu que algo o incomodava, o que restava era esperar
ele desabafar.
_Tem algo que te perturba hoje?
_Por quê? – Olhou-a assustado.
_Sei lá, você está aí tão pensativo.
_Coisas minhas, Luciana.
Queria continuar aquele assunto, mas Victor
mudou radicalmente e logo estava falando outra coisa enquanto esperavam Marisa
terminar de se arrumar para juntos irem para a casa de show.
Rever alguns amigos da área, saber que
estavam ali para ver o show, tudo isso encantava Victor. Agora ele estava com
Luciana, um ano atrás, ela não pudera participar porque fora chamada para
trabalhar. Nunca sentiu tanto gosto em fazer poses para fotos como naquela
noite, com sua esposa do lado tudo parecia ser mais fácil. Luciana sentara na
primeira mesa, amava aquele clima, aquelas pessoas, até algumas fãs que sempre
iam para shows da dupla. Victor tocava e cantava olhando diretamente para ela,
que trocava olhares, sorriam e faziam caras e bocas que apenas eles conseguiam
decifrar, estavam no mundo deles, aquele mundo onde ninguém sabia, aquele mundo
onde ela podia ser apenas ela diante dele. Como Victor amava os olhares que ela
lançava, em alguns trechos de determinadas musica ela demonstrava carinhos e
até mesmo tesão quando mordia o lábio inferior que para alguns era algo
inocente, mas ele sabia o momento certo e o porquê fazia aquilo. Sorriu como
uma criança o show inteiro. Quase no final, pediu a palavra ao irmão, que lhe
concedeu:
_Alguns ou acho que todos vocês
souberam que meses atrás algo muito ruim aconteceu comigo. – Respirou fundo, não
iria sofrer, não queria prosseguir. – Passei meses após isso me cuidando.
Acho que não seria nada se minha família não estivesse do meu lado – Olhou para a mesa da
família – Mas em especial a Luciana. – Pausou para segurar o choro, recebendo
aplausos – Acho que não tenho palavras para demonstrar o meu carinho para
você, Lu, porque o que sinto é bem maior. Muito obrigado por estar do meu lado
sempre que precisei e nos momentos de aflição não só agir como uma esposa, mas
ser a amiga que sempre foi. Te amo.
Finalizou o show querendo esquecer tudo o
que lembrara, era muito torturante, parecia estar vivo, fresco como se o
ocorrido tivesse sido um dia antes. Não saiu com a equipe para o restaurante,
pediu a Luciana para ir pra o apartamento, não estava bem. Aquele relato mesmo
que fosse nas entrelinhas reativou tudo o que sofrera.
Chegaram ao apartamento e Joyce estava assistindo TV, relatou tudo até as birras de Gabriela em querer ficar acordada. Agradeceu a ela e foi para seu quarto, Victor estava estranho, havia saído do banheiro e já estava deitado na cama, olhando para o teto, estava pensativo. Luciana tomou um banho e voltou para a cama, lá estava ele na mesma posição. Deitou-se passando a mão no peitoral dele, beijando o rosto, não prosseguiu porque ele não esboçara nenhuma reação.
Chegaram ao apartamento e Joyce estava assistindo TV, relatou tudo até as birras de Gabriela em querer ficar acordada. Agradeceu a ela e foi para seu quarto, Victor estava estranho, havia saído do banheiro e já estava deitado na cama, olhando para o teto, estava pensativo. Luciana tomou um banho e voltou para a cama, lá estava ele na mesma posição. Deitou-se passando a mão no peitoral dele, beijando o rosto, não prosseguiu porque ele não esboçara nenhuma reação.
_Victor, quer desabafar algo? Eu falei ou
fiz alguma coisa?
Lentamente Victor olhou para ela, fez um
meio sorriso enquanto passava as mãos no cabelo dela:
_Você não fez nada meu anjo. Só estou
pensando na vida. – Ficou em silencio, mas logo retomou ao assunto – Venho sonhando com
a Lana e não é nada bom.
_Sonhos são enigmas. Ela deve está
precisando de oração. Minha mãe falava que quando sonhamos com alguém assim, é
porque precisa disso.
_Deve ser.
Silêncio entre eles, nada saia da boca de
ambos, mas os corpos estavam conversando. Carinhos inocentes e calmos, algumas
vezes Luciana tentava lhe roubar um beijo, conseguindo, mas nada que fosse
intenso ao ponto de se amarem naquela noite. Victor não estava bem, ela pode
sentir isso:
_Preciso fazer algo.
_Como assim Vih?
_Tenho algo em mente, mas acho que você não
irá concordar.
_Concordo em tudo o que você faça, nós dois
sabemos disso.
_Não é uma coisa banal, é algo sério.
_Então conte para mim.
...
Antes do sol aparecer, Victor já estava
acordado, mais uma vez encarando o teto, pensando na vida. Sentiu as mãos de
Luciana lhe tocando:
_Não conseguiu dormir também?
_Não.
_Está preparado?
_Não sei.
_Vou te apoiar.
_Muito obrigado.
Levantou-se e foi fazer sua higiene. O café
da manhã fora rápido e após enfrentarem mais uma vez aquele transito, seguiram
para o destino. Passou dias pesquisando, conseguiu informações com Amaral.
Estava trêmulo, com medo de errar, medo maior de ser expulso e não saber
expressar o porquê estava ali. O carro parou, os dois olharam para aquele
morro:
_Está pronto?
_Acho que sim.
Desceram do veículo. Ambos estavam
visivelmente disfarçados, Luciana sorriu com a situação, agora se sentia uma
agente secreta como sempre viu em filmes policiais. Subiram alguns degraus,
parando de frente para uma casa, Victor puxou o papel do bolso, confirmando se
era ali mesmo. Bateu na porta e em segundos, uma mulher abriu. Sua aparência
parecia ser de uma senhora de seus cinqüenta anos; a mesma ficou séria,
encarando os dois.
_Se for sobre o caso da minha filha não
tenho mais nada a dizer.
_Que caso? – Luciana estranhou a
atitude ríspida da mulher
_Já sei que são os policiais. Já estou
acostumada a ter vocês sempre aqui.
_Mas não somos policiais. – Victor tomou coragem – A senhora é a Soraia,
mãe da Rebeca?
Ainda soava estranho para Victor chamar Lana
pelo seu verdadeiro nome. O rosto de Soraia se desfez quando Victor tirou os óculos.
_Mas você...
_Calma! Não viemos aqui para culpar ninguém.
Só gostaria de conhecer um pouco mais sobre a vida de Lana.
Soraia autorizou a entrada do casal. A casa
era pequena, simples, típica de uma família trabalhadora.
_Me desculpem por ter agido daquela maneira. Pensei que fossem da polícia mesmo. – Entregou um copo com café a Victor que já estava sentado a mesa.
_Me desculpem por ter agido daquela maneira. Pensei que fossem da polícia mesmo. – Entregou um copo com café a Victor que já estava sentado a mesa.
Uma criança apareceu na sala, não precisou
de mais nada para Victor saber que era Natanael. Os seus olhos lembravam os de
Lana. Sem perder tempo, Luciana o colocou nos braços e ficou ali mesmo brincando
na sala enquanto Victor conversava com Soraia.
_Sabe. Desde quando ela trouxe o Carlos para
pedir em namoro, eu senti que ele não prestava. Aos poucos Rebeca já não ouvia
meus conselhos, os outros irmãos dela cansavam de pedir para que se afastasse
do namorado, mas ela só tinha olhos para ele. Um dia, resolveu largar tudo,
colocou uma mochila nas costas e sumiu no mundo. – Limpou as lagrimas – Eu tentei dar educação
e lhe mostrar o caminho certo a seguir, mas sabe como é né, sou eu sozinha pra
criar e educar quatro filhos. Certo dia ela voltou com uma barriga enorme, me
pedindo ajuda porque o Carlos tinha morrido. Rebeca chorava como nunca tinha
visto, ela amou demais esse infeliz e foi por causa dele que ela entrou nessa vida.
_Eu sinto muito Dona Soraia. Lana parecia
ser uma pessoa tão calma e cheia de sonhos.
_Ela sempre foi assim, mas depois que Carlos
morreu parece que ela foi junto. Rebeca não tinha mais vida, só pensava em
vingança, só queria dinheiro. – Suspirou triste – Rebeca amava
Carlos, mas depois dele foi amante do mundo do crime. Começou a andar com quem
não prestava e mais uma vez não parava em casa. – Passou alguns
segundos chorando, logo se recompondo – A ultima vez que veio aqui, entregou
o Natanael em meus braços e disse para cuidar dele na sua ausência... Ela nunca
mais voltou.
Victor segurou a mão de Soraia, a mulher
tinha uma aparência sofrida no rosto e agora entregava-se de vez ao choro.
_Em nome da minha família eu peço desculpas,
Victor. Nunca me senti tão mal por saber que minha filha estava envolvida no
seu seqüestro.
_Águas passada, Dona Soraia. Estou bem é o
que importa. – Olhou para o relógio em seu pulso – Tenho que ir, mas
antes...
Fez um sinal para Luciana que tirou da bolsa
um envelope grande. Ela não sabia do que se tratava, ele apenas pediu que ela
colocasse na bolsa antes de saírem do apartamento naquela manhã.
_Eu prometi a Lana que a ajudaria quando saíssemos
daquele cativeiro. Ela me falou um pouco sobre Natanael e como promessa, posso
não poder ajudá-la, pois ela não está mais entre nós, mas quero ajudar na criação
do seu neto. – Entregou-lhe o pacote. – É pouco, mas vai ser o suficiente
para a senhora depositar e investir no futuro do pequeno.
Soraia balançou a cabeça negativamente
_Não posso aceitar, desculpe.
_Faço questão que aceite. Por favor, Dona Soraia.
Em nome do seu neto que nós sabemos que vai precisar.
Após muito custo, Soraia aceitou o que ele
lhe oferecia, o abraçou tão forte que Victor pode sentir algo aflorar. Sabia
que não iria vê-la mais, nem iria freqüentar aquela casa, mas guardaria consigo
aquele momento para sempre. Luciana abraçou Soraia, lhe desejando tudo de bom. A
dor de perder uma filha ela nunca teve, mas sabia que perder alguém que ama era
algo pesaroso, doía não só o corpo mas a alma.
Saíram daquela casa satisfeitos, felizes.
Voltaram para o apartamento em silêncio, não queriam quebrar aquela magia,
Victor havia tirado um peso grande de suas costas, há muito tempo queria fazer
isso, mas não tinha ninguém para encorajá-lo. No estacionamento do edifício ele
a puxou para um abraço aconchegante.
_Não fala pra ninguém o que aconteceu hoje,
pode ser?
_Nem pra sua mãe?
_Também. Não gosto de fazer coisas boas e
sair espalhando. Esse será um momento que eu e você compartilhamos.
_Tudo bem. – O beijou rapidamente –
Cada
dia você me faz te amar mais ao fazer essas atitudes.
_E você me faz ficar mais vivo ao me
encorajar a fazer coisas assim. Te amo.
Mais uma vez se beijaram e subiram para o
apartamento em um clima agradável de romance.
Continua...
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