terça-feira, 14 de outubro de 2014

Cap. 57






“Me sinto só
  Mas sei que não estou
  Pois levo você no pensamento
  Meu medo se vai
  Recupero a fé
  E sinto que algum dia
  Ainda vou te ver
  Cedo ou Tarde...”

  
                   (Cedo ou Tarde – NX Zero)


Luciana’s Pov On...

  Diferente dos demais da casa, a ressaca não estava em mim já que não havia bebido na noite anterior. Meus problemas estavam maiores para pensar em uma taça de champagne para brindar. Um sol lindo estava iluminando o local e me fez imaginar que já se passava das onze da manhã. Olhei para o lado da cama, Victor estava com sua mão em minha cintura, adormecido e com a face mais tranqüila que já vi. O que seria de mim sem ele? Nada. Com ele eu compartilhei as melhores emoções da vida, as minhas dores, minhas conquistas, minhas derrotas. O amor entre um homem e uma mulher não está somente em cima de uma cama, ele está no dia-a-dia, nos problemas, nas soluções dos mesmos, nas risadas, nas lagrimas, assim era o nosso casamento.

   Levantei-me e fiz minha higiene, Dona Marisa já estava acordada, ajudei-a no café da manhã.

_Você subiu antes da festa terminar.
_Eu precisava de um momento só, queria pensar um pouco na vida.

   Ajudei-a na arrumação da mesa.

_Diga Luciana, está tudo bem entre você e o Vitor?
_Sim. – Dei uma pausa enquanto colocava a ultima xícara na mesa. – Sobre ontem, ele não foi o motivo. Eu estava com saudades da minha mãe.
_Desculpe, querida. Não era minha intenção tocar nesse assunto. – Aproximou-se de mim – Saiba que se precisar de algo, estou aqui.
_Obrigada.

   Tomamos café rápido, eu ainda tinha que fazer minha mala. Não que eu fosse passar o mês inteiro por lá, eram só alguns dias, mas como toda mulher, necessito de algumas coisas. Pouco tempo depois, Victor entrou no closet, ainda estava sonolento e sentou-se no puff.

_Tem certeza que está preparada para ver sua mãe?
_Sim. – Coloquei as ultimas peças de roupa na mala – Estou confiante.

   No inicio da tarde partimos. Meu pai estava calado, a viagem inteira fora assim e eu sabia bem que o motivo era minha mãe. Deve ser muito doloroso perdermos alguém que amamos, alguém que compartilhou a vida inteira conosco. A esses pensamentos olhei para Victor, não me imaginaria longe dele, iria doer em mim e já doía só de imaginar.

   Dor maior foi à ida para a cidade onde meus pais moravam, fazer todo aquele trajeto que fiz quando soube que ela se foi, entrar naquela casa onde os moveis não foram mexidos – Joyce já havia me alertado sobre isso. – iria doer muito. O carro ficou diante do portão que logo se abriu, todo momento eu olhava para minhas pequenas que estavam do meu lado, Mariana não sabia de nada, era tão inocente, tão pequenina, mas Gabriela, ela acompanhara a vida da avó e às vezes me perguntava por ela.

   Desci do carro ainda inerte, sem muito que fazer, segurando o choro para não perceberem minha fraqueza e meu suplico. Victor tocou minha mão, nada falou, seu olhar me passou segurança e ao lado dele entrei naquela casa. O cheiro dela estava ali, os moveis do mesmo jeito que ela deixou, parecia que minha mãe estava viva e que logo desceria aquelas escadas e com um sorriso enorme nos recepcionaria não esquecendo do abraço caloroso. Ainda não entendia o porquê a vida me fizera isso, me dar o mel para depois vir com o fel. Respirei fundo e passei direto, subindo até meu quarto, não iria chorar diante do meu pai, ele só estava esperando que eu fizesse isso para cair junto comigo. Joguei-me na cama e chorei por intermináveis minutos. Pois é, eu não estava preparada para isso. Senti mãos percorrendo as minhas costas e um peso do lado da cama, Victor agora sussurrava em meu ouvido, meus soluços estavam tão altos que sequer notei que ele tinha entrado no quarto.

_Vai ser difícil, Lu. Sei que você é forte e vai sair dessa. Ela vai deixar saudade, mas o pouco que conheci Dona Geovana, ela era a alegria em pessoa e tenho certeza que onde quer que esteja não vai gostar de te ver assim.

   Eu havia me acalmado e agora estava deitada com a cabeça no peito de Victor, que como sempre estava me fazendo um carinho aconchegante, me passando fortaleza só com aquelas mãos mágicas em meu corpo. Concordava com ele, bola pra frente, a vida continua e eu ainda tinha algo que estava pendente. Fui ao banheiro, lavei meu rosto.

_Quer que eu vá com você?
_Não. Toma conta da Mari pra mim?
_Tudo bem. – Levantou-se da cama para vir em minha direção – Sabe que estou do seu lado sempre, né? – Afirmei fazendo um gesto com a cabeça. – Se precisar, pode me ligar. Agora vai.

  Desci as escadas rapidamente, meu pai bem que ofereceu companhia, mas queria ir sozinha.


...

  Paramos no jazigo e era bem ali, não consegui segurar minhas lagrimas e bem tentei enxugá-las antes de Gabriela perceber, mas bastante esperta, ela apertou minha mão e me olhou.

_Mamãe, porque você tá ‘chorando’?
_De saudade amor. – Me agachei para ficar na mesma altura que ela e abraçá-la de lado.

   Mas como toda criança é curiosa, Gabriela se soltou dos meus braços e foi até a lápide, passou a mão por ela e foi aí que chorei de vez, meus olhos só cessaram as lagrimas para ler aquela lápide: “Aqui jaz... ”

_Você faz muita falta. – Sussurrei.

    Baixei minha cabeça e não consegui me controlar, as lágrimas desciam e ajudavam no choro, na minha voz que saía sons inaudíveis. Quanto mais eu enxugava meu rosto, mais lágrimas o molhavam, meus olhos estavam turvos e eu precisava me aproximar mais. Juntei-me a Gabriela e passei a mão pela lápide, nesse momento, eu queria gritar, despejar toda a dor que existia em mim e logo voltei a chorar alto. Consegui parar após alguns minutos e agora o vento fazia aquele barulho aterrorizante, mas nada me impedia de desabafar.

_Esses dias me peguei pensando em você. Lembrei de quando você me ligou e eu te tratei tão fria... – Minha voz ficou embargada, as lagrimas voltaram com força – Eu devia ter dito mais vezes que te amava, que mesmo você distante, eu sentia sua falta. Eu queria ter tido mais oportunidade de ficar do seu lado e ver você sorrir cada vez que Gabi te abraçava. Só me resta lembranças através de fotos e isso é o que dói. Tanto que você me alertou que essa viagem não me faria bem e olha só, você estava certa – Limpei novamente minhas lagrimas, olhei para o céu – Na verdade, você sempre esteve certa. Pena que já é tarde demais para dizer isso.

    Entreguei novamente a dor, algumas pessoas passavam por perto estranhando. Oras, ali era o lugar de dor da saudade, eles estavam ali para isso. Não liguei, continuei a falar como uma louca:

_Tanta coisa aconteceu desde que você se foi. A Mariana nasceu, nos primeiros dias senti sua falta, você havia me prometido que iria ficar comigo. Victor está bem, graças a ele estou caminhando, vivendo. Por incrível que pareça, meu pai está pausando nas atividades e passou o réveillon comigo. – Toquei na lápide mais uma vez – Pena que certas coisas boas só estão acontecendo depois que você partiu. Eu sinto muito sua falta, muito mesmo. Te amo muito.

    Era doloroso deixar minha mãe ali, dependendo de mim eu ficaria se o céu já não estivesse escurecendo, o vento aumentando a velocidade e Gabi resmungando por isso estar deixando seu cabelo emaranhado. Segurei sua mãozinha e saí sem olhar para trás, iria doer em mim ver aquela lápide sendo afastada e a noite escondendo-a. Entrei no carro e terminei minha crise de choro ali, chorei copiosamente e sem vergonha alguma. Liguei o carro e resolvi voltar para casa, ela iria me fazer falta, mas eu tinha que viver, não me culpar. Prometi a mim mesma uma visita a ela cada vez que fosse aquela cidade, espero que da próxima já esteja preparada psicologicamente a tudo isso.

   Peguei Gabriela no colo, levando-a logo para o quarto dela, nem a deitei e ela já estava chorosa e com sono. Desci as escadas, a casa estava um silêncio estranho, fui andando devagar em cada cômodo, achei vozes na cozinha, duas pessoas cochichando e em seguida foram tomadas por o mesmo silêncio que sondava na casa. Demorei a creditar no que estava vendo, senti nojo dele quando o vi agarrado a ela, em um beijo que para mim era melado e repugnante. O ódio tomou conta de mim, eu tremia da cabeça aos pés, fechando minhas próprias mãos, sentindo as unhas cravarem nelas. Difícil de digerir, esbravejei em um grito:

_O QUE VOCÊS DOIS ESTÃO FAZENDO?!

   Joyce sobressaltou, empurrando-o assustada. Ela partira o beijo porque dependendo dele, ainda estariam no amasso em plena cozinha.

_Lucy... – Ela sussurrou.
_EU NÃO QUERO OUVIR MAIS NADA! OU MELHOR, QUERO OUVIR SIM. EU CONFIEI EM VOCÊ, JOYCE – Me aproximei deles – E AGORA ESTAVA BEIJANDO O MEU PAI?!

   A minha dor aumentou a cada palavra solta pela minha boca. Aquele não era o Lucas que estava chorando e eu estava dando ombro amigo na virada do ano, aquele que amou e muito a minha mãe... Que agora não estava ali para se defender. Mil e um pensamentos tomaram minha mente em apenas segundos: Eles já estavam tendo um caso antes mesmo da minha mãe falecer? Joyce pedira para ficar na cidade a propósito de ajudar meu pai, será que era nesse interesse? Eles estariam tendo um caso há quanto tempo?
Eu chorava de ódio, estava sendo pior do que a traição que Victor fizera comigo, eu queria fugir daquela casa, fugir dali, longe de tudo e todos. Onde aperta o botão para acordar desse pesadelo?

Continua... 

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