Luciana se olhava de
frente para o longo espelho no closet, ainda estava achando aquele vestido
preto muito curto. Estava finalizando os últimos toques quando Lise entrou.
_Nossa, a senhora
está uma gata.
_São seus olhos.
_Acho que não.
Victor vive te chamando de gata.
Sorriu olhando para
ela através do espelho.
Enfim depois de
tantos meses procurando uma babá que se encaixasse perfeitamente nas opções que
ela queria, acabou achando Lise. Ela tinha apenas vinte e um anos, cursava
faculdade e estava a procura de emprego para pagar as despesas enquanto
finalizava o curso que estava prestes a se formar. Já tinha noivo e agora
estavam morando juntos. Sentiu um alivio porque a garota era perfeita para a
ocasião e em uma situação como essa (Luciana precisando sair à noite) ela
estava ali para segurar as pontas.
Aqueles meses
estavam passando rápidos, estavam em Junho e sua vida tinha melhorado bastante.
Apenas a implicância de Victor para com Michael que estava irritando-a, sempre
estavam discutindo por questões como essas.
Terminou de se
arrumar e discou o numero do celular dele.
_Oi amor.
_Só liguei para
avisar que já estou saindo.
_Tem certeza que
quer ir? Porque não fica em casa, hoje não estou. Vai ser a primeira noite da
Lise com as crianças...
_Fica calmo que
antes da meia noite estarei em casa, só não quero fazer essa desfeita com o
Guilherme. Tenho que ir. Beijos e te amo.
_Amo mais.
Desligou e entrou no
carro, havia passado toda a recomendação para a babá, os horários do remédio de
Mariana, a hora certa de Gabriela ir para a cama. Lembrou-se dos tempos de
solteira, estava sempre indo para festinhas com a turma do hospital, nada lhe
impedia, apenas quando Victor estava de folga porque o programa era outro.
Parou no semáforo e teve uma lembrança gostosa, só ali pode perceber que sempre
amou Victor, só não havia enxergado antes, largava qualquer noite de barzinho
quando ele lhe ligava e as madrugadas eram tão banais entre ouvi-lo tocar uma
nova composição, assistir filme e comer brigadeiro, porém, amava a presença
dele... Sempre amou.
Chegou ao salão de
eventos e já havia vários carros estacionados, entrou mexendo no celular quando
ouviu Carol chamando-a. Ela estava com os amigos e Luciana juntou-se a eles,
tudo estava tão perfeito, aquelas fotos de gestante sempre lhe davam uma
nostalgia e entre um suspiro e outro ouvia a amiga sussurrar-lhe: “Viu só? Está
na hora de ter mais um, Lucy.”
_Vira essa boca pra
lá, Carol. Estou bem com as minhas duas estrelinhas.
_Ah, eu só queria
ser madrinha né?
_Mas você já é madrinha da Mari.
_Mas você já é madrinha da Mari.
_Tá ok, eu me rendo.
Parou em uma das
fotos e ficou tão entretida que esqueceu do grupo de amigos que se afastava.
Alguém tocou o seu ombro.
_Guilherme está de
parabéns com a exposição.
_Michael? Pensei que
não viria.
_Como perder essa
perfeição?
Continuaram olhando
para a foto na parede.
_Não sabia desse grau
de intimidade entre você e o Gui.
_Ele me ajudou
muito. Lembra de quando fiz a residência?
_Claro. – Baixou a cabeça.
_A propósito, você
está linda essa noite.
Ergueu o rosto e viu
os olhos dele brilharem. Estava na zona de perigo, seu corpo clamava para sair
dali.
_Obrigada Michael – Olhou novamente para a foto e mudou de assunto
radicalmente – O Gui nunca
escondeu esse desejo de ser fotógrafo.
_É, primeiro medico
que conheço que nas horas vagas se entrega ao mundo das fotografias.
Luciana ignorou
Michael e continuou andando calmamente. As fotos estavam perfeitas, Guilherme
retratou a história de uma de suas pacientes, toda a gestação. Foi até ele, o
abraçando e enchendo-o de elogios, Carol puxou-a para conversarem:
_Me desculpa, mas
esse Michael está te olhando com tanta tara, que qualquer um percebe.
_Eu sei Ká, até já
me afastei para não dar burburinhos. Sabe como é né, não são só os médicos
presentes hoje, a alta sociedade inteira está aqui.
_Fique do meu lado,
é bem melhor.
Mais uma vez se
juntou aos amigos e ficou por ali até seu telefone tocar, Victor estava ligando
para ela. Procurou um lugar sem barulho para atender:
_Oi amor.
_Oi. – Sorriu timidamente –
Desculpa estar atrapalhando sua noite, mas é que estava com saudades.
_Tudo bem. Que horas
começa o show?
_Daqui a pouco. E por aí, como está?
_Daqui a pouco. E por aí, como está?
_Perfeito. A
exposição está divina, só faltou você.
_Eu sei. E quem está
aí?
_A Carol, Jéssica e outros amigos.
_A Carol, Jéssica e outros amigos.
_Tá, não demora pra
voltar pra casa.
_E você, volta
quando?
_Essa madrugada. Me espera e põe aquela lingerie que comprei... – Sorriu maléfico.
_Essa madrugada. Me espera e põe aquela lingerie que comprei... – Sorriu maléfico.
_Vou esperar
ansiosamente.
_Ok. Volte à festa e
divirta-se. Te amo.
_Também te amo
muito.
Desligou o celular e
sorriu. Victor a deixava tão leve, tão tranqüila, sorrindo tão débil. Ergueu o
rosto e Michael estava ali, com um olhar estranho. Nas mãos, um copo de whisky.
_Estava falando com
ele no telefone?
_Sim.
Michael bufou sarcástico.
_Está na hora de você
começar a viver de verdade, não se esconder na sombra dos outros, Luciana.
_Do que está
falando?
_Sua vida. – Aproximou-se dela – Você vai do trabalho para casa, de casa para o trabalho. Vive para as filhas e o esposo. Chega uma hora que isso cansa.
_Sua vida. – Aproximou-se dela – Você vai do trabalho para casa, de casa para o trabalho. Vive para as filhas e o esposo. Chega uma hora que isso cansa.
_Nunca irei cansar
de viver assim. Só tenho que agradecer a Deus. Com licença.
Retirou-se do local
rapidamente, Michael estava estranho naquela noite, ela só queria esquivar-se o
máximo possível dele. Achou Carol e foi até ela:
_Vou pra casa.
_Vou pra casa.
_Mas já Lucy?
_Sabe como é né, as crianças estão com a Lise e sei lá, fico com o coração apertado.
_Sabe como é né, as crianças estão com a Lise e sei lá, fico com o coração apertado.
_Isso é normal,
primeiras noites longe de casa você ficará com medo. Mas vai sim, essa semana
leva elas lá pra casa? Quero matar a saudade.
_Pode deixar. Tchau.
Em passos rápidos,
com medo de alguém foi até o estacionamento. Estava se sentindo em um filme de
terror, o local estava deserto, pra piorar, seu coração batia descompassado, podia
ouvi-lo junto ao barulho dos seus saltos. Destravou o carro antes mesmo de
chegar perto dele, alguém a chamou, fazendo-a sobressaltar de susto.
_Michael? – Alterou a voz. – Quase
que me mata.
_Não foi minha
intenção.
Olhando para o
amigo, Luciana sabia que ele estava bêbado, tropeçando enquanto se aproximava
mais dela.
_Já vai também?
_Não. Ainda quero
ficar mais.
_Se precisar de
carona, estou de partida. Adeus Michael.
Tentou ir rápido e
abrir a porta do motorista, mas sentiu as mãos dele apertando seu braço,
girando-a e sem poder se defender, ser arremessada contra o carro. Michael
jogava todo o seu peso contra o corpo de Luciana, ela estava imóvel e já
imaginando o que estava prestes a acontecer. A boca dele procurou a sua e um
beijo violento aconteceu, por mais que tentasse se esquivar, mais ele
prendia-a, deixando quase sem ar. Sentiu nojo ao ver a língua dele rolando
dentro da sua boca, aquele gosto de álcool ela sabia que permaneceria por dias
e dias cada vez que lembrasse, as mãos dele agora dançavam no corpo dela, apalpando
e Luciana sentindo as lágrimas querendo saltar dos seus olhos. Em um gesto
despercebido dele, conseguiu se livrar dos braços, empurrando-o para bem longe.
Ainda no escuro daquele estacionamento ela via a expressão sarcástica.
_QUE PORRA É ESSA MICHAEL? VOCÊ É LOUCO?!
Entrou rapidamente no veículo, ligando o motor e acelerando para se afastar dele e do lugar. Chorou durante o caminho para volta de casa, sentiu seu estômago dar voltas dentro de si a cada vez que tragava sua saliva e o gosto do Whisky estava ali, entregando tudo o que aconteceu. Colocou o carro na garagem e ficou dentro dele por longos minutos, ainda chorando, sem forças de entrar em casa, com medo do que estava por vir. Naquele momento sentia-se usada, com nojo de si, mesmo não ter aceitado ele ter lhe tocado. Desceu do veículo e subiu rapidamente, não queria que ninguém presenciasse seu desespero, estava passando pelo corredor escuro quando uma voz surgiu atrás de si, fazendo-a sobressaltar mais uma vez.
_QUE PORRA É ESSA MICHAEL? VOCÊ É LOUCO?!
Entrou rapidamente no veículo, ligando o motor e acelerando para se afastar dele e do lugar. Chorou durante o caminho para volta de casa, sentiu seu estômago dar voltas dentro de si a cada vez que tragava sua saliva e o gosto do Whisky estava ali, entregando tudo o que aconteceu. Colocou o carro na garagem e ficou dentro dele por longos minutos, ainda chorando, sem forças de entrar em casa, com medo do que estava por vir. Naquele momento sentia-se usada, com nojo de si, mesmo não ter aceitado ele ter lhe tocado. Desceu do veículo e subiu rapidamente, não queria que ninguém presenciasse seu desespero, estava passando pelo corredor escuro quando uma voz surgiu atrás de si, fazendo-a sobressaltar mais uma vez.
_Desculpa, Dona
Luciana.
_Que susto Lise!
_Eu... Só ouvi
barulhos no corredor e pensei que fosse ou você ou o Victor.
_Tudo bem. Já
passou. – Percebeu que a babá a
olhava estranha. – E as crianças?
_A Mariana eu dei a medicação na hora certa, já a Gabi... Tive que ficar acordada com ela até quase agorinha.
_A Mariana eu dei a medicação na hora certa, já a Gabi... Tive que ficar acordada com ela até quase agorinha.
_Tudo bem. Vou pro
meu quarto, qualquer coisa me chama, tá?
_Tá.
Deu as costas para
Lise, deixando-a ali no corredor, meio indecisa entre ir até a patroa e
perguntar se ela queria desabafar algo ou apenas voltar para o quarto de
Gabriela e dormir.
Luciana entrou no
quarto jogando o vestido para longe do corpo, retirando todas as peças que
faltassem ser jogadas. Sentia nojo de si, nojo do corpo. Entrou desesperada no
banheiro e se viu no espelho, assustou-se, estava com o batom vermelho
totalmente borrado.
_Deve ter sido por
isso que a Lise me olhou estranha. – Sibilou
Lembrou-se do beijo,
do olhar de Michael. Antes até sentia uma atração pelo colega de profissão,
agora, o via como um monstro, um ser que a deixava enojada e só com vontade súbita
de matá-lo. Com as mãos tirou todo o batom, ligou o chuveiro e permaneceu
dentro dele, a água caindo por longos minutos, queria tirar o rastro que as mãos
dele deixaram. Colocou seu pijama e deitou-se, não para dormir, mas para
pensar.
E se todos
descobrissem? Se Michael falasse? Será que tinha alguém que presenciou aquela
cena? E se presenciou iria contar a alguém... Chegaria aos ouvidos de Victor?
Sentou-se na cama,
chorando desesperadamente, passando a mão no rosto não querendo nem pensar se
ele descobrisse de algo assim. Sempre fora fiel, o amava, mas será que Victor a
perdoaria por ter deixado Michael lhe tocar e beijar tão intensamente?
Deitou-se novamente, as horas estavam se passando, a madrugada já decretava o
fim, a manhã se iniciava. Ouviu passos no corredor, Victor estava chegando, ela
não teria coragem de encará-lo. Virou-se de lado, fingindo estar dormindo e o
viu passar para o closet, guardando a mala, depois Victor foi para o banheiro,
tomou um banho rápido, ao voltar achou o vestido dela no chão, sorriu
colocando-o no sofá. Fechou os olhos forte, rezando para que ele não
descobrisse que estivesse acordada. A cama afundou, ele puxou o cobertor...
Aproximou-se mais passando a mão pela cintura dela beijando o ombro.
_Amor? – Sussurrou.
_Amor? – Sussurrou.
Queria poder se
virar e nos braços dele achar seu porto seguro, mas Luciana sabia que se
fizesse isso, iria chorar copiosamente e que Victor ficaria insistindo até
achar uma resposta convincente vinda dos lábios dela. Xingou a si mesmo porque
permaneceu parada, sem mover um músculo do seu corpo. Victor sussurrou um pouco
mais audível:
_Lu?... Luciana?
_Lu?... Luciana?
Por fim, acomodou a
cabeça no travesseiro e tentou dormir, Luciana só respirou aliviada ao sentir
que ele estava em um sono profundo. Mexeu-se na cama, olhando para ele, a
aurora se formava no céu, a claridade timidamente invadia o quarto pelas
frestas da cortina. Ela chorou em silêncio, pedindo desculpas para si, para ele
que agora não podia ouvir mais nada, estava dormindo. Viu o dia clarear e
levantou-se, não tivera proveito nenhum naquela noite, sabia que iria parecer
um zumbi no hospital. Tomou uma ducha para despertar, trocou de roupa e desceu
para tomar um café rápido. Lourdes olhava para ela tentando decifrar algo.
_Está tudo bem,
Luciana?
_Sim Lourdes, só estou com sono. Tenho que ir.
_Sim Lourdes, só estou com sono. Tenho que ir.
Continua...
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