segunda-feira, 30 de junho de 2014

Cap. 14



    Os dias estavam passando rápidos, Victor já não parava muito em casa, estava ensaiando para a nova turnê. Sem ter coragem, Luciana adiava mais e mais o exame, no fundo tinha medo de decepcionar Victor, agora ele só falava sobre bebês, estava radiante, mesmo sem contar nada a ninguém, somente a Leo. Certa noite, terminou de ensaiar e o irmão o chamou para conversarem:

_E aí, Lu já fez o exame?
_Ainda não. Nessa situação quem fica mais nervoso sou eu
. – Sentiu que estava prestes a desabar, achou no irmão o porto seguro – Nem me alimentando direito estou e a Luciana ainda nessa de deixar para depois. Leo, se ela estiver grávida será de risco.
_Eu sei
– Bateu no ombro dele – Não pressiona ela, Vitor. Certas coisas o destino sabe o que faz.
_Estou bem, confiante. Tenho certeza que ela está grávida. Hoje pela manhã estava lá no banheiro, passando mal, mas não quis me dizer.
– Baixou a cabeça, estava triste.
_Dê tempo ao tempo, nego veio.
_Eu sei.
– Ficaram em silencio por alguns segundos – Já estou vendo a hora de pegá-la nos braços e levar ela para fazer esse exame.
_Vai ser pai babão assim em outro canto
– Riram. – Juro que também queria que Luciana estivesse grávida, seria bacana.
_Pois é.
– Olhou o relógio no pulso – Vou nessa, ainda dá tempo pra ver a Gabi acordada.

    Voltou para casa, desabafar com Leo estava sendo bom, assim ele chegaria em casa mais tranqüilo. A casa estava em um silencio total, nos andares superiores, tudo estava apagado; olhou a hora, já passava das dez da noite. Abriu a porta do seu quarto e Luciana estava dormindo, parou para fitá-la, ela esqueceu de fechar as cortinas, a lua brilhava aquele quarto e os traços do rosto dela.

_Como te amo minha Luciana.

    Sentou-se na beira da cama para por as mãos no rosto dela, que acordou assustada:

_Amor?
_Oi Lu, volta a dormir.
_Que bom que já chegou.
– Sentou-se na cama, ligando o abajur – Estava preocupada.
_Amanhã já começamos a viajar.
– Tocou o rosto dela – E você nem fez o exame.
_Esquece isso, não estou grávida.
_Como não Luciana? Hoje pela manhã eu vi você passando mal no banheiro.
_Foi o brigadeiro que exagerei, Victor.
– Ficou séria – Não posso ter mais nada que agora você fica achando que é sintomas de gravidez.
_Ok, não vou discutir, você sabe o que faz da sua vida.

    Levantou-se e foi até o banheiro, aquela água estava deixando-o mais calmo e assim ficou ao deitar-se do lado dela; Luciana já dormia tranquilamente, às vezes ele achava que isso era egoísmo, como se ela não estivesse nem aí para os sentimentos dele, como se ele fosse um nada. Procurou esquecer e foi dormir.

   Pela manhã Luciana acordou primeiro que ele, iria começar a trabalhar e tinha que manter sua rotina em ordem. Ficou observando ele ali, dormindo, perfeito. Após a conversa da noite anterior, ela decidiu ir fazer o exame e não passaria daquele dia. Desceu, tomou café e ainda brincou um pouco com a filha, ao voltar pro quarto para trocar-se, Victor já estava encarando o teto, pensativo.

_Bom dia.
_Oi
– Olhou para ela.
_Victor
– Sentou na beira da cama – Me desculpa por ontem, eu só não quero que você me cobre caso eu não esteja grávida.
_Vamos esquecer isso, já que você mesma diz não estar grávida.
– Levantou-se.

   Enquanto ele entrou no banheiro, ela trocou de roupa, já estava se maquiando quando ele voltou do café.

_Vai onde?
_Minha rotina está voltando ao normal. Hoje vou a clinica, depois pego plantão no hospital.
_Tenta não deixar a Gabi só.
_Pode deixar.
– Estava saindo do closet quando sentiu as mãos dele em seu braço.
_Não deixa nosso casamento entrar em crise por coisas banais, Lu.
_Você sabe que se depender de mim isso não vai acontecer.
_Então porque iria embora sem ao menos despedir-se de mim?

    Aquele olhar de Victor, quase suplicante, fez Luciana sentir seus olhos marejados e logo as lagrimas caírem livremente.

_Será que sou eu que estou te ignorando? Victor, você sai, passa o dia todo na rua, mal chega em casa e já vem com cobranças. Tenta entender meu lado, estou nervosa, com medo de tudo dar errado e ver você ficar triste outra vez...
_Shhhi...
– Colocou o dedo indicador nos lábios dela – Vamos esquecer, apenas vem cá.

   Puxou-a mais para perto, colocando a cabeça dela em seu peito, acarinhando os cabelos. Luciana chorava, o apertava mais e mais.

_Não vou te pressionar em nada.
– Falou após sentir que ela estava calma – Também não vou exigir para você fazer esse exame.
_Obrigada.
– Limpou o rosto – Agora eu tenho que ir.
_Ir embora sem beijar minha boca? Isso é um pecado, Senhora Chaves.

   Ambos sorriram e se entregaram aquele beijo, um beijo que dizia tudo o que palavras não podiam expressar, Ela o amava muito, sentiu isso com aquele beijo.

_Agora estou liberada meu Senhor?
_Tudo bem. Bom trabalho... Ah! Tô viajando, pode ser que não nos encontremos nesses dias.
– Afagou o rosto dela – Como vou sentir saudade das mulheres da minha vida.
_Nós vamos sentir mais. Acredite. Tenho que ir.

   Pegou a bolsa e desceu, ligou o carro e antes que saísse viu Victor vindo em sua direção.

_Aconteceu algo?
_Não. Apenas vim te deixar isso...

   Segurou a nuca dela e a beijou profundamente.

_Te amo, não esquece, tá?

   Luciana saiu dali sorridente, ganhou o dia. Entrou no consultório e Raquel lhe felicitou:

_Doutora, parabéns pelo casamento. Tudo estava tão lindo.
_Obrigada Raquel
– Foi entrando na sala
_E como foi a lua de mel?

   Luciana parou, encarou-a e na mesma hora lhe veio uma vontade louca de pedir ajuda a sua recepcionista, sabia que com ela podia confiar.

_Foi bem... Raquel, você estava fazendo curso de enfermagem, não é?
_Sim. Estou na reta final.
_Ok.

    Arrumou a sala pensativa, atendeu as pacientes; antes de terminar o expediente foi procurar em sua sala alguns objetos que conseguiu. Chamou a secretaria.

_Pois não Doutora?
_Raquel, se eu te pedir para fazer algo, você me ajudaria?
_Dependendo do que for, se estivesse ao meu alcance, sim.
_Ótimo
– Colocou os objetos na mesa. – Retira um pouco do meu sangue?

  A recepcionista assustou-se.

_Desculpe Dona Luciana, mas porque eu faria isso?
_Preciso fazer uns exames. Por favor, só tenho você nesse momento.

    Com a sua ajuda, a secretaria conseguiu retirar o sangue, entregando a ela a seringa:

_E agora?
_Agora vou levar esse sangue para o exame. Muito obrigada.

   Saiu do consultório e foi direto para o hospital, não perdeu seu tempo com ninguém, estava com pressa, foi para o laboratório do Hospital.

_Doutora, veio nos visitar?
_Sim. Lílian, posso te pedir um favor?
_Sim, claro.
_Pode fazer um exame com esse sangue?
– Colocou a amostra na mesa. – É para uma paciente minha, enfim.
_A senhora sabe que se eles me pegam fazendo exames sem fichas de pacientes estou ferrada né?
_Mas é um exame simples. Por favor?
_Ok Doutora, mas ó, vou fazer escondido.
_Muito obrigada.

   Deu as costas e foi até a saída, a enfermeira lhe parou:

_Doutora, qual é o exame?
_De gravidez. Mais tarde eu venho buscar o resultado, não tem pressa.

   Saiu dali um pouco aliviada, estava confiante e tranqüila. Pela tarde pegou plantão, Michael ao vê-la sorriu.

_Doutora, como foi de lua de mel?
_Bem Michael, agora é voltar a rotina.
– Colocou o jaleco.
_Você faz falta aqui.
_Eu sei disso.
– Sorriram – E você, como está?
_Bem, agora estou melhor.
_Sem cantadas baratas, Doutor.
– Riram gostosamente. – Vamos trabalhar.

   Ocupou-se quase o plantão inteiro, parando apenas para falar rapidamente com Victor que lhe ligava:

_Oi amor.
_Está podendo falar?
_Espera
– Foi até sua sala – Agora sim. Como nos velhos tempos. – Riram.
_Estava sentindo falta disso, quando éramos amigos parece que nos falávamos mais pelo telefone.
_Também acho. Como está?
_Um pouco cansado, o ruim de você voltar de férias é isso, estou com saudades de você, da Gabi...
– Suspirou triste – Queria tanto poder estar aí com você.
_Eu disso meu amor. Já chegou na cidade onde vai fazer o show?
_Já, estou descansando um pouco antes de show, pensei em você, por isso te liguei.
_Eu também penso em você a cada vez que perguntam como foi nossa lua de mel. Estou com saudades e é muita mesmo.
_Vamos parar por aqui que ultimamente você está pior que uma manteiga derretida.
– Ouviu Luciana ri em meio ao choro. – Não falei? Já está aí chorando. Lu? – Ouviu os soluços dela.
_Fala.
_Não chora, por favor.
_Tudo bem. Eu vou ficar bem.
_Acho que não. Só vou desligar quando sentir segurança em sua voz.

    Continuaram conversando até ela sentir-se um pouco mais calma, desligou e foi até a recepção, ficou por ali e só parada, assistindo TV que percebeu que acabou esquecendo de buscar o exame. Correu até o laboratório, uma das secretarias estava na recepção:

_Doutora, tudo bem? Você é a Luciana da ala da maternidade não é?
_Sim.
– Estava eufórica – A Lílian deixou algo com você?
_Não. Mas como acabei de chegar vou ver aqui
– Procurou pelas gavetas – Não Doutora.
_Ah, esquece.
– Voltou desanimada, ouviu a secretaria chamá-la – Pois não?
_Lembrei agora, a outra recepcionista tinha me dado um recado, ela disse que deixou por aqui
– Abriu a ultima gaveta – Está aqui, o exame.

   Luciana sorriu involuntariamente, pegou o exame lacrado, agradeceu e voltou para a área dos funcionários; não queria abrir aquele exame sozinha, mas sua ansiedade estava tomando conta de si. Abriu com as mãos trêmulas e em meio a tantos nomes, lá estava o resultado: Positivo

   Procurou uma cadeira para sentar-se, estava chorando, sozinha, precisando de alguém. Lembrou de Victor, ele tinha que ser a primeira pessoa, a saber da noticia. Tateou as mãos nos bolsos do jaleco e percebeu que tinha deixado o celular em sua sala. Correu como uma louca, como se o mundo fosse acabar naquele instante, parecia que quanto mais corria, mais a sua sala estava distante, os piores segundos da sua vida.

Continua...

Nenhum comentário:

Postar um comentário