Cap. 20

   

   Aquela manhã, tudo estava tão radiante, perfeito, que Luciana sequer se preocupou com o enjôo que sentia e que a fez ir correndo para o banheiro. Após voltar para o quarto, viu a cama vazia, mas sabia que nos pensamentos dele, era a mesma coisa... Quinze de Abril, aniversário de Victor. Correu para pegar o celular e mandar uma mensagem:

“Amor, parabéns! Tô aqui te esperando, não demora.”

   Ele custou para responder, sendo assim, ela desceu e foi tomar seu café.

_Está mais feliz Luciana.
_Estou Lourdes, hoje é o grande dia. – Suspirou.
_Aniversário do Victor e...?
_É hoje que saberemos o sexo do bebê – Pulou igual uma criança – Aii Lourdes, me fala, você que é meio sensitiva, o que vai ser? Menino ou Menina?

   A empregada riu gostosamente. Às vezes Luciana se comportava como uma adolescente, e era essa a essência que deixava todos ao seu redor amando-a mais e mais.

_Não é assim que acontece. As coisas vêm espontaneamente.
_Ok. Desisto. – Riram juntas – Vou tomar meu café.

  Após o desjejum, subiu para o quarto. A mensagem fora respondida:

“Amor, segura as pontas aí que estou meio ocupado. Vitor.”

    Sentou-se na cama, sua expressão mudara e agora estava preocupada. Victor havia viajado dois dias antes para fazer show, prometendo para ela que naquela manhã estaria por lá em Uberlândia. Suas emoções estavam tomando conta de si, a gravidez era o motivo. Com muita raiva, pegou o celular e discou o numero, que demorou a atender:

_Oi amor.
_Onde estava?
_No banho, por quê?
_Porque não vem?
_Eu falei que não iria? – Aumentou o tom da voz.
_Aquela mensagem só me diz isso, foi assim que entendi.
_Luciana, não deturpe minhas palavras!
_Você vem ou não?!
_Não sei!
_Tá, não precisa vir.

   Desligou o celular na cara dele, ultimamente as brigas estavam se tornando corriqueiras e Luciana estava excedendo nas discussões, não poupava palavras. Ficou ali na cama, chorando, como uma boba. Seu celular tocou e ela atendeu.

_Oi Tatianna.
_Lu, então, é hoje né?

  Respirou fundo

_Sim.
_Sua voz está estranha. O que houve?
_Nada demais, só alguns problemas.
_Ok. Se precisar desabafar estou aqui.
_Obrigada, mas não é nada demais.
_Vamos acalmar os ânimos, sinto que você precisa. Hoje você vai pro show deles em São Paulo?
_Não sei Tati. Estou tão triste. – Respirou fundo mais uma vez para não chorar.
_Ahh para, você não vai fazer isso justamente no aniversario do Vitor.
_Mas ELE foi o problema. – começou a chorar.
_Lucy, você tem que controlar essas emoções da gravidez.
_Eu tento, Tati, mas é muito difícil. Eu vou tentar me acalmar hoje.
_faz isso mesmo. Tenta ver o lado dele.
_Ok.
_Estive pensando, porque você não deixa a Gabi aqui? Hoje eu não poderei ir ao show, o Matheus tem prova amanhã e vou ajudá-lo a estudar.
_Pode ser?
_Claro né, Lucy. Será uma honra. Vou ter que desligar. Beijos.

   Assim que desligou o telefone, Luciana ficou mais calma. Tatianna estava certa ao pedir para ela controlar-se mais ou não chegaria no fim da gestação e tanto ela, quanto Victor, estariam exaustos nesse casamento. Desceu e ficou brincando com Gabriela, depois a levou para seu quarto e em cima da cama ria gostosamente com a filha, que pulava e logo caia sentada. Não durou muito para as duas estarem deitadas e dormindo.

   Victor acordou aquela manhã preocupado. Prometera a Luciana que iria para Uberlândia, era o grande, o dia em que saberia o sexo do bebê. Já imaginava em sua mente os nomes tanto masculinos como femininos, mas algo abalou uma noite antes:

_Vitor. Tá lembrado que amanhã pela manhã temos uma entrevista rápida com uma radio em São Paulo.
_Putz Leo! – Colocou a mão na cabeça – Luciana vai me matar.
_Por quê?
_É amanhã que ela marcou a ultrassom.
_Caramba, e agora?
_Eu não sei. Não vou nem ligar para ela. – Sentou-se.

   Com essa lembrança da noite anterior, Victor suspirou. Tudo poderia ser bem diferente se Luciana entendesse e respeitasse sua vida profissional. Leo apareceu no quarto quando ele já estava terminando de arrumar-se para sair e ir a tal entrevista.

_Uma hora dessas acordado, Nego Veio?
_Ué, não é agora a entrevista na radio?

  O irmão teve um ataque de riso e o abraçou.

_Primeiro, parabéns! Felicidades.
_Obrigado.

  Sentaram-se na cama.

_A entrevista é pela tarde. Eu já vinha te acordar para dizer isso. Dá tempo de você ir a Uberlândia sim.

   Um sorriso involuntário surgiu no rosto de Victor. Seria real demais para ser verdade.

_Sério?
_Sim.
_Não posso perder tempo – Pegou o celular e ligou para Luciana. Chamou até a ligação cair.
_Vamos, no caminho você liga pra ela.

   Voltar para Uberlândia fazia o coração de Victor bater mais forte, naquele dia em especial. Procurou se entreter com o irmão para não pensar nem mesmo na discussão que tivera quando falou com sua esposa no celular. Mal aterrissou em solos Mineiros e foi correndo para sua casa, tudo estava tão calmo e bom, aquela calmaria gostosa de dez horas da manhã. Foi entrando no quarto e viu a cena mais linda da sua vida: Luciana estava deitada, abraçada a Gabriela, que dormia tranquilamente também. Ficou alguns minutos admirando tamanha beleza até conseguir forças para tirar uma foto.

_As duas mulheres da minha vida – Sussurrou.

   Sentou-se na beira da cama e tocou na mão de Luciana, que no mesmo instante acordou e o olhou:

_Victor? – Esfregou os olhos com as mãos.
_Eu disse que viria. – Sorriu timidamente.

   Ela sentou-se e se abraçaram fortemente. Aquele perfume que Luciana tantas vezes enjoara naqueles meses, agora era algo gostoso de sentir.

_Que horas é a sua consulta? Preciso ir rápido, pela tarde teremos que estar em São Paulo.
_Vou ligar pro Guilherme para avisar que estamos indo.

   Em alguns minutos já estavam indo a caminho da clinica, bastante ansiosa, Luciana mexia as mãos que estavam em cima da perna, olhando para a rua, atenta. Ao perceber, Victor segurou-lhe a mão mais próxima e beijou-a.

_Fica calma meu amor, vai dar tudo certo.
_Assim espero.

   Guilherme já os esperava, logo foram para a sala.  Antes de qualquer coisa, mandou Luciana ir para a balança.

_É, estou vendo que está ganhando peso. Parabéns.
_Como assim? O que eu perdi? – Victor perguntou sem entender muito.
_A mocinha aí, na ultima consulta tinha perdido bastante peso. Venham, vamos logo para a ultrassom porque sei que você está muito ansiosa.

   Assim que Luciana deitou-se, olhou para Victor, que estava tão ansioso quanto qualquer pessoa ali. Olharam-se ternamente.

_Esqueci de te desejar Parabéns.
_Essa é a forma de você me desejar isso, Luciana. Não tem presente melhor no mundo comparado ao de hoje.

    Abaixou-se para beijá-la rapidamente e ainda trocarem carícias enquanto Guilherme preparava tudo.

_Bom, hoje teremos que ter sorte. Nem é toda vez ele nos deixa ver o sexo.
_Ahh como não lembrei disso, Gui?
_Tô falando... Casa de ferreiro, espeto de pau.

   Os três riram gostosamente. A ultrassom começou, se alguém estivesse ali, naquela sala além de Luciana, Victor e Guilherme, poderia jurar não saber qual dos estavam mais ansiosos, todos com seus pensamentos positivos, oras babando pelo simples fato de ouvir o ecoar do coraçãozinho batendo, oras tentando ver algo ali.

   Luciana procurou não olhar mais, apenas encostou a cabeça por completo e ficou encarando o teto, estava mais nervosa do que tudo que fizera em sua vida. De repente, Guilherme acabou com o silencio existente naquela sala:

_Bingo!

   Olhou assustada para ele, que sorria bastante emocionado.

_Querem saber o sexo?

   O casal se olhou, com receio e com uma troca de sorriso fizeram um gesto afirmativo com a cabeça.

_Vocês queriam que fosse o que?
_Vindo com saúde é o que importa. – Victor respondeu timidamente.
_Pois vamos felicitar... Vem mais aí mais uma menina pra completar a casa.

  Luciana apoiou-se nos cotovelos:

_Está brincando?
_Não. Vocês serão papais de mais uma menina.

   Não houve nada mais alem de risos, lagrimas e abraços. Saíram da sala bastante sorridentes e ao entrar no carro, Victor tomou as mãos de Luciana.

_Obrigado pelo presente, Lu. Esse está sendo um dos melhores aniversários que já passei. Te amo, amo nossa família.
_Eu que te agradeço por me dar tantas coisas boas nessa vida.

    Beijaram-se de uma maneira calma, de felicidade. Durante o caminho, Luciana ligou para mãe, que desejou os parabéns a eles. Entraram em casa e Lourdes e Joyce as esperavam ansiosas.

_E aí?
_Bom. – Victor olhou para Luciana, abraçando-a de lado – Teremos mais uma menina em nossa família. Até porque eu, Luciana e vocês, juntos, somos uma família.

   Abraçaram os dois em meio ao choro. Luciana não parava de falar sobre a ultrassom e nesse papo, surgiu assuntos de gravidez. Victor interrompeu-as:

_Amor, você vem comigo pra São Paulo? Gostaria muito.

   Luciana estava indecisa, algo estava impedindo-a de ir, sentia um medo.

_Eu não sei.
_Ahh Lucy, vá com o Victor. – Joyce encorajava-a
_Por favor, amor. Vem comigo? – Victor estendia a mão, chamando-a. – Depois do show, iremos comemorar em um restaurante, será somente os meus amigos.

   Ela permanecia com sua opinião de não ir, mas Lourdes segurou-lhe as duas mãos, olhando-a profundamente:

_Vá menina. Pense que tudo o que fizer nesses dias, será uma despedida. Afinal, em maio já estará longe daqueles te amam, né?

   Olhando para Victor, que lhe passava empolgação pelo olhar, ela afirmou com a cabeça, mas seu coração estava apertado.

_Vamos, depois do evento voltamos para Minas, sei que você tem que trabalhar amanhã.
_Ok. Me promete que voltamos ainda na madrugada? – Ele fez um gesto afirmativo – Tudo bem. Vou pegar minha roupa e algumas coisas.

   Subiu pensativa para seu quarto, enquanto escolhia o que vestir para levar, xingou-se mentalmente por seguir as opiniões alheias. Levou Gabriela para o aeroporto, pois Tatianna iria levar Leo e lá se encontrariam e assim aconteceu, Gabriela ao ver a tia foi correndo em seus passos pequeninos em direção a ela:

_Vai tranqüila, Lucy. Eu tomo conta dessa coisa gostosa aqui.
_Obrigada Tati, na bolsa dela tem alguns remédios que ela tem que tomar.
_E eu já sei quase todos. – Riram
_Tudo bem, você venceu.

_Amor, temos que ir – Victor abraçou-a por trás.
_Viajem na paz, Luciana toma conta do Leo por mim.
_Pode deixar Tati.

   Entraram no jatinho e em algumas horas já estavam em São Paulo. Enquanto Victor e Leo foram para a entrevista na radio, Luciana estava no apartamento, descansando um pouco; foi acordada ao sentir as mãos de Victor em sua cintura. Virou-se e em silencio, trocaram carícias.

   Em meio a seus pensamentos, Luciana lembrou-se da ultima vez em que veio a São Paulo e estava grávida. Foi ali onde discutiu com Victor e se separaram, deixando uma profunda mágoa por meses e meses. Pensou no aperto que estava sentindo no peito, algo iria acontecer, ela podia sentir isso.

Continua...