domingo, 12 de janeiro de 2014

Cap. 76


        Capitulo 76

   As semanas estavam passando rápidas. Após a inauguração Luciana começou a trabalhar, claro que não era como antes, agora tinha poucas pacientes, as mesmas a ajudava e sempre que podia trazia uma nova gestante para iniciar o tratamento de pré-natal, avisava a elas com antecedência que não faria o parto, mas acompanharia todo o pré-natal, chegando aos nove meses ficaria a critério delas escolherem qual medico obstetra faria o parto. Ela estava firme e forte, sabia que tudo levaria um tempo para as coisas se encaixarem.

   Victor e Leo tinham reduzido a maratona de shows por conta do novo CD que estavam gravando, muito feliz, Victor apoiava Leo nas novas composições e o deixou encarregado dos arranjos e produções. Estava com mais tempo para mimar a filha e sua esposa que agora precisava muito dele.

   Em uma tarde, estando no consultório sem muito para fazer, alguém bateu na sua porta e Luciana foi abrir. Aquele rapaz ela já tinha visto só não lembrava onde, estava com uma criança no colo.

_Boa tarde.
_Oi Luciana, tudo bem?
_Tudo mas, de onde nos conhecemos? Seu rosto é familiar.
_Sou Vinicius, marido de Gabriela.

   Como um flash em sua mente ela lembrou daquele rapaz, fora por causa dele que hoje estava em liberdade, sem dever nada na justiça. Lembrou-se da sua paciente, nas ultimas horas de suspiro.

_Vini – O abraçou, olhou para a criança. – E esse é o filho de vocês.
_Sim
_Venha, entre.

   Sentaram no sofá, Luciana não perdeu tempo e segurou aquele bebê nos braços, o mimava e a cada vez que olhava, achava algum traço dele que lembrasse Gabriela. Após perceber que Raquel entrava direto em sua sala trancou-a de chave para ficar mais a vontade com Vinicius.

_E me conte, está aproveitando o dia de visita do filhote?
_Não, tomei a guarda de Dona Marilda.
_Mas por quê?
_Desde que Gabi morreu ela vinha destratando meu filho. Depois do julgamento ouvi uma conversa de que ela iria jogar Cauê no orfanato, não pensei duas vezes, entrei com uma ação na justiça pedindo a guarda. Como essas coisas demoram por eu ser pobre esperei dois meses para a audiência acontecer, mas no fim ela cedeu, disse que foi por causa dele que a filha dela faleceu.
_Poxa, nunca imaginei que Marilda faria tamanha barbaridade.
_Sabe Dona Luciana, minha casa é humilde, mas lá tem amor pra esse moleque. Minha mãe me ajuda a criar o Cauê na medida do possível, somos pobres mas o que importa não é dinheiro e sim felicidade.

   Por alguns segundos Luciana entrou no seu mundo de pensamentos para refletir. O que Vinicius falou era mais que certo, dinheiro não compra felicidade. Talvez aquele rapaz veio para lhe dar uma boa lição, horas atrás estava nervosa achando que seu numero de pacientes era pouquíssimo, o que ganhava ali não chegava nem aos pés do que recebia no hospital em um plantão, mas será que estaria feliz recebendo tanto dinheiro mas sem poder atenção a filha? Agora mais do que nunca ela sabia que Deus escreve certo por linhas tortas.

_Você tem razão, dinheiro não é tudo na vida. Mas me diga, está trabalhando?
_Sim, estou em supermercado, como caixa. O salário é pouco mas nada que não dê para comprar algo para Cauê.
_Que bom. E as consultas, você tem plano de saúde?
_Essa é a pior parte Dona Luciana, temos que nos conformar com um postinho de saúde lá perto de casa. Se bem que a doutora é gente fina. O problema mesmo é quando o Cauê adoece, aí temos que levá-lo para os hospitais públicos que são caóticos.
_Olha – Levantou-se e pegou um cartão, escreveu algo na parte de trás – Comece a levar o Cauê para essa doutora. Carol, ela é minha amiga e pode deixar que tudo o que precisar será por minha conta. Consultas, emergências.
_Poxa Dona Luciana, assim eu fico ofendido, não precisava.
_Faço isso porque você já fez muito por mim ao entrar naquela briga de cachorro grande no dia do julgamento, se não fosse seu depoimento eu estava ferrada.
_Obrigada mesmo. Agora tenho que ir – Levantou-se
_Eu te levo até a porta.

   Entregou Cauê para os braços do pai e antes de se aproximar da porta viu a maçaneta se mexer, destrancou e abriu-a. Victor estava com Gabriela nos braços, ao ver Vinicius seu sorriso se desfez deixando uma expressão bastante séria.

Luciana: _Amores da minha vidaaaa – Tomou Gabriela dos braços de Victor. – Amor esse é o Vinicius.
Vinicius: _Prazer – Estendeu a mão.
Victor: _Oi – foi totalmente frio e deixou a mão do rapaz pendente ali.

   Estranhando o clima Luciana baixou a cabeça com vergonha, queria dar uns tapas na cara de Victor por estar se trocando com um menino de 20 anos – Assim ele aparentava ter – Vinicius sentiu que não seria correspondido e logo colocou a mão de volta no braços de Cauê.

Vinicius: _Eu tenho que ir.
Luciana: _Apareça mais vezes Vini.
Vinicius: _Pode deixar Dona Luciana, tenham um fim de tarde bom. Abraços seu Victor.
Victor: _Tchau.

   Assim que o rapaz saiu Luciana entrou na sala para que Raquel não presenciasse nada caso Victor quisesse puxar discussão, mas o que ele fez foi tratá-la friamente.

_Estou te esperando no carro.

   Saiu dali e deixou-a com Gabriela nos braços, Raquel a ajudou a fechar a sala, entrou no carro em passos rápidos pois a chuva estava começando, colocou sua filha na cadeirinha e foi para o banco de passageiro.
  
   Victor dirigia bruscamente, não olhava para ela, cada vez que passava a macha tinha uma fúria que a intimidava de puxar qualquer assunto, mas em um momento teve que ser preciso.

_Victor, vai mais devagar, tá chovendo.
_Estou no limite que a via permite. Quer dirigir no meu lugar? – Arqueou uma das sobrancelhas e encarou-a – Se quiser eu troco de lugar.

  Ela se encolheu no banco e calou-se. Com certeza Victor queria discutir, mas ela respeitava o momento. A ultima vez que discutiram dentro do veículo houve aquele acidente, eles saíram ilesos só que dessa vez tinham Gabriela ali.

  Rezando o caminho inteiro para nada acontecesse acabaram chegando em casa, Victor não ajudou-a em nada e foi diretamente para sua sala. Assim que Luciana entrou em casa viu Lourdes.

_Toma, segura a Gabi que vou ali.

  Foi em direção ao estúdio, achou Victor com o violão e um caderno na mesa perto do computador.

_O que está acontecendo Victor? – Encostou-se na mesa.
_Nada Luciana, pode me deixar trabalhar? – Pronunciou sem erguer a cabeça, como se ela fosse um nada, estava ignorando-a.

  Saiu de perto dele mas não conseguiu chegar até a porta, a raiva tomou conta de si.

_Não te entendo, ontem fizemos amor quando você chegou cansado da gravação, agora me trata assim como se eu fosse um nada. Qual é Victor? O que está te fazendo ficar assim? Tudo bem, meu carro tá na revisão mas não precisava ir me buscar com essa cara feia, tratando o coitado do Vinicius mal. Eu pegaria um táxi se esse fosse o problema.
_Reveja o que você fez e aí sim venha falar comigo. – Mais uma vez ignorou-a e sequer a encarou.

   Como sempre, Luciana contou até três, porque até dez era impossível, sua paciência não agüentava tanto assim. Aproximou-se dele, segurou o caderno e jogou na primeira parede que viu.

_MAS QUE PORRA É ESSA LUCIANA!
_ISSO É PRA VOCÊ OLHAR NOS MEUS OLHOS ENQUANTO ESTOU FALANDO.

  Com bastante raiva, Victor levantou-se e foi pegar o caderno.

_Você é louca, só pode ser isso.
_Agora vai me falar o que está acontecendo?
_Vou sim. COMO VOCÊ PODE FICAR TRANCADA NA SALA COM AQUELE MOLEQUE E AINDA FINGIR QUE NADA ACONTECEU?
_VICTOR, O VINICIUS É O EX-MARIDO DA GABRIELA, ELE SÓ QUERIA CONVERSAR COMIGO, SOMENTE ISSO. – Deu uma pausa para pensar – Sério que você está com ciúmes dele? – Sentiu que não seguraria o riso e acabou fazendo isso ali mesmo.
_ PRA VOCÊ É OTIMO NÉ LUCIANA? MAS EU NÃO GOSTEI DA SITUAÇÃO.
_Primeiramente, calma. Para de gritar. Serio que você está com ciúmes do Vinicius?
_Sei lá, ele é bem mais novo que eu... – Baixou a cabeça
_Victor, calma.
_Calma um caramba! – Alterou a voz – Acha que eu não percebi o olhar dele pra você?
_Para de ser inseguro, seja lá o que eu fosse fazer, antes eu terminaria com você. Lembra do trato que fizemos? Juramos um ao outro que quando o amor acabasse iríamos ser sinceros e abertos?
_Eu vou cumprir com minha palavra já você... Tenho minhas duvidas.
_Quer saber? Fica você aí com suas duvidas. Tento ser legal, te explico, mas você continua com essas inseguranças idiotas. Paciência.


   Saiu da sala e foi direto para o quarto, debaixo do chuveiro chorou, trocou de roupa e deitou, não queria jantar, sua raiva tinha consumido toda a fome que era para ter no momento. Antes de dormir foi até o quarto de Gabriela, colocou-a pra dormir e fez mesmo.

Continua... 

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