Capitulo 82
Após pegar um
plantão o fim de semana inteiro, como se não bastasse chamaram Luciana pela
madrugada da segunda para trabalhar, bastante cansada foi. Aquele dia custava a
passar e já estava ficando impaciente, pra piorar a situação a colocaram na
emergência geral – O que não tinha nada a ver com sua área – o enfermeiro a
olhava torto ao perceber que ela respondia ao médico chefe de plantão. Às seis
da noite foi liberada, ao entrar na sala onde ficava os armários dos
funcionários, um dos enfermeiros se aproximou dela, também estava de saída.
_Trabalho
puxado hoje foi não é doutora?
_Nem me fale.
_Nem me fale.
_Pior que o
próprio dono do hospital não quer contratar mais médicos. Quem sofre são vocês,
não entendi essa de te colocarem no plantão da emergência.
_Nem eu,
imagina, recebi cada resposta dos pacientes. Bom, eu vou nessa.
_Tchau.
Ao sair da sala
ela sentiu uma leve tontura mas não ligou, continuou, despediu-se das
recepcionista e ao dar dois passos até a porta, sua vista foi ficando turva,
estava ficando leve, caiu no chão desmaiada. Acordou em cima de uma maca e
alguns enfermeiros analisando-a, um deles já procurava no seu antebraço uma
veia fácil para colocar a seringa do soro. Natan, o medico de plantão já estava
perto.
_Luciana esta
se sentindo bem?
_Acho que sim, quero ir pra casa.
_Acho que sim, quero ir pra casa.
_Não pode sair
agora. – Puxou um bloco de
papel – Vou coletar seu
sangue pra fazer algumas amostras mas antes preciso saber. Vem sentindo
tonturas, desmaios ou algo assim?
Ela não queria
mas acabou relatando o que sentia, quem sabe assim eles não lhe dariam uma
semana de folga, o que era bastante impossível. Ficou ali até perceberem que
ela aparentava estar bem, por fim foi liberada e como não estava em condições
de dirigir, pegou um táxi.
Assim que
entrou na sala do apartamento custou pra acreditar, Victor ali, ele era seu
porto seguro e agora tudo o que queria era um abraço bem forte. De repente uma
impaciência tomou conta de si, porque ele estava fitando-a estranho.
_O que é
Victor? – Perguntou
impaciente.
_Nada... Você
está tão estranha. Mas vem cá.
Puxou-a para um
abraço aconchegante, permaneceram assim por alguns segundos.
_Tudo bem? – Deu um selinho nos lábios dela.
_Aham. – Baixou a cabeça – Vou tomar um banho, já volto.
Assim que viu
Luciana entrar no quarto sentou no sofá e ficou pensativo. Luciana mudara não
só fisicamente como interiormente também. Estava visivelmente mais magra, nos
seus olhos, as olheiras demonstravam sua feição já cansada, também pode percebe
a respostas ríspidas vindo dela, até o olhar já lhe entregava a impaciência.
Foi até o quarto, precisava conversar com ela, se aproximou e ficou parado na
porta escutando ela que falava ao celular.
_Eu sei... Eles
coletaram meu sangue. O resultado só sai amanhã... Não, estava sem paciência,
precisava vir pra casa... Eu sei Pai, olha fica calmo, estou bem... Foi só uma
tontura pai... – Virou-se e
viu Victor se aproximando dela – Olha, tenho que desligar... Ok, abraços na mamãe.
Assim que
desligou olhou para ele.
_O que foi?
_Sei lá, me
fala você. Tava no celular com quem? – Sentou-se na beira da cama.
_Meu pai. Parece
que é mágico aqui, porque ele me liga todos os dias.
_Não estava com
saudades de mim? – Levantou-se
e abraçou-a
Victor tentou
roubar um beijo de Luciana mas como resposta foi um empurrão.
_Para Victor!
_Me chamou pelo
nome é porque está furiosa. –
Tentou brincar para amenizar a situação.
_Só não estou
com saco pra brincadeirinhas...
Ela entrou no
banheiro e ele sentiu seu coração doer, ficou com medo de Luciana mudar e ao
sair daquele banheiro falar que não sentia mais amor. Preferiu ficar calado e voltar
para a sala, Gabriela tinha uma energia que parecia não parar mais, no colo do
pai soltava altas gargalhadas e isso o fez ficar bem até a hora de dormir.
_Me dá a Gabi,
ela tem que dormir.
_Será que ela
vai conseguir Lu?
_Vai sim.
_Vai sim.
Enquanto
Luciana colocava sua filha para dormir, Victor foi para o quarto, tomou um
banho e se deitou, ficou esperando sua esposa enquanto isso ficou pensando o
quanto se decepcionara essa noite. Mas tentaria de todas as formas para ter sua
Luciana de volta. Ela entrou no quarto e sem muito papo deitou-se do lado dele,
algo o perturbava.
_Lu, quer
conversar?
_Não precisa
Victor, tô bem. – Estava de
costas a ele.
_Por favor – tocou-lhe o braço – Quero conversar, sinto que você quer
desabafar também.
Chorando,
Luciana ligou o abajur e sentou-se na cama, ele fez o mesmo.
_Me fale, o que
está acontecendo?
_Sinceramente?
Se arrependimento matasse, eu já estava morta. Tudo está acontecendo em tão
pouco tempo... – Colocou as
mãos no rosto. – às vezes
dá vontade de desistir.
_Depende,
desistir do que?
_Sei lá, da
vida, de tudo.
_Para com isso
Luciana, você tem a mim e a Gabi. Nós te amamos muito. – Enxugou as lagrimas que caiam
insistentemente no rosto dela.
_Eu sei e é
isso o que me conforta. Me abraça?
Se abraçaram
forte, Victor queria chorar porém controlou-se, ela precisava de alguém forte
para confortá-la. Luciana contou tudo o que estava acontecendo, por fim, já
estava bocejando.
_E aí, o que
você vai fazer Lu?
_Não sei, meu contrato se vence no fim do ano, posso não querer prosseguir, invento uma desculpa pro meu pai e se ele vir com papinhos falarei que quem está desmaiando sou eu e não ele.
_Não sei, meu contrato se vence no fim do ano, posso não querer prosseguir, invento uma desculpa pro meu pai e se ele vir com papinhos falarei que quem está desmaiando sou eu e não ele.
_Espera, você
desmaiou?
_Hoje. – Baixou a cabeça.
_Luciana, sai
já desse emprego. Não quero você nem mais um dia ali.
_Não posso
Victor! É quebra de contrato. Prometo que irei sair assim que der.
_Então tá, vou
esperar.
As mãos se
tocaram e só ali ele pode perceber o quão magra Luciana estava, a aliança já
estava folgada, o corpo dela parecia ser algo quebrável, sensível. Entre risos
tímidos, os dois se olharam, os rostos estavam se aproximando e um beijo
aconteceu, aquele amor que Victor acharia que não sentiria mais voltou e a
velocidade nos movimentos das línguas aumentou, as mãos já não se sabia onde
ficar porque os dois reacenderam a chama. Após se acalmarem, Luciana se afastou
um pouco.
_Tenho que
dormir, estou me sentindo fraca.
_Vou cantar até
você dormir.
Deitaram-se e
no escuro enquanto acariciava o cabelo dela, Victor cantou uma das suas musicas
preferidas do seu novo CD, O que tens,
talvez por que a musica surgira de um poema feito para ela, ele não sabia de
fato o porque mas amava aquela musica e sempre que cantava fechava os olhos
para imaginar eles dois em uma praia, abraçados apenas admirando as ondas,
mistério que só o mar poderia trazer.
Continua...
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