quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Cap. 82

  
                        Capitulo 82


    Após pegar um plantão o fim de semana inteiro, como se não bastasse chamaram Luciana pela madrugada da segunda para trabalhar, bastante cansada foi. Aquele dia custava a passar e já estava ficando impaciente, pra piorar a situação a colocaram na emergência geral – O que não tinha nada a ver com sua área – o enfermeiro a olhava torto ao perceber que ela respondia ao médico chefe de plantão. Às seis da noite foi liberada, ao entrar na sala onde ficava os armários dos funcionários, um dos enfermeiros se aproximou dela, também estava de saída.

_Trabalho puxado hoje foi não é doutora?
_Nem me fale.
_Pior que o próprio dono do hospital não quer contratar mais médicos. Quem sofre são vocês, não entendi essa de te colocarem no plantão da emergência.
_Nem eu, imagina, recebi cada resposta dos pacientes. Bom, eu vou nessa.
_Tchau.

    Ao sair da sala ela sentiu uma leve tontura mas não ligou, continuou, despediu-se das recepcionista e ao dar dois passos até a porta, sua vista foi ficando turva, estava ficando leve, caiu no chão desmaiada. Acordou em cima de uma maca e alguns enfermeiros analisando-a, um deles já procurava no seu antebraço uma veia fácil para colocar a seringa do soro. Natan, o medico de plantão já estava perto.

_Luciana esta se sentindo bem?
_Acho que sim, quero ir pra casa.
_Não pode sair agora. – Puxou um bloco de papel – Vou coletar seu sangue pra fazer algumas amostras mas antes preciso saber. Vem sentindo tonturas, desmaios ou algo assim?

   Ela não queria mas acabou relatando o que sentia, quem sabe assim eles não lhe dariam uma semana de folga, o que era bastante impossível. Ficou ali até perceberem que ela aparentava estar bem, por fim foi liberada e como não estava em condições de dirigir, pegou um táxi.

   Assim que entrou na sala do apartamento custou pra acreditar, Victor ali, ele era seu porto seguro e agora tudo o que queria era um abraço bem forte. De repente uma impaciência tomou conta de si, porque ele estava fitando-a estranho.

_O que é Victor? – Perguntou impaciente.
_Nada... Você está tão estranha. Mas vem cá.

  Puxou-a para um abraço aconchegante, permaneceram assim por alguns segundos.

_Tudo bem? – Deu um selinho nos lábios dela.
_Aham. – Baixou a cabeça – Vou tomar um banho, já volto.

   Assim que viu Luciana entrar no quarto sentou no sofá e ficou pensativo. Luciana mudara não só fisicamente como interiormente também. Estava visivelmente mais magra, nos seus olhos, as olheiras demonstravam sua feição já cansada, também pode percebe a respostas ríspidas vindo dela, até o olhar já lhe entregava a impaciência. Foi até o quarto, precisava conversar com ela, se aproximou e ficou parado na porta escutando ela que falava ao celular.

_Eu sei... Eles coletaram meu sangue. O resultado só sai amanhã... Não, estava sem paciência, precisava vir pra casa... Eu sei Pai, olha fica calmo, estou bem... Foi só uma tontura pai... – Virou-se e viu Victor se aproximando dela – Olha, tenho que desligar... Ok, abraços na mamãe.

  Assim que desligou olhou para ele.

_O que foi?
_Sei lá, me fala você. Tava no celular com quem? – Sentou-se na beira da cama.
_Meu pai. Parece que é mágico aqui, porque ele me liga todos os dias.
_Não estava com saudades de mim? – Levantou-se e abraçou-a

  Victor tentou roubar um beijo de Luciana mas como resposta foi um empurrão.

_Para Victor!
_Me chamou pelo nome é porque está furiosa. – Tentou brincar para amenizar a situação.
_Só não estou com saco pra brincadeirinhas...

   Ela entrou no banheiro e ele sentiu seu coração doer, ficou com medo de Luciana mudar e ao sair daquele banheiro falar que não sentia mais amor. Preferiu ficar calado e voltar para a sala, Gabriela tinha uma energia que parecia não parar mais, no colo do pai soltava altas gargalhadas e isso o fez ficar bem até a hora de dormir.

_Me dá a Gabi, ela tem que dormir.
_Será que ela vai conseguir Lu?
_Vai sim.

   Enquanto Luciana colocava sua filha para dormir, Victor foi para o quarto, tomou um banho e se deitou, ficou esperando sua esposa enquanto isso ficou pensando o quanto se decepcionara essa noite. Mas tentaria de todas as formas para ter sua Luciana de volta. Ela entrou no quarto e sem muito papo deitou-se do lado dele, algo o perturbava.

_Lu, quer conversar?
_Não precisa Victor, tô bem. – Estava de costas a ele.
_Por favor – tocou-lhe o braço – Quero conversar, sinto que você quer desabafar também.

  Chorando, Luciana ligou o abajur e sentou-se na cama, ele fez o mesmo.

_Me fale, o que está acontecendo?
_Sinceramente? Se arrependimento matasse, eu já estava morta. Tudo está acontecendo em tão pouco tempo... – Colocou as mãos no rosto. – às vezes dá vontade de desistir.
_Depende, desistir do que?
_Sei lá, da vida, de tudo.
_Para com isso Luciana, você tem a mim e a Gabi. Nós te amamos muito. – Enxugou as lagrimas que caiam insistentemente no rosto dela.
_Eu sei e é isso o que me conforta. Me abraça?

   Se abraçaram forte, Victor queria chorar porém controlou-se, ela precisava de alguém forte para confortá-la. Luciana contou tudo o que estava acontecendo, por fim, já estava bocejando.

_E aí, o que você vai fazer Lu?
_Não sei, meu contrato se vence no fim do ano, posso não querer prosseguir, invento uma desculpa pro meu pai e se ele vir com papinhos falarei que quem está desmaiando sou eu e não ele.
_Espera, você desmaiou?
_Hoje. – Baixou a cabeça.
_Luciana, sai já desse emprego. Não quero você nem mais um dia ali.
_Não posso Victor! É quebra de contrato. Prometo que irei sair assim que der.
_Então tá, vou esperar.

    As mãos se tocaram e só ali ele pode perceber o quão magra Luciana estava, a aliança já estava folgada, o corpo dela parecia ser algo quebrável, sensível. Entre risos tímidos, os dois se olharam, os rostos estavam se aproximando e um beijo aconteceu, aquele amor que Victor acharia que não sentiria mais voltou e a velocidade nos movimentos das línguas aumentou, as mãos já não se sabia onde ficar porque os dois reacenderam a chama. Após se acalmarem, Luciana se afastou um pouco.

_Tenho que dormir, estou me sentindo fraca.
_Vou cantar até você dormir.


   Deitaram-se e no escuro enquanto acariciava o cabelo dela, Victor cantou uma das suas musicas preferidas do seu novo CD, O que tens, talvez por que a musica surgira de um poema feito para ela, ele não sabia de fato o porque mas amava aquela musica e sempre que cantava fechava os olhos para imaginar eles dois em uma praia, abraçados apenas admirando as ondas, mistério que só o mar poderia trazer.

Continua...

Nenhum comentário:

Postar um comentário